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segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Guerra entre PCC e CV pode extrapolar para as ruas

Governo adverte para escalada de ameaças de facções criminosas

Órgãos de inteligência detectaram plano de facções criminosas para "intensificar" ações dentro e fora dos presídios

A disputa entre duas das principais facções criminosas do país, o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV), acendeu o sinal de alerta na área de inteligência do governo federal, que mapeou riscos concretos de a contenda se refletir na segurança pública nos próximos meses, com ameaças de rebeliões e a possibilidade de ações coordenadas também do lado de fora dos presídios.

O assunto foi tema de uma reunião 'secreta', na tarde do último dia 29 de novembro, no Congresso Nacional. A Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência, que reúne deputados e senadores e tem por atribuição acompanhar o trabalho dos órgãos de inteligência do governo, foi convocada extraordinariamente a pedido do ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, general Sergio Etchegoyen.

Acompanhado do diretor-geral da Abin, Etchegoyen traçou um cenário preocupante, segundo parlamentares ouvidos por VEJA eles preferiram falar anonimamente porque houve um pedido expresso para que o assunto tratado na reunião fosse mantido em sigilo. “Estamos diante de uma ameaça concreta de rebeliões em série e, além disso, do risco de a violência dentro das prisões transbordar para o lado de fora”, diz um dos parlamentares.

O ministro fez o alerta a partir de informações coletadas pela Abin, a Agência Brasileira de Inteligência, cujo diretor-geral também participou da sessão 'secreta'. VEJA apurou que órgãos de inteligência dos governos estaduais e a própria Polícia Federal também têm detectado uma escalada nas ameaças das facções criminosas. Na última quarta-feira, por exemplo, o Centro de Inteligência da Polícia Civil de São Paulo difundiu um alerta segundo o qual membros de uma facção criminosa haviam emitido um “comunicado para que todos os membros (da facção) ficassem em alerta, dentro e fora dos presídios, para um possível ‘salve geral’, ações que incluem ataques a policiais, para os próximos dias”.

 Como forma de fazer frente às ameaças, o governo federal tem recorrido aos governos estaduais para adotarem medidas preventivas, especialmente na área de inteligência.

Fonte: Revista VEJA

 

quarta-feira, 13 de julho de 2016

Abin minimiza terrorismo no Rio. Preocupação, porém, é altíssima

Relatório de inteligência revelado por VEJA classificou como “nível 4”, em uma escala de 1 a 5, risco de atentado durante Jogos

A 23 dias do início dos Jogos Olímpicos no Rio, o governo brasileiro concentra esforços para, publicamente, minimizar os riscos de atentados terroristas no país. A medida é parte de uma operação de redução de danos coordenada pelo Palácio do Planalto e tem por objetivo evitar que a propagação de informações sobre riscos de ocorrência de atos extremos possa desestimular turistas e até atletas que se preparam para viajar ao país. 


“Não é momento de tratarmos disso publicamente, sob pena de contribuirmos para prejudicar os Jogos que estamos sediando”, disse a VEJA uma alta autoridade encarregada de coordenar os preparativos na área de segurança.  A estratégia foi combinada há pouco mais de um mês, em reunião no Palácio do Planalto que contou com a presença do presidente em exercício, Michel Temer, e dos ministros incumbidos de tratar do assunto. 

Nesta quarta-feira, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República apresentou a jornalistas o Centro Nacional de Inteligência – uma sala de pouco mais de 200 metros quadrados instalada na sede da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), em Brasília. É a partir desse centro que agentes do serviço secreto brasileiro e de países estrangeiros vão monitorar e trocar informações sobre eventuais ameaças terroristas durante o evento.

“Não achamos nenhum dado que nos faça deixar a população preocupada com a probabilidade (de atentados)”, declarou o ministro-chefe do GSI, general Sergio Etchegoyen. O  discurso oficial é cuidadosamente calculado, até porque descartar a existência de riscos pode representar um problema: se algo ocorrer, como explicar depois que as ameaças haviam sido negligenciadas? A alternativa está no meio do caminho: dizer que todas as medidas de prevenção estão sendo adotadas. “Estamos hoje garantidos pelas melhores práticas, pelos procedimentos que têm dado certo no mundo inteiro”, disse o general. “Todos os riscos são considerados, independentemente da probabilidade.”


Se em público o discurso é tranquilizador, internamente a preocupação é grande. Neste momento, as autoridades se esforçam para localizar pelo menos dois suspeitos de ligação com organizações extremistas que entraram clandestinamente no país. Um deles é o sírio Jihad Ahmad Deyab, ex-prisioneiro de Guantánamo que vivia no Uruguai e que, segundo autoridades que acompanham o caso, atravessou a fronteira para o Brasil. “Há várias operações em andamento neste momento em várias partes do país”, diz um oficial. Há três semanas, VEJA revelou um relatório reservado em que a própria Abin estipula em 4, numa escala de 1 a 5, o nível de ameaça terrorista ao Brasil durante os Jogos Olímpicos do Rio.

Nesta quarta-feira, veio a público na França o teor de uma investigação conduzida pelo serviço secreto do país segundo a qual o Estado Islâmico (EI)  estaria planejando um ataque contra a delegação francesa no Rio – o atentado seria perpetrado por um combatente brasileiro do EI. Indagado sobre o assunto, o diretor-geral da Abin, Wilson Trezza, disse que a inteligência brasileira não recebeu qualquer informação da França acerca do assunto. Na mesma entrevista, como parte da estratégia de minimizar os riscos, Trezza afirmou que a Abin não classifica numericamente o nível de risco de atentados nos Jogos.  Confrontado com o relatório revelado por VEJA em que a própria agência classifica como a ameaça como 4  (algo “sem precedentes” no país, de acordo com o documento), ele acabou desmentido por um subordinado, diante de mais de uma dezena de jornalistas.

