No perde e ganha do STF, Lava Jato fica parecida com Titanic e Lula se safa
As coisas poderiam estar mais
tranquilas para os órgãos que combatem a corrupção no Brasil, pois o STF já
avalizou a prisão após condenação na segunda instância em três oportunidades no
ano de 2016, a condenação de Lula mostrou que a lei vale para todos e os
larápios ficaram tontos. No entanto, a instância máxima do Judiciário
brasileiro não se cansa de dar vexame. Se o Brasil fosse um filme, o enredo
seria sobre uma embarcação em apuros (Lava Jato), uma tripulação presunçosa
(ministros do STF) e uma imensa pedra de gelo à frente (a revisão da regra
sobre a prisão). Tudo muito parecido com Titanic.
Ficou mais difícil exagerar
sobre as consequências do desastre depois que o Supremo impediu o TRF-4 de
impor sua própria jurisprudência a Lula. Em liminar extravagante, a Suprema
Corte proibiu o tribunal de segunda instância de liberar Sergio Moro para
expedir a partir de segunda-feira a ordem de prisão contra um ex-presidnete
condenado a 12 anos e 1 mês por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Veja
abaixo quem ganhou e quem perdeu com a decisão do Supremo.
Quem ganha
– Lula: Até a noite de quinta-feira, o líder
máximo do PT era uma prisão esperando para acontecer. A Polícia Federal vinha seguindo
sua movimentação à distância. A Agência Brasileira de Inteligência monitorava
as redes sociais à procura de eventuais reações. Mas o esquema montado para
capturar Lula subiu no telhado. Com azar, o ex-presidente petista comerá o ovo
da Páscoa com os netos e voltará à alça e mira das autoridades apenas depois de
4 de abril. Com sorte, prevalecerá no julgamento do mérito do habeas corpus e
ganhará do Supremo o direito de recorrer em liberdade contra a condenação no
Caso do Tríplex.
– Partido dos Trabalhadores: Preso, Lula levaria o projeto
presidencial do PT para trás das grades. Solto, continua inelegível. Mas pode
manter a pose de presidenciável em caravanas, entrevistas e eventos
partidários. Na pior das hipóteses, a encenação do PT sobrevive até 4 de abril.
Na melhor das hipóteses idealizadas pelo partido, o Supremo mantém a carta de
Lula no baralho até agosto, quando o TSE terá de descartar o registro de sua
candidatura. Quanto mais prolongada for a exposição, maior será a chance de o
PT colocar um poste de Lula no segundo turno da sucessão.
– Corruptos e
criminalistas: O
placar de 6 a 5 a favor da liminar que proibiu a prisão de Lula até 4 de abriu
foi um prenúncio de que a regra que permite a prisão na segunda instância está
com os dias contados. Os seis ministros que deram o salvo-conduto para Lula são
justamente os que querem empurrar a prisão para a terceira instância (STJ) ou
para o ponto final do trânsito em julgado (STF). Os condenados presos da Lava
Jato farão fila no guichê do habeas corpus. Quanto aos criminalistas, não
perdem por esperar. Ganham.
Quem perde
– Lava Jato: É grande o desânimo que se abateu
sobre a força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, principal vitrine da operação. Em
privado, os procuradores da República que integram o grupo compartilham
previsões pessimistas sobre o futuro da mais bem sucedida iniciativa
anticorrupção da história. O receio é o de que o salvo-conduto concedido a Lula
seja a apenas a primeira providência de uma série de decisões que culminarão
com a revogação da jurisprudência que autorizou a prisão de corruptos
condenados na segunda instância. Nas palavras de um dos procuradores da Lava
Jato, a eventual revisão dessa jurisprudência será “a maior derrota da Lava
Jato e do esforço para o combate a crimes de poderosos.”
– Sergio Moro: O juiz da Lava Jato se equipava para
assinar o mandado de prisão de Lula entre segunda e terça-feira. Passaria à
história como signatário da ordem que encarcerou o primeiro ex-presidente da
história condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A liminar do
Supremo retardou o feito para depois de 4 de abril. A espera pode ser maior se
a Suprema Corte conceder habeas corpus a Lula. Mais adiante, se a prisão migrar
da segunda para a terceira instância (STJ), o juiz terá um verbete mais magro na
enciclopédia.
– TRF-4: A 8ª Turma do TRF-4 manteve para
segunda-feira a sessão de julgamento do recurso de Lula (embargo de declaração)
contra a sentença de 12 anos e 1 mês de cadeia. Mas a liminar do Supremo
retirou do julgamento sua consequência mais dramática. Os desembargadores João
Pedro Gebran Neto, Leandro Paulsen e Victor Laus não poderão autorizar Sergio
Moro a expedir mandado de prisão contra Lula, como pretendiam. Vistos como
fantasmas pelos réus da Lava Jato, os três magistrados de Porto Alegre vão
virar gasparzinhos se o Supremo retirar da segunda instância do Judiciário o
poder de colocar corruptos no caminho do brejo carcerário.
Blog do Josias de Souza
Nenhum comentário:
Postar um comentário