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quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

Legitimidade institucional e pacificação do Brasil - Gazeta do Povo

Rodrigo Constantino

Um blog de um liberal sem medo de polêmica ou da patrulha da esquerda “politicamente correta”.

Ben Shapiro, o comentarista conservador americano, usou o caso brasileiro para uma reflexão mais genérica sobre o enfraquecimento da legitimidade institucional no Ocidente. Ele não alivia a barra de quem vandalizou Brasília - e nem deveria, mas coloca tudo dentro de um contexto mais amplo: as elites querem mais controle por meio do governo, e o povo percebe um distanciamento cada vez maior entre representantes e representados.

A grande mídia em nada ajuda. Tomada pela ideologia esquerdista, os jornalistas demonizam a direita, sempre rotulada como "extrema direita", e adota um duplo padrão escancarado. Basta ver como trataram diferente quando black blocs vandalizaram Brasília há alguns anos. A violência "progressista" é justa e redentora, enquanto a da "extrema direita" é golpista e terrorista.

O esgarçamento do tecido social em nada ajuda. Nossos "pequenos pelotões" de que falava Burke estão enfraquecidos, a religião perdeu força, as comunidades estão num clima tribal de "nós contra eles". O estado é um aparato gigantesco que cada tribo disputa para poder impor suas vontades e ideologias aos demais, perdedores. Quanto maior o avanço estatal, com seus tentáculos pegajosos e autoritários, menor é o espaço para a sociedade civil.

Tenho lido e escrito bastante sobre essa crise de legitimidade nas democracias "liberais" do Ocidente. Na era da Guerra Fria havia um inimigo mais específico, com seu modelo de planejamento central, sua visão totalitária e coletivista sem qualquer espaço para o indivíduo, e havia um denominador comum que unia de certa forma a esquerda e a direita mais moderadas. Hoje o ambiente é de polarização absoluta.

É difícil imaginar como isso possa terminar bem. O caso brasileiro conta com agravantes, como o malabarismo do sistema para soltar e tornar Lula elegível, a parcialidade do TSE durante a campanha eleitoral, a falta de transparência do processo como um todo. Lula carece de legitimidade perante basicamente metade da população. E a velha imprensa, ao demonizar todo patriota indignado e colocar a pecha de "terrorista" na maioria sem um critério mais objetivo, joga lenha na fogueira.

Mais de mil pessoas, entre elas idosos e crianças, trancadas num galpão. Alexandre de Moraes diz que não é uma "colônia de férias" e que o Judiciário será implacável com os "terroristas"
Mas um juiz não deveria condenar cada um antes de provas. 
No mais, podemos questionar: e se fossem mil pessoas, crianças incluídas, presas numa favela carioca após uma operação policial? Sabemos qual seria a reação das ONGs dos direitos humanos e da imprensa em geral.
 
O Brasil precisa de paz, e as instituições precisam ser fortalecidas. Isso certamente não vai acontecer por meio do vandalismo de quem se diz patriota
Tampouco será possível por meio de uma perseguição implacável a todos que enxergam legitimidade não nesses atos inaceitáveis, mas na demanda em si por maior respeito à Constituição e às liberdades individuais, especialmente de exprimir nossa opinião sobre a falta de legitimidade do presidente eleito.
 
Tenho dito isso e repito: se a única forma de "pacificar" o Brasil for calar, perseguir ou prender todo aquele que não engole a vitória de Lula da forma como se deu, então teremos a "paz" de uma China. 
Não dá para chamar de democracia um resultado desses. Para "salvar nossa democracia", vão acabar por destruí-la de vez...

Rodrigo Constantino, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


segunda-feira, 28 de novembro de 2022

Colorado: “eles” mataram gays - Rodrigo Constantino

VOZES - Gazeta do Povo

Um blog de um liberal sem medo de polêmica ou da patrulha da esquerda “politicamente correta”.

Mais um tiroteio, desta vez em Colorado Springs, numa boate gay. Cinco pessoas morreram e várias ficaram feridas. Imediatamente a mídia mainstream identificou o culpado: todo conservador que é contra ideologia de gênero, uso de drag queens para "educar" crianças etc.

