Tanto recurso para agravar pena de petista, feita pela turma de Curitiba, como terceiro pedido de prisão de Aécio, encaminhado por Janot, são atos ridículos que buscam mobilizar ódios cruzados na sociedade brasileira
O procurador-geral da República, Rodrigo
Janot, reduziu a cinzas a reputação da Lava Jato ao celebrar aquele
acordo com Joesley Batista. E não é que o dito-cujo seja incompreensível
para os simples e para os leigos, como é a presunção de inocência, por
exemplo. Não! É inaceitável também, ou muito especialmente, para quem
conhece as leis. Estão em curso várias ações que buscam recuperar parte
ao menos da credibilidade perdida. É difícil. Parece que esse ser
mitológico não voa mais.
É uma pena, já escrevi aqui. Poderíamos
ter iniciado um caminho virtuoso de combate à corrupção, que passaria,
inclusive, por mudanças legislativas graduais, por uma nova compreensão
do Estado e de seus entes e por uma redefinição da relação do capital
privado com o Estado. Ainda podemos, como país, fazer tudo isso. Mas,
hoje, a Lava-Jato e suas estrelas atrapalham. Explico.
Esta segunda-feira foi um bom exemplo do
destrambelhamento que toma conta da Procuradoria-Geral da República e
da Força-Tarefa propriamente. Resta cristalino, evidente, escandaloso
até, que o Ministério Público Federal quer usar o ex-presidente Lula e o
senador Aécio Neves (PSDB-MG) para fazer proselitismo, não para fazer
Justiça. E isso, em certa medida, é uma espécie de sentença moral de
morte que Janot e os procuradores decretam contra a operação.
Resta inegável que Lula e Aécio são os
dois nomes políticos mais graúdos sob investigação ou já sob a ação da
Justiça. Um era o prócer do regime que criou o petrolão; o outro, o seu
principal opositor — quando caiu nas malhas da operação ao menos. Janot,
por incrível que pareça, sem que tenha surgido um miserável fato novo,
resolveu pedir, atenção!, pela terceira vez!, a prisão do senador. E
pelos mesmos motivos antes rejeitados por Edson Fachin, quando o caso
estava na Segunda Turma, e Marco Aurélio, agora que está na Primeira.
Em decisão exemplar, Marco Aurélio
observou que não estão dadas as condições que permitem a prisão
preventiva de um senador: não foi preso em flagrante por crime
inafiançável. Que se note: só o flagrante não basta. Ainda que os crimes
de que o acusa Janot tenham sido cometidos — e não entrarei no mérito
para que reste pura a questão técnica —, inafiançáveis não seriam.
Não é Marco Aurélio que quer assim, mas o
Parágrafo 2º do Artigo 53 da Constituição. Apelando a uma interpretação
capenga da lei, Janot topa, no entanto, trocar a preventiva por medidas
cautelares, o que implicaria o afastamento de Aécio de seu mandato:
tornozeleira eletrônica, prisão domiciliar, proibição de falar com
outros investigados. Mas esperem: segundo o Parágrafo 1º do Artigo 283
do Código de Processo Penal, as medidas cautelares, previstas no Artigo
319, não se aplicam à infração a que não couber, originalmente, pena de
prisão. Como demonstrado está que Aécio não poderia ser preso, o resto
não faz sentido.
Não agem melhor os procuradores que
contestam a pena imposta por Sérgio Moro a Lula e a outros implicados no
tal caso do tríplex. Tudo soa um pouco ridículo, mas o valor da multa
pedida pelos doutores é de trincar catedrais. Moro já aplicou por um
suposto benefício irregular de R$ 2,2 milhões uma pena pecuniária de R$
16 milhões. Os doutores acham pouco e querem R$ 87,6 milhões. Também
pedem aumento do tempo de prisão. A presunção, no fim das contas, é que
assim deve ser porque Lula exerceria papel de comando. Mas isso,
reitero, está em outro processo: diz respeito ao inquérito que está no
STF.
Pior: para pedir tais agravamentos, os
procuradores citam contratos de consórcios integrados pela OAS com a
Petrobras. Ocorre que, ao responder aos embargos de declaração, Moro já
declarou que não os levou em conta, embora os tenha usado como
referência para aplicar a multa. De novo, como fiz com Aécio, não entro
no mérito: é razoável que se peça uma multa de R$ 87,6 milhões por um
suposto ganho ilegal de R$ 2,2 milhões?
Janot e os procuradores tentam salvar a
cara da Lava Jato jogando a massa contra os políticos. Não vai adiantar.
Hoje, eles também são vítimas do espírito que ajudaram a criar.
Outras iniciativas
E não se tenta apelar apenas ao populismo judicial, não! Entrevistas estão sendo concedidas às pencas, num esforço de mobilizar as ruas. A verdade é uma só: enquanto o ex-maior bandido do Brasil, Joesley Batista, estiver solto por aí, os brasileiros hão de lembrar que, no país, o crime compensa, especialmente quando um criminoso inigualável se depara com Deus na forma de um procurador-geral, que decide quem vive e quem morre no Brasil.
E não se tenta apelar apenas ao populismo judicial, não! Entrevistas estão sendo concedidas às pencas, num esforço de mobilizar as ruas. A verdade é uma só: enquanto o ex-maior bandido do Brasil, Joesley Batista, estiver solto por aí, os brasileiros hão de lembrar que, no país, o crime compensa, especialmente quando um criminoso inigualável se depara com Deus na forma de um procurador-geral, que decide quem vive e quem morre no Brasil.
Sim, parcelas consideráveis repudiam
hoje a política e quase todos os políticos. Têm um justo ódio da
corrupção. Mas também desconfiam, ainda que não preencham com estas
palavras tal desconfiança, que a Lava Jato não buscava exatamente punir
bandidos, mas fazer política. Ah, sim: no papel do Altíssimo, Janot é
bem mais generoso do que o Senhor bíblico: aquele acenava com o reino
dos Céus, depois da morte. O procurador-geral garante o paraíso na
Terra: no iate, em Nova York, na China… Não há lugar ruim para um ex-criminoso abençoado por Janot.
Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo
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