 Fonte: VEJA


segunda-feira, 11 de julho de 2016

ABIN vira piada na Internet

'Dicas' da Abin para identificar terroristas viram piada na internet

Comunicado publicado no Facebook diz que pessoas suspeitas utilizam roupas "destoantes das circunstâncias e do clima" e "agem de forma estranha" [alguns conduzem uma bandeira, com os dizeres: sou um terrorista.]

Faltando menos de um mês para a Olimpíada, no Rio de Janeiro, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) publicou um comunicado em sua página no Facebook, alertando para o que considera atitudes de um potencial terrorista. "Pessoas suspeitas utilizam roupas, mochilas e bolsas destoantes das circunstâncias e do clima. Agem de forma estranha e demonstram intenso nervosismo. Comunique o fato ao agente de segurança mais próximo". A mensagem vem acompanhada da imagem de uma pessoa com o rosto escondido, casaco de couro marrom, e os punhos fechados, além do e-mail - prevrevencaoaoterrorismo@abin.gov.br -  para onde devem ser enviadas as denúncias.


Publicado na última sexta-feira, o comunicado viralizou nesta segunda-feira nas redes sociais, rendendo uma enxurrada de piadas. Não foram poucos os que identificaram a si ou a figuras públicas como potenciais terroristas segundo as orientações um tanto genéricas da Abin. "Primeiramente, se eu estiver no Rio, vou reportar todo mundo de terno e gravata. Terno e calça social, obviamente, não foram destinados às circunstâncias tropicais. Vamo (sic) encher esse email caguetando todo empresário mal vestido em desacordo com a [cidade] maravilhosa", comentou um usuário do Facebook.


Diante da repercussão - majoritariamente - negativa do post, a Abin publicou uma nota na tarde desta segunda, explicando que a iniciativa visa "orientar, de forma contínua, todas as camadas da sociedade para que a população sinta-se encorajada a contribuir com os órgãos de segurança na prevenção de ações terroristas". "O trabalho de prevenção é dificultado por não haver descrição, perfil ou comportamento que possa, de forma simples, direta e inequívoca, identificar um terrorista. No entanto, a combinação de pequenos indícios pode ser evidência de comportamento associado à intenção de prática terrorista", escreveu a instituição.

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No texto, a entidade reafirmou o que alertou na publicação controversa e ainda acrescentou itens à lista de atitudes suspeitas, como flagrar alguém fotografando sistemas de segurança de locais públicos ou tentando se infiltrar em lugares restritos, e sentir odores fortes de substâncias estranhas. "É desejável que a população brasileira perceba a importância da sua proximidade com as áreas de Inteligência e com órgãos de segurança para que se fortaleça, no país, a 'cultura de segurança'. A comunicação oportuna de situação suspeita pode ser decisiva na detecção antecipada de ação terrorista", afirmou a Abin.
Pessoas com essa aparência

Fonte: Revista VEJA 


sábado, 18 de junho de 2016

A ameaça é real - Abin admite suas "limitações operacionais" para combater o pior

O EI agora tem um recrutador de brasileiros: Ismail al-Brazili

Relatório da Abin revela que o grupo extremista faz esforços para obter seguidores no Brasil – e que o país está exposto a um ataque terrorista

NO RADAR - Os terroristas criaram um canal de comunicação na internet que seria coordenado por um brasileiro e tem sido usado pelo Estado Islâmico para recrutar novos militantes jihadistas(VEJA.com/VEJA)
 
A tragédia de Orlando mostra que o extremismo, aliado à tecnologia, produz terroristas que podem atacar a qualquer momento, em qualquer lugar. E o Brasil não está a salvo. Ao menos é essa a avaliação do serviço secreto brasileiro que consta de um relatório reservado distribuído às autoridades envolvidas na montagem da segurança da Olimpíada do Rio de Janeiro e obtido com exclusividade por VEJA. O terrorismo 3.0, que arregimenta militantes remotamente com as facilidades de comunicação e as garantias de sigilo oferecidas pela internet, exorta aqueles mais radicais a realizar atentados por conta própria. Por isso, é uma das principais fontes de ameaça aos Jogos. Mais que uma simples hipótese, agora há razões concretas para elevar o alerta. A principal delas é a constatação de que grupos extremistas, em especial o Estado Islâmico, têm empreendido esforços não apenas para recrutar seguidores no país como também para deixar alguns deles em condições de agir a qualquer momento.


Trecho de relatório reservado distribuído às autoridades envolvidas na montagem da segurança da Olimpíada do Rio de Janeiro e obtido com exclusividade por VEJA(VEJA/VEJA)

Até recentemente, a única ameaça concreta ao Brasil conhecida era um texto de 67 caracteres escrito numa rede social por Maxime Hauchard, um dos chefões do Estado Islâmico. "Brasil, vocês são o nosso próximo alvo", dizia a mensagem, em francês, publicada dias após os atentados de novembro de 2015 em Paris. No fim do mês passado, o Estado Islâmico criou um canal de propaganda em língua portuguesa dentro de um aplicativo na internet. Inaugurado com a publicação de um discurso do porta-voz do grupo, funciona como uma agência de notícias e veicula, todos os dias, fotos, vídeos e textos com informações das frentes de combate da organização. O material, invariavelmente, faz a apologia da crueldade e alia as já conhecidas práticas do grupo à retórica religiosa radical. Os ataques à coalizão que combate os jihadistas do EI no território conflagrado entre a Síria e o Iraque são comemorados como feitos épicos: da "perfeita emboscada" contra uma patrulha egípcia ao "ataque-surpresa" que matou dezessete "apóstatas" das forças oficiais, tudo é narrado com cores fortes. A propaganda apela à conversão. É um chamamento a novos soldados.