A imprensa nem esperou aparecer informação sobre o suspeito: a culpa só pode ser "deles", da direita "reacionária", de Ben Shapiro, de Tucker Carlson, dos republicanos. Com seu "discurso de ódio", claro que são eles os responsáveis por esse tipo de crime, de "homofobia".

Basicamente todos os comentaristas "progressistas" da imprensa mergulharam nessa narrativa, sem aguardar os fatos. Mas a realidade se impõe, e ocorre que o atirador é alguém que se identifica como "não-binário", não usa os pronomes conhecidos, não respeita a ciência biológica. Deu "bug" na imprensa.

Então quer dizer que foram "eles" que mataram os gays, não os conservadores, mas o doente mental que não se considera homem nem mulher? E agora, José? O que fazer com esse tipo de informação? Como encaixar isso na narrativa padrão que já estava pronta antes mesmo de qualquer coisa sobre o assassino?

O doente mental havia ameaçado a própria mãe meses antes com uma bomba caseira! Talvez aí pudéssemos buscar alguma informação útil. Seu pai era um drogado que foi preso várias vezes, a mãe não era muito diferente. Opa! Total falta de estrutura familiar, problemas psiquiátricos, talvez esse fosse o melhor caminho para puxar o fio e tentar compreender mais um tiroteio em massa?

Mas não! Para a esquerda, a culpa é sempre da direita, das armas ou do bullying. Como o atirador se revelou um "não-binário", ficou complicado associa-lo aos conservadores.  
Então restou agora mudar totalmente a narrativa para apontar o bullying como o responsável. 
De alguma forma é preciso condenar a direita e seu "discurso de ódio". Se você é contra a ideologia de gênero, então claro que só pode ser o culpado por quem atira em homossexuais numa boate!

É tudo muito podre, asqueroso, mas é o que a esquerda vem fazendo com mais e mais frequência, esgarçando o tecido social. No Brasil não é diferente. Após o atentado numa escola em Aracruz, Espírito Santo, imediatamente surgiram narrativas culpando a direita bolsonarista pelo ocorrido. Essa gente não liga para a realidade ou para as vítimas, só para suas ideologias.

O mesmo vale até para as agressões verbais. Se Gilberto Gil é hostilizado, isso é prova do ódio da direita, de como esses seres raivosos ameaçam a paz e a tolerância. 
Mas quando os hostilizados são ligados aos conservadores, aí tudo bem. Ficamos assim: pode hostilizar e xingar Neymar, Cássia Kiss e Regina Duarte, mas se fizer o mesmo com algum petista, cadeia nele!

Tudo passou a ser pretexto para condenar a direita e clamar por controle das redes sociais, censura. É uma desculpa esfarrapada, uma narrativa furada. 

Mas a falta de compromisso com a verdade nunca parou a sede de controle dos esquerdistas. Eles não ligam para nada disso. Só para a sinalização de falsa virtude e o poder.

Rodrigo Constantino, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


domingo, 9 de maio de 2021

Isso não pode acabar bem - Revista Oeste

 
Rodrigo Constantino

Uma ala expressiva da esquerda tem justificado cada vez mais a intransigência, até com violência, contra a direita, toda ela considerada 'fascista'

Qual o desfecho possível para uma democracia quando uma parte considera que cerca de um terço da população é genocida, fascista, negacionista, assassina? 
A pergunta é retórica. Qualquer pessoa sensata vai concluir que é inviável uma democracia com tais características. Se há tanta gente assim dentro de tal sistema, ele vai inevitavelmente ruir, terminar até em guerra civil. Não há democracia possível com tantos inimigos
[o que nos conforta e nos propicia a certeza da  VITÓRIA, É QUE A esquerda SEMPRE PERDE;
Nos últimos cem anos os malditos esquerdistas perderam por cinco vezes (contando só as derrotas maiores, as pequenas derrotas que sofreram, ignoramos)= e a cada vitória mais nos convencemos de que devem ser extirpados politicamente.
Até os atos violentos, covardes e infundados do tal
'black lives matter', foram apenas alvoroços, estertores,  que de prático nada trouxeram, nem trarão, já que a razão não lhes assiste.

