Influência de grupos no cotidiano da população atinge patamar alarmante no Rio
Um levantamento produzido pelo serviço Disque Denúncia do Rio de
Janeiro, a pedido desta Folha, indica aumento vertiginoso de queixas prestadas por cidadãos contra as milícias que atuam no estado. Nos meses de janeiro a março de 2014, registraram-se 864 denúncias,
contra 1.614 em 2019. Na capital, passou-se de 637 ligações sobre o tema
para 1.140. O aumento das queixas reflete o recrudescimento da atuação desses grupos
cuja influência no cotidiano da população atingiu patamares alarmantes
no Rio —e vai crescendo em outras regiões.
Tipo de organização paramilitar, que conta com o concurso de policiais e
o apoio nem tão velado de políticos, as milícias começaram a se
organizar em torno da cobrança por segurança para as populações
ameaçadas pela violência do tráfico em favelas e bairros pobres. Ao mesmo tempo, assumiram o controle do comércio de gás e da venda de acesso irregular a TVs por assinatura nessas comunidades.
Posteriormente, milicianos passaram a ampliar sua atuação a serviços,
como dispensa de lixo, circulação de mototáxis e até o agendamento de
consultas hospitalares. Também se aventuraram no empreendedorismo imobiliário clandestino. Em
abril, ganhou projeção nacional o desabamento de dois prédios na
comunidade de Muzema, zona oeste carioca, que provocou mais de duas
dezenas de mortes ¬—uma obra de milicianos.
O aspecto mais macabro da atuação desses grupos, porém, é a prática
regular de extermínio de inimigos, sejam eles ligados à criminalidade ou
não. A suspeita mais rumorosa envolve o assassinato da vereadora
Marielle Franco (PSOL). À expansão horizontal do poder dessas facções corresponde uma relação de
seus representantes com esferas do poder. Nos últimos anos nomes
associados a milícias foram homenageados pela Assembleia Legislativa
fluminense —inclusive por iniciativas do hoje senador Flávio Bolsonaro
(PSL), filho do presidente da República. Engana-se quem vê o fenômeno como peculiaridade do Rio, embora o colapso
político e orçamentário do estado de fato facilite toda sorte de
ilícito. Trata-se, isso sim, de mais uma calamidade a ameaçar a
segurança pública brasileira.
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