Guilherme Fiuza
A atual versão do petista promete superar a versão antiga na arte de se repetir
— Ah, é? Como vai ser?
— Vai ser espetacular.
— Imagino. Geralmente espetáculo é espetacular. Mas qual é o plano?
— Desenvolvimentista.
— É, soa bem.
— Muito mais que soar bem. Dá certo. Faz o país crescer.
— Isso é bom. Só não estou lembrando bem como foi o primeiro espetáculo do crescimento.
— Que primeiro?
— Ué, esse não é o novo? Achei que então tivesse havido outro antes.
— Antes, quando?
— Quando o Lula governou o Brasil.
— Ih, nem me lembrava disso.
— Não faz tanto tempo assim.
— É que esse Lula de agora é outro Lula.
— Como assim? Então onde está o anterior? Preso?
— O Lula do passado ficou no passado. O de agora é muito mais preparado.
— Preparado pra quê?
— Pra fazer o espetáculo do crescimento.
— O outro espetáculo do crescimento não deu certo?
— Não é que não tenha dado certo. Aquele Lula ainda não conhecia direito a maldade do capitalismo e a gula dos poderosos.
— Você está dizendo que o antigo Lula foi vítima do sistema?
— Totalmente. Não o deixaram trabalhar. Nem a Dilma. Preconceito contra o trabalhador e a mulher.
— E qual foi o resultado desse boicote?
— Uma recessão.
— O espetáculo do crescimento virou encolhimento?
— Uma recessão sem precedentes causada pela discriminação.
— E os bilhões de reais devolvidos aos cofres públicos pela Operação Lava Jato? Aquilo foi causado também por discriminação?
— Tudo armação. O sistema poderia gastar até muito mais que isso pra incriminar o Lula.
— Impressionante. E você acha que o novo Lula não vai ser vítima do sistema?
— Acho.
— Por quê?
— Tarimba.
— Certo. E qual é o plano para o novo espetáculo do crescimento?
— É simples e genial: usar dinheiro dos bancos públicos e das estatais para impulsionar empresas privadas de forma controlada pelo governo.
— Não foi assim que fizeram o Mensalão e o Petrolão?
— Não entendi.
— Me corrija se eu estiver errado: o Petrolão e o Mensalão não foram triangulações entre empresas públicas, empresas privadas e políticos que estavam no governo?
— Como assim, triangulações?
— Tipo um Triângulo das Bermudas, onde o dinheiro público sumia e virava pixuleco.
— O antigo Lula era muito ingênuo. Com o novo Lula isso jamais voltará a acontecer.
— Você está dizendo que o antigo Lula foi ludibriado pelas más companhias?
— Totalmente. Você não reparou a quantidade de picaretas que sempre tinha em volta dele?
— De fato eram muitos.
— Pois é. Tudo plantado pelos poderosos.
— E ele não notou nada em mais de 13 anos do PT no poder?
— Aí é que eu te falo: o antigo Lula era muito inocente. Achava que o dinheiro desviado era pra chegar mais rápido ao povo.
— É. Desvio de dinheiro pro povo é muito exótico mesmo.
— Entendeu a armação? O sistema plantou uma ladroagem desenfreada em torno do antigo Lula para acusá-lo de corrupção. O novo Lula jamais deixaria isso acontecer.
— Não curtiria sítio com benfeitorias de empreiteira amiga?
— Nem por todo o dinheiro do mundo.
— O novo Lula não gosta de dinheiro?
— Gosta, mas não precisa.
— Por quê?
— Não sei. Acho que o antigo Lula emprestou pra ele.
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Guilherme Fiuza, colunista - Revista Oeste
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