A atuação dos militares irá abranger áreas turísticas, como Paraty e Angra dos Reis, no litoral sul, Niterói e São Gonçalo, na região metropolitana, e Baixada Fluminense.
Também há previsão de operações no norte do estado, onde ficam os municípios petroleiros de Macaé e Campos.
Essas quatro áreas são consideradas importantes porque foram justamente os locais para onde o tráfico de drogas expandiu seus territórios em reação ao projeto das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), que ocupou favelas na capital anos atrás.A política das UPPs, porém, começou a ruir com o agravamento da crise política e financeira do Estado. Estudo da PM cita 13 confrontos em áreas com UPP em 2011, contra 1.555 em 2016. Nesse vácuo, o número de confrontos entre grupos criminosos aumentou. Com a escalada nos índices de violência no estado, o presidente Michel Temer (MDB) decretou a intervenção federal na segurança pública do Rio, medida inédita no país e que contou com o apoio do governador Luiz Fernando Pezão (MDB).
Temer nomeou como interventor o general do Exército Walter Braga Netto. Ele, na prática, virou o chefe das forças de segurança do estado, como se acumulasse a Secretaria da Segurança Pública e a de Administração Penitenciária, com PM, Polícia Civil, bombeiros e agentes carcerários sob o seu comando. A evasão de criminosos para o interior fez disparar os indicadores de crimes nesses locais, principalmente na Baixada, que concentra 12 municípios e cerca de 3,5 milhões de habitantes.
Já cidades como Angra e Paraty, dois dos principais destinos turísticos do Rio, já viviam desde os anos 1990 um processo de favelização. Nos últimos cinco anos, esses municípios experimentaram uma lógica de ocupação de comunidades pelo tráfico semelhante à que historicamente ocorre na capital. Facções disputam territórios na região, o que fez subir nesses locais os índices de letalidade violenta, indicador que soma ocorrências de homicídios dolosos (quando há intenção), mortes por ação policial, latrocínio (roubo seguido de morte) e lesão corporal seguida de morte.
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Angra mais que dobrou seu índice de letalidade violenta de 2012, auge do projeto das UPPs, a 2017. Segundo dados do ISP (Instituto de Segurança Pública), no ano passado a cidade teve 113 ocorrências, contra 51 cinco anos antes.
GUERRA
No início deste mês, operação do Bope (Batalhão de Operações Especiais) da PM na comunidade do Frade terminou com oito mortos. A polícia interveio depois que traficantes começaram uma guerra pelo território e moradores chegaram a ser expulsos de suas casas. A favela fica a cerca de 200 metros do principal porto de Angra, de onde saem lanchas de luxo para passeios no litoral.
Já em Paraty, a alta da letalidade violenta foi menor —de 24 ocorrências em 2012 para 31 no ano passado—, mas os novos casos têm deixado a população assustada. No Carnaval de 2017, por exemplo, um homem foi decapitado por ter se envolvido com a mulher de um traficante. Em novembro passado, um menino morreu baleado durante uma tentativa de assalto no centro histórico. Somadas, as duas cidades têm 236 mil habitantes, mas são atendidas por um mesmo batalhão, que fica em Angra.
REFORMAS
Niterói e São Gonçalo vivem o mesmo drama, em escala até maior, assim como os municípios da Baixada. Além do tráfico de drogas, esses locais são também importantes rotas do roubo de cargas. A Baixada, por exemplo, é cortada pela via Dutra e de fácil acesso a outras vias importantes, como as avenidas Brasil e Washington Luís. Segunda maior cidade do estado, São Gonçalo sofreu com a migração de traficantes do Rio após a criação das UPPs. Distante cerca de 20 km da capital, a cidade amarga altos índices de violência —tem 30 homicídios para cada 100 mil habitantes, a mesma taxa da média nacional.
Em junho passado, por exemplo, a Justiça pediu a prisão de 96 policiais militares que trabalhavam no 7º batalhão, o único da cidade. Policiais foram flagrados, por escutas telefônicas, “assaltando” um ponto de venda de drogas numa favela local. Os militares assumiram o comando do ponto e negociavam os produtos ilícitos por preços menores com usuários. O “assalto” teria ocorrido em 2016, como forma de a quadrilha obter recursos rapidamente. Segundo a investigação, os mesmos policiais cobravam propinas de bandidos locais, num esquema que renderia R$ 1 milhão mensais. A reforma da estrutura policial também é um dos objetivos da intervenção federal. A ideia é fortalecer as corregedorias com troca de informações com o serviço de inteligência do Exército sobre prática ilegais de policiais.
Desde junho de 2016, o Rio está em situação de calamidade pública —e conta com o auxílio das Forças Armadas desde setembro do ano passado. Não há recursos para pagar servidores e contratar PMs aprovados em concurso. Policiais trabalham com armamento obsoleto e sem combustível para o carro das corporações. Faltam equipamentos como coletes e munição. A falta de estrutura atinge em cheio o moral da tropa policial e torna os agentes vítimas da criminalidade. Somente neste ano, 16 PMs foram assassinados no estado —foram 134 em 2017 inteiro.
UOL/Notícias
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