No próximo ano, os eleitores vão resolver se o Brasil continuará a ser uma colônia saqueada por escroques ou se poderá ter outra aspiração
Qual a importância que terá para os brasileiros, daqui a um ano ou um
ano e meio, a agonia política desesperada dos dias de hoje? E lá, entre
maio e outubro de 2018, que estará sendo decidida a questão
verdadeiramente essencial: o que o Brasil pretende ser não no próximo
mandato presidencial ou no seguinte, mas em que tipo de país seus
cidadãos vão viver no futuro, e por muitos anos.
O primeiro
interrogatório do ex-presidente Lula pelo juiz Sérgio Moro, as ameaças
que suas tropas fazem todos os dias à Justiça, a derrama sem limites de
mentiras que definem o debate político de hoje ─ tudo isso estará
longamente esquecido e o jogo para valer, a eleição presidencial de 2018
entrará em sua fase realmente decisiva. Os eleitores vão resolver,
então, se o Brasil continuará sendo uma colônia do século 18, saqueada
sistematicamente por uma máquina pública a serviço de escroques, ou se
tem a aspiração de tentar algum outro futuro.
Chamam todos os demais de “fascistas”. Não são nada disso ─ como não são malfeitores sociais, maus brasileiros ou inimigos da democracia os que têm pontos de vista diferentes dos seus. Hoje em dia, mais do que nunca, a separação verdadeira é entre os que precisam mandar numa máquina pública cada vez maior, mais invasiva e mais cara, para sobreviver, prosperar e acumular privilégios; e os que trabalham para manter o bem-estar dos primeiros, pagando em impostos 40% ou mais do que ganham.
Tudo a que se assiste agora são os primeiros movimentos da guerra política que vem aí no próximo ano. O campo “popular-progressista” sabe que não vai sobreviver sem Lula na presidência da República. Não tem absolutamente ninguém que disponha de 1% de sua capacidade eleitoral e de sua liderança; corre o risco de tornar-se irrelevante no Brasil durante anos a fio. Lula, por sua vez, sabe que, se não for presidente, não será mais nada ─ e terá de passar o resto da vida metido com a pilha de processos por corrupção que tem contra si, numa luta miserável para ficar fora da cadeia. Para se salvar, entretanto, ele precisa vender ou jogar para frente as questões penais a que responde no presente momento; do contrário não poderá ser candidato. É nisso que se concentra tudo o que interessa hoje ao Brasil e ao seu futuro. O cidadão poderá fazer considerável economia de seu próprio tempo se esquecer toda essa conversa de braveza indignada que ouve diariamente ao lado de Lula. O ex-presidente não vai mandar “prender” ninguém se voltar ao cargo que tinha. Não vai fazer caravana nenhuma “pelo Brasil afora” para juntar o povo em sua defesa. Não está em “julgamento político” ─ não quando em todos os processos que tem contra si não é acusado de nenhuma ideia, discurso ou proposta, mas, sim, de atos concretos de corrupção a serviço de empreiteiras de obras públicas. Não levou multidões a Curitiba para enfrentar “o Moro” em seu interrogatório.
Todos os problemas de Lula se resumem a ganhar prazo para não ser condenado antes de validar sua candidatura e, depois, convencer a maioria dos eleitores a lhe entregar de novo o Brasil, que virá junto com a Petrobras, as empreiteiras e tudo o mais que se sabe. São problemas dele e de todos.
Por: J. R. Guzzo - Publicado na edição impressa da Exame - Transcrito da Coluna do Augusto Nunes - VEJA
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