Relatório de inteligência revelado por VEJA classificou como “nível 4”, em uma escala de 1 a 5, risco de atentado durante Jogos
A 23 dias do início dos Jogos Olímpicos no
Rio, o governo brasileiro concentra esforços para, publicamente,
minimizar os riscos de atentados terroristas no país. A medida é parte
de uma operação de redução de danos coordenada pelo Palácio do Planalto e
tem por objetivo evitar que a propagação de informações sobre riscos de
ocorrência de atos extremos possa desestimular turistas e até atletas
que se preparam para viajar ao país.
“Não é momento de tratarmos disso
publicamente, sob pena de contribuirmos para prejudicar os Jogos que
estamos sediando”, disse a VEJA uma alta autoridade encarregada de
coordenar os preparativos na área de segurança. A estratégia foi combinada há
pouco mais de um mês, em reunião no Palácio do Planalto que contou com a
presença do presidente em exercício, Michel Temer, e dos ministros
incumbidos de tratar do assunto.
Nesta quarta-feira, o Gabinete de
Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República apresentou a
jornalistas o Centro Nacional de Inteligência – uma sala de pouco mais
de 200 metros quadrados instalada na sede da Abin (Agência Brasileira de
Inteligência), em Brasília. É a partir desse centro que agentes do
serviço secreto brasileiro e de países estrangeiros vão monitorar e
trocar informações sobre eventuais ameaças terroristas durante o evento.
“Não achamos nenhum dado que
nos faça deixar a população preocupada com a probabilidade (de
atentados)”, declarou o ministro-chefe do GSI, general Sergio
Etchegoyen. O discurso oficial é cuidadosamente calculado, até porque
descartar a existência de riscos pode representar um problema: se algo
ocorrer, como explicar depois que as ameaças haviam sido negligenciadas?
A alternativa está no meio do caminho: dizer que todas as medidas de
prevenção estão sendo adotadas. “Estamos hoje garantidos pelas melhores
práticas, pelos procedimentos que têm dado certo no mundo inteiro”,
disse o general. “Todos os riscos são considerados, independentemente da
probabilidade.”
Se em público o discurso é tranquilizador,
internamente a preocupação é grande. Neste momento, as autoridades se
esforçam para localizar pelo menos dois suspeitos de ligação com
organizações extremistas que entraram clandestinamente no país. Um deles
é o sírio Jihad Ahmad Deyab, ex-prisioneiro de Guantánamo que vivia no
Uruguai e que, segundo autoridades que acompanham o caso, atravessou a
fronteira para o Brasil. “Há várias operações em andamento neste momento
em várias partes do país”, diz um oficial. Há três semanas, VEJA
revelou um relatório reservado em que a própria Abin estipula em 4, numa
escala de 1 a 5, o nível de ameaça terrorista ao Brasil durante os
Jogos Olímpicos do Rio.
Nesta quarta-feira, veio a
público na França o teor de uma investigação conduzida pelo serviço
secreto do país segundo a qual o Estado Islâmico (EI) estaria
planejando um ataque contra a delegação francesa no Rio – o atentado
seria perpetrado por um combatente brasileiro do EI. Indagado sobre o
assunto, o diretor-geral da Abin, Wilson Trezza, disse que a
inteligência brasileira não recebeu qualquer informação da França acerca
do assunto. Na mesma entrevista, como parte da estratégia de minimizar
os riscos, Trezza afirmou que a Abin não classifica numericamente o
nível de risco de atentados nos Jogos. Confrontado com o relatório
revelado por VEJA em que a própria agência classifica como a ameaça como
4 (algo “sem precedentes” no país, de acordo com o documento), ele
acabou desmentido por um subordinado, diante de mais de uma dezena de
jornalistas.
Fonte: VEJA
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