O
presidente Michel Temer foi duas vezes denunciado pelo Ministério Público, é
investigado pela Polícia Federal e ontem a Procuradoria-Geral pediu a prisão de
13 pessoas ligadas a ele, algumas são seus amigos de longa data. Das duas
primeiras denúncias ele conseguiu se livrar através de estratagemas no
Congresso. Há pouco mais de 10 meses ele se tornou um presidente encurralado.
[o principal sinal da fragilidade das acusações contra Temer é que o principal acusador é um malfeitor: Joesley Batista;
o que sobra das acusações são apenas deduções de fatos que podem, ou não, envolver o presidente.
O principio 'in dubio pro reo', é olimpicamente ignorado em tudo que possa favorecer ao Temer. Foi invertido de forma a considerar qualquer dúvida uma certeza de que a acusação procede.
Felizmente, o caso do senador José Serra, em que a PGR - a acusadora - pede o arquivamento do inquérito contra o senador, demonstra de forma indiscutível que uma denúncia, um inquérito, nem sempre retrata a verdade.
Ser investigado significa que alguma autoridade, ou instituição, viu elementos contra determinado cidadão que representam indícios (aos olhos daquela autoridade) de culpa do investigado.
NÃO SIGNIFICA CULPA, que só é provada após o julgamento, dentro do devido processo legal e cujo resultado (sentença) deve ser ratificada em segunda instância.
Só que se tratando de Temer, qualquer acusação, mesmo feita por um bandido, ou mesmo uma insinuação passa a ser a VERDADE - principio que grande parte da imprensa, estimulada pelas ONGs dos direitos humanos pró-bandidos, adota quando os acusados são policiais que em confronto com bandidos optaram por se defender, não aceitaram morrer e exerceram o DIREITO DE DEFESA.]
A
operação Skala trouxe muitos sinais e nenhum é bom para o governo Temer. O
primeiro é que todo o esforço que Temer fez para bloquear no Congresso as duas
primeiras denúncias da Procuradoria-Geral da República não o blindaram. Venceu
as batalhas, mas não a guerra. Ele conseguiu derrubar as duas denúncias porque
há no Congresso um sentimento de autoproteção, muitos dos que votaram a favor
dele são alvo, ou temem ser, da operação anticorrupção. O segundo
é que ao contrário do que foi dito pelo ex-diretor da Polícia Federal Fernando
Segovia, o inquérito contra Temer não está em vias de ser arquivado por falta
de conteúdo probatório. Se as evidências não fossem fortes, a PGR não pediria
as prisões dessas 13 pessoas e o ministro Luís Roberto Barroso não as teria
concedido.
Terceiro
sinal é que se os indícios de corrupção se tornarem mais robustos, Temer pode
vir a enfrentar uma terceira denúncia. As duas primeiras foram feitas por
Rodrigo Janot. A defesa aproveitou erros cometidos pelo ex-procurador-geral e o
envolvimento do seu antigo assessor Marcelo Miller com o grupo JBS para tratar
as denúncias como parte de uma perseguição pessoal ao presidente. Se houver
nova denúncia, ela será apresentada pela procuradora Raquel Dodge, da qual se
dizia, indevidamente, que fazia parte do esquema para reduzir a pressão do
Ministério Público sobre os políticos. As
autoridades parecem trabalhar com a tese da continuidade delitiva porque estão
sendo avaliados fatos muito anteriores ao mandato, indícios de recebimento de
propina, através de pessoas ligadas a ele, desde os anos 1990. Só essa
continuidade permitiria que ele fosse denunciado agora por fatos que
aconteceram antes do seu mandato. É por isso que o rastro seguido pelos
investigadores é de negócios no Porto de Santos, em cuja gestão o presidente
Temer sempre teve influência, através de seus indicados. E o elo de todo esse
passado ao presente é o objeto central da investigação: o suposto favorecimento
da Rodrimar no decreto dos Portos.
Os
investigadores estão montando um quebra-cabeças que junta as várias vezes em
que o presidente foi citado: nas delações de executivos e proprietários da JBS,
na delação do doleiro Lúcio Funaro, na operação controlada em torno de Rocha
Loures na qual o então assessor presidencial foi gravado em conversa com o
executivo da empresa portuária.
A
operação Skala mirou pessoas que estão inequivocamente ligadas ao presidente,
como o ex-assessor presidencial e amigo de décadas José Yunes e o homem de
confiança coronel João Batista Lima, deixando claro quem é que está no foco
principal da operação. Desde o
dia 17 de maio do ano passado, há pouco mais de dez meses, a presidência de
Temer tem estado encurralada. Naquele dia foi divulgado o teor da conversa
gravada pelo "empresário" Joesley Batista com o presidente no Jaburu. Há momentos
em que o cerco parece mais fraco e há dias, como o de ontem, em que a pressão
fica maior, mas desde aquela data o governo entrou em outra frase e se
enfraqueceu. A reforma da Previdência, que estava para ser votada, entrou em
agonia e assim ficou por meses até ser deixada de lado. Ontem foi um dia em que
o governo até teve uma vitória na economia. Contra todas as previsões o leilão
de petróleo foi bem sucedido e arrecadou R$ 8 bilhões, mas este é um governo
marcado pelas suspeitas de corrupção pretéritas e presentes. [é recorrente: um sopro favorável sobre a economia, alguma PERSPECTIVA DE MELHORA PARA O BRASIL E OS BRASILEIROS e logo surge uma medida buscando comprometer o presidente Temer e frear mais uma tentativa de melhora da situação econômica que afeta milhões de brasileiros.]
O sinal
mais importante dado com as prisões de ontem é o de que o movimento de combate
à corrupção continua forte e atuante e que o alvo da operação Lava-Jato nunca
foi apenas um partido ou uma tendência política, mas a corrupção esteja onde
estiver.
Coluna da Miriam Leitão - Com
Alvaro Gribel, de São Paulo
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