— Confiante na eleição?
— Totalmente.
— O que te faz confiante?
— O combate à onda de ódio.
— Esse negócio de festejar facada, né? E jogar futebol com réplica de cabeça humana…
— Não. O que ameaça mesmo são as milícias digitais.
— Ah, é? Como é isso?
— O gabinete do ódio tem uma rede de milicianos invisíveis que espalham incitação a agressões à democracia e às instituições da República.
— Caramba. Isso é grave. E essas agressões são consumadas?
— Claro. Cada vez mais. Não está vendo? Em que planeta você vive?
— É, devo ter me distraído. Como são essas agressões?
— São ostensivas, na cara de todo mundo. As milícias vão trabalhando nos subterrâneos digitais, carregando os espíritos de ódio, espalhando a propensão à violência contra os guardiões do estado de direito. Uma hora isso transborda e a democracia fica encurralada.
— Já transbordou?
— Vou repetir a pergunta: em que planeta você vive? Não só transbordou, como foram diversas vezes nos últimos anos.
— Jura? Eu devo estar vivendo numa bolha mesmo, não vi nada disso.
— Você é o típico alienado. Saiba que alienação não é inocência. A sua indiferença é uma forma de cumplicidade.
— Poxa… Não foi a minha intenção.
— De boas intenções o inferno está cheio.
— Já ouvi falar nisso. Você tem razão, preciso calibrar minha observação das coisas ao meu redor.
— Observação só, não. Compreensão.
— Sem dúvida. Pode me ajudar?
— Claro. Mas saiba que, se você não se ajudar, nenhuma ajuda externa vai resolver o seu problema.
— Entendi. Então você me ajuda a me ajudar?
— Ajudo.
— Obrigado. Pra começar, queria ter uma ideia de como é o aspecto visual de um desses transbordamentos de ódio contra a democracia. Você conseguiria descrever?
— É a coisa mais fácil do mundo. Esses atentados se materializam na forma de multidões tomando as ruas do país de verde e amarelo. É assustador.
— Isso eu já vi. Só não sabia que era explosão de ódio contra a democracia. Eles disfarçam bem, né?
— São dissimulados. Mas não cola. A atmosfera de intolerância e inclinação fascista é evidente.
— Me enganaram direitinho. Eu vi sim essas multidões no Primeiro de Maio, no Sete de Setembro e em outras ocasiões. Pessoas sorridentes, tranquilas, com muitos idosos e até bebês de colo. Nunca ia imaginar…
— Tudo fachada. Bastaria você ter prestado atenção às manchetes do noticiário e veria a verdade estampada na sua cara: atos antidemocráticos.
— Tem razão. E mesmo com esses graves atentados à democracia você permanece confiante na eleição deste ano?
— Plenamente. A onda de ódio está sendo corajosamente enfrentada pelos que são do bem.
— Ótimo. Me ajuda a compreender essa parte também?
— Conta comigo.
— Obrigado. Quem é do bem?
— O TSE.
— Onde só existe a verdade, não há espaço para a mentira
— Tribunal Superior Eleitoral?
— Isso.
— Tá. E como ele faz o bem?
— Combatendo as fake news que alimentam a onda de ódio contra a democracia.
— Interessante. Fake news é notícia falsa, né?
— Muito mais que isso. Fake news é o crime organizado em forma de corrupção intelectual.
— Eita! O negócio é mais sério do que eu pensava. E o que faz o TSE para combater esse mal?
— Muitas coisas. Uma das principais é dizer que o sistema eleitoral brasileiro é totalmente seguro. Desencoraja os que querem fraudar a eleição.
— Mas se o sistema é seguro, por que se preocupar com fraude?
— Porque quem é do mal consegue o impossível.
— Isso é verdade.
— Você mesmo não estava crente que os atos antidemocráticos eram manifestações pacíficas?
— Estava mesmo.
— Então? Com o gabinete do ódio é assim. Você piscou, eles aprontam.
— Vou ficar atento. A propósito, o TSE já resolveu aquele problema da invasão ao sistema eleitoral em 2018?
— Já.
— Quem bom. O que ele fez?
— Encerrou o assunto e mandou apagar os arquivos do sistema.
— Isso resolve?
— Claro. Acaba com a polêmica. Polêmica é combustível para fake news.
— Faz sentido.
— Onde só existe a verdade, não há espaço para a mentira.
— Interessante, não tinha pensado nisso.
— Não precisa pensar. Basta compreender.
— Estou me esforçando.
— Está sim, e eu sou testemunha.
— Obrigado. Me ajuda então a entender uma última coisa.
— Manda.
— Como o TSE vai fazer para guarnecer a verdade absoluta?
— Já fez.
— Jura? O quê?
— Declarou que as dúvidas sobre o sistema eleitoral brasileiro levantadas pelos técnicos da Comissão de Transparência são nulas.
— Como assim?
— Simples: informou que normas e procedimentos para a eleição deste ano já estão consolidados e não serão alterados. E que a garantia do devido cumprimento das regras de segurança do sistema é da competência exclusiva do TSE. [o fato do TSE ser uma repartição pública e TODOS - membros e servidores são empregados do povo brasileiro - que lhes paga o salário é sem importância.]
— Por que então o TSE criou uma Comissão de Transparência?
— Essa pergunta prova que o seu nível de compreensão das coisas à sua volta ainda está deficiente. Cuidado.
— Obrigado pelo alerta. Vou me esforçar mais.
— Conta comigo.
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