Marcelo Ribeiro
Protestos contra Bolsonaro e pró-democracia ocorrem de forma pacífica pelo país
A expectativa de que as manifestações nas
ruas contra o governo Jair Bolsonaro, pró-democracia e antirracismo,
realizadas ontem, pudessem acirrar os ânimos da crise política não se
confirmaram. Os atos, em várias capitais do país, correram de forma
pacífica, sem registro de problemas entre grupos opositores, retirando o
trunfo da radicalização, que tem sido uma aposta do presidente para
mobilizar seus apoiadores. Em São Paulo, porém, um grupo que durante a
tarde havia participado da manifestação, foi dispersado pela Polícia
Militar durante a noite para evitar que seguisse para a avenida
Paulista, onde ocorreria um ato a favor do presidente Bolsonaro.
Além dos atos de rua, houve panelaços e buzinaços contra o presidente
promovidos em diversas localidades, num fim de semana em que o governo
federal foi muito criticado, dentro e fora do país, por causa da
retirada do número de mortos de covid-19 do site do Ministério da Saúde.
No Rio, o ato em defesa da democracia e contra o racismo teve início a
partir das 14h. Os manifestantes também lembraram a morte da vereadora
Marielle Franco (Psol), em março de 2018. A manifestação foi acompanhada
de perto pela Polícia Militar, mas não houve incidentes. Pela manhã, um
ato em apoio a Bolsonaro foi realizado na Avenida Atlântica, na praia
de Copacabana.
Em São Paulo, os manifestantes se concentraram a partir das 14h no Largo
da Batata, na região Oeste da capital. O ato foi convocado por
organizações de esquerda, como a Frente Povo Sem Medo, lideranças de
torcidas organizadas e coletivos do movimento negro. Cartazes, bandeiras
e cantos entoados na grande praça no bairro de Pinheiros tratavam de
pautas diversas. Sobressaíram-se críticas à política do governo no
combate à pandemia e ao número de mortes de negros causadas pela
polícia. O protesto promoveu aglomeração e frustrou a tentativa dos organizadores
de manter o distanciamento [importante: protesto contra o presidente Bolsonaro, quebrando regras dos governadores, prefeitos e parte da imprensa = 'donos' - do combate ao coronavírus.] de pelo menos um metro entre os
manifestantes, para evitar a contaminação pela covid-19. Voluntários
percorreram o local distribuindo álcool em gel e cartilhas com
orientações de higiene. Por volta das 15h30, uma via inteira da avenida
Brigadeiro Faria Lima estava tomada. Faixas pedindo “Fora, Bolsonaro”
foram estendidas na rua.
Na avenida Paulista, manifestantes pró-Bolsonaro participaram de ato em
frente ao prédio da Fiesp. Aliás, a esquerda, os inimigos do Brasil, da liberdade e do presidente Bolsonaro, usam o cadáver de George Floyd para defender seus interesses escusos.] Com faixas em defesa da intervenção militar,
críticas ao governador João Doria e aplausos à PM. No domingo passado, a polícia lançou mão de bombas e
prisões durante a manifestação na Paulista que reuniu manifestantes
contra e a favor de Bolsonaro.
Em Brasília, manifestantes ocuparam a Esplanada dos Ministérios em dois
atos simultâneos. Com cordão de isolamento organizado pela Polícia
Militar, o local se dividiu entre manifestantes em defesa da democracia,
antifascistas e antirracistas, e os bolsonaristas. O ato em defesa da democracia e contrário ao racismo e fascismo começou
por volta das 9h. A concentração ocorreu na Biblioteca Nacional e os
manifestantes caminharam pela Esplanada em direção à Praça dos Três
Poderes. O grupo seguiu até a Alameda das Bandeiras, onde os policiais
militares fizeram um bloqueio para evitar um encontro e eventual
enfrentamento com manifestantes favoráveis ao governo.
Os manifestantes pró-democracia gritaram palavras de ordem e seguravam
faixas contra o fascismo, racismo e a favor do regime democrático, além
da defesa do Sistema Único de Saúde (SUS). Vestidos de verde e amarelo,
um grupo favorável ao governo se manifestou em frente ao Palácio do
Planalto, como já ocorreu nos últimos domingos. O ministro do Gabinete de Segurança Institucional (SGI), Augusto Heleno,
acompanhou o trabalho das forças de segurança. Nas redes sociais,
afirmou não ter ido à Esplanada para participar das manifestações
favoráveis ao governo, mas para “agradecer aos integrantes das F Seg
[forças de segurança], pelo trabalho abnegado e competente que realizam,
em prol de manifestações pacíficas”.
Em Belém (PA), a manifestação na manhã de ontem contra o racismo e a
favor da democracia terminou com 112 pessoas detidas, dentre elas 16
menores de idade. A Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do
Pará informou que agiu para fazer cumprir o decreto emitido pelo
governador Helder Barbalho (MDB) que proíbe aglomerações com mais de dez
pessoas como forma de deter a disseminação do novo coronavírus. Ontem, Bolsonaro publicou em suas redes sociais um texto no qual afirma
que as Forças Armadas foram responsáveis por derrotar “o nazismo e o
fascismo” durante a Segunda Guerra Mundial. “Vinte e cinco mil
brasileiros foram à 2ª Guerra e garantiram a nossa liberdade e
democracia. Na Itália, para surpresa de outros exércitos, viram a nossa
tropa composta de negros, brancos e mestiços vivendo de forma harmônica e
integrada. A cobra fumou e derrotamos o nazismo e o fascismo”, escreveu
Bolsonaro.
(Colaboraram Rodrigo Carro e Hugo Passarelli, do Rio e de São Paulo. Com agências noticiosas)
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