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sexta-feira, 23 de junho de 2023

Candente depoimento de um cidadão cubano - Miguelito Martinez Palma

Nota do editor o site: Essas imagens eu as busquei, agora, no Google, onde existem em abundância. Mostram trechos de uma área muito maior, centro histórico de Havana, antiga Pérola do Caribe. Eu conheço bem a região e estive em três ocasiões e anos distintos. O que elas mostram fica a poucos metros da porção central, restaurada com recursos da Unesco. 

       Rostos, expressão de misérias!

Os rostos de fome e tédio percorrem as ruas de Havana, expressões de cansaço e desespero se acumulam de fila em fila. Estamos ficando feios, o calor cada vez mais intenso, a angústia por coisas necessárias, a ausência de sonhos e a falta de esperança estão deixando sulcos em nossos rostos.

Estamos vivendo uma história onde um simples pão é um problema, nossas mentes estão regredindo e pensamentos primitivos tomam o lugar de nossa inteligência, o simples, o essencial é a maior motivação de qualquer cubano e nossos rostos, nossos rostos são o espelho disso tão insignificante em que nos estamos transformando.

Ficaram no álbum de família as fotos antigas de gente bem arrumada, de gente pobre mas bem vestida, o jeito de falar e de gesticular, o respeito e a decência.

Hoje com a alma corroída e sem valores, cheios de necessidades e conformados com a imundície, a nossa imagem é outra, tem sido um processo lento e gradual que sem perceber nos levou a tornar-nos vulgares e indecentes, a nossa alma cheia de palavrões e frases obscenas se tornaram a rotina que nos degrada a simples gentalha.

A sobrevivência nos leva a fazer o que é errado e a necessidade se torna aliada dos malandros e abusadores que sem escrúpulos colocam um alto preço em nossas vidas, somos uma matilha de cães covardes que se mordem para saciar sua fome e descarregar sua frustração.

Estamos ficando feios como nossa cidade, nossos rostos e suas ruas quebradas e fachadas sujas e sem pintura se misturam, revelando a decadência em que estamos mais do que envolvidos, .... Havana e você, cada dia mais feio!

A gente se acostumou com a merda! E ver o que está sujo, ver o que está feio, ver o que está estragado, ver o quão mal feita é hoje qualquer coisa cotidiana, tão cotidiana que faz parte do nosso dia a dia, e até o cheiro imundo de um buraco convive normalmente com muitos de nós.

Falamos do pobre e da pobreza, como algo muito distante da nossa existência e não percebemos que hoje somos os mais pobres desse mundo, porque no mundo tem muita gente humilde sem má preparação, mas aqui, aqui meus amigos, nós somos 
Todos são pobres, como o que limpa a rua ou o médico que opera corações, todos nós, independentemente do nível que tenhamos, somos pobres, porque não tendo nada além de pão imundo para dar aos nossos filhos, vendo leite e ovos como iguarias e esquecendo o sabor da carne por tanto tempo sem prová-la
Meus amigos, isso é pobreza, é pobreza do tipo ruim, do tipo que destrói ilusões, do tipo que mata sonhos e esperança, é a pobreza que penetra na mente e na alma tornando-se pobres e ignorantes, é aquela pobreza desprovida de valores, mas cheia de mentiras e maldades, que está mudando nossa face.

Olhe, observe, ouça e depois pense e verá no que os cubanos nos tornamos inadvertidamente. O problema é que na busca constante de satisfazer nossas necessidades simples, olhamos apenas nessa direção, tornando-nos escravos de nossos estômagos.

Estamos ficando velhos e feios, não tenham dúvidas! Os jovens estão ausentes da nossa realidade e só pensam em fugir deste inferno e nós que aqui ficamos, cada dia temos a alma mais pobre, mais enrugada e lembrem-se meus amigos que o rosto é o espelho da alma!

Site Percival Puggina - *Em 09 de junho de 2023, Dr. Miguelito Martinez Palma

 

 

quarta-feira, 12 de abril de 2023

Júlia Zanatta, sobre deputado do PCdoB: ‘Nojento e absurdo’

Deputada conservadora afirmou ser 'repugnante' que um deputado se sinta livre para encostar e intimidar uma mulher dessa forma 

 Foto: Reprodução

 Foto: Reprodução | Júlia Zanatta sofre o que pode ser assédio por deputado comunista Márcio Jerry, do PCdoB de Maranhão, aliado de Flávio Dino

A deputada Júlia Zanatta (PL-SC) manifestou-se após ser “cheirada” por trás pelo deputado comunista Márcio Jerry (PCdoB-MA), aliado do ministro da Justiça, Flávio Dino.

Em declaração a Oeste, a deputada comentou o caso: “Repugnante um cara como esse se sentir livre dentro da Câmara dos Deputados para encostar em mim, me intimidando. Nojento e absurdo”.

Ela afirmou que “nem sabia qual o nome” de Márcio Jerry, que agiu fingindo intimidade que nem amigos possuem, ao colocar o rosto dentro do cabelo da deputada, por trás, em atitude intimidadora e que pode ser entendida como assédio.

Jerry é presidente estadual do PCdoB do Maranhão. Em seu site, gaba-se de ser “referência na defesa da democracia, da educação, do desenvolvimento, da ciência e tecnologia, dos direitos da população brasileira e dos maranhenses” (sic). [é muita m... . para ser expelida por uma só boca.]

O caso não ganhou destaque na velha mídia. A esquerda e o movimento feminista ainda não fizeram declarações de apoio a Júlia Zanatta. Tampouco foi encontrado algum repúdio a Jerry pelo seu aliado mais direto, o ministro da Justiça, Flávio Dino, também comunista e também maranhense.

Zanatta é jornalista e advogada e uma das expoentes da bancada conservadora pelo PL de Santa Catarina.

A deputada ainda se sente “paralisada no momento” para comentar mais, mas declarou: “Providências serão tomadas.

Para o deputado esquerdista, Júlia Zanatta teria dito uma “fake news“, porque ele pedia “respeito” à deputada Lídice da Mata, que seria “idosa”, com quem Júlia Zanatta discutia no momento.

A bancada do PL pretende levar o caso para o Conselho de Ética da Câmara. Outros políticos e mulheres lembraram que o caso pode ser considerado crime de importunação sexual, quando um homem comete atos físicos apenas para satisfazer a sua lascívia.

Redação - Revista Oeste

 

sábado, 19 de novembro de 2022

Mensagem aos manés - Revista Oeste

Guilherme Fiuza

Eu posto em plena eleição a frase “Já vai tarde”. Eu falo mesmo. Boto a minha cara. Escancaro a minha parcialidade, o meu partidarismo, a minha compostura de juiz de várzea. Não tô nem aí 

Ministro Luís Barroso perde a linha com manifestante em Nova York | Foto: Montagem Revista Oeste/ Reprodução

Ministro Luís Barroso perde a linha com manifestante em Nova York | Foto: Montagem Revista Oeste/ Reprodução  

Perdeu, mané. Eu estou em Nova York comendo do bom e do melhor, celebrando a vitória do candidato que eu descondenei, protegido do meu vexame pelas mágicas palavras do William Bonner e do Heraldo Pereira, meu parceiro de caraoquê. 
Não adianta você, mané, ficar gritando na minha orelha o texto da Constituição, as sombras do sistema eleitoral, as incongruências da votação, a censura que nós baixamos para proteger a imagem do bom ladrão. Nada disso adianta. Quando chegar à noite o Jornal Nacional enxagua todos os nossos atos e acaba com a raça dos manés.

Perdeu, mané.
Eu falo qualquer merda e não pega nada pra mim. Eu digo que eleição não se ganha, se toma.  
Digo isso em pleno Congresso Nacional, onde fui mudar o rumo de uma votação para a instituição do voto auditável. 
E ainda falo aos quatro ventos que os que pedem o aperfeiçoamento do sistema de votação querem, na verdade, fraudar a eleição.   
E eu ainda digo que querem a volta ao sistema de cédulas de papel. Eu minto mesmo. Como já disse: falo qualquer merda e não pega nada pra mim.

Perdeu, mané.
Eu posto em plena eleição a frase “Já vai tarde”. Eu falo mesmo. Boto a minha cara. Escancaro a minha parcialidade, o meu partidarismo, a minha compostura de juiz de várzea. Não tô nem aí. De noite o Bonner me absolve. Ou, como diz o meu candidato honesto, me abissorve.

barroso


Perdeu, mané.

Você não sabe como a vida é boa. Você não sabe o que é ser imune a tudo e a todos, não sabe o que é a sensação de usar uma capa de super-herói diariamente, sobrevoando as leis, o direito e a sociedade inteira. Um mané como você jamais vai ter o prazer transcendental que eu tenho de canetar o que eu quiser e mudar a vida das pessoas ordinárias como você num segundo, obrigando-as a fazerem com a sua saúde, as suas finanças e a sua liberdade o que me der na telha.                            Nós transformamos vocês em delinquentes sem fazer o menor esforço, às vezes estamos até bocejando nessa hora. E de noite o William confirma que é isso mesmo que vocês são

Perdeu, mané.
Mas não pense que eu sou um iluminado. Somos vários iluminados. Todos com capa de super-herói. Cada barbaridade de um de nós é protegida e reforçada pelas barbaridades dos colegas — e até o cala a boca já morreu renasce se for preciso, sempre por uma boa causa. Pergunta ao Bonner se não tem censura do bem.
 
Perdeu, mané.
Fica aí se espremendo na rua com esses seus pedidos de mané que aqui do ar-condicionado a gente dá uma coçadinha na caneta e em questão de minutos a nossa polícia está em cima de vocês, tratando esse bando de manés como criminosos, que é o que vocês são. Ou melhor, não são. E isso é o mais gostoso de tudo: nós transformamos vocês em delinquentes sem fazer o menor esforço, às vezes estamos até bocejando nessa hora. E de noite o William confirma que é isso mesmo que vocês são: criminosos. Você não tem ideia de como é gostoso viver com uma varinha mágica na mão.

Então é isso, mané. Fica aí na sua vidinha de merda enquanto eu voo majestosamente entre Nova York, Boston, Paris e Londres — lugares que você só conhece de fotografia, porque não são pro seu bico. Ou no máximo você foi pra lá limpar o chão que eu piso ahahaha. Desculpe, me deu vontade de rir. Eu rio à toa. Agora dá licença que eu preciso puxar o saco dos milionários que me convidam pras melhores paradas, mané, e cuidam bem de mim porque eu sou maravilhoso.

E vê se não amola, porque se todos começarem a acreditar no que você fala, mané, pode dar ruim pra mim. Aí o encanto acaba e eu viro abóbora. Eu não quero ser abóbora. No máximo lagosta ou caviar. [o pior é que todos não só começam a acreditar, como também a ter provas que o mané fala a verdade.]

Leia também “Livre para obedecer”

segunda-feira, 26 de setembro de 2022

A ‘ajudinha’ de Carlos Bolsonaro para o STF achar Janones e notificá-lo

Defesa do filho do presidente apresentou ao ministro Lewandowski dados do registro da candidatura do deputado, que ainda não foi notificado de ação

Depois de o Supremo Tribunal Federal (STF) não conseguir encontrar e notificar o deputado federal André Janones (Avante-MG) a respeito de um processo movido contra ele na Corte pelo vereador Carlos Bolsonaro, como mostrou VEJA, o filho do presidente Jair Bolsonaro resolveu dar uma “ajudinha” ao STF para localizar Janones. 
 O deputado atua na coordenação da campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas redes sociais e é acusado por Carlos do crime de injúria por tê-lo chamado de “miliciano”, “vagabundo”, “merda” e “bosta” em postagens no Twitter.

O advogado do Zero Dois anexou aos autos da queixa-crime a íntegra do Requerimento de Registro de Candidatura (RRC) de Janones à Câmara dos Deputados, no qual estão listados um endereço em Ituiutaba (MG), cidade de Janones, um telefone fixo e um número de celular com WhatsApp, além de um e-mail do parlamentar.

Anteriormente, um oficial de Justiça enviado pelo STF havia tentado contato com Janones por meio de assessores e idas a seu gabinete na Câmara, que estava fechado. O deputado deve se manifestar na ação de Carlos Bolsonaro caso tenha interesse.“Não obstante a surpresa pelo não cumprimento da diligência, uma vez que o querelado é um agente público com domicílio certo e de fácil localização, através do Requerimento de Registro de Candidatura – RRC (documento anexo) apresentado à Justiça Eleitoral, pode ser obtido outras informações fornecidas [sic] pelo próprio querelado que poderão auxiliar na efetivação da notificação já determinada por Vossa Excelência”, escreveu a defesa de Carlos ao ministro Ricardo Lewandowski.

Depois das informações apresentadas pelo advogado de Carlos, Lewandowski determinou que se busque notificar André Janones no endereço indicado em seu registro de candidatura.

O que diz a ação de Carlos Bolsonaro
André Janones fez publicações no Twitter atacando Carlos Bolsonaro, a quem chamou de “miliciano”, “vagabundo”, “merda” e “bosta”. Janones tem afirmado abertamente que pretende tratar os bolsonaristas com o que entende serem as mesmas armas usadas pelos apoiadores de Bolsonaro nas redes sociais.

Uma das publicações do deputado citadas na ação de Carlos Bolsonaro, feita em 24 de agosto, inclui uma caricatura em que um personagem representando Janones força outro, representando o vereador, a tomar o “próprio veneno” de um frasco. “Toma miliciano, engole tudo! Engole tudo e sem choro, seu merda!”, escreveu o parlamentar. “Tá gostoso, miliciano vagabundo?”, tuitou André Janones em seguida.

Três dias depois, ele voltou a ofender o vereador, que se licenciou do mandato na Câmara Municipal para passar a campanha em Brasília. “Sério que tinha quem achava esse merda desse Carlos Bolsonaro um gênio das redes? Esse cara é um bosta, gente!”, escreveu Janones.

O advogado de Carlos Bolsonaro sustenta que as manifestações do deputado não estão cobertas pela imunidade parlamentar e a liberdade de expressão. “Assim, considerando que o querelado agiu de forma livre, consciente com o nítido propósito de atacar a honra (subjetiva) do querelante ao afirmar que este seria ‘miliciano’, ‘merda’ e ‘miliciano vagabundo’, ‘esse merda’ e ‘um bosta’, em três publicações diferentes e de forma reiterada, não resta a menor dúvida de que o querelado cometeu o crime de injúria, cinco vezes”, diz a petição.

 Blog Maquiavel - Coluna em VEJA



domingo, 17 de julho de 2022

O pecado da brancura - Revista Oeste

 Brendan O'Neill, da Spiked

A vergonha branca de Marta Hoffmann é muito mais ofensiva do que o elenco branco de Friends

Personagens da série de TV norte-americana <i> Friends </i> | Foto: Divulgação
Personagens da série de TV norte-americana Friends | Foto: Divulgação 
 
Vejo que os brancos estão novamente se desculpando por serem brancos. Agora é a vez de Marta Kauffman, cocriadora de Friends. 
Ela está muito, muito triste por Friends ter um elenco predominantemente branco. 
Está devorada pelo remorso por ter sido “parte do racismo sistêmico”.    Ela está tão consumida pelo arrependimento por sua participação no crime cultural de criar uma comédia sobre seis nova-iorquinos brancos que decidiu investir algum dinheiro em uma causa não branca.                     Ela está doando US$ 4 milhões para a Brandeis University, em Boston, para criar uma cátedra em seu departamento de estudos afro-americanos. “Isso vai lavar meu pecado de brancura?”, ela poderia muito bem dizer, enquanto entrega o dinheiro do penitente.

Se eu estivesse fazendo um brilhante episódio de série de 23 minutos sobre essa merda, eu o chamaria de “Aquele com a nauseante culpa branca”. Tudo sobre a autoflagelação de Kauffman é absurdo. Ela está “envergonhada”, ela diz, que os seis personagens principais de Friends eram brancos. “Admitir e aceitar a culpa não é fácil”, disse ela, ao Los Angeles Times. “É doloroso se olhar no espelho”, disse ela.

O que é essa loucura? Vamos nos lembrar de que a razão pela qual Kauffman sente vergonha — tanta vergonha que ela mal consegue se olhar no espelho — não porque ela assassinou alguém, é porque ela deu os papéis de Joey, Chandler, Ross, Monica, Rachel e Phoebe para pessoas brancas. “O que posso dizer? Eu gostaria que Lisa [Kudrow] fosse negra?”, disse outro produtor de Friends, recentemente. Este pode ser apenas o ponto de discussão mais louco de 2022 até agora.

É vingativo, rancoroso e invejoso tentar derrubar um dos grandes programas de TV da década de 1990 só porque não aderiu às excentricidades identitárias dos anos 2020

Kauffman se flagelou publicamente algumas vezes por causa da brancura de Friends. Em um festival de TV em 2020, ela disse que “tudo o que consigo pensar” é por que não fizemos mais para diversificar Friends. No ano passado, antes de Friends: The Reunion ser exibido na HBO Max, ela disse que tinha “sentimentos muito fortes sobre minha participação em um sistema”. Esse será o sistema de privilégio branco e preconceito inconsciente, sem dúvida. Agora ela se atirou, coberta de vergonha, no altar da culpa branca. “Fiz parte do racismo sistêmico. Assumo total responsabilidade por isso… Eu era tão ignorante.” Lembrete, caro leitor: ela fez uma comédia.

Precisamos falar sobre os sentimentos de Marta Kauffman. Gostaria que não tivéssemos, mas nós fazemos. Porque há algo genuinamente perturbador em uma produtora de TV hiperbem-sucedida, cocriadora de uma das comédias de maior sucesso da história, sentindo tanta angústia com a cor da pele de seus atores. Este não é um comportamento normal. Kauffman deve sentir orgulho oceânico pelo papel que desempenhou em fazer milhões de pessoas em toda a Terra rirem das palhaçadas de seis solteiros de Nova Iorque. Mas, em vez disso, ela aparentemente tem de evitar espelhos para não ter um vislumbre de seu próprio rosto vergonhoso e racista. Se eu ficasse loucamente rico produzindo uma alegre instituição televisiva, estaria me gabando disso até o fim dos meus dias. E, no entanto, aqui está a pobre Marta, prostrando-se diante dos anciãos do despertar, enterrando o rosto na terra, declarando: “Peço desculpas pela minha ignorância” (Ela literalmente disse isso.)

O envergonhamento da gordura
Kauffman parece ter sido sugada para o culto da vergonha branca. Há realmente uma grande sensação de culpa em alguns de seus comentários recentes. Assim como os novos recrutas da cientologia devem passar por uma “auditoria” para limpar suas almas das influências negativas do passado, parece que os membros da elite cultural devem ser auditados por seus preconceitos antigos, inconscientes e supostamente raciais. Devem submeter-se à análise dos guardiões do pensamento racial correto e confessar quaisquer máculas morais neles encontradas. Kauffman realmente soa como alguém cujos olhos foram abertos por algum ancião religioso. “Eu só… eu perdi, eu perdi”, ela diz, sobre sua brancura pecaminosa anterior. “E agora olho para trás e penso que não posso mais viver assim. Não posso mais fazer isso.” Auditoria: bem-sucedida. Candidato pronto para o próximo nível de autoconsciência.

Friends tem sido alvo de ataques há anos. Há frequentes tempestades na mídia sobre como esse show dos anos 1990 foi não woke. “Por que o programa favorito dos anos 1990 é extremamente transfóbico”, diz uma manchete (aparentemente é porque o pai gay e travesti de Chandler foi interpretado pelo ícone de Hollywood Kathleen Turner, que, me desculpe, foi absolutamente brilhante). “Friends: dez vezes em que a série clássica foi problemática”, diz uma manchete do Independent, um jornal transformado em complexo industrial de caça-cliques. A Cosmopolitan criticou Friends por seusexismo, homofobia e envergonhamento da gordura”. Se eles esperam seriamente que não riamos de Monica dizendo de um vídeo de seu eu mais jovem e gordo que “a câmera adiciona 10 libras”, e Chandler respondendo “Putz, então quantas câmeras estão realmente em você?”, então tenho novidades para eles.

Mas o lance de Kauffman é mais sério. Esta é uma real criadora de Friends cedendo a essas acusações ridículas. Isso é o próprio Friends efetivamente dizendo: “Sim, nós éramos racistas, éramos fóbicos, estávamos errados”. O que Kauffman e outros poderiam estar dizendo — este é um conselho grátis, pessoal — é que é perverso e totalmente por fora julgar o entretenimento e a arte do passado pelos padrões implacáveis do presente. Que é repugnante ao ideal de liberdade artística monitorar a cultura por sua correção racial em vez de apreciá-la por sua qualidade, seu valor, seu impacto. Que é abominável acusar as pessoas de serem racistas simplesmente por fazerem uma série de TV cujos personagens principais eram brancos. E que é vingativo, rancoroso e invejoso tentar derrubar um dos grandes programas de TV da década de 1990 só porque não aderiu às excentricidades identitárias dos anos 2020. Quero dizer, o que vem a seguir? — Happy Days? (Nem pense nisso.)

A única pergunta que importa
Kauffman deveria ter mandado seus injustos perseguidores para o inferno. Em vez disso, ela cedeu a eles. De fato, ela participava do movimento “woke”, o equivalente moderno das indulgências reais — aquela prática católica medieval em que os ricos procuravam compensar seus pecados dando dinheiro à Igreja. O que são os US$ 4 milhões de Kauffman para Brandeis se não uma indulgência, um ato de penitência racial destinado a absolver-se de pelo menos parte de seu pecado original de ser branca? A brancura realmente passou a ser vista como uma mancha moral, uma abominação do nascimento. Se você nasceu branco, você é aparentemente privilegiado. Você é um beneficiário do colonialismo e da escravidão. Você é uma pessoa má. E assim você deve checar seu privilégio, autoflagelar-se e ajoelhar-se ao Black Lives Matter, e oferecer uma indulgência calorosa às causas negras. Só então você pode ser perdoado pela maldade do seu tom de pele.

Estou farto de toda essa vergonha branca. Não é, como seus praticantes querem que acreditemos, o oposto do orgulho branco. Pelo contrário, é o companheiro de viagem do orgulho branco. Os membros brancos da elite cultural, controladores de privilégios, autoflageladores e odiadores de cor de pele parecem, à primeira vista, consumidos pela vergonha. Quando eles expiam sua brancura, ou se curvam aos negros em uma demonstração do BLM, ou confessam transgressões raciais passadas, eles parecem estar mortificados. Mas na verdade estão se gabando. Eles estão dizendo: “Sou uma pessoa branca consciente. Sou uma boa pessoa branca. Não sou como aquelas hordas de lixo branco que nunca se conscientizam de seus privilégios”. Essa é a complexidade moral que revela a história de Kauffman — ela está envergonhada, mas também orgulhosa, porque está dizendo ao mundo que reconheceu sua brancura, visto que é errada, e agora está fazendo correções auditadas. Dane-se isso. Friends era engraçado ou não? Essa é a única pergunta que importa. Minha resposta é: sim, foi engraçado. Obrigado, Marta.

Leia também “A guerra linguística contra as mulheres”

 Brendan O'Neill, da Spiked - Revista Oeste 

 

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

UM JUDICIÁRIO INÚTIL QUE CONSOME BILHÕES DO POVO POR CAUSA DOS “FORA DA LEI” E DOS POLÍTICOS - Sérgio Alves de Oliveira

Sabidamente, a “máquina administrativa” do Estado Brasileiro é a mais cara do mundo. E essa “máquina administrativa” se compõe de todos os órgãos dos Poderes Executivo,Legislativo e Judiciário. No que tange à ECONOMIA como um todo,somando-se as atividades dos “sagrados” Três Poderes da República, nenhum “centavo” entra como “receita”, mas muitos bilhões saem como “despesa”. E nas mais das vezes como despesas absolutamente inúteis.

[comentando: sem pretensão de contestar o ilustre articulista, lembramos que várias receitas são auferidas por órgãos públicos, decorrente de taxas só que entram  no 'caixa único',  ao qual está vinculado o órgão arrecadador - o que dificulta identificar o que determinado órgão teve de receita.

Apenas para deixar bem claro e assim evitar uma interpretação criativa condenatória do ilustre Sérgio Alves de Oliveira, nos intrometemos para destacar o que já está destacado,e muito bem - mas, se sabe que uma interpretação criativa pode  ser dirigida - que ele não está considerando o Poder Judiciário inútil, apenas entende como inútil um dos braços do Poder Judiciário. 
Que fique claro que não está sendo praticado, ao nosso modesto entendimento, nenhuma tentativa de 'extinção' de um  dos Poderes da República.
 
EM TEMPO: Os magistrados, através da AMB - Associação dos Magistrados Brasileiros, estão cobrando do ministro Fux, um modesto reajuste salarial em torno de 40%. 
Um pequeno trecho da matéria: " 'Diante dessas razões, revela-se fundamental que Vossa Excelência, na qualidade de Presidente da Suprema Corte, venha a promover as providências necessárias a se garantir a recomposição remuneratória dos Ministros do STF, o que abrirá ensejo também para a recomposição da Magistratura Nacional. Entre tais providências, impõem-se o encaminhamento de projeto de lei à Câmara dos Deputados' , finaliza o documento". CONFIRA AQUI.]

Jamais tive acesso a qualquer informação publicada pela imprensa no sentido de relacionar a despesa da máquina pública brasileira (o conjunto delas) com o valor do Produto Interno Bruto-PIB, que gira em torno de 7,5 trilhões de reais. Quanto gastam os Poderes Executivo,Legislativo e Judiciário, sem que “contribuam” com um só centavo para o PIB, nas três esferas da Federação (União,Estados e Municípos)? Alguém poderia dimensionar tais “sustentações” relativamente ao PIB? Ou seria “segredo de Estado”?

Excepcionalmente “aqui” e “ali” a gente consegue obter algum dado. E uma informação publicada em relação a uma das frações do Poder Judiciário, mais precisamente, da “inútil” Justiça Eleitoral, que só serve para garantir empregos a políticos, é de  estarrecer qualquer pessoa que use o cérebro com independência para pensar.

O Jornalista Cláudio Humberto traz uma informação muito “interessante” no “Diário do Poder”,edição de 8 de agosto de 2022, repercutida no Jornal da Cidade Online. Segundo o jornalista, a Justiça Eleitoral custa aos brasileiros a “bagatela” de 27 milhões de reais AO  DIA, totalizando 9,8 bilhões de reais ao ano. E num feliz “comparativo”, relaciona essa quantia de 27 milhões AO DIA,gasta pela Justiça Eleitoral, ao orçamento ANUAL dos 1257 municípios brasileiros com menos de 5 mil habitantes, que seriam igual, ou menor, que os gastos “diários” dessa Justiça. E pior: que dessa quantia absurda de 27 milhões de reais AO DIA, 65% seriam destinados ao pagamento de vencimentos e outros “penduricalhos”.

Enquanto isso,o “vizinho” Supremo Tribunal Federal - STF, faz licitação para comprar lagostas e vinhos internacionalmente premiados para abastecer o “refinado” apetite  de Suas Excelências. E nem importa que longe das mesas desses luxuosos “banquetes” grande parte do povo ainda deva dar graças a Deus quando tem a chance de comer alguma  “merda”!!!

Mas não é só isso. Como justificar que a sociedade que produz - trabalhadores e empresários - tenha que sustentar através dos impostos que paga uma enorme população de centenas de milhares  de pessoas recolhidas  nos diversos estabelecimentos prisionais,”só gastando”? 
Como justificar que certos “auxílios” dos cofres públicos aos presidiários superem o salário mínimo que os trabalhadores ganham? 
Enquanto os primeiros não trabalham e nem precisam pagar a comida que consomem, e os segundos têm que trabalhar para comprar a própria comida e a dos seus filhos?

Será que logo-logo não farão alguma lei que obrigue os urubus que voam mais baixo soltarem  seus dejetos em cima dos urubus que voam mais alto? Esse tipo absurdo de lei não se enquadraria perfeitamente  dentro do sistema de corrupção dos valores legislativos  que os brasileiros ainda suportam?  Num sistema social, político e econômico, em que a lei geralmente não está a serviço do povo, mas ”contra” o povo, e a favor dos que as fazem?

Sérgio Alves de Oliveira  - Advogado e Sociólogo


sexta-feira, 6 de agosto de 2021

O silêncio não vai salvar você - Revista Oeste

O fracasso da elite liberal em defender J. K. Rowling é lamentável

Imagine se o escritor norte-americano Philip Roth, quando estava vivo, tivesse sido submetido à violência antissemita todo santo dia. Imagine se multidões cheias de ódio o tivessem bombardeado com insultos e ameaças. 
Imagine se ele não pudesse nem ao menos ligar o computador sem ser xingado de escória, de filho da puta, de merda, e algumas pessoas chegassem ao extremo de lhe mandar imagens pornográficas bastante explícitas e ameaças de violência. Imagina-se que haveria alguma reação, certo? A Casa Branca com certeza teria se pronunciado — afinal, Roth era uma das figuras do universo cultural mais conhecidas e um ganhador da National Humanities Medal. O mundo literário teria se mobilizado. Colunistas teriam manifestado seu horror diante da perseguição obscena a um homem que tanto contribuiu para a cultura norte-americana.

No entanto, vamos saltar para 2021. Uma figura literária está sendo agredida, insultada e ameaçada todos os dias, e de boa parte do establishment político, midiático e literário só há silêncio. J. K. Rowling não chega a ser um Philip Roth, mas, mesmo assim, é uma escritora de grande importância. Ela é talvez a figura do universo cultural mais importante do Reino Unido nos últimos 20 anos. E está sendo incessantemente submetida a uma violência misógina horrível, a ataques odiosos que não seriam reproduzidos nem mesmo em uma publicação que acredita numa discussão livre e honesta como esta revista. “Se mate.” “Vou matar você, sua vadia.” “Morra, vadia.” “Essa mulher é imunda.” “Cale a boca.” “Vou encher você de porrada.” [aqui no Brasil um jornalista já desejou que o presidente Bolsonaro morresse, um outro sugeriu que o presidente se suicidasse. Nada foi feito. Sendo que a sugestão de suicídio é uma forma de indução ao suicídio - que no Brasil é crime.] Essas são as mensagens que Rowling tem recebido. Existem muitas, muitas outras, algumas bem piores.

O crime verbal de Rowling, claro, é acreditar que o sexo biológico é real

Como é possível que a autora mais vendida no Reino Unido, uma mulher considerada responsável por encorajar uma geração inteira de crianças a ler mais livros, seja submetida a uma violência tão baixa e a ameaças de assassinato e, mesmo assim, o primeiro-ministro não dizer nada? E a cena literária seguir comentando como o Hay Festival do mês passado foi divertido, fingindo não notar os milhares de pessoas xingando um de seus membros de bruxa velha e nojenta, que deveria ser forçada a fazer sexo oral em estranhos ou, ainda melhor, assassinada com uma bomba caseira? É porque a nossa é uma era de covardia moral. De corações frágeis e fracotes. Uma era em que muitos fizeram o cálculo mais covarde — “se eu não falar nada, talvez não sobre para mim”.

O crime verbal de Rowling, claro, é acreditar que o sexo biológico é real.  
Ela acha que existem diferenças biológicas entre homens e mulheres. 
E que, se você nasce homem, você é homem, e não deve adentrar espaços criados apenas para mulheres: vestiários, presídios femininos, abrigos para as vítimas de violência doméstica. 
Cinco anos atrás essas eram opiniões totalmente normais para ter e expressar. Mas, se você as mencionar hoje, será perseguido, demonizado, terá sua plataforma revogada, poderá ser demitido, receberá mensagens de “chupe meu pau” e talvez até seja provocado com a possibilidade de uma bomba caseira ser enviada para sua casa, como aconteceu com a autora nesta semana.
 
Ninguém que acredite em liberdade, razão e igualdade pode ficar parado vendo isso acontecer. Observar enquanto a realidade do sexo é apagada por ativistas trans que promovem a visão mágica de que alguns homens têm “cérebro feminino”. 
E enquanto palavras como mulher, mãe e amamentação são riscadas de documentos oficiais para não ofender o número infinitesimalmente pequeno de militantes que acreditam que seus sentimentos importam mais do que a linguagem comum. 
 
E enquanto escritoras, colunistas, professoras e ativistas são censuradas e ameaçadas apenas por discutir sexo e gênero. E enquanto J. K. Rowling é transformada em inimiga da decência que merece uma completa destruição stalinista de sua reputação e sua vida.
E, no entanto, nada é o que muita gente está fazendo. Quando três jogadores ingleses negros, incluindo o herói nacional Marcus Rashford, receberam mensagens racistas nas redes sociais — felizmente em menor quantidade, e muitas vindas de outros países —, isso virou primeira página do noticiário por dias. A elite do Twitter não falou de quase mais nada. Políticos se acotovelaram para brandir suas cartas de repúdio sob o nariz do público. 
E, mesmo assim, essas são as mesmas pessoas que estão quietas sobre a difamação muito mais intensa e violenta da antiga heroína nacional J. K. Rowling. O primeiro-ministro não disse uma palavra. O secretário de Cultura (Oliver Dowden) parece ter ficado mudo. A brigada da gentileza deve estar de férias.

Claro, existem honrosas exceções. Alguns colunistas defenderam Rowling. Algumas feministas fizeram pôsteres que diziam “I Love J. K. Rowling” (um, na estação de trem de Waverley, em Edimburgo, foi retirado por ser “ofensivo”. A multidão misógina venceu mais uma vez.) Mas muitos dos chamados progressistas e liberais não disseram absolutamente nada. Ou, pior, ajudaram a aumentar a animosidade deturpada contra Rowling. A incessante estigmatização por parte de esquerdistas radicais de que qualquer mulher que questione a ideologia da transgeneridade é preconceituosa ou uma radfem uma palavra do século 21 para “bruxa” — é a base sobre a qual boa parte desse ódio indizível por mulheres céticas como J. K. Rowling é construído.

Quando cede a uma multidão, você a torna mais poderosa, mais insaciável

De muitas formas, o silêncio da elite liberal sobre as agressões contra a autora é pior do que as agressões em si. As mensagens ameaçadoras e cheias de ódio vêm de pessoas que claramente perderam o contato com a moral, que foram tão corrompidas pelo narcisismo da política identitária e pelas desilusões do lobby transgênero que passaram a ver aqueles que questionam sua visão de mundo essencialmente como um lixo sub-humano e devem, por isso, ser humilhados ritualisticamente e excomungados da sociedade normal. Mas pessoas que ficam quietas nos mundos político e literário estão cometendo um erro moral muito maior. Porque elas sabem que o que está acontecendo é errado, e terrível, mas preferem não se manifestar porque querem evitar atrair a atenção da multidão. Assim como os algozes identitários de Rowling, elas colocam os próprios sentimentosnesse caso, seu desejo mesquinho de uma vida sem complicações — acima de fazer o que é certo.

Elas acreditam que vão salvar a própria pele. Como estão erradas. Deveria estar claro para todo mundo a esta altura que fazer vista grossa para a maneira como as multidões descoladas se voltam contra quem pensa ou fala o que não deve não diminui a necessidade febril dessas pessoas de perseguir quem as ofende. Ao contrário, isso as incentiva. Vamos considerar a experiência da atriz Sarah Paulson. Ela vergonhosamente ficou ao lado da multidão anti-Rowling, retuitando um homem que mandou a autora “calar a boca” e a chamou de “escória completa”. Só que, longe de se proteger da fúria da multidão trans, Paulson atraiu sua atenção. Usuários do Twitter se voltaram contra ela recentemente por não incluir seus pronomes na biografia da rede social. Sério. A manchete “Sarah Paulson dá início a uma guerra no Twitter por causa da ausência de seus pronomes na bio” de fato foi publicada. “Então seus pronomes são burra/vagabunda”, “ela é uma filha da puta”, “que pessoa de merda” são algumas das mensagens que a atriz recebeu.

Sua aliança pouco solidária com a multidão sexista que persegue J. K. Rowling não a protegeu porque, quando você cede a uma multidão, você a torna mais poderosa, mais insaciável. Da mesma forma, o silêncio não vai proteger você. As forças da falta de razão, do não liberalismo e da denúncia estão no centro do ativismo woke, e o transativismo em especial não pode ser enfrentado se as pessoas ficarem quietas. Ele não vai desaparecer. Essas pessoas precisam ser confrontadas, energicamente, com argumentos claros em favor da liberdade de expressão, da discussão racional sobre os direitos das mulheres.  

É o Teste de Rowling — você vai ou não se manifestar contra a perseguição misógina a J. K. Rowling e outras figuras declaradas culpadas de crimes de opinião pelos tribunais arbitrários do regime regressivo da cultura woke?  
Neste momento, muitos estão sendo reprovados no teste. Por completo.
 
 

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Revista Oeste - Brendan O'Neill, da Spiked