Há um confronto de
imprudências. De um lado, Bolsonaro, com o intuito de manter viva a
chama do entusiasmo nacional que o levou à presidência, desdenha o vírus
como se fosse um opositor desprezível, embora seu governo tenha dado, e
bem, todos os onerosos passos para atender demandas no espaço de ação
da União.
De outro, governadores e prefeitos jogam uma partida errada, em que os danos à sociedade aumentam com a submissão de suas atividades a uma sanfona de abre-e-fecha. No Rio Grande do Sul, para “achatar” uma curva que sequer se formava, ficamos fechados quando os hospitais estavam vazios... Agora o vírus chegou, o mapa do governador se pintou de vermelho, a mesma cor para onde vão os indicadores sociais, os saldos, as contas, os balanços e as estimativas para o futuro imediato e mediato. Não foi por falta de aviso, de choro, nem de ranger de dentes.
O vírus desconjuntou ainda mais nosso sistema político. Calou a nação com a máscara, acabou com as reuniões. Diminuiu o poder do presidente, aumentou o poder dos governadores e prefeitos. não podemos esquecer que tudo avalizado pelos ministros do Supremo Tribunal Federal que no afã de conter improváveis futuros desmandos do presidente - no exercício de suas funções constitucionais de combate à pandemia, inerentes ao Poder Executivo - delegou aos 27 governadores e mais de 5.000 prefeitos = cada cabeça da autoridade supremamente investida de poderes absolutos, ou quase, pensando primeiro em si, depois no futuro político, depois em possíveis lucros com os novos poderes, na sequência no combate ao vírus e por fim, lá na ponta, pensando em proteger o povo.]
Nos parlamentos e colegiados franqueou a porta para o autoritarismo de muitos presidentes. Os plenários vazios são território de um poder vacante. Os mandatos se exercem dentro de casa, em eventos virtuais, irreais, que nem de longe conseguem prover o contraditório necessário à democracia, à tomada de decisão e ao melhor exercício do poder do parlamento. Parlamento silencioso é uma contradição nos termos. Ele não é um lugar de prolongados silêncios ou em que alguém, na telinha, fala para uns poucos ouvidos. A covid-19 calou os parlamentos e deu voz aos tiranetes oportunistas, sob completo silêncio dos idiotas da objetividade (para dizer como Nelson Rodrigues), que se submetem a tudo e a qualquer um.
Percival Puggina (75), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
De outro, governadores e prefeitos jogam uma partida errada, em que os danos à sociedade aumentam com a submissão de suas atividades a uma sanfona de abre-e-fecha. No Rio Grande do Sul, para “achatar” uma curva que sequer se formava, ficamos fechados quando os hospitais estavam vazios... Agora o vírus chegou, o mapa do governador se pintou de vermelho, a mesma cor para onde vão os indicadores sociais, os saldos, as contas, os balanços e as estimativas para o futuro imediato e mediato. Não foi por falta de aviso, de choro, nem de ranger de dentes.
O vírus desconjuntou ainda mais nosso sistema político. Calou a nação com a máscara, acabou com as reuniões. Diminuiu o poder do presidente, aumentou o poder dos governadores e prefeitos. não podemos esquecer que tudo avalizado pelos ministros do Supremo Tribunal Federal que no afã de conter improváveis futuros desmandos do presidente - no exercício de suas funções constitucionais de combate à pandemia, inerentes ao Poder Executivo - delegou aos 27 governadores e mais de 5.000 prefeitos = cada cabeça da autoridade supremamente investida de poderes absolutos, ou quase, pensando primeiro em si, depois no futuro político, depois em possíveis lucros com os novos poderes, na sequência no combate ao vírus e por fim, lá na ponta, pensando em proteger o povo.]
Nos parlamentos e colegiados franqueou a porta para o autoritarismo de muitos presidentes. Os plenários vazios são território de um poder vacante. Os mandatos se exercem dentro de casa, em eventos virtuais, irreais, que nem de longe conseguem prover o contraditório necessário à democracia, à tomada de decisão e ao melhor exercício do poder do parlamento. Parlamento silencioso é uma contradição nos termos. Ele não é um lugar de prolongados silêncios ou em que alguém, na telinha, fala para uns poucos ouvidos. A covid-19 calou os parlamentos e deu voz aos tiranetes oportunistas, sob completo silêncio dos idiotas da objetividade (para dizer como Nelson Rodrigues), que se submetem a tudo e a qualquer um.
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