Desde que foi criado, o canal em português vem sendo monitorado de perto pelas autoridades brasileiras, que contam com o auxílio de serviços secretos estrangeiros - alguns deles, como a americana CIA, têm agentes trabalhando no Brasil há meses com a missão de detectar ameaças à Olim­píada e às delegações de seus países. O maior desafio é identificar os responsáveis pela estratégia de recrutamento de brasileiros. Em parceria com a revista portuguesa Sábado, VEJA descobriu que um dos alvos prioritários da vigilância, neste momento, é um militante do Estado Islâmico que se identifica nas redes de propaganda do grupo como Ismail Abdul Jabbar Al-Brazili - ou, simplesmente,
"O Brasileiro". É ele um dos responsáveis, por exemplo, por abastecer com textos em português o canal de propaganda recém-criado. Há indicações de que Al-­Brazili não tem o Brasil apenas no nome de guerra - de acordo com informações oficiais, ele seria, de fato, um combatente brasileiro do EI.

Al-Brazili é um personagem bastante ativo na web. Nos últimos meses, abriu diferentes perfis em redes sociais. Frequentemente, assim que descobertos, os perfis são fechados a pedido das autoridades. Ele, então, abre novos. Semanas atrás, coube a Al-Brazili convocar, por meio de outros canais de comunicação do EI na internet, interessados em ajudar na tradução de textos do grupo para o canal em português. O militante, que mantém ainda dois blogs, diz ter sido recrutado para o Estado Islâmico por Abu Khalid Al-­Amriki, um americano que teria caído em combate na Síria. Ele promete vingar a morte do amigo. Além de fazer propaganda do grupo extremista, Al-­Brazili se apresenta como alguém capaz de facilitar o acesso de simpatizantes às fileiras do grupo - nos posts, ele costuma informar como os interessados podem contatá-lo por meios seguros de comunicação.

As autoridades têm motivos para acreditar que o proselitismo vem funcionando - e há casos suficientes para concluir que não se trata de platitudes apenas. Há dois meses agentes da Divisão Antiterrorismo (DAT) da Polícia Federal baseados em Brasília investigam o desaparecimento da estudante paraense Karina Ailyn Raiol, de 20 anos. Recém-convertida ao islamismo, Karina saiu de casa dizendo que iria para a faculdade e nunca mais voltou. Só depois os pais descobriram que ela havia tirado passaporte às escondidas e tomado um voo internacional rumo à Turquia. O dinheiro para as passagens veio do exterior, de fonte desconhecida. A suspeita é que a estudante tenha sido recrutada pelo Estado Islâmico. Mensagens trocadas por Karina dias antes da viagem e obtidas por VEJA mostram que ela tinha simpatia pela causa. Numa delas, a estudante diz que "se juntar aos grupos terroristas é a única forma de lutar" contra o que chama de injustiças na "terra do Islã".

Hoje, ao menos trinta suspeitos de ligação com o terrorismo são vigiados de perto pelos agentes oficiais no Brasil. Em outro caso, também a cargo da divisão antiterror da PF, foi preciso recorrer a uma medida de emergência: após a descoberta de que um universitário de 23 anos de Chapecó (SC) havia ficado três meses numa cidade síria dominada pelo EI, e que na volta ele passava as madrugadas em treinos de tiro ao alvo, os policiais pediram à Justiça que autorizasse o monitoramento do suspeito em tempo real, 24 horas por dia, por meio de uma tornozeleira eletrônica.

Dono de um serviço de entrega de comida árabe e estudante de economia, Ibrahim Chaiboun Darwiche usa a tornozeleira desde o dia 27 de maio. Ele está proibido de se aproximar de escolas, aeroportos ou outros lugares com grande concentração de pessoas. A medida vale até os Jogos, mas pode ser estendida, a depender do desenrolar das investigações. Na semana passada, soube-se que o sírio Jihad Ahmad Deyab, que cumpriu pena na prisão americana de Guantánamo por seus vínculos com a organização terrorista Al Qaeda e estava asilado no Uruguai, agora está vivendo no Brasil.


Trecho de relatório reservado distribuído às autoridades envolvidas na montagem da segurança da Olimpíada do Rio de Janeiro e obtido com exclusividade por VEJA(VEJA/VEJA)

Essa profusão de notícias fez acender a luz amarela. Diz o relatório da Abin: "A disseminação de ideário radical salafista entre brasileiros, aliada às limitações operacionais e legais em monitorar suspeitos e à dificuldade de neutralizar atos preparatórios de terrorismo, aponta para o aumento, sem precedentes no Brasil, da probabilidade de ocorrência de atentados ao longo de 2016, especialmente por ocasião dos Jogos Rio 2016". A partir de uma fórmula matemática que leva em conta diferentes variáveis para calcular os riscos, a Abin conclui que a ameaça de atentados no país durante os Jogos Olímpicos alcança o patamar 4 numa escala que vai de 1 a 5 - 5 representa a certeza de que haveria um ato terrorista em preparação. No mesmo relatório, as autoridades confessam suas "limitações operacionais" para prevenir o pior.

O relatório da Abin afirma que o Brasil nunca esteve tão exposto ao risco de um atentado terrorista. Segundo a agência, simpatizantes do Estado Islâmico no Brasil têm recorrido a estratégias de comunicação para driblar as autoridades, o que indica que pode haver um ato extremista em preparação. No documento, a Abin admite as "limitações operacionais" dos órgãos de segurança para fazer frente à ameaça terrorista no país

Perigo dos "lobos solitários":
De acordo com a Abin, a possibilidade de atentados sofisticados como o de 11 de Setembro de 2001 nos Estados Unidos já não preocupa mais. O temor maior vem da ameaça de militantes recrutados à distância, que agem por conta própria e não dependem de muitos recursos para causar grandes estragos - como o massacre da semana passada em Orlando.

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quinta-feira, 17 de março de 2016

Não foi preso, pode ser ministro



Está claro que houve o assalto aos cofres públicos, praticado largamente durante as gestões de Lula e de Dilma

Dia desses, o advogado-geral da União, ministro José Eduardo Cardozo, garantia que Lula tinha plenas condições legais para assumir um ministério. Ocorre, explicava, que o ex-presidente é apenas investigado e, mesmo que tivesse sido condenado em primeira instância, ainda assim poderia ser nomeado. Só no caso de uma condenação em segunda instância, que dá cadeia, haveria restrição, concluiu Cardozo, comentando que o critério deve ser o mesmo da Lei da Ficha Limpa.

