A
vida me permitiu que um dia, no ano de 2001, eu fosse a Cuba ver de
perto aquilo que era vendido no mercado brasileiro como evidência do
sucesso social, político e econômico do comunismo.
Antes de viajar,
devorei vários livros proporcionados pelo amigo Flávio Del Mese,
publicados nos primeiros anos da ditadura Castro, e pesquisei imagens,
entre as quais essa clássica em que Fidel declara aos miseráveis
cubanos: “Vamos bien!”.
Ao voltar e relatar o que observei, as pessoas
me pediam que reproduzisse em livro aquelas observações.
Para fazê-lo,
retornei à ilha em 2002. Minha inexperiência em lidar com as restrições
impostas por uma ditadura comunista fizeram com que ficasse exposto à
observação do sistema de inteligência do estado cubano.
Eu fizera
contato telefônico com líderes dissidentes que estavam grampeados e,
depois, os contatara pessoalmente. Eu conto tudo isso no livro “A
tragédia da Utopia”.
O ponto a que quero chegar é o seguinte: nessas
viagens e na que fiz em 2011, quando entrava no avião para retornar ao
Brasil, experimentava gratificante sentimento de alívio: “Felizmente, volto a meu país, onde as coisas não são assim!”.
Pois agora,
também aqui, as coisas são assim!
Já temos um presidente que se diz
comunista e é parceiro de seus ditadores.
No Congresso Nacional, uma
centena de bravos enfrenta quinhentos deputados e senadores que querem
viver de “bolsa governista”.
Uma Suprema Corte política, onde ministros
usam amplamente o vocabulário de um dos lados em antagonismo e se
comprazem em relatar seus sucessos nesse campo.
Já temos todo o ambiente
cultural tomado e expelindo o contraditório.
A cadeia produtiva da
educação está aparelhada, o jornalismo foi amestrado e quem se recusou,
expurgado.
As instituições religiosas estão infiltradas.
Há censura,
repressão, exílio e até poucos dias tínhamos mais presos políticos do
que Cuba.
Se incluir os de tornozeleira, há muito mais desses infelizes
aqui do que lá. As plataformas de redes sociais estão garroteadas por
monocrática determinação do ministro da Justiça que disse:
“Esse tempo
da autorregulação, da ausência da regulação, da liberdade de expressão
como valor absoluto, que é uma fraude, que é uma falcatrua, esse tempo
acabou no Brasil, tenham clareza definitiva disso. (...) Os senhores e
as senhoras viveram o processo eleitoral de 2022 no Brasil. Adotem isso
como referência. É o que nós faremos com os senhores.”
A palavra ídiche “pogrom”,
nascida na perseguição aos judeus russos no final do século XIX e
estendida ao acossamento de grupos sociais inteiros, é agora
perfeitamente aplicável ao que acontece com a direita no Brasil! Ela é
acusada de todos os males por defender a liberdade e os valores de
grande estima na cultura ocidental.
Quem a ataca, estranhamente diz
combater o discurso de ódio mostrando os dentes, se declara
contramajoritário dependendo de quem ganha a eleição, é imoderado e
cobra moderação, ouve Lula falar e não percebe as fissuras se abrindo
rancorosas na sociedade.
As liberdades
são malvistas, o direito à propriedade privada é relativizado; o
direito de herança é exorcizado; o Estado cresce e encarece; a dívida
pública é culpa de quem empresta e não de quem gasta mais do que
arrecada, pede emprestado e não pode pagar; a sociedade empobrece, a
economia patina e a indústria perde competitividade.
Enquanto isso, o
governo itinerante, vagando de um para outro entre os mais luxuosos
hotéis internacionais, quer financiar os camaradas de sua pátria grande.
Comunismo é assim, testemunho de vida... Me poupem!
Percival Puggina (78) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org),
colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas
contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A
Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia
Rio-Grandense de Letras.
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