ÉPOCA explorou as razões da crise
das Unidades de Terapia Intensiva (UTI) brasileiras.
A reportagem
investigou o que há por trás da cruel disputa por um leito no Sistema
Único de Saúde (SUS). Esse é um drama nacional que castiga as famílias e
obriga os médicos a fazer escolhas trágicas diariamente. A análise de
processos judiciais e a realização de dezenas de entrevistas revelam os
dilemas de vida e morte ocorridos enquanto governo e Justiça trocam
ofícios
A aposentada Maria Lucia Machado, de
62 anos, lavava a louça do almoço quando passou mal e precisou ser
levada ao Hospital Municipal Dr. Alexandre Zaio, na Vila Nhocuné, Zona
Leste de São Paulo. Naquela sexta-feira de outubro, ela chegou ao
pronto-socorro com grave falta de ar e pressão arterial nas alturas. Os
médicos detectaram uma pneumonia e a necessidade de agir rápido. Em
quatro dias, a paciente, que já havia infartado no mês anterior, sofreu
duas paradas cardíacas. Precisava dos cuidados de uma Unidade de Terapia
Intensiva (UTI) – um recurso ferrenhamente disputado no Sistema Único
de Saúde (SUS).
Os
médicos assumiram o risco de colocá-la em um respirador artificial ali
mesmo, na sala de emergência. Era para ser uma solução provisória até
que conseguissem um leito de UTI em outra instituição da maior metrópole
do país. Durante 37 dias, eles tentaram garantir uma última chance à
doente que julgavam ser recuperável. Os insistentes pedidos de
transferência foram negados mais de 120 vezes por diferentes
instituições municipais, estaduais e privadas que prestam serviço ao
SUS. A maioria registrou em um sistema oficial da prefeitura a mesma
resposta peremptória: “Sem vaga”.
Depois de passar mais de um mês entubada na sala de emergência, a aposentada foi infectada por bactérias multirresistentes e não resistiu. Enquanto a janela de oportunidade para salvá-la era medida em dias e, depois, em horas, o pedido de socorro feito pela família circulou pelos escaninhos da gestão pública e da Justiça com uma lentidão incompatível com as urgências médicas. Quando a juíza determinou que o Estado custeasse o tratamento em um hospital particular, era tarde demais. A história por trás da morte de Maria Lucia não é apenas um atestado da escassez de vagas de UTI na rede pública brasileira, um fato demonstrado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). Ela também é fruto da má gestão dos leitos existentes – um problema tão ou mais grave, segundo a análise dos especialistas. Ao decidir a quem dar o último leito de UTI, os médicos assumem escolhas trágicas. Ao ignorá-las, toda a sociedade perde.
Depois de passar mais de um mês entubada na sala de emergência, a aposentada foi infectada por bactérias multirresistentes e não resistiu. Enquanto a janela de oportunidade para salvá-la era medida em dias e, depois, em horas, o pedido de socorro feito pela família circulou pelos escaninhos da gestão pública e da Justiça com uma lentidão incompatível com as urgências médicas. Quando a juíza determinou que o Estado custeasse o tratamento em um hospital particular, era tarde demais. A história por trás da morte de Maria Lucia não é apenas um atestado da escassez de vagas de UTI na rede pública brasileira, um fato demonstrado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). Ela também é fruto da má gestão dos leitos existentes – um problema tão ou mais grave, segundo a análise dos especialistas. Ao decidir a quem dar o último leito de UTI, os médicos assumem escolhas trágicas. Ao ignorá-las, toda a sociedade perde.
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