ESCALADA AUTORITÁRIA
O vice-presidente Hamilton Mourão desistiu de bancar o moderado do governo Bolsonaro. Em artigo publicado nesta quarta-feira, o general distribui ataques à oposição, à imprensa e ao ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal.Mourão começa o texto, publicado no jornal "O Estado de S. Paulo", com um duro ataque aos protestos pela democracia do último domingo. Chama os manifestantes de "delinquentes" e especula, sem nenhuma base concreta, que eles seriam ligados ao "extremismo internacional". Em seguida, o general incentiva o aumento da repressão aos atos contra o governo. "Baderneiros são caso de polícia, não de política", escreve. É um discurso truculento, típico de políticos autoritários que não aceitam conviver com protestos. O general nunca usou esses termos para condenar as manifestações bolsonaristas que pedem o fechamento do Congresso e um novo golpe militar.
No artigo, Mourão também desmerece os protestos contra o racismo e a truculência policial. Alega que o Brasil é um país livre do "ódio racial", que não precisaria importar "problemas e conflitos de outros povos".
De acordo com o Atlas da Violência, 75% dos mortos pela polícia no Brasil são negros. Negar que isso seja um problema grave é um erro que poucas pessoas ainda têm a coragem de cometer. O general também dispara críticas à imprensa e ao ministro Celso de Mello, que é relator de um inquérito contra o presidente Bolsonaro no Supremo. Sem citá-lo nominalmente, afirma que o decano estaria sendo "irresponsável" e "intelectualmente desonesto" ao apontar riscos à democracia.
É intelectualmente desonesto ignorar que o Brasil vive uma escalada autoritária comandada pelo presidente da República. Na semana passada, ele chegou ao ponto de ameaçar descumprir decisões do Supremo. A essa altura, quem não está preocupado é cúmplice ou está mal informado, o que não parece ser o caso do vice. No fim do artigo, Mourão sustenta que o Brasil se livrou de "administrações tomadas por ideologia". Imagine se fosse o caso do bolsonarismo.
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