Ajuda errada a estados: Ministério da Economia tem razão - Blog do Maílson
Compensar
unidades federativas pelas perdas de arrecadação é criar um incentivo
incorreto, que resultaria em gastos além dos recomendáveis
A aprovação, pela Câmara, do projeto
de lei de auxílio financeiro da União em favor de estados e municípios
tem por objetivo compensá-los por perdas de arrecadação decorrente da
crise da Covid-19. A ideia está correta, mas o projeto contém incentivos
equivocados que podem levar a gastos não previstos, agravando a
situação fiscal do governo federal e dos próprios estados e municípios.
Pela medida, o governo federal transferiria aos entes subnacionais
valor equivalente às suas perdas de arrecadação ao longo dos próximos
seis meses. De saída, isso criaria uma incerteza para o Tesouro
Nacional, que não teria como estimar os gastos a que estará obrigado. O
certo seria estabelecer um valor fixo para cada estado ou município.
O Ministério da Economia tem uma proposta ainda melhor : estabelecer
um valor por habitante . Em tese, isso correspondente às expectativas de
despesas decorrentes da pandemia, que devem variar de acordo com o
número de pessoas a serem atendidas, ainda que possa haver variações em
consequência da intensidade da propagação do vírus em cada unidade da
Federação.
Na forma em que foi aprovada pela Câmara, o auxílio financeiro
criaria a situação de “risco moral”, aquele em que pessoas e
organizações agem irracionalmente, ainda que sem desonestidade,
acarretando consequências indesejáveis e à vezes contrárias aos
objetivos. Um exemplo conhecido envolve os próprios estados brasileiros. No passado, os seguidos socorros financeiros em favor de estados em
crise financeira criaram a percepção de que sempre haveria um salvamento
quando eles enfrentassem crises. Isso os incentivava a um comportamento
irresponsáve l, mediante ampliação de gastos, particularmente os
decorrentes de novas contratações de funcionários.
Contavam que a mãe
União os salvaria novamente.
Pelo que aprovou a Câmara, os estados e municípios terão incentivos a
relaxar a fiscalização do recolhimento de seus tributos ou mesmo a
conceder isenções e benefícios fiscais, pois estarão seguros de que a
queda correspondente de receitas será compensada pela União. Não é o caso, como disse o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, de
considerar que estados e municípios são desonestos. Trata-se de mudanças
comportamentais, não necessariamente intencionais, provocadas por
incentivos mal estruturados. Além disso, não parece razoável que os
governos subnacionais se beneficiem da reposição integral de perdas de
arrecadação. Afinal, a União também sofrerá o mesmo efeito.
Em suma, o mais adequado seria que o Senado ouvisse as ponderações do
Ministério da Economia . Reconheceria a necessidade da ajuda, mas
estabeleceria forma menos custosa e mais racional em sua concessão.
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