Bolsonaro é instrumento dos militares, ou os militares é que são de Bolsonaro?
Antes, discutiu-se se o carismático Lula era instrumento do PT e de suas
bases para instalar um projeto de esquerda no Brasil, ou se o PT e suas
bases sindicais, acadêmicas e católicas eram instrumento de Lula para
chegar e manter o poder. A história mostra que Lula venceu o PT. [imaginem a situação do perda total: se o coisa ruim que o venceu é um presidiário, puxando cana, o que é, o que vale,
(por enquanto mero passa tempo, pior será quando novas condenações, obrigarem os que insistem em mantê-lo longe de um presídio comum - local apropriado para cumprimento de penas impostas a bandidos comuns - a transferi-lo para uma penitenciária comum, sem mordomias) o 'partido' que foi vencido pelo 'esperto' presidiário.]
Agora, o Brasil vive o mesmo dilema, mas com personagens opostos: o
capitão-político Jair Bolsonaro é instrumento das Forças Armadas e seus
seguidores para instalar um projeto de direita, ou são os militares e
seus seguidores que se tornaram instrumento de Bolsonaro e seus filhos
para chegar ao poder? Por isso, a transmissão de cargo mais instigante e concorrida foi a do general Fernando Azevedo e Silva na Defesa. De tão disputada, foi no
Clube do Exército. De tão importante, foi a única com discurso do
presidente.
Diante do dilema, sobressaiu-se o enigma jogado no amplo salão por
Bolsonaro. Dirigindo-se ao comandante do Exército, general Eduardo
Villas Bôas, confidenciou: “O que nós conversamos morrerá entre nós”.
Ato contínuo, agradeceu: “Obrigado. O sr. é um dos responsáveis por eu
estar aqui”. O que eles conversaram não se sabe, mas sabe-se que Villas Bôas,
infelizmente acometido de uma doença degenerativa, é o maior líder
militar, um homem inteligente, articulado, simpático e que, bem antes
das eleições, já vinha assuntando sobre quem seria o candidato ideal
para trazer a direita de volta ao poder. Bolsonaro? O ruralista Ronaldo
Caiado? Algum empresário?
Pode nem ter sido a primeira opção, pode nem ter sido o ideal, mas quem
enfrentou o desafio, viabilizou-se para a tarefa e conquistou o apoio
dos integrantes das três Forças foi o capitão que saiu pela porta dos
fundos do Exército, integrou o baixo clero da Câmara 28 anos e agora se
cerca de militares nos cargos mais sensíveis. No mesmo discurso para seus velhos pares, Bolsonaro fez questão de
esclarecer uma outra dúvida: quem enfiou o general da reserva Hamilton
Mourão na vice? Há quem jure que foram os militares, mas Bolsonaro disse
que ouviu outras pessoas, mas a decisão foi dele, pessoal. “Não tem
mais capitão nem general. Agora, somos todos soldados a serviço do
Brasil.”
O novo ministro Fernando Azevedo e Silva admitiu que “são tempos
difíceis de escassez”, mas já defendendo a “urgente reestruturação” e
“novos atrativos” para a carreira militar. E Bolsonaro acenou com a
revisão da MP de 2001 que acabou com a promoção automática dos militares
que passam para a reserva, além do auxílio-moradia e do adicional de
inatividade dos militares. Se há algo que separa Bolsonaro e Villas Bôas, parece ser a relação com
Fernando Henrique Cardoso, que é pródigo de elogios ao comandante do
Exército e tem uma velha rixa com o atual presidente. Depois de citar
Sarney, Collor e Itamar e suas decisões relativas aos militares,
desdenhou: “Depois, tivemos o outro governo, os senhores sabem qual foi.
Tivemos alguns problemas, em especial comigo”.
Para Bolsonaro, as Forças Armadas são “obstáculo para quem quer usurpar o
poder”, mas quem se apossou do poder político e alijou os civis por 20
anos foram elas. E há quem veja no novo governo a volta dos militares.
Observando as posses, os discursos e a bajulação, porém, os ministros
militares estão entre os mais sensatos, menos bajuladores e se comportam
como quem veio não pelo gosto pelo poder, mas para ajudar a resgatar a
ordem no País e na gestão pública. Ao jeito deles. Destaque-se, aliás, a compreensão do general Fernando sobre a imprensa:
“Mais do que reproduzir notícias, ela nos avisa, nos cobra quando
necessário e sempre ajuda a dar transparência às nossas atividades”.
Vamos combinar: melhor do que muito civil e bem melhor do que muito
bolsonarista de internet.
Eliane Cantanhêde - O Estado de S. Paulo
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