Eleição ou guerra? Socos em repórteres, ovos e pedras, a ameaça de cadáveres…
O ex-presidente Lula saiu da sua zona de conforto e foi se meter na
Região Sul, onde a recepção à sua caravana tem sido bastante diferente
da que encontrou no Nordeste. Pedras, ovos, gritos e estradas bloqueadas
estão mostrando não só a irritação contra Lula e o PT, mas também o
grau de radicalização da campanha, que tende a piorar. Soou estranho, até uma provocação, Lula sair em caravana no Rio
Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina justamente quando o TRF-4, de
Porto Alegre, estaria confirmando a sua condenação a 12 anos e 1 mês.
Primeiro, porque ele se pôs perigosamente próximo ao palco da decisão.
Segundo, porque o Sul é refratário a Lula – e não é de hoje. Terceiro,
porque a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, que está na primeira fila
das ações no STF, é do Paraná.
Rejeite-se qualquer tipo de violência e agressividade contra
candidatos, que pode ir num crescendo e acabar virando uma nova
modalidade de guerra de torcidas que, nos estádios, já coleciona feridos
e mortos. Se Lula sobe no palanque antes da hora (e a Justiça Eleitoral
não vê nada de mais), deixa o homem falar. Ouve quem quer. Feita a ressalva, preocupa também a reação de Lula, que não poupa
ameaças de revide e, em São Miguel do Oeste (SC), recorreu a uma
expressão nada democrática ao atiçar a polícia para entrar na casa de um
manifestante e “dar um corretivo” nele. Como assim? Invadir a casa do
cidadão? Dar um corretivo? Lula quer que a PM encha o “elemento” de
pancada?
Pela força, simbologia e significado, vale a pena transcrever a
fala do ex-presidente, que, um dia, décadas atrás, já foi alvo da
polícia por [dizer, fingir] defender a democracia e os direitos dos trabalhadores: “Tem
um canalha esperando que a gente vá lá e dê uma surra nele. A gente não
vai fazer isso. Eu espero que a PM tenha a responsabilidade de entrar
naquela casa, pegar esse canalha e dar um corretivo nele”. Os petistas e seus satélites nunca jogaram ovo em ninguém? Nunca
atiraram pedra em protestos contra adversários? E Lula nunca ameaçou
convocar o “exército do Stédile”, referindo-se a João Pedro Stédile, do
MST? Então, é aquela velha história: pimenta nos olhos dos outros…
Se a campanha oficial nem começou e já chegamos à fase de ovadas e
pedradas, o risco é a eleição sair do controle, estimulada pelo excesso
de candidatos versus a falta de ideias e programas, pelos processos,
condenações e salvos-condutos envolvendo um ex-presidente que é o líder
das pesquisas.
Uma coisa não está clara, mesmo quando se lê o noticiário: quem são
os que protestam contra Lula na Região Sul? Eles são vinculados a algum
setor, igreja, movimento? E estavam ou não a serviço de uma outra
candidatura e partido? Espontaneamente ou a soldo? Na versão de
petistas, eles são da “extrema direita”. Apoiadores de Jair Bolsonaro,
por exemplo? Uma coisa é protesto contra mensalão, petrolão, triplex, sítio…
Outra é o surgimento de milícias movidas a ideologia que querem
confronto e pavor. Ainda mais depois de Gleisi dizer que, “para prender o
Lula, vai ter que matar gente”.Ela falou isso quando a condenação de Lula já conduzia à conclusão
lógica – e jurídica – de que ele acabaria sendo efetivamente preso. Só
não foi, [ainda] frise-se, por um salvo-conduto do STF que contraria o próprio
entendimento do STF autorizando a prisão após segunda instância.
Se um lado ameaça com cadáveres e esmurra repórteres, enquanto outro reage com ovos e pedras, será eleição ou guerra campal? (In)coerência. Os indignados com O Mecanismo, de José Padilha, são
os mesmos que aplaudiram a cadeira “O Golpe de 2016”, na UnB, uma
universidade pública. É a história da pimenta, de novo…
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