O efeito devastador da paralisação da economia, em consequência
do coronavírus, terá um desfecho fatal inevitável. O componente
social será o mais agudo, representado pela massa de milhões de
trabalhadores desempregados, muitos famintos e todos insatisfeitos. É hora de despertar para esta realidade os planejadores públicos de todos
os níveis, com vistas a antecipar providências que possam atenuar a crise.
Em um cenário restrito, imposto pelas necessidades básicas de sobrevivência,
não sobra espaço para divagações acadêmicas, nem para a aplicação de
ideologias econômicas. Para maior probabilidade de acerto, deverá ser
construída uma estratégia adequada ao enfrentamento do desafio, inspirada nas
experiências bem-sucedidas do passado. Embora o liberalismo se apresente como a melhor trajetória para
a prosperidade das economias modernas, cabe ao Estado, nesta conjuntura de
exceção, assumir o direcionamento dos esforços de recuperação da
vitalidade econômica. Em outras palavras, a necessidade da hora faz o pensamento
de John Maynard Keynes prevalecer sobre a doutrina de Friedrich von
Hayek.
A política do New Deal, adotada corajosamente pelo governo Franklin D.
Roosevelt, após a recessão de 1929, trouxe inovações interessantes para a
matriz do capitalismo internacional, que merecem ser invocadas como fontes de
inspiração. Preciso é, no entanto, que o Poder Executivo recupere as suas
legítimas atribuições, usurpadas pelas corporações após 1988, e passe a
administrar o País de modo eficaz. O Centro de Governo, testado pelos países mais desenvolvidos e
proposto pela OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento
Econômico), precisa ser implantado antes mesmo de aprovada a proposta de adesão feita
pelo Brasil.
Nesse modelo, a Casa Civil da Presidência da República assume a gestão estratégica
da agenda de governo, como núcleo central de coordenação e integração dos
ministérios. A autoridade suprema do Presidente da República fica preservada como
última palavra das decisões governamentais, porém, livre das querelas
administrativas, ganhando mais espaço para a dialética política. A prioridade da agenda estratégica, nesta conjuntura, é a recuperação econômica,
mas a sua implementação transcende as atribuições do ministério da
Economia, pelas suas implicações sociais e de segurança.
Um enorme mutirão nacional precisa ser planejado para o “day after”,
com uma agenda de grandes obras de infraestrutura capazes de absorver o máximo
possível de mão-de-obra. Paralelamente, o país necessita realizar um
mutirão legislativo, para recuperar o princípio da independência
dos três poderes, a harmonia social e a segurança. A crise, que não provocamos, mas não pudemos evitar e que
dispersa as energias da nação, pode catalisar um benefício, se despertar uma
aspiração essencial. A união de todos os brasileiros em favor do
País, neste momento, é o nosso ideal e o bem mais
importante.
Transcrito do site DEFESANET - Maynard Marques
de Santa Rosa, General-de-Exército, reserva
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