 
Mas é exatamente essa a narrativa que uma elite vem impondo. E o fenômeno é mundial, com claro agravamento na era das redes sociais. O tribalismo tem sido a tônica nos “debates” — e, em vez de aceitar a ideia de que seu adversário político pensa diferente ou está equivocado, a premissa cada vez mais usual é a de que se trata de um ser perverso, cruel, maligno. Não há diálogo possível com fascistas assassinos, há?

É crucial entender a origem do fenômeno moderno. A tentativa de demonizar o adversário, visto como inimigo mortal, não é novidade. O processo de desumanização do “outro lado” é uma tática comum em ideologias totalitárias. O exemplo mais evidente é o que os nazistas fizeram com os judeus. Se do lado de lá não há humanos que discordam das nossas bandeiras, mas sim vermes que querem nos destruir, então o extermínio desses “vermes” passa a ser pregado como algo aceitável.

O sociólogo e filósofo alemão Herbert Marcuse (1898-1979), com seu conceito de “tolerância repressiva”, deu a senha para que a esquerda pós-moderna encarasse qualquer um que não fosse socialista como um reacionário fascista, um perigo iminente, uma ameaça terrível. E, com base nessa ideia, toda reação a essa ameaça era legítima, justificada, um ato libertador. Palavras agridem, ideias são bombas, e agredir fisicamente quem as profere passa a ser legítima defesa.

Eis o resultado prático: grupos se vestem de preto, usam máscara, pegam armas brancas e incendeiam universidades para impedir a palestra de um conservador moderado como o advogado e escritor norte-americano Ben Shapiro. E eles se chamam de Antifa, ou seja, os antifascistas! Aquele que adota postura truculenta, intolerante e autoritária passa a ser o democrata tolerante em sua própria visão distorcida, tudo porque tem certeza de que está reagindo ao enorme risco fascista, que enxerga em cada esquina, em cada um que não defende sua mesma ideologia.

É por isso que Hillary Clinton se referiu a metade dos eleitores de Trump como “deploráveis”, e a esquerda “progressista” passou a considerar “discurso de ódio” a simples defesa de tradições, do casamento entre homem e mulher ou as críticas à ideologia de gênero. A mentalidade esquerdista hoje, de forma geral, é totalitária, pois não aceita que seja possível discordar dela com legitimidade, com boa intenção.

No Brasil, toda a direita tem sido demonizada faz tempo, e com a chegada de Bolsonaro ao poder a coisa piorou muito. 
O presidente passou a ser confundido com o próprio vírus chinês, acusado de cada óbito na pandemia, responsabilizado diretamente por tudo de ruim que acontece. 
Esta semana, com a morte do humorista Paulo Gustavo, vimos o ápice dessa postura. Paulo Coelho, Felipe Neto, Maitê Proença, a turma do MBL e muitos outros acusaram Bolsonaro pela morte do ator, com rótulos de “genocida”, “assassino” ou “verme.[juntando as três 'coisas' destacadas, surge algo bom?]

Qualquer um que ouse enxergar virtudes no presidente ou em seu governo é logo tachado de cúmplice de genocídio por essa gente. Não há diálogo viável, não há argumentos racionais que prestem para os “canceladores”. Só há um “pequeno” problema: segundo as pesquisas, Bolsonaro tem o apoio de cerca de um terço do povo brasileiro. Nas ruas no sábado passado, vimos um 1º de Maio atípico, com centenas de milhares de pessoas ocupando várias avenidas importantes pelo país em apoio ao presidente. Foi um recado bem alto.

Essa gente considera que há um golpismo no ar, que o establishment atua para impedir o governo, para boicotar ou derrubar o presidente. Não confia nas urnas eletrônicas e pede voto auditável
Joga tomates em imagens dos ministros supremos pois os considera traidores da Constituição e a serviço do corrupto que os indicou para o STF. Alguns clamam por uma ação militar, tamanhos o desespero e a sensação de impotência diante de um sistema corrompido.
Discordar de suas bandeiras ou de seus métodos é do jogo. Chamá-los de genocidas ou fascistas, porém, é retirar a legitimidade de um grito atravessado na garganta de milhões de brasileiros. Voltamos ao ponto inicial: como viabilizar uma democracia que rejeita quase metade dos eleitores? 
Como dirimir conflitos, aparar arestas e buscar consensos ou contemporizações se, em vez de oponentes políticos, enxergamos monstros assassinos do outro lado? 
Tentam a todo custo e com muito esforço, além da cumplicidade de boa parte da imprensa, transformar em pária social aquele que defende o grosso da atual gestão, que claramente possui inúmeros méritos mesmo. Você não está errado, segundo essa narrativa; você é “do mal”, e isso justifica todo o ódio “do bem” que vemos por aí, com gente desejando abertamente a morte de Bolsonaro e de seus apoiadores.

Isso não tem a menor chance de terminar bem. Até porque essa enorme parcela da população descobriu que pode ter um representante no poder, que existem outros milhões que pensam como ela, que o jogo é sujo para impedir seu direito de existência política. Não é possível voltar ao estado anterior, com uma mídia dominada de forma quase hegemônica pela esquerda e um teatro de tesouras entre petistas e tucanos como se fosse uma disputa entre esquerda e direita. A direita acordou, e um gigante desperto precisa ser levado em conta. Não dá para colocar um elefante embaixo do tapete e fingir que ele nem sequer existe.

Comentando os atos violentos do Black Lives Matter nos Estados Unidos, o sociólogo húngaro-canadense Frank Furedi escreveu em coluna desta revista: “O surgimento de uma nova filosofia que justifica esse tipo de protesto e os saques é resultado direto da poderosa influência exercida pela política identitária no mundo anglo-americano. Nos Estados Unidos, até pouco tempo atrás, o uso de violência e de ameaças politicamente motivadas tendia ao confinamento dos campi universitários. O exercício da cultura de cancelamento sempre continha a implicação de que a força poderia ser usada contra o alvo cancelado. O que mudou é que, em meses recentes, formas de comportamento que estavam confinadas às universidades migraram para o resto da sociedade. No ambiente menos refinado da urbanidade norte-americana, a cultura do cancelamento adquiriu uma dinâmica muito mais sombria”.

Ele concluiu em tom pessimista: “Quando uma mídia supostamente livre se recusa a pensar livremente e noticiar o que é evidente aos olhos de seus espectadores, você sabe que a liberdade está muito encrencada. Quando protestos violentos são ignorados e, em alguns casos, celebrados, o respeito pelo Estado de Direito está fatalmente comprometido. Agora entendo de verdade quando a garçonete me alertou sobre a possibilidade de uma guerra civil. Pessoas como ela sabem que seu modo de vida está sob ameaça quando o comércio para o qual trabalham pode se tornar um alvo legítimo para um ‘protesto intenso, mas basicamente pacífico’.”

Uma ala expressiva da esquerda tem justificado cada vez mais a intransigência, até com violência, contra a direita, toda ela considerada “fascista”. Essa estratégia pode surtir algum efeito em círculos da elite cosmopolita, que fica com “nojo” de tudo o que remeta ao conservadorismo, tido como “tacanho”, “obscurantista” ou “assassino”. 

 Mas vai esgarçando o tecido social até o ponto de ruptura. Toda ação leva a uma reação. É por isso que não podemos descartar nem mesmo um conflito eventual. A esquerda não pode achar que vai provocar tanto assim sem nenhuma consequência. Talvez alguns mais radicais e revolucionários desejem mesmo isso. 

Cabe aos outros compreender quanto antes o perigo, e resgatar o respeito por quem pensa diferente, por quem é de direita, e sim, por quem apoia o governo Bolsonaro.

Leia também “Uma guerra civil nos EUA?”

Rodrigo Constantino, colunista - Revista Oeste

 

quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

Tesla vai ao Texas - Rodrigo Constantino

Revista Oeste

Elon Musk deixa a Califórnia, Estado que caminha para um experimento social fracassado por culpa da elite progressista. Mas quem paga o pato mesmo é o povo

[a matéria mostra com uma crueza intensa, uma verdade chocante: se o Brasil continuar com a política de aumentar direitos sem a contrapartida de deveres, distribuir riquezas antes de criá-las, o resultado será um só:  o narrado nesta matéria será realidade.

Já estamos na situação apresentada nos parágrafos 1, 7 e 8, é só continuar como está e o CAOS CAÓTICO, o fim do BRASIL se apresentará.]

