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segunda-feira, 6 de julho de 2020
O voto do novo corona (por Gaudêncio Torquato)
Uma das projeções é que as mulheres ganharam evidência durante a
crise, mais falantes e valentes na crítica aos precários serviços
públicos. A par disso, evoca-se sua condição nas atividades do
cotidiano, na educação dos filhos, na azáfama para organizar em meio as
intempéries da família. Daí merecerem o voto de fortes parcelas
eleitorais. Um fenômeno que se expande no país, seguindo movimentos que se
multiplicam no mundo, é o da organicidade social, tendência já
consolidada na Europa, nos EUA e nos países orientais – vejam Hong-Kong –
, e que se desenvolve aqui de maneira consistente. A Constituição de
1988 abriu um imenso leque de direitos individuais e sociais que, nos
últimos anos, se tornaram movimentos organizados, capazes de mobilizar
multidões. A sua força se avoluma na esteira do descrédito da classe política.
Parlamentares e governantes deixam de cumprir tarefas, só reaparecem nos
ciclos eleitorais e operam no balcão da velha política. Esses ganharão
passaporte para casa. Ora, a descrença generalizada abriu imenso vácuo
entre eles e a sociedade. As entidades organizadas ocuparam este espaço e
fundaram novos polos de poder. A intermediação social entrou forte nas
frentes de pressão. O Congresso virou passarela para o desfile de
associações, sindicatos, federações, núcleos, grupos, movimentos de
todos os tipos. O voto terá essa forte alavanca.
Outro vetor de peso é o das frentes parlamentares. Fazem parte do
circuito anterior aqui descrito, mas merecem um destaque. Agrupam as
bancadas religiosa, do agronegócio, dos servidores públicos, dos
militares, do setor de serviços, dos profissionais liberais etc. Elas
tendem a se consolidar na esteira de uma tendência planetária, muito
característica dos EUA, onde o voto vai geralmente para o representante
dos interesses locais e das regiões, como as bancadas ruralistas, dos
servidores públicos etc. Pode-se deduzir que o voto distrital deve se
fortalecer, com as classes sociais subdividas. Os deputados querem
aumentar suas bases. Dessa forma podemos divisar uma composição ditada pelo modo como as
categorias enxergam a política. Profissionais liberais tendem pelo voto
mais racional, que deixa o coração para subir à cabeça. Ele se concentra
nas grandes e médias cidades, mais abertas aos meios de comunicação e
às críticas aos governantes. No contraponto, enxergamos traços do
passado em rincões do País, habitat de raposas políticas de
administrações falidas. Em suma, o novo coronel (desculpem, o novo corona) estará na fila das seções eleitorais. [Aproveitamos para registrar a oportuna sugestão do jornalista Ricardo Noblat, Blog do Noblat - VEJA, no Post "Sugestão ao futuro ministro da Educação seja ele quem for", quando diz: ''garantir água potável para os quase 2 milhões de alunos sem acesso a ela ..." e "... "...Água [potável, não esqueçam] para beber e lavar as mãos é pedir demais?..." . Um colega do Blog ao ver esta postagem, informa que leu hoje - não recorda o autor, pelo que pedimos desculpas - um outro jornalista pedindo para que o futuro ministro providencie para que os alunos saiam sabendo matemática, português, geografia e as demais matérias do ensino médio. O Blog acrescenta confiar que em breve serão inseridas no currículo do Ensino Médio, as matérias: Organização Social e Política Brasileira - OSPB e EMC - Educação Moral e Cívica.]
Gaudêncio Torquato é jornalista, professor titular da USP e consultor político Blog do Noblat - VEJA - Ricardo Noblat, jornalista
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