Tudo bem, portanto, do ponto de vista do estrito rigor da lei, como sempre observa o governo Dilma, tal foi a conclusão sugerida por Cardozo. Mas, reparando bem, deveria haver pelo menos um embaraço moral, não é mesmo? Eis o caso não técnico: trata-se da nomeação de um ministro, mais do que isso, de um superministro para mandar no governo todo, que começa com a preliminar de saber se o indigitado pode ou não ser preso.

Mais, os crimes pelos quais Lula está sendo investigado teriam sido praticados no exercício do poder maior do país. A presidente vai recolocá-lo não no mesmo lugar, mas quase, ali por perto, com o papel de ser o tocador efetivo do governo. Se já estivesse condenado, teríamos um condenado recolocado no local dos crimes, com novos poderes, inclusive com capacidade para atrapalhar investigações. Na hipótese mais benigna, já temos o investigado de volta à cena do crime.

Dirão: mas ele não foi condenado.

Ok, mas as investigações não se referem à compra de dois pedalinhos. A Lava-Jato, a Procuradoria-Geral da República e o Supremo Tribunal Federal analisam e julgam o que já definiram como uma organização criminosa atuando para roubar a que era a maior companhia pública do país, a Petrobras.  Vamos falar francamente: já está claro, inclusive pelas confissões de agentes pessoalmente envolvidos e farta documentação, que houve o assalto aos cofres públicos, praticado largamente durante as gestões de Lula e de Dilma, na qual o ex-presidente manteve sólida influência. Vale para ele o que vale para ela: se sabiam de tudo, o que estavam fazendo lá? Se não sabiam de nada, o que estavam fazendo lá?

Por aqui, Lula já é no mínimo responsável por má gestão. E Dilma está lhe devolvendo a gestão? Dirão: ninguém pode ser considerado culpado antes do julgamento e da sentença.
Mas o próprio Lula, em depoimento à Polícia Federal, já disse como funcionava isso de nomear ministro no seu governo: a Casa Civil recebia as indicações políticas, passava o perfil do candidato para o crivo da Agência Brasileira de Informações e, dado o sinal verde, se prosseguia com a nomeação, pelo presidente.

O que Lula quis dizer: se nomeou um ladrão, a responsabilidade não é dele. Será que a Abin tem a ficha de Lula? E se tem a ficha atualizada, imaginem a conversa do chefe da Abin com o ainda ministro-chefe da Casa Civil: parece que tem um probleminha aqui. Não vai rolar, é claro, considerando que o próprio Lula vai chefiar a Casa Civil. E vai criar um outro problema de responsabilidade. Suponha, suponha, frisando, que se venha a descobrir que Lula não poderia ter sido ministro, pela prática de crimes anteriores incompatíveis com o exercício da função pública. Dilma poderia dizer: mas quem indicou? Quem aprovou essa ficha?

Poderia?
Tudo isso para mostrar o absurdo da situação. Um governo muito perto de ser apanhado pela Lava-Jato chama como salvador o principal investigado na Lava-Jato.  E, além da função de salvar o governo do impeachment, Lula ainda tem o compromisso de recolocar a economia brasileira numa rota de crescimento.

Como? Com a volta de uma política aplicada no final do governo Lula e em toda a gestão Dilma, que levou o Brasil à pior recessão de sua história.  Tudo somado e subtraído, temos: a dobradinha Lula-Dilma, um investigado e uma já no radar da Lava-Jato, instalada no Palácio do Planalto, assessorada por outros envolvidos, para tirar o governo e o país dos desastres legais, morais e econômicos (o de jogar milhões no desemprego), que esse mesmo pessoal, na melhor das hipóteses, deixou acontecer.

Chance zero.
Mas, sabe como é, Brasília fica um pouco mais longe de Curitiba. E mais perto do STF, cuja reputação está cada vez mais sendo testada.  Isso está longe do fim. O que significa mais um, talvez dois anos de recessão. Não se pode imaginar desastre maior, nem um roteiro pior.

Fonte: Carlos Alberto Sardenberg,  jornalista

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Arapongas da Abin deixaram terrorista da Al Qaeda fugir em Minas Gerais

Arapongas da Abin deixaram terrorista da Al Qaeda fugir em Minas Gerais: e foi por nepotismo

Autor: Claudio Tognolli 

Nesta terça-feira 23 de junho lanço um livro com o tenente-coronel do Exército André Soares, ex-agente da Presidência da República na Abin (Agência Brasileira de Inteligência).
A obra, da editora Escrituras, foi descrita pela grande mídia como uma tampa de esgoto que se abre, enfim…
O livro “A Caixa Preta da Abin” traz muitas novidades. Entre eles, a história de como deixaram escapulir, no Brasil, um homem-forte da Al Qaeda…

Compartilho com vocês trechos do livro:
Operação de Contraterrorismo da ABIN
Claudio Tognolli me trouxe informações sobre uma determinada Operação  de Contraterrorismo da ABIN. Ouvi o relato do coautor dessa obra e concluí ser outra daquelas levas impropriedades e ilícitos graves.


Plano de Operação de Inteligência de contraterrorismo, elaborado pelo Diretor do Departamento de Operações de Inteligência. Nele, pessoas sem ligação com a ABIN (colaboradores a soldo espartano, a princípio…) seriam recrutadas para infiltração em organizações consideradas sensíveis no Brasil. A finalidade era se aproximar de uma determinada pessoa- alvo, considerada, pelos serviços secretos dos EUA, importante dirigente da Al Qaeda no Brasil.