Minha colega Ana Paula Henkel já escreveu um texto espetacular nesta revista sobre a decadência californiana (“Garota, eu não vou para a Califórnia”), que recomendo a todos que se preocupam com o potencial estrago de uma mentalidade “progressista”. Volto ao tema, pois nesta semana o bilionário Elon Musk oficializou sua mudança para o Texas. Trata-se de um marco que ilustra com perfeição o declínio acelerado do “Estado de Ouro” norte-americano.

Ana Paula já havia resumido as principais causas dessa debacle: políticas progressistas tolerantes ao crime, elevados gastos sociais sem planejamento, aumento da população de rua e regulação cara e complexa para negócios
Tudo isso tem provocado o êxodo californiano. O conhecido comentarista conservador Ben Shapiro já tinha anunciado a decisão de levar seu The Daily Wire para Nashville, e o simbolismo não foi pequeno, uma vez que Shapiro nasceu e viveu em Los Angeles sua vida toda. Mas todos têm um limite.

Os motivos apresentados por Shapiro são similares àqueles oferecidos por Musk. O bilionário empreendedor disse que, embora haja “muitas coisas realmente ótimas” no Estado da Costa Oeste, ele achou prudente mudar-se para o Texas, e alertou: “Se uma equipe está vencendo há muito tempo, ela tende a ficar um pouco complacente, cheia de direitos, e então não ganha mais o campeonato. A Califórnia vem ganhando há muito tempo. E acho que eles estão tomando isso como algo garantido”.

Musk ainda possui operações na Califórnia, mas pelo visto está ficando cansado da situação: “Em primeiro lugar, a Tesla e a SpaceX obviamente têm operações massivas na Califórnia. Na verdade, é importante notar que a Tesla é a última empresa automotiva ainda fabricando carros na Califórnia. A SpaceX é a última empresa aeroespacial ainda fazendo uma produção significativa na Califórnia. Costumava haver mais de uma dúzia de fábricas de automóveis na Califórnia. E a Califórnia costumava ser o centro da fabricação aeroespacial! Minhas empresas são as duas últimas que sobraram… Essa é uma observação muito importante a fazer”.

Resta perguntar: até quando? A realidade é que ninguém gosta de deixar dinheiro na mesa, para burocratas do governo. Nem mesmo os “liberais” que costumam defender maiores impostos, diga-se de passagem. A Fox Business relatou que a mudança pessoal de Musk para o Texas significa que ele “aumentará suas chances de evitar um imposto de renda estadual de 13,3% sobre os ganhos de capital que obtém no caso de vender ações da Tesla ou receber bônus”. Quem costuma pregar mais impostos em nome do combate às desigualdades ignora que as riquezas, antes, precisam ser criadas. É a típica mentalidade ­ex-post facto, que olha o bolo feito e quer reparti-lo de forma “mais justa”, ignorando que ele primeiro foi fabricado.

O que aconteceu? Numa frase: muita riqueza e muita pobreza

Em complemento ao brilhante texto de Ana Paula, gostaria de recomendar o pequeno livro do historiador Victor Davis Hanson, The Decline and Fall of California: From Decadence to Destruction. Hanson está numa posição privilegiada para falar do assunto, pois dá aulas na costa cosmopolita e reside no interior, cuidando de sua fazenda. Ele conhece como poucos o abismo que se abriu entre ricos e pobres no Estado, justamente por conta das medidas esquerdistas. E seu diagnóstico é assustador.

Como pegar um dos Estados mais ricos do planeta, repleto de empreendedores de tecnologia, de riquezas naturais, de expoentes da indústria do cinema, e transformá-lo num caos social? 
É preciso adotar por longo período a receita esquerdista: progressismo cultural, relativismo moral e Estado de bem-estar social. Roberto Campos já dizia que uma tragédia como a brasileira não é obra do acaso, mas sim de um esforço determinado de décadas”. O mesmo diagnóstico serve para o caso californiano. “Os californianos sabem que ter dezenas de milhares de desabrigados em suas principais cidades é insustentável. Em alguns lugares, as calçadas tornaram-se esgotos a céu aberto de lixo, agulhas usadas, roedores e doenças infecciosas”, diz Hanson. Não obstante, ninguém ousa questionar o modelo esquerdista vigente.

