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quinta-feira, 30 de julho de 2020

Gilmar e os Valentes da Live - Guilherme Fiuza

A Disneylândia da cruzada contra o fascismo imaginário transforma qualquer proscrito em herói, e isso foi irresistível para o ministro

O genocídio digital de Gilmar Mendes fez o maior sucesso. Aliás, tem sido sempre assim: no que aparece na sua frente uma tela dividida com aquele monte de janelinhas, cada uma delas ocupada por uma cabecinha educada, ética, empática, simpática, solidária, civilizada, perfumada (não dá pra sentir o cheiro, mas tá quase), consciente, antifascista, quarentenada e culta, com cara de quem está no lugar certo, protegido pela ciência e pronto para repreender os ignorantes do mundo lá fora — enfim, quando você está diante de uma cena como essa, já sabe que vem merda.

E não deu outra. Gilmar Mendes, que era a criatura mais detestada do Brasil e hoje é um queridinho da grande imprensa — a militância contra o  fascismo imaginário faz milagres —, deu um show. Mostrando que para os Valentes da Live verdade se faz em casa, Gilmar saiu inventando com grande fluência e desassombro. Os Valentes da Live não têm medo de nada.
O ex-vilão sabe que o confinamento burro campeão de contágio e responsável por 12 mil mortes diárias de fome no mundo é, no Brasil, obra do STF. Gilmar sabe que foi a Suprema Corte (ou seja, ele e seus colegas) quem deu a caneta mágica para governadores e prefeitos brincarem de fascismo (real) prendendo e arrebentando o cidadão — e recitando o famoso “fica em casa enquanto a gente rouba você”.
O mínimo que um picareta espera do seu ídolo é que ele minta com desenvoltura — e assim foi feito.

Todo ladrão que ficou rico com o Covidão é grato aos supremos juízes que inventaram a pandemia estadual — e assim deram poderes mágicos aos tiranetes para montar as estatísticas que lhes rendessem mais hospitais de campanha fantasmas e respiradores superfaturados. Qualquer desses picaretas que ficaram milionários em dois meses fingindo salvar vidas, barbarizando os cidadãos sob o silêncio dos humanistas de Zoom, diria sem pestanejar: meu time é Gilmar e mais dez.

O craque do time não decepcionou. O mínimo que um picareta espera do  seu ídolo é que ele minta com desenvoltura — e assim foi feito. Gilmar Mendes trocou tudo sem a menor inibição e disse que o descalabro patrocinado por togados, tiranetes e sanguessugas foi obra do governo federal e da militarização. Um genocídio. Enfim, um Valente da Live sabe quais são as palavrinhas mágicas que lhe darão as manchetes certas e os holofotes mais luminosos.

Não deixa de ser comovente assistir a um personagem execrado pela opinião pública como Gilmar Mendes se lambuzando no mel da mídia que o tratava como ser abjeto. Curiosamente, Gilmar havia feito um contraponto importante dentro do STF às tentativas da Corte de sabotar o impeachment de Dilma Rousseff. E também ajudou a expor as manobras conspiratórias em 2017 baseadas na delação forjada de Joesley Batista. Mas a Disneylândia da cruzada contra o fascismo imaginário transforma qualquer proscrito em herói, e isso foi irresistível para ele. Chegou a hora do banho de loja.

Um mundo ideal em que as pessoas permaneçam trancafiadas de pavor ou egoísmo (tanto faz)
Nessa mesma live estavam o médico Drauzio Varella, que disse no início da epidemia ser possível circular com responsabilidade, e o ex-ministro Henrique Mandetta, que pregou o lockdown horizontal, o isolamento total e se despediu do cargo abraçando-se ao vivo e sem máscara com seus auxiliares. Num alegre jogral com o genocídio digital de Gilmar, Mandetta disse que o ministro interino da Saúde, um militar especializado em logística, deveria na verdade ser especializado “em balística”, considerando-se a quantidade de mortos pela covid. Veja toda a empatia do ex-ministro da Saúde para com as vítimas fatais de uma epidemia e entenda a ética circense dos Valentes da Live.

Qual o mundo ideal para um Gilmar Mendes repaginado e toda a freguesia dessa fabulosa butique humanitária? É um mundo onde as pessoas permaneçam trancafiadas de pavor ou egoísmo (tanto faz) e não seja preciso nunca mais cruzar com alguém na rua, que aí complica. Eles vão lutar com todas as forças para que o novo paradigma de liberdade seja o pombal do Zoom.

Guilherme Fiuza, jornalista -  Coluna na Revista Oeste


sexta-feira, 13 de março de 2020

BOLSONARO E O CORONAVÍRUS - O Globo

Bernardo Mello Franco

Bolsonaro e o discurso para a claque 


O presidente Jair Bolsonaro em pronunciamento sobre o coronavírus


Demorou, mas parece que a ficha caiu. Dois dias depois de chamar a epidemia do coronavírus de “fantasia”, Jair Bolsonaro apareceu de máscara no rosto. Apesar de todos os alertas, o presidente só passou a levar a ameaça a sério quando a doença bateu à sua porta. O caso de Fabio Wajngarten ilustra os riscos de travar uma guerra permanente com os fatos. Na quarta-feira, a colunista Mônica Bergamo informou que o secretário de Comunicação Social havia se submetido ao teste do vírus. Ele sabia que a notícia era verdadeira, mas preferiu iludir a opinião pública e atacar o jornalismo profissional.

“Em que pese a banda podre da imprensa já ter falado absurdos sobre a minha religião, minha família e minha empresa, agora falam da minha saúde. Mas estou bem, não precisarei de abraços do Drauzio Varella”, [clique aqui e saiba as razões da menção ao dr. Drauzio Varella = que levou muitos incautos a sentir pena de um assassino e estuprador de crianças.] escreveu, usando o nome do médico para fazer militância política.

Horas depois do tuíte, confirmou-se que o secretário está mesmo com o coronavírus. Ele ainda pode ter transmitido a doença a dois chefes de Estado. Além de viajar com Bolsonaro, participou de jantar com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Wajngarten foi atendido num dos melhores hospitais do país e não apresenta sintomas graves da doença. Espero que ele se recupere logo. Também torço para que aproveite o período de isolamento para refletir sobre os erros da comunicação do governo.

Sob o comando do publicitário, a Secom tem confundido o interesse público com os interesses do presidente. Na terça, o órgão usou seu perfil oficial para divulgar as manifestações bolsonaristas que ocorreriam no dia 15. A prática contaria o princípio constitucional da impessoalidade, e seus responsáveis deveriam ser processados por improbidade administrativa. [se a prática fosse criminosa, certamente dezenas de juristas, começando pelo presidente do STF, estariam clamando contra Bolsonaro - que tentariam responsabilizar pelo ato da Secom.]
Hoje Bolsonaro teve uma chance de mudar o tom em pronunciamento na TV. Preferiu usar o espaço para tratar dos protestos a seu favor. [não podemos olvidar que a razão principal do pronunciamento presidencial foi exatamente a de mostrar a conveniência do ADIAMENTO do ato.] O presidente sugeriu que os atos fossem cancelados, o que já havia sido feito por grupos que o apoiam. Aproveitou para chamá-los de “espontâneos e legítimos”, apesar do patrocínio oficial e da pauta antidemocrática. Em vez de falar à nação, o presidente voltou a discursar para a claque.

Bernardo M. Franco, colunista - O Globo

[Nota do Blog Prontidão Total: O presidente Bolsonaro, a primeira-dama, o general Augusto Heleno, o general Luiz Eduardo Ramos e o almirante Bento Albuquerque fizeram os exames e todos apresentaram resultado negativo.]


terça-feira, 10 de março de 2020

Suzy, Drauzio Varella e o sensacionalismo - Gazeta do Povo

Madeleine Lacsko

Numa semana as pessoas se comovem e na outra se sentem traídas. 
Que tal se sentirem adultas e responsáveis?

Desde a semana passada venho tentando entender o furor nas redes com a história de Suzy e o abraço dado pelo médico Drauzio Varella, que há mais de 30 anos atua no sistema penitenciário. Num primeiro momento, havia uma multidão comovida e agora, após saber do crime, há uma multidão que se sente traída. O cachimbo do Estado-babá entortou a boca do brasileiro, que abdica de ser adulto e pensar por si, quer que alguém se encarregue sempre das decisões que deveria tomar. 

Tenho muitos irmãos evangélicos e católicos que atuam em ministérios e pastorais em presídios. Eu até faço trabalhos em instituições que abrigam adolescentes infratores, mas é uma falha da minha alma não conseguir me comover com história de adulto criminoso. Não é porque me acho esperta nem se trata de decisão racional: apenas, por algum motivo, não me toca o coração. [a criminosa apesar do crime horrível que cometeu - que a torna merecedora de pena mais severa do que a em cumprimento - merecendo todo o repúdio da sociedade, na entrevista se valeu da omissão do entrevistador e não informou seu horrível crime = o condenado estuprou e  matou por estrangulamento uma criança de 9 anos.

Oportuno lembrar que o entrevistador está correto quanto a não emitir julgamento sobre os crimes dos seus entrevistados. mas, tem o DEVER, em nome da clareza da informação de mencionar que o aquele entrevistado cometeu um crime hediondo.
Sua conduta nesse aspecto foi deplorável, lamentável, reprovável. E até motiva a pergunta: quantos criminosos repugnantes ele entrevistou e deixou, com sua omissão, que fosse passada a imagem de ser um pobre coitado.
No caso em questão a COITADA é a vítima da sanha assassina e doentia do entrevistado.]

Agradeço a Deus por ter colocado no mundo pessoas como meus irmãos que trabalham na recuperação de detentos e o dr. Drauzio Varella, capazes de olhar para aquelas pessoas sem se deixar influenciar pelo peso dos horrores que fizeram. Agradeço principalmente porque, sempre que se fala em prisão, ecoa na minha cabeça a frase que meu professor de Psiquiatria Forense, Alvino Augusto de Sá, amava repetir: "hoje ele está contiDo, amanhã ele estará contiGo."  Acompanhei nas redes a empolgação das pessoas que se uniam em mutirões para escrever cartas para Suzy depois da cena comovente do abraço entre ela e o médico. Preferi calar porque, confesso, tive vergonha do que pensei e senti. Se a pessoa está há 8 anos sem visita, quer dizer que está há pelo menos esse tempo no regime fechado. O que ela fez para ficar tanto tempo?

Vi pessoas se mobilizando para mandar cartas ao presídio e até, ápice da loucura, mobilizando crianças para mandar cartas a uma pessoa presa. Sinceramente, que adulto em sã consciência manda uma carta para alguém cumprindo uma pena longa e coloca o próprio endereço sem se informar sobre essa pessoa? 
Quem coloca uma criança em contato com alguém cuja história e caráter desconhece? 
Adultos não têm o direito de fugir de suas responsabilidades.

É característica da alma humana se compadecer diante do sofrimento alheio, ainda que seja merecido, ainda que se trate de um monstro. O agir, no entanto, depende de decisões adultas e maduras. Nenhum adulto que se leva pela emoção tem o direito de botar a culpa em outra pessoa.

Após ser "revelado" que era realmente gravíssimo o crime que levou a uma pena sabidamente dada apenas a crimes gravíssimos, vi diversas pessoas íntegras que se sentiram traídas - e com toda razão. Ocorre que não foram traídas por uma rede de TV nem pelo médico, foram traídas pelo próprio coração. É decisão emocional - e não racional - se comover sem pensar no que a pessoa fez no verão passado. Não é admissível que um adulto acredite na conversa de alguém que está no regime fechado há pelo menos 8 anos e depois queira dividir a culpa.

Há uma discussão justa sobre se o crime cometido pela pessoa deveria ter sido dito ao público. Como jornalista, questiono em primeiro lugar se teria - como produtora ou editora - selecionado esse personagem específico. Muito provavelmente não, mas isso é porque tenho esse defeito do coração duro mesmo. O segundo ponto é, uma vez tomada a decisão de dar voz a essa pessoa, se informaria ao público o crime. Eu sou da confusão, colocaria a informação em letreiro na tela para aparecer bem na hora em que todo mundo estivesse chorando de pena de alguém que está no mínimo há 8 anos na cadeia.

A reação forte diante da revelação do crime, que incluiu até ameaças contra o dr. Drauzio Varella, mostra a incapacidade total de lidar com frustrações, a característica fundamentalmente adolescente da nossa sociedade.  Que o episódio sirva para que repensemos nossa postura diante do sensacionalismo, uma técnica poderosa utilizada desde a Roma Antiga. Trata-se de descrever um evento olhando pelo seu ângulo mais "sensacional", ou seja, pelo que mais causa sensações nas pessoas, mais puxa pelo emocional, sem ter a mesma preocupação com fatos e contextualização. Seja diante do sensacionalismo na grande mídia ou dos gafanhotos de redes sociais, a nossa postura é a de rendição total.

O sensacionalismo na mídia de massas é muito mais fácil de perceber do que nas redes sociais, onde tudo é triado por algoritmos e você só recebe o que mexe com as suas sensações em particular. Emoções são naturais da alma humana e é ótimo que possamos ter essa experiência, mas será que não estamos colocando emoção demais e cérebro de menos em diversos tipos de decisões no cotidiano? Não tenho resposta.

Madeleine Lacsko, jornalista - Vozes - Gazeta do Povo


terça-feira, 28 de março de 2017

Para um combate exitoso às drogas o confronto é necessário e o usuário e o traficante devem ser tratados como iguais, COM RIGOR, lembrando sempre que SEM USUÁRIO o TRÁFICO NÃO EXISTE


“A droga no Brasil já é livre na mão do traficante”, afirma FHC


O ex-presidente participou de um debate sobre a descriminalização das drogas promovido por ÉPOCA com Ilona Szabó e Drauzio Varella 

“A droga no Brasil já é livre na mão do traficante”, afirmou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Ele participou do debate sobre a liberação das drogas promovido por ÉPOCA, editora Zahar, Instituto Igarapé e a Fundação Armando Álvares Penteado (Faap). O evento marca o lançamento do livro Drogas: as histórias que não te contaram, de Ilona Szabó. A autora do livro debateu com FHC e o médico Drauzio Varella, sob mediação de João Gabriel de Lima, diretor de Redação de ÉPOCA.

Para contar por que abraçou a causa da descriminalização das drogas, FHC lembrou de sua Presidência. Disse que assumiu o Palácio do Planalto com a intenção tradicional de acabar com as drogas, pela via do confronto. “Fizemos ações em várias partes do país, no Polígono da Maconha”, afirma. Mas, segundo ele, o esforço, por maior que fosse, não trazia os resultados esperados. O problema continuava. FHC contou que, participando mais de perto de discussões internacionais sobre o assunto, foi percebendo que haviam outras abordagens sendo propostas. FHC citou os Estados Unidos, país que travou uma guerra às drogas durante várias décadas. E que nos últimos anos passou a incorporar outras iniciativas. Vários estados americanos liberaram a maconha para uso medicinal e alguns até para fins recreativos. “O proibicionismo não vai funcionar”, diz. FHC destacou que não se trata de uma liberação descontrolada. “Não é legalizar”, afirmou. “É regulamentar. O que pode, o que não pode e em quais posições. É não colocar como criminoso o usuário de drogas.” Sobre o caminho político para esse tipo de proposta caminhar no Brasil, FHC sugere que acredita mais na via da Justiça do que do Legislativo. “O Congresso é reticente. Diz que o povo é conservador. O Supremo [Tribunal Federal], como não tem de responder a questões eleitorais, pode ter posições mais controversas”, afirma FHC.

Drauzio Varella descreveu o que acontece quando os países tratam da mesma forma o traficante e o consumidor. Segundo ele, no Brasil, boa parte dos presos é usuária de drogas, eles são julgados como traficantes. Drauzio trabalhou no presídio Carandiru. Contou como aprendeu na Suécia os limites de qualquer política controlar as drogas na cadeia. Ele lembrou que conheceu uma cadeia especial em Estocolmo, para onde iam os presos com melhor comportamento. Era uma prisão  para cerca de 50 detentos, com aulas práticas como marcenaria, onde eles tinham condições melhores para ressocialização. 

Nessa cadeia, lembra Drauzio, as autoridades suecas realizavam testes diários para checar o consumo de drogas pelos encarcerados. Mesmo naquele lugar, com frequência, as substâncias proibidas acabavam sendo apreendidas. Se mesmo naquela cadeia tão pequena e para os detentos com melhor comportamento era impossível erradicar as drogas, qual é a chance de fazer isso nos presídios superlotados do Brasil, perguntou Drauzio. “É impossível você ter uma cadeia sem drogas. Imagine as prisões brasileiras, que são superlotadas e sem condições de fiscalização”, afirmou.

Para Drauzio, é importante começar diferenciando as substâncias em questão. “Não gosto de chamar de ‘drogas’. Uma coisa é maconha. Outra, é cocaína ou heroína. Cada uma tem uma capacidade diferente da outra. Causam compulsões diferentes. Não dá para tratar todas do mesmo jeito”, diz. Segundo o médico, a discussão deve começar com a maconha, pela popularidade e pelas características de uso. “Acho que uma postura é começar com a maconha, que é a droga mais utilizada”, afirma. Nesse caso, ele sugere limites legais mais razoáveis. “Não adianta dizer que a partir de 5 gramas de maconha a pessoa já é um traficante.”

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