Foi designado, para tal operação, um integrante de uma das Secretarias Estaduais da ABIN. Ele ficou responsável pela condução de toda a operação, inclusive dando treinamento e realizando a infiltração de pessoas– que, notem, receberam pagamento por seus serviços, com a famosa verba secreta da ABIN. Ocorre que pelo menos um dos contratados para a operação de contraterrorismo, recrutado para infiltração, segundo Tognolli,era ninguém mais que um parente, em linha direta, do próprio responsável pela operação. Que fica registrado: nepotismo com verba secreta para se chegar a alguém considerado, pelos serviços secretos dos EUA, importante dirigente da Al Qaeda no Brasil.

Registre-se também que as fontes humanas daquela operação, (principalmente o parente do integrante da Secretaria Estadual da ABIN) receberam valores finais superiores àqueles pagos pela agência a seus agentes especiais em ocasiões nada menos especiais. Nada espartano… Tais impropriedades são rigorosamente proibidas pela doutrina de inteligência.   E também pelo próprio Regimento interno da ABIN, bem como manuais internos de contraterrorismo e Operações de Inteligência da agência

Nesses casos, o que é preconizado pela doutrina e legislação de inteligência é o seguinte:
1) É proibida a participação de parentes de integrantes da ABIN diretamente em suas operações de inteligência, bem como o seu pagamento com verba sigilosa.
2) Somente em casos excepcionalíssimos, devidamente comprovados, nos quais tais situações sejam imprescindíveis, é que tais operações podem ser aprovadas, desde que o eventual integrante da ABIN, envolvido diretamente nessas operações e que tenha parentesco com uma ou mais fontes, seja imediatamente substituído por outro servidor da agência; a exemplo do que ocorre na justiça, quando um magistrado deve obrigatoriamente declarar-se impedido ao receber um processo para julgamento em que um dos envolvidos seja um parente seu.
3) Proibições de nepotismo não existem por acaso e são preconizadas também nos serviços de inteligência mais eficientes de outros países, em função dos vários e graves desvirtuamentos – principalmente corrupção e ineficiência – que essa prática invariavelmente provoca.
Destaco ainda que, a despeito de terem ciência dessas impropriedades e proibições da própria ABIN, o Diretor-Geral e o Diretor do Departamento de Operações de Inteligência aquiesceram aquelas ilicitudes. Tudo com protocolar elaboração e posterior aprovação, em 2006.
Em 2008, o novo Diretor de Contraterrorismo da ABIN, ao assumir sua função e tomar conhecimento dessas impropriedades, instaurou sindicância interna na ABIN. As acusações eram de nepotismo e malversação de recursos públicos. Foi salientado o abuso que era pagar os “colaboradores” acima dos valores praticados na agência. O integrante responsável pela condução da operação defendeu-se argumentando que o respectivo plano de operação havia sido elaborado pelo Diretor do Departamento de Operações de Inteligência e devidamente aprovado pelo Diretor-Geral da ABIN, em 2006, e que ambos tinham conhecimento de tudo. Portanto, ele não havia cometido qualquer ilicitude. O imbróglio se agravou ainda mais.

Porque, posteriormente, o integrante responsável pela condução da operação de contraterrorismo, por interesse próprio, solicitou à Direção da ABIN afastamento remunerado de suas funções na agência, no que foi autorizado e, pasmem: seu pedido foi acolhido!

O Diretor de Contraterrorismo da ABIN determinou que o afastado transferisse a condução das operações de contraterrorismo para outro integrante da ABIN que fora designado. Ele não obedeceu, afirmando que, afastado oficialmente da agência, isso não lhe cabia. Mas completou dizendo que “mesmo afastado, continuava conduzindo, normalmente, as operações de contraterrorismo”.
Parece piada, não? E nada foi feito pela direção da ABIN.

Mas o imbróglio agravou-se ainda mais. Varado de indignação e sentindo- se desrespeitado, o Diretor de Contraterrorismo da ABIN determinou verbalmente o cancelamento das operações de contraterrorismo. E suspendeu os pagamentos das fontes humanas e, evidentemente, do seu parente.  É importante enfatizar que nem o Diretor de Contraterrorismo da ABIN, nem qualquer outro dirigente pode ordenar a abertura ou o cancelamento de qualquer operação de inteligência. Somente o Diretor-Geral da ABIN. Mas, nas operações de inteligência da ABIN é assim: cada um faz o que quer.

A história, no entanto, não se esgota aqui. Face a suspensão dos pagamentos com verba sigilosa, os prejudicados e, principalmente seu parente, foram reclamar com o integrante da ABIN que estava afastado de suas funções.  Ele decidiu, então, arcar pessoalmente com os custos dos pagamentos  das fontes humanas das operações de contraterrorismo da ABIN, conduzindo- as completamente à revelia da diretoria-geral da agência.

Passados alguns meses, e ainda com as operações de contraterrorismo da ABIN sobre a Al Qaeda no Brasil em completa ilicitude, o tal integrante da ABIN estava pessoalmente endividado. E começou a reclamar, oficialmente e por escrito, ao Diretor de Contraterrorismo da ABIN, e também ao Diretor- Geral. Cobrava deles o ressarcimento dos valores que ele pagou às fontes humanas, incluindo juros, IOF, etc dos seus endividamentos pessoais.

Em expedientes ao Diretor-Geral da ABIN ele faz gravíssimas acusações, dentre elas: que determinado superintendente Estadual da ABIN, faltou com a verdade, promovendo calúnia e difamação contra ele, não merecendo pertencer nos quadros de dirigentes da ABIN; que o diretor de contraterrorismo e a ABIN abandonaram fontes humanas em operações de Inteligência sensíveis, criando vulnerabilidades para o Estado brasileiro, deixando de cumprir as normas regulamentares da Abin no que diz respeito à condução das operações de Inteligência, que se reserva o direito de peticionar em outras esferas superiores do Estado brasileiro, e que fazia os registros para proteger sua integridade física e moral.

Essa operação foi aprovada em 2006 pelo Diretor-Geral da ABIN, Márcio Paulo Buzanelli, cujas ilicitudes perpassaram também pela gestão dos seguintes Diretores-Gerais da ABIN, que o sucederam: Mauro Marcelo, Paulo Lacerda e Wilson Roberto Trezza. Fica claro que a ABIN tem muitas contas a prestar, perante o ordenamento jurídico e as instituições fiscalizadoras da atividade de inteligência no Brasil.

Fonte:  Blog do Claudio Tognolli
 

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Pode não ser o desejado, mas muitas vezes os interrogatórios enérgicos se mostram o único caminho para combater o terrorismo



É essencial fazer o processo de interrogatórios funcionar. A guerra contra o terrorismo não será decidida pelo poderio da mão-de-obra ou da artilharia, como na 2ª Guerra Mundial, mas localizando os terroristas e sabendo quando e onde os ataques futuros poderão acontecer. Esta é uma guerra na qual a Inteligência é tudo. Vencer ou perder depende de informações de Inteligência”. (Cadeia de Comando – A Guerra de Bush do 11 de setembro às Torturas de Abu Ghraib,Seymor Hersh, Editora Ediouro, 2004)

O texto abaixo é uma síntese de diversos artigos já publicados pelo autor sobre o tema Terrorismo. Contém, todavia, alguns dados inéditos sobre o tema.

A possibilidade de uma organização não-estatal relativamente pequena e fraca infligir um dano catastrófico, é algo genuinamente novo nas relações internacionais e representa um desafio sem precedentes à segurança. Todo o edifício da teoria das relações internacionais é construído em torno do pressuposto de que os Estados são os únicos participantes significativos na política mundial. Se uma destruição catastrófica pode ser infligida por agentes que não são Estados, então muitos conceitos que fizeram parte da política de segurança ao longo dos dois últimos séculos – equilíbrio de poder, dissuasão, contenção e assemelhados – perdem sua relevância.  A teoria da dissuasão, em particular, depende de o usuário de qualquer tipo de arma de destruição em massa ter um endereço e, com ele, ativos que possam ser ameaçados em retaliação.

As regiões fronteiriças entre Afeganistão e Paquistão, e entre Paquistão e Índia, reúnem 65 diferentes grupos de guerrilheiros e terroristas. Somando-se a mais de 30 grupos atuando no Iraque, o resultado significa que a Ásia Central é a região mais turbulenta do planeta.  Segundo Nigel Inkster, diretor da área de Ameaças Transnacionais e Risco Político do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, o número de grupos violentos não estataisaumentou - são cerca de 400 em todo o mundo (coletiva de imprensa, disponível no site do instituto: 
Definição de terrorismo
Definir o que é terrorismo não é uma tarefa fácil. O terrorismo é uma forma de propaganda armada
. É definido pela natureza do ato praticado e não pela identidade de seus autores ou pela natureza de sua causa. Suas ações são realizadas de forma a alcançar publicidade máxima, pois têm como objetivo produzir efeitos além dos danos físicos imediatos. Pode ser dito que o terrorismo é o emprego sistemático e premeditado da violência contra alvos não-combatentes a fim de intimidar governos e sociedades. Em toda a sua existência, a ONU não conseguiu obter um consenso para uma definição do que seja terrorismo.

Vilipendiado pela maioria das pessoas, defendido pelos seus instigadores, a verdade é que o terrorismo conseguiu prioridade na cobertura da mídia. Sua incidência mais que dobrou nos últimos anos e se transformou em um dos mais prementes problemas políticos da atualidade. Suas características multifacetadas, suas letalidade e imprevisibilidade, que não custam caro, tornam a prevenção e controle difíceis, dispendiosos e não confiáveis. As definições abaixo comprovam que não há uniformidade nem mesmo entre os órgãos de Inteligência e de Segurança de um mesmo país sobre o tema terrorismo:

O uso ilegal da força ou violência contra pessoas ou propriedades para intimidar ou coagir um governo, uma população civil, ou qualquer segmento dela, em apoio a objetivos políticos ou sociais” (FBI);

O calculado uso da violência ou da ameaça de sua utilização para inculcar medo, com a intenção de coagir ou intimidar governos ou sociedades, a fim de conseguir objetivos, geralmente políticos, religiosos ou ideológicos(Departamento de Defesa dos EUA);

Violência premeditada e politicamente motivada, perpetrada contra alvos não combatentes por grupos subnacionais ou agentes clandestinos, normalmente com a intenção de influenciar uma audiência(Departamento de Estado dos EUA).

Nessa lista de definições, o ponto comum fica evidente mas há diferenças de ênfase. O FBI frisa a coerção, a ilegalidade e as agressões contra a propriedade em apoio a objetivos sociais bem como políticos. O Departamento de Estado coloca a ênfase na premeditação, frisa a potencial motivação política de grupos, mas não faz referência à violência espontânea ou à significação psicológica da ação ameaçada. O Departamento de Defesa, com mais abrangência, dá igual destaque à violência real ou ameaçada, cita uma faixa mais ampla de objetivos e inclui entre os possíveis alvos não só governos como também sociedades inteiras.

As definições de terrorismo conhecidas provocam interrogações. Uma delas:
por quais critérios os terroristas devem ser considerados por executarem atos ilegais ou ilegítimos? Essa é uma questão que desperta a atenção dos cientistas políticos. Há concordância generalizada de que é importante examinar o contexto em que o terrorismo e os terroristas operam. Ou seja, os fatores históricos, sociais, econômicos, étnicos e até psicológicos que têm alguma influência sobre o pensamento, o comportamento e a ação dos terroristas.

No Brasil, mesmo com a crescente pressão internacional, o Congresso  Nacional ainda não decidiu sobre a tipificação do crime de terrorismo. Segundo o jornal
O Globo de 15 de novembro de 2007, uma decisão de sepultar o projeto antiterrorista consta de um relatório do grupo criado pela Estratégia Nacional de Combate à Corrupção e Lavagem de Dinheiro (Enccia), formado por representantes dos ministérios da Justiça, Defesa, Relações Exteriores, Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e membros do Ministério Público Federal e do Judiciário. Após um ano de estudos, esses especialistas entenderam que a classificação de terrorismo como crimeé inviável” (?) O Gabinete de Segurança Institucional, em relatório enviado ao Ministério da Justiça, comunicando essa decisão, alegou que qualquer definição “seria mortal para os movimentos sociais e grupos de resistência política...”

