Juntos, Lula e Bolsonaro triunfaram na Batalha do Sul. Sujeitaram o discurso tucano à sua lógica política
[o artigo é excelente, fazendo honras merecidas ao autor;
apenas parte de uma premissa errada: que Lula continua existindo politicamente.
Lula está queimando, só que ele é um monturo e fogo de monturo demora a extinguir-se, só quando o monturo se extingue e por natureza o lixo é de combustão lenta.
mas o incêndio, e, consequentemente, o que está queimando se extingue antes de outubro próximo.]
“O povo não é bobo, abaixo a Rede Globo!”, gritavam os partidários
de Bolsonaro no Paraná, plagiando o antigo bordão dos fiéis lulistas
para expressar sua repulsa ao jornalismo, em geral, e à Globo, em
especial. Mais surpreendente, talvez, foi outro paralelismo registrado
em meio aos ataques à caravana de Lula no Sul. “Lula quis transformar o
Brasil num galinheiro; agora está colhendo os ovos”, declarou Bolsonaro.
“Estão colhendo o que plantaram”, declarou Alckmin. Por que eles não
articulam uma chapa única —a coligação “Pau, Pedra, Ovo e Tiro”?
Nas emboscadas à caravana eleitoral lulista, queimaram-se pneus.
Quantas vezes os movimentos que orbitam ao redor do PT incendiaram pneus
para atingir objetivos partidários simulando protestar em nome de
reivindicações sociais? Enquanto, no Sul, a baderna envolvia os
militantes lulistas, no Nordeste o MST invadia uma fábrica de Flávio
Rocha, recém-declarado candidato presidencial. As milícias que se
coordenaram contra a caravana evidenciam a força da pedagogia da
intimidação. “Petistas da direita”, eis uma alcunha apropriada para os
arruaceiros que perseguiram Lula. Quando Alckmin pronuncia seu elogio
implícito da violência política, está dizendo que, ganhando ou perdendo
as eleições, o PT venceu —isto é, que não há mais espaço para a
divergência democrática no Brasil.
A política da intimidação nasce da pulsão totalitária. “As ruas são
nossas” —a ideia de expulsar os rivais da praça pública sempre foi um
traço comum aos partidos fascistas e comunistas. O PT não é uma coisa
nem a outra, mas assimilou as práticas do castrismo, fonte mítica de
inspiração para suas principais correntes. Daí, os “atos de repúdio”
contra “inimigos do povo”, a vandalização de debates acadêmicos ou
eventos de lançamento de livros, as invasões políticas de propriedades
patrocinadas pelo MST (o “exército do Stédile”, que opera como milícia
de Lula), as agressões a concorrentes em atos eleitorais. O Alckmin que
justifica os petistas da direita está, de fato, celebrando os petistas
do PT.67
O pilar central da democracia é o princípio do pluralismo: a crença
compartilhada de que nenhum partido singular tem o monopólio da
verdade. A política da intimidação equivale a uma insurreição contra a
democracia. É essa a chave para interpretar o cerco dos milicianos à
caravana de Lula. Na hora do impeachment, um clamor pela cassação do registro do PT
escorreu dos arautos de uma “nova direita” avessa ao pluralismo. [deve ser considerada a existência de dois tipos de pluralismo:
- o que expressa o pluralismo de ideias e que é sempre bem-vindo; e,
- o que pretende eliminar ideias, aceitando como válidas apenas as que defende.
PT e outras coisas da esquerda usam o gancho debate de ideias, desde que o resultado seja a prevalência do que defendem; divergiu passa a ser contrário ao maldito 'politicamente correto'.] A causa
da abolição do PT fracassou, assim como se desvaneceram as esperanças
na simples desaparição do partido. O projeto liberticida mudou de alvo:
trilhando um longo desvio para atingir a mesma meta, eles empenham-se em
forçar a prisão de Lula. Os ovos, pedras, paus e tiros desferidos
contra a caravana devem ser entendidos como instrumentos de persuasão
dos ministros do STF. No Sul, mirava-se o julgamento de 4 de abril.
João Doria entendeu isso, explicitando a demanda dos milicianos.
Depois de repetir Alckmin (“o PT sempre utilizou da violência; agora
sofreu da própria violência”), Doria esclareceu o que se pretende: “Não
recomendo ovos, e sim prisão para ele”. As lideranças petistas
habituaram-se a ameaçar juízes com o espectro da convulsão social, na
hipótese da prisão de Lula. O porta-voz voluntário dos petistas da
direita produziu uma ameaça simétrica: a convulsão social seria o fruto
do habeas corpus para Lula. A política da intimidação eleva-se a um
patamar inédito quando aderem a ela os candidatos tucanos ao Planalto e
ao Bandeirantes.
Fogueiras de pneus pertencem ao universo dos petistas —os de
esquerda ou os de direita. Lula e Bolsonaro triunfaram, juntos, na
Batalha do Sul. Eles configuraram o noticiário e sujeitaram o discurso
tucano à sua lógica política. Aos vencedores, irmãos-inimigos, uma chuva
de ovos.
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