[Aos traidores - especialmente quando também é policial - a pena mais severa é pouco - óbvio que em toda delação cabe ao delator provar, inclusive as contra Temer.]
Beltrame foi beneficiado
por esquema de Cabral, diz Carlos Miranda
Em delação homologada no STF, Carlos Miranda afirma
que ex-secretário recebia mesada de R$ 30 mil; ele nega acusações
José
Mariano Beltrame - Daniel Marenco / Agência O Globo
[óbvio que Beltrame se vendeu não foi devido as UPPs, mas sempre desconfiamos das tais Unidades de Perigo ao Policial - UPPs;
nunca conseguimos entender operação policial com a hora e o dia de realização divulgados pela imprensa, poucas prisões;
sempre nos pareceu inadequado que em qualquer acusação contra policiais Beltrame já escolhia o lado para apoiar e nunca era o lado dos policiais.]
No anexo
40 de sua delação premiada, o economista Carlos Miranda acusa o
ex-secretário de Segurança José Mariano Beltrame de ter se beneficiado
do esquema de corrupção de Sérgio Cabral. De acordo com o delator, de
2007 a 2014, Beltrame, que é delegado da Polícia Federal, recebeu um valor
mensal de R$ 30 mil, recursos que teriam sido entregues à mulher dele, a
professora de Educação Física Rita Paes. O ex-secretário e sua mulher negam as acusações. A delação de Miranda foi
homologada pelo ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF).
O conteúdo da delação de Miranda já foi encaminhado ao juiz
Marcelo Bretas, da 7ª Vara Criminal Federal. Durante dez anos (oito
no governo Cabral e dois no de Luiz Fernando Pezão), Beltrame liderou a guerra
contra o crime no Estado do Rio e foi o responsável pela implantação da
Unidades de Polícia Pacificadora (UPP). Até o momento, o delegado tinha passado
incólume pelas investigações da Operação Calicute, versão da Lava-Jato no Rio,
responsável pela prisão de Cabral em novembro de 2016.
Preso
desde novembro de 2016, Carlos Miranda é acusado de ser o principal operador de Cabral,
responsável pela coleta e distribuição de propina do esquema. No anexo 40, ele
contou que, antes de chegar às mãos dos Beltrame, o dinheiro seria repassado ao
empresário Paulo Fernando Magalhães Pinto. Na época, Paulo Fernando era dono do
apartamento alugado pelo delegado. O imóvel, localizado em Ipanema, tinha um
alto custo: aluguel de cerca de R$ 15 mil, condomínio de R$ 5 mil e IPTU em
torno de R$ 7 mil, de acordo com reportagem publicada pelo jornal Extra em
2016.
Outra
reportagem, publicada pela revista “Veja” em janeiro do ano passado, revelou
que os filhos do delegado Beltrame chegaram a postar fotos no Facebook a bordo
da lancha Manhattan Rio, registrada em nome de Paulo Fernando, em passeio pelas
ilhas de Angra dos Reis. As investigações da Calicute demonstraram, mais tarde,
que a lancha pertencia, na verdade, a Sérgio Cabral.
Preso
junto com Cabral em 2016, Paulo Fernando teve a prisão preventiva convertida em
domiciliar em janeiro de 2017, após ter firmado um acordo de colaboração
premiada com a força-tarefa da Lava-Jato. Quatro meses depois, em depoimento ao
juiz Bretas, o empresário e ex-assessor de Cabral afirmou que vendeu metade da
Manhattan, avaliada em R$ 5,3 milhões, ao ex-governador. O pagamento, de acordo
com ele, foi feito em espécie.
LARANJA
DE CABRAL
Paulo
Fernando confirmou ainda que atuou como “laranja” do peemedebista, mantendo a
titularidade da embarcação no próprio nome, além de pagar o aluguel de uma sala
comercial usada pelo ex-governador, no Leblon, e bancar o salário de três
funcionários que trabalhavam para Cabral. Paulo Fernando contou que, depois, as
despesas eram reembolsadas, sempre em espécie — o total, segundo ele, chegou a
cerca de R$ 1 milhão.
Com as
revelações de Miranda, Paulo Fernando deverá ser chamado novamente pela
força-tarefa da Calicute, para detalhar o esquema de pagamento a José Mariano
Beltrame. Procurada cinco vezes entre a tarde e a noite de sexta-feira por O
GLOBO, a defesa do empresário Paulo Fernando Magalhães, representada pela Paulo
Freitas Ribeiro Advogados Associados, não se manifestou até o fechamento desta
edição.
COMBATE À
CORRUPÇÃO
Em 2007,
duas semanas após tomar posse como secretário de Segurança do Rio, José Mariano
Beltrame entregou ao então governador Sérgio Cabral sua declaração de bens, na
qual constava uma casa financiada e um carro como patrimônio. E sempre associou
sua imagem ao combate à corrupção, especialmente a policial. O delator
de Beltrame fez um acordo com o Supremo Tribunal Federal que prevê o
cumprimento de um total de sete anos de prisão, da seguinte forma: dois anos em
regime fechado na Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica; dois anos
em regime fechado domiciliar; um ano e meio em regime semiaberto em casa; e
outro ano e meio em regime aberto, também em casa. Sendo assim, Carlos Miranda
sairá da cadeia em 16 de novembro deste ano.
Enquanto
cumpre o regime fechado, Miranda optou por permanecer em Benfica, onde também
estão alguns dos delatados nos seus depoimento às autoridades. Além disso, o
delator vai pagar uma multa de R$ 4 milhões e perderá todos os bens adquiridos
após 2007, início do governo Cabral, incluindo a fazenda Três Irmãos, em
Paraíba do Sul.
OUTRO
LADO
O GLOBO
mostrou na sexta-feira que o empresário Paulo Fernando Magalhães Pinto também
aparece como intermediário no pagamento de bônus ao governador Luiz Fernando
Pezão, de acordo com a delação de Carlos Miranda, que incluiu em 2013 dois
prêmios cada um no valor de R$ 1 milhão, que eram pagos, afirma, a integrantes
da organização criminosa em algumas oportunidades. O primeiro bônus, segundo
ele, foi repassado em quatro parcelas no escritório de Paulo Fernando, em
Ipanema.
A
respeito das acusações de Carlos Miranda, o governador, por meio de nota,
afirmou que “repudia com veemência essas mentiras”. “Ele reafirma que jamais
recebeu recursos ilícitos e já teve sua vida amplamente investigada pela
Polícia Federal”. Os
advogados Daniel Andres Raizman e Fernanda Freixinho, que defendem o delator da
Lava-Jato Carlos Miranda, não quiseram comentar as acusações feitas por seu
cliente porque a investigação está em sigilo judicial.
O Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário