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segunda-feira, 10 de junho de 2019

O custo dos erros da Odebrecht

A Odebrecht não é vítima da operação Lava-Jato, a empreiteira verga ao peso dos seus erros de conduta e de gestão


A Odebrecht oscilou como um pêndulo sobre a economia brasileira, nos últimos dias. Seu pedido de recuperação judicial é visto com uma dúvida: o que será o fato detonador? Há anos a empresa que já foi o maior grupo privado do Brasil sangra em praça pública, mas os fatos se precipitaram quando a Atvos anunciou que quebrara e a holandesa LyondellBasell avisou que não quer mais comprar a Braskem, operação que era a tábua de salvação da holding.

Do lado dos credores estão vários bancos privados e públicos. O BNDES tem a receber R$ 4 bilhões, da dívida de R$ 40 bilhões da empresa. Os bancos passaram a semana em reuniões para ver a situação de cada um. A Caixa está com poucas garantias. Mas estão todos eles, em maior ou menor grau, expostos: Banco do Brasil, Itaú, BNDES, Santander, Bradesco e Caixa. Em dezembro, 18 bancos fizeram ampla negociação e as ações da Braskem foram dadas em garantia. Sem o comprador holandês, que passou um ano e meio rondando a companhia, as ações caíram 20% e as garantias perderam valor.

A Petrobras estava com tudo pronto com o grupo holandês de petroquímica. A estatal é sócia da Odebrecht na Braskem, só que em posição desvantajosa, porque a empreiteira tem 38% do capital total da Braskem, e a Petrobras, 36%. Do capital votante a Odebrecht tem 50% mais 1. A empreiteira tem o controle e o mando. A estatal é, além de sócia, fornecedora de matéria-prima. Desde o começo das conversas da Lyondell, a Petrobras foi procurada. Ainda no governo Temer, a holandesa perguntou se a estatal queria ser só uma fornecedora de matéria-prima ou parte de um grupo global.  Nessa pergunta estava implícito um convite de sociedade. No governo atual, a Petrobras deixou claro que preferia exercer seu Tag Along Right, ou seja, o direito de ter suas ações compradas nas mesmas condições do majoritário.

 Avisou que iria exercer. Ou seja, a holandesa levaria tudo. E se preparou para continuar sendo supridora, negociando com a Lyondell um contrato de fornecimento de longo prazo. Estava numa boa posição, até que houve a desistência do grupo comprador e tudo voltou à estaca zero. A Petrobras já foi procurada por outros grupos brasileiros e estrangeiros interessados nas ações da Braskem, mas nada tão vantajoso quanto o que estava sendo negociado.

A Lyondell recuou por quê? Motivos não faltaram. As ações que ela estava querendo comprar foram dadas aos bancos em garantia aos empréstimos concedidos à Odebrecht. Mas o que pegou mesmo foi o passivo ambiental em Maceió. As minas de sal exploradas pela Braskem comprometeram o solo de bairros de Alagoas, Pinheiro, Mutange e Bebedouro, atingindo uma população de mais de 20 mil pessoas. As chuvas e um tremor de terra fizeram aparecer rachaduras nas casas. O laudo da CPRM, no mês passado, indicou que há uma grande probabilidade de que os problemas tenham sido causados pelas cavidades de extração da sal-gema. Ninguém sabe ao certo qual o tamanho do passivo. A incerteza do custo do desastre ambiental da mineração em área urbana elevou o risco do negócio. A Lyondell deixou uma porta aberta, mas quem acompanha as conversas acha que é muito improvável que ela volte à mesa de negociação. E a gota d’água foi o sal de Alagoas.

Uma empresa que cai nunca é por um motivo só. Os últimos acontecimentos foram os golpes que levaram a Odebrecht para mais perto das cordas. A Atvos, empresa de usinas de açúcar e álcool, ao pedir a recuperação judicial acendeu a luz amarela. O alerta vermelho foi a desistência da compra da Braskem. Os credores já estão pensando no depois, mas terão que amargar grande prejuízo, principalmente os bancos públicos.

A corrupção, descoberta pela Lava-Jato e que levou à prisão do então presidente Marcelo Odebrecht e à delação de 77 executivos, foi um dos erros da companhia. Mas a empresa é um caso a ser estudado pelo avesso em escolas de negócios. O que não fazer. Por óbvio, não corromper políticos achando que sairia ilesa. Mas houve outros erros: a família nunca se entendeu, o modelo de negócios ficou ultrapassado, a estrutura era superdimensionada, o grupo entrou em vários negócios longe da engenharia, que é sua vocação. Que fique claro: não foi a Lava-Jato que quebrou a Odebrecht. Ela está vergando ao peso dos seus próprios erros de gestão e de conduta.

Blog da Miriam Leitão, jornalista - O Globo

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