Também não existe lei no Brasil que defina o que é uma organização criminosa, segundo o ministro Carlos Ayres de Brito, do STF, em 17 de agosto de 2007, durante uma sessão do julgamento dos 40 quadrilheiros do Mensalão.
A menos que se apreenda uma ata da criação de uma organização criminosa, dificilmente se poderia ter provas de sua existência, segundo o ministro. Essas lacunas constituem, sem dúvida, um fator de força para o terrorismo e o crime organizado.

O terrorismo e a Convenção de Genebra
Um dos mais condecorados militares, o general francês Jacques Massu, em seu livro A Batalha de Argel
, fez a apologia da tortura funcional, que poupa a vida da vítima mas obtém a informação necessária”. Defendeu a violação da Convenção de Genebra na Argélia, argumentando que os combatentes argelinos não eram soldados regulares e, por isso, não tinham direito à proteção dada ao prisioneiro comum. O terrorista vitima não combatente põe bombas em aviões civis, em trens de passageiros comuns, matando mulheres e crianças. Argumento diverso não é o dos consultores jurídicos do governo Bush: A Convenção de Genebra trata da guerra e não do terrorismo”. [graças ao entendimento adotado pelo general Massu, que resultou em táticas antiterror, incluindo de interrogatório, que a França conseguiu conter, na época,  em limites toleráveis o terror na Argélia.
Aliás, seria extremamente útil que as autoridades de segurança de vários estados brasileiros, especialmente do Rio,, assistissem o filme a Batalha de Argel, técnicas utilizadas naquele conflito tornariam bem mais eficiente a polícia carioca.]


Objetivos e características do terrorismo
O objetivo básico do terrorismo é buscar estabelecer um clima de insegurança, uma crise de confiança
que a comunidade deposita em um regime, que facilite a eclosão ou o desenvolvimento de um processo revolucionário. Ou seja, objetiva criar artificialmente as condições objetivas que tornem factíveis uma revolução;

- O alvo, para os terroristas, é irrelevante, pois o que lhes
interessa “não é a natureza do cadáver, mas sim os efeitos obtidos”, conforme escreveu Carlos Marighela, no final dos anos 60, em seu Minimanual do Guerrilheiro Urbano;

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Os prédios públicos, instituições e instalações que desempenham funções importantes e simbolizam a ordem vigente são os alvos preferidos. Também ataques indiscriminados e ao acaso contra a população, visando atingir suas atividades quotidianas, em supermercados, lojas, restaurantes, aeroportos, estações rodoviárias e ferroviárias, trens e metrôs, objetivando, nesse caso, fomentar um clima generalizado de medo e o sentimento de que ninguém está seguro, em parte alguma, seja qual for sua importância política, como foi o caso do atentado em 11 de setembro de 2001 às Torres Gêmeas, em Nova York, e 11 de março de 2004 a um trem de passageiros, em Madri;

- Uma das características que define o terrorismo moderno é a sua internacionalização
, resultante de três fatores, até certo ponto complementares: a cooperação existente entre organizações terroristas; o fato de Estados nacionais soberanos apoiarem grupos terroristas e utilizarem o terror como meio de ação política, especialmente no Oriente Médio; e a crescente facilidade com que terroristas cruzam fronteiras para agir em outros países;

- Os terroristas não têm origem no proletariado e sim na chamada classe média, uma vez que a causa do terrorismo não é a pobreza e sim problemas políticos. A motivação política é a característica fundamental do terrorismo;

- Embora os grupos terroristas envolvam cerca de 80 diferentes nacionalidades, os mais ativos têm sido os palestinos, sendo que, para os grupos religiosos islâmicos, tanto o capitalismo como o socialismo são um mal. Eles dizem agir em nome de Maomé, com quem alegam ter ligação direta;

- As organizações dedicadas ao terrorismo
começaram a agir sem vínculos entre si e sem inspiração ou ajuda externa. Hoje, todavia, coordenam suas atividades, prestam serviços umas às outras, emprestam-se homens e armas, compartilham campos de treinamento, e algumas têm por trás de si Estados que as financiam, que lhes dão guarida, armam, fornecem documentação e comandam suas operações;

- O terrorismo deve ser combatido de uma forma total e coordenada, sob pena de fugir ao controle.
Uma defesa puramente passiva - o contraterrorismo - historicamente não tem constituído um obstáculo suficiente para conter o seu desenvolvimento. O antiterrorismo, ao contrário, sugere uma estratégia ofensiva, com o emprego de toda uma gama de opções para prevenir e impedir que atos terroristas ocorram, levando a guerra aos terroristas. Essa, todavia, não é uma tarefa simples. Exige Serviços de Inteligência altamente capacitados e governos determinados, uma vez que, nesse caso, as represálias são levadas a efeito antes que haja qualquer ataque. Antes, portanto, que sejam causados quaisquer tipos de danos. O antiterrorismo é, portanto, uma resposta a algo que ainda não ocorreu. Nesse sentido, talvez não constitua surpresa o fato de Otto Von Bismarck, o grande chanceler alemão, ter comparado a guerra preventiva a “cometer o suicídio por medo de morrer”

- É geralmente considerado legítimo recorrer à defesa violenta em resposta a graves ameaças que inflijam extensos sofrimentos humanos ou ponham em risco a própria sobrevivência da sociedade. Todavia, esse critério da grave ameaça é escorregadio na aplicação específica. Como na maioria dos julgamentos humanos, a avaliação da gravidade da ameaça envolve sempre alguma subjetividade. A grave ameaça prescreve uma escolha de opções, mas a escolha de opções violentas também formata, muitas vezes, a construção da grave ameaça;

