Governo busca atenuar desgaste com planos de Moro e da Previdência
O general da reserva Floriano Peixoto Vieira Neto, 64, deverá ser
efetivado no lugar de Bebianno. Se confirmado, será o oitavo ministro
egresso da área militar no governo, que tem 22 pastas —e Onyx Lorenzoni
(Casa Civil) será o último civil com assento no Palácio do Planalto. O embate entre Bebianno, Bolsonaro e Carlos, filho do presidente, que
alavancou a crise ao chamar o ministro de mentiroso, foi visto nos
últimos dias com extrema preocupação pela ala militar do governo, que
busca agora se impor para contornar o desgaste.
Dentro do governo, existe ainda o temor de que Bebianno "saia atirando",
que a bancada governista fique fachada no Congresso em meio à troca de
acusações sobre as candidaturas laranjas do PSL e que as suspeitas do
esquema alcancem outros estados além de Pernambuco e Minas —casos
revelados pela Folha. Bolsonaro tentará atenuar esse desgaste ao apresentar ao Legislativo
nesta semana dois projetos que tratam de bandeiras importantes da
gestão: o combate à corrupção e o ajuste das contas públicas.
Na terça-feira (19), o ministro Sergio Moro (Justiça) levará ao Congresso a proposta de uma lei anticrime. Na quarta (20), será a vez de a equipe econômica de Paulo Guedes
entregar a proposta de reforma da Previdência. Bolsonaro fará um
pronunciamento em rede nacional, na televisão e no rádio para falar
especialmente das mudanças nas regras da aposentadoria. Segundo assessores, o presidente sabe que terá pela frente dificuldades
com seu partido e que a crise com Bebianno, que foi o braço-direito de
Bolsonaro e presidente do PSL durante a campanha, deixa arestas a serem
aparadas com o Legislativo.
Neste domingo (17), o empresário Paulo Marinho, suplente de Flávio
Bolsonaro (PSL-RJ) no Senado, criticou a atuação dos filhos do
presidente. "Vejo como todo mundo: com muito maus olhos. Mas filho é
filho, né?", afirmou a jornalistas ao deixar o hotel onde esteve
hospedado com o ministro Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral) nos últimos
dias, em Brasília. Ele negou que Bebianno se sinta vingativo com Bolsonaro e disse que
"vida que segue" é o acontece quando "se anda em más companhias". A aliados, Bebianno oscila sobre o futuro: em alguns momentos endurece o
discurso e diz que "não cairá sozinho"; em outros, acata o
aconselhamento de amigos de falar o mínimo possível.
O presidente passou o fim de semana no Palácio do Alvorada com
familiares. Recebeu visitas de alguns ministros —orientados a não
comentar a crise e a se voltar para medidas governamentais— e usou as
redes sociais só para replicar as ações dos ministérios. "Estamos fiscalizando recursos, diminuindo gastos, propondo
endurecimento penal, Previdência. Tudo isso em pouquíssimo tempo. Nossos
objetivos são claros: resgatar nossa segurança, fazer a economia
crescer novamente e servir a quem realmente manda no país: a população
brasileira", escreveu Bolsonaro no Twitter durante a tarde.
A proposta de Guedes vai ser apresentada por meio de peças de
publicidade que vão falar em "Nova Previdência" e apontar números para
tentar convencer a população de que o projeto é necessário para que
pobres e ricos tenham as mesmas condições. É previsto para esta semana ainda o anúncio dos líderes do governo no
Senado e no Congresso, o que permitirá que o Executivo tenha
representantes diretos nas negociações das pautas de votações das duas
casas legislativas.
Bolsonaro vai receber no Alvorada lideranças do Legislativo para
discutir as propostas do governo. Na manhã de quarta será a vez de o PSL
tomar um café da manhã com o presidente em uma conversa que busca
realinhar o partido. A tramitação da reforma da Previdência é uma das maiores preocupações
hoje dos militares, que não veem no chefe da Casa Civil estofo para
orientar o trabalho no Congresso. Esse grupo quer que Floriano Peixoto, hoje secretário-executivo de Bebianno, seja nomeado de forma definitiva.
Além do Bolsonaro, que é capitão reformado, já vieram do Exército nomes
como o vice-presidente Hamilton Mourão (general da reserva) e os
ministros Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional, general
da reserva) e Carlos Alberto dos Santos Cruz (Secretaria de Governo,
general da reserva). O provável substituto de Bebianno tem longa história no Exército, embora
não tenha chegado ao Alto Comando —é general-de-divisão, com três
estrelas, penúltimo grau mais alto da hierarquia.
Floriano Peixoto comandou unidades como a 12ª Brigada de Infantaria Leve
(Aeromóvel), no Vale do Paraíba (SP), o 62º Batalhão de Infantaria de
Joinville (SC), e a 2ª Divisão do Exército, em São Paulo. Mas foi o Haiti que marcou sua carreira --com participação na Missão de
Paz da ONU (Organização das Nações Unidas) comandada pelo Brasil na ilha
caribenha de 2004 a 2017. Tendo experiência internacional por ter sido instrutor nos Estados
Unidos, Floriano Peixoto estava na 5ª Subchefia do Estado-Maior do
Exército, responsável pelo planejamento de missões estratégicas,
inclusive no exterior. Em 2004, ele ajudou a organizar a Minustah, como a
missão de paz era conhecida.
Talita Fernandes, Igor Gielow - FSP
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