Influência dos filhos incomoda os militares
[incomodasse só aos militares...]
Maior temor dos militares no governo é perder a credibilidade conquistada nos 30 anos de silêncio e disciplina após a ditadura
Os militares que estão no governo Bolsonaro não querem ser vistos como
um grupo ou uma ala. Por isso tiveram o cuidado de jamais fazer uma
reunião conjunta, me contou um deles. Mesmo assim são vistos como grupo,
e criticados em bloco. Ontem caiu o general Santos Cruz que sempre foi
alvo dos filhos do presidente e de Olavo de Carvalho. E cair por isso é
até comenda. O general Luiz Eduardo Ramos, que vai assumir, tem
experiência no relacionamento com políticos porque foi assessor
parlamentar do Exército, e tem habilidade para ouvir os diversos
segmentos da sociedade. Se avançar com essas qualidades pode dar certo
ou também ser vítima do mesmo grupo do barulho no governo Bolsonaro.
O maior temor que os militares que estão no governo têm é o de que
venham a perder a credibilidade que conquistaram em trinta anos de
silêncio e disciplina, após o fim da ditadura. Na visão que ouvi de um
deles esta semana, o que estão vivendo agora não tinha acontecido antes. — Em nenhum governo, desde a redemocratização, tivemos o protagonismo
que temos neste. Isso pode ser um ônus se o governo der errado. Na avaliação que eu ouvi, o presidente Bolsonaro não está errado em
criar outras agendas, mesmo que algumas provoquem polêmica, como a
liberação de armas ou a mudança no código de trânsito. Porque se ficasse
apenas na reforma da Previdência poderia dar a impressão de uma
administração paralisada.
No geral, acham que o governo em alguns setores está indo na direção
certa, mas que a comunicação e a articulação com o Congresso são áreas
de crise crônica. E que os ministros que acertam não conseguem mostrar
seu trabalho, pelo destaque que têm os que erram. Entre os mais
criticados está o ministro da Educação. A queda de Santos Cruz acontece num dia que já não estava bem para o
presidente Jair Bolsonaro. Seu decreto que desfez os conselhos foi
derrotado no Supremo Tribunal Federal. O ministro da Justiça Sergio Moro
continua imerso na crise das informações reveladas pelo site “The
Intercept". Mas houve uma notícia positiva. Afinal, o relatório do
deputado Samuel Moreira foi lido dentro do prazo na comissão especial e
manteve intactos vários pontos da reforma da Previdência proposta pelo
governo Bolsonaro, como a idade mínima, que é uma luta de décadas no
Brasil.
Para o ministro Paulo Guedes, contudo, a maior importância dessa reforma
era a capitalização. Na visão dele, isso justificava o nome “Nova
Previdência”, porque iniciaria um círculo virtuoso que levaria a
economia a ter mais poupança, mais empregos e mais investimento. Por
isso, o relatório teve para o ministro um gosto amargo. Para os
parlamentares a rejeição à capitalização foi por um motivo prático. O
projeto do governo pedia autorização para criar um novo regime do qual
nada se sabia, exceto que ele conteria o sistema “nocional”, que
garantiria um valor mínimo a ser pago pelo Tesouro em caso de
insuficiência de poupança na conta individual. Parece confuso. E é.
O valor de R$ 913 bilhões apresentado pelo relator dá à equipe a
sensação de estar bem perto do R$ 1 trilhão, porém essa conta embute a
receita com o aumento da CSLL dos bancos. A economia mesmo é menor. O relatório costurado com os líderes dos partidos que apoiam a reforma
removeu o que era intragável do ponto de vista político, o BPC e a
mudança na aposentadoria rural. Além disso ampliou um pouco a faixa que
permite receber o abono salarial. Por outro lado, criou privilégios para
o grupo mais beneficiado do funcionalismo, que é quem tem o direito de
se aposentar pelo valor do último salário e seguir os reajustes da
ativa.
De qualquer maneira, o dia, de magras notícias boas, era de dar destaque
ao fato de que a reforma da Previdência avançou mais um passo no
Congresso. Mesmo assim Bolsonaro conseguiu criar mais uma crise com a
demissão do general Santos Cruz. A nomeação do general Ramos não deixa o
posto vazio. Mas o motivo da queda mostra mais uma vez a face de um
governo tutelado. E essa influência dos filhos de Bolsonaro, e de Olavo
de Carvalho, sobre o presidente é considerada pelos militares que estão
no governo, como a parte mais incômoda e desconfortável da atual
administração à qual se ligaram. [incômoda, desconfortável, inútil e prejudicial ao Brasil e ao próprio Bolsonaro.
Basta comparar alguns avanços do governo Bolsonaro durante o período em que foi passada a impressão de que os boquirrotos ficariam em silêncio = classificação que abrange os filhos, o eremita da Virginia e outros mais.]
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