- É impossível proteger por todo o tempo todos os alvos em potencial, ficando assim, sempre, os terroristas  com a vantagem da iniciativa. Para que essa proteção fosse efetiva seria necessário implantar um Estado-policial, exatamente o tipo de situação que os terroristas gostariam que fosse criada, pois, assim, teriam um inimigo fascista para combater... em nome da democracia.
Uma democracia não pode utilizar um cidadão em cada cinco para ser policial; não pode fechar suas fronteiras e nem restringir as viagens dentro do país; nem manter uma vigilância constante sobre cada hotel, cada prédio, cada apartamento em cada andar; e nem gastar horas revistando carros nas ruas e bagagens de viajantes nos aeroportos e em terminais rodoviários;

- Finalmente, assim sendo,
uma das únicas defesas contra o terrorismo é a possibilidade de realizar uma infiltração com a finalidade de interceptar e conhecer antecipadamente quando e onde um alvo deverá ser atacado. Essa, contudo, é como já foi dito, uma tarefa para um excepcional Serviço de Inteligência, aliada a dois componentes essenciais: vontade política e decisões que não temam riscos, mormente agora, em que o fundamentalismo islâmico substituiu o marxismo e o anarquismo como principal ideologia revolucionária utilizada para justificar, gerar e difundir o terrorismo. Todavia, é um fato de que quanto mais brutais forem as represálias contra o apoio da população às atividades terroristas, menor será o apoio ao governo. Por outro lado, também é verdadeiro que os grupos que se valem da coerção e do terror para conseguirem o apoio da população, colocam em risco os seus interesses de longo prazo e apresentam à Inteligência oportunidades para recrutar informantes e penetrar nas organizações terroristas ou insurgentes.

O objetivo de recordar os conceitos acima foi a publicação pela imprensa da oportunista - esse é o adjetivo correto - decisão dos representantes dos 192 países que compõem a Organização das Nações Unidas (ONU), aprovada em 8 de setembro de 2006, às vésperas do quinto aniversário do ataque às Torres Gêmeas, de “adotar uma estratégia global contra o terrorismo”. Isso, sem antes, durante toda a sua trajetória desde que foi fundada, conseguir definir para o mundo o que seja terrorismo de uma forma aceitável a todas as pessoas e Estados.


O terrorismo é a arma dos fracos
O terrorismo é a arma dos fracos. Existe, todavia, uma tendência nas sociedades ocidentais de identificar o “lado fraco” com o “lado justo”. Essa tendência faz com que as organizações insurgentes ou terroristas, ou ainda de ideologias religiosas reacionárias, mesmo agindo contra a maioria da opinião pública, contra os desejos da maioria do povo, aproveitem-se dessa tendência – “lado fraco”, “lado justo” - e usem a mídia para tentar aumentar o apoio à sua causa, embora nas atividades terroristas os civis inocentes tornem-se o alvo principal.

Apesar de ser considerada a arma dos fracos, o general Aleksandr Sakharovski, um dos chefes da KGB, definiu, em 1967, o novo rumo a ser seguido pelo comunismo internacional: "No mundo de hoje, quando as armas nucleares tornaram obsoleta a força militar, a nossa principal arma deve ser o terrorismo”. 
(citado por Olavo de Carvalho – “O Orvalho Vem Caindo”, Diário do Comércio, 5 de novembro de 2007).

Paradoxalmente, as organizações terroristas, que desprezam a lei e a ordem existentes, são frequentemente respaldadas por essas mesmas leis que almejam destruir. Leis que garantem os direitos individuais e que buscam evitar que o governo penetre na privacidade das pessoas, que não permitem prisões indiscriminadas, que proíbem o uso de pressões irresistíveis durante interrogatórios e que determinam o seguimento estrito dos procedimentos legais. Tais leis servem como um dispositivo importante na proteção aos insurgentes e aos terroristas. Além disso, em nome da democracia, as leis geralmente não se opõem a que as organizações levem a cabo operações abertas para organizar-se, recrutar novos membros, publicar jornais e panfletos e até angariar fundos.  Apesar de todos os obstáculos legais, é essencial fazer o processo de interrogatórios funcionar. A guerra contra o terrorismo não será decidida pelo poderio da mão-de-obra ou da artilharia, como na 2ª Guerra Mundial, mas localizando os terroristas e sabendo quando e onde os ataques futuros poderão acontecer. Esta é uma guerra na qual a Inteligência é tudo. Vencer ou perder depende de informações de Inteligência. Estamos diante de um inimigo que não luta, ataca ou planeja de acordo com as leis da guerra”. (“Cadeia de Comando – A Guerra de Bush do 11 de setembro às Torturas de Abu Ghraib”, Seymor Hersh, editora Ediouro, 2004).

Nesse sentido, o Novo Manual de Contra-Insurgência dos EUA 


define, em seu capítulo terceiro, que é “indispensável a preparação da Inteligência, no ambiente operacional e antecedendo as operações a serem realizadas”, ficando evidente a máxima que, na atualidade, numa campanha de contra-insurreição bem sucedida, é impositivo que “a Inteligência conduza as operações”.

No Brasil, no regulamento da Agência Brasileira de Inteligência–Abin, foi criado um 
Departamento de Contra-Terrorismo, organismo que, conceitualmente, busca levar a guerra aos terroristas, imobilizando-os antes mesmo que pratiquem qualquer ato criminoso. Ou seja, uma busca pelo que ainda não foi feito, o que exige órgãos de Inteligência de alta qualidade. Tudo isso, contudo, não deixa de ser um paradoxo, pois como funcionará um Departamento de Contra-Terrorismo se nem os experts da ONU e nem os do governo brasileiro tenham conseguido  ainda definir o que seja Terrorismo?

Tampouco, no Brasil, se conseguiu definir o que é uma organização criminosa (ministro Carlos Ayres de Brito, do STF, em 27 de agosto de 2007).

Por: Carlos I.S. Azambuja é Historiador