Guerra comercial entre China e EUA pode beneficiar o agronegócio brasileiro este ano. Mas a disputa afetará a economia mundial, com impactos no Brasil
O economista José Roberto Mendonça de Barros avalia que as exportações brasileiras podem aumentar muito para a China neste primeiro momento da nova fase da guerra comercial com os Estados Unidos.
Além de elevar a compra de soja no Brasil, a China precisará comprar muito mais carne, porque teve uma enorme perda com a gripe suína. Essa vantagem, contudo, é só de curto prazo, porque a perspectiva de um conflito entre as duas potências é ruim para o Brasil: —O evento da gripe suína é muito maior do que as pessoas imaginam. Vai haver uma queda grande de produção por lá. Eles consomem 55 milhões de toneladas e vão perder pelo menos 12 milhões. O Brasil não tem muita capacidade de aumento de oferta, talvez mais 300 mil a 500 mil toneladas, mas isso é um grande aumento para nós. Por reflexo, atinge também carne vermelha e frango. Esse complexo deve aumentar sua oferta.
José Roberto lembra que, como sempre, a fonte de boa notícia vem de poucos setores, mas pelo menos eles existem: —Nos últimos anos o que cresceu foi o agronegócio, o setor de energia eólica e de petróleo. Não muito mais do que isso. Neste ano, por causa do mercado chinês, o Brasil terá um aumento de exportação do agronegócio. O grande impacto será na soja. No ano passado, isso já aconteceu. Na opinião do economista, por causa dessa capacidade de aumentar o fornecimento, o Brasil se firmou como parceiro confiável. Assim como outros países da América do Sul, como Argentina e Paraguai.
—Em 2017, o Brasil forneceu 43 milhões de toneladas de soja para a China, e os Estados Unidos, 35 milhões. No ano passado, por causa da guerra comercial, a China comprou apenas 8 milhões nos Estados Unidos e elevou para 75 milhões no mercado brasileiro. Os produtores brasileiros têm volume e confiabilidade — disse o economista. O presidente Donald Trump prometeu compensar os agricultores americanos com US$ 15 bilhões de subsídio.
Isso prejudica diretamente o Brasil porque a proposta é o governo comprar os estoques excedentes e mandar para países que precisam. José Roberto não acredita muito que isso dê certo: — Isso é conversa mole. No ano passado, ele prometeu R$ 12 bilhões e não deu nem a metade. Até porque não é fácil fazer isso, não há estrutura governamental para comprar, estocar e exportar. Não estamos mais no período da Aliança para o Progresso, naquela época tinha uma máquina. Os americanos estão construindo silos pra estocar e é por isso que os políticos do meio-oeste, até os do Partido Republicano, estão furiosos com o Trump.
Os chineses prometeram comprar 20 milhões de toneladas, logo de cara, se o acordo fosse feito, mas a nova temporada da guerra aumentou a incerteza. José Roberto acha que esse é um bom momento de o Brasil se consolidar como um fornecedor confiável. Esse é o ganho, mas a perda é bem assustadora. —No geral, com a guerra comercial perdem todos, perdemos nós também com a queda do crescimento mundial —diz José Roberto. Este não é um bom momento para o Brasil enfrentar um alto grau de incerteza internacional como o que se abre a partir do agravamento da crise que houve esta semana. A economia brasileira tem esfriado ainda mais nos últimos meses, aumentando a fragilidade fiscal.
O melhor é aproveitar o bom momento com as missões à China como as que estão sendo feitas pelo Brasil. O discurso do presidente Jair Bolsonaro é anti China, pela identidade ideológica com Trump. Mas a realidade dos negócios vai se impondo. O fato é que Brasil e Estados Unidos, no campo das commodities agrícolas, são economias que competem entre si pelos mesmos mercados. É por isso que a guerra comercial tem esse efeito imediato de elevar as compras chinesas no Brasil. Esse cenário de maior exportação do agronegócio se fortalece com o fator que José Roberto falou: a gripe suína forçará a China a comprar mais carne. E os produtores brasileiros podem entregar.
— Eu estou rouco de falar que essa cadeia longa do agronegócio é um dos fortes do país. E ela se fortaleceu com educação, pesquisa, tecnologia e trabalho duro — afirmou o economista.
Há quem, no governo, e no ruralismo, acredite que a agenda do agronegócio tem que ser arma, desmatamento, uso de terra indígena. Tomara que o trigo vença o joio. [terra o agronegócio precisa e as reservas indígenas representam milhares de hectares para cada índio (temos Post sobre isso, sendo muito lido o que comprova a existência de uma reserva de 50.000 hectares para doze índios.)o desmatamento é o que torna a terra ociosa utilizável, pode e deve ser controlado e preservar o meio ambiente;
armas, até que quadrilhas como a do MST sejam extintas são necessário à defesa do sagrado direito de propriedade. ]
Coluna da Miriam Leitão - O Globo
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