O Estado tem uma das maiores cargas tributárias do país, os preços de combustível são bem mais altos do que a média, e falta energia, com frequentes apagões. A infraestrutura é cada vez mais abandonada, o trânsito é infernal, mas a moda nas rodas cosmopolitas é elogiar a energia limpa. As escolas públicas estão entre as mais fracas do país, mas a elite é contra as charter schools ou os vouchers, enquanto coloca seus filhos em escolas particulares. “Os californianos sabem que se aventurar na sala de emergência de um hospital municipal é descer ao inferno moderno de Dante. As instalações médicas estão superlotadas. A classe média em extinção precisa enfrentar preços exorbitantes para tratar uma criança ferida ou doente”, escreve Hanson. A criminalidade está em alta também. Mas ninguém se atreve a criticar as leis frouxas de imigração ou de combate ao crime.

A Califórnia é agora um Estado com um partido único. Os democratas têm supermaiorias em ambas as casas do Legislativo. Apenas sete das 53 cadeiras no Congresso do Estado são ocupadas por republicanos. Os três políticos mais poderosos da Califórnia, entre eles a presidente da Câmara, Nancy Pelosi, são multimilionários. Vivem blindados dos efeitos perversos de suas ideologias progressistas.

O que aconteceu com a Califórnia? Hanson responde em uma frase: muita riqueza e muita pobreza, à medida que o número de multimilionários e bilionários — agora mais de 130 — disparou mesmo com o aumento da porcentagem de pobres. Ambos encontraram isenções de impostos estaduais mais altos e maiores regulamentações, um por sua influência política, conexões e capital, o outro por sua pobreza e dependência.

Hanson apresenta dados estarrecedores, como a dívida estadual gigantesca, e desabafa: “Se ao menos as pessoas tivessem de viver no mundo que sonharam para os outros”. Eis o problema californiano em essência: aqueles utópicos que idealizam seu “novo mundo” imposto de cima para baixo pelo Estado não são os mesmos que costumam pagar o preço de efetivamente viver em tal inferno.

A classe média fica espremida entre ricaços poderosos e pobres que dependem do Estado

Em suma, a Califórnia caminha para um experimento social fracassado por culpa da elite, mas quem paga o pato mesmo é o povo. “Os pobres e as classes médias geralmente arcam com o peso dessas políticas em termos de redução das oportunidades de emprego e economia mais lenta”, explica Hanson.

Sendo especialista em história militar, Hanson faz uma comparação interessante: “Isso me lembra os otomanos na Grécia, que arrancaram os selos de chumbo dos grampos de ferro que mantinham unidos os blocos de mármore dos templos e paredes da Grécia Antiga. Os turcos, que pouco podiam fazer, exceto limpar muito, conseguiram seus poucos gramas de chumbo para as balas. Na troca, os grampos de ferro expostos enferrujaram e se desfizeram, arruinando as antiguidades que até então haviam sobrevivido a 2 mil anos de desgaste natural. Uma civilização constrói e investe, outra completamente diferente destrói e consome”.

O ditador popular já diz: “Pai rico, filho nobre, neto pobre”. Ou seja, os californianos estão consumindo o que herdaram, estão desperdiçando no luxo ao qual só herdeiros irresponsáveis, sem consciência de como a fortuna foi criada, podem se dar.

“Por que nem todo mundo vai embora?”, questiona Hanson. A resposta é simples, segundo ele: para os ricaços do litoral, não há nenhum outro lugar onde o dinheiro seja tão bom e o clima e a paisagem sejam tão agradáveis. E, para a classe baixa do interior, os direitos na Califórnia e os empregos em serviços mal pagos são um paraíso em comparação com Honduras ou o sudeste da Ásia. E, sim, os pequenos agricultores de classe média, donos de lojas de ferragens, aposentados de empresas e eletricistas estão partindo em massa.

A classe média fica espremida entre ricaços poderosos e pobres que dependem do Estado. Mas, se a situação continuar saindo do controle, é questão de tempo até os ricaços perceberem que sua redoma não é absoluta, que o estrago causado do lado de fora produz inevitável impacto no todo. Não quero ser um abutre aqui, mas é uma análise realista. A Flórida, governada por um republicano e que deu vitória a Trump nessas eleições, estará de braços abertos para receber Ana Paula e sua família!

Rodrigo Constantino, jornalista - Revista Oeste