Blog Prontidão Total NO TWITTER

Blog Prontidão Total NO  TWITTER
SIGA-NOS NO TWITTER

quarta-feira, 25 de abril de 2018

Combate à corrupção não pode ser esconderijo de arremedo de tiranos com ou sem toga. É preciso saber quem mandou humilhar Cabral

Por falar em juízes com certa vocação para a autocracia, está em curso a investigação determinada pelo ministro Gilmar Mendes sobre aquele espetáculo dantesco em que o ex-governador Sérgio Cabral (RJ) é conduzido, em Curitiba, com as mãos algemadas e os pés acorrentados. Obviamente, tratou-se de um ritual de humilhação, sob as barbas — num caso, literais dos juízes Marcelo Bretas e Sérgio Moro. Como ninguém assume a autoria da óbvia e desnecessária agressão — inclusive a decisão do Supremo no que concerne ao uso de algemas —, então se pode concluir, num primeiro momento, que, quando menos, os dois uniram as respectivas togas na omissão.

Como? Você não gosta de Sérgio Cabral? Bem, leitor, eu devo não gostar mais e primeiro. Durante anos, fui voz isolada na grande imprensa na crítica a seu governo. E olhem que eu nem precisava que apontassem roubalheira para isso. Repudiava muitas de suas escolhas, como, por exemplo, a política de segurança pública. Alguns, inclusive na imprensa, que comem hoje covardemente o seu fígado, ficaram a um passo de se ajoelhar a beijar os seus péscomo o ministro Luiz Fux fez, note-se, quando indicado para o Supremo por Dilma, também por influência de Cabral. Não chegou a beijar os pés do então governador. Fez a genuflexão e deu um ósculo no sapato de Adriana Ancelmo, então primeira-dama, advogada influente e pessoa das relações profissionais e privadas de Fux. Mas volto.

Você não gosta de Cabral? Nem eu. Ocorre que o que me mobiliza é o cumprimento da lei, é a civilidade, são as regras de uma civilização democrática. E é claro que lá estava caracterizado um abuso. Aliás, começou quando Bretas, numa manifestação ridícula, classificou de ameaça a lembrança feita por Cabral em depoimento sobre um fato notório e público: familiares do juiz atuam no ramo de bijuterias. O doutor aproveitou o episódio para determinar a transferência de Cabral para um presídio federal, decisão vetada pelo Supremo. Tempos depois, veio a acusação de que ele tinha no Rio, sendo transferido do presídio de Benfica para o Complexo Médico Penal, em Pinhais, no Paraná.

E se deu, então, a cena asquerosa: Cabral foi conduzido para exame no Instituto Médico Legal com pés atados por correntes e algemado. E, obviamente, isso era desnecessário. Pois bem: com o apoio da Segunda Turma, Mendes determinou a abertura de inquérito e indicou o juiz Ali Mazlum, que atua como auxiliar na Casa, para conduzir a investigação.

Raquel Dodge, procurara-geral da República, manifestou-se contra a decisão do ministro. As objeções são improcedentes. A Turma é soberana para determinar esse tipo de procedimento e já há precedente na Casa, sem manifestação contrária da PGR. Para ela, o ministro não deveria se intitular relator do caso. Bem, a investigação se deu por vontade da Segunda Turma, sob a relatoria de Mendes. Ela objeta ainda que não há pessoas com foro especial no caso e que, portanto, a investigação não poderia ficar no Supremo. Raquel não é boba e sabe que aquela cena lamentável foi montada justamente para afrontar uma decisão do tribunal sobre algemas. Finalmente, ela afirma que já há investigação determinada pelo MPF sobre os mesmos fatos. É mesmo? Cadê? Quais diligências foram postas em prática até agora?

Aquela cena patética tem de ser explicada, e os responsáveis por ela, punidos.  E, por óbvio, é preciso apurar as respectivas condutas de Moro e Bretas num episódio feito para gerar imagens nas TVs e nas redes sociais, deixando claro que, então, os protagonistas da Lava Jato estão no comando do país e fazem o que lhes dá na telha o que inclui desrespeitar decisão do STF e humilhar pessoas que estão sob a guarda do Estado.
Essa e outras farras autoritárias têm de ter fim.
O combate à corrupção não pode ser o esconderijo de arremedos de ditadores e tiranos. Com ou sem toga.


Nenhum comentário: