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domingo, 12 de março de 2023

A narrativa sempre vence? - Gilberto Simões Pires

 



NARRATIVAS
Exemplos não faltam, por este Brasil, para mostrar a enorme quantidade de NARRATIVAS construídas com base em - princípios ideológicos - com o claro objetivo de -ALTERAR A VERDADE DOS FATOS-. 
Para que as MENTIRAS sejam vistas, tratadas e/ou confundidas como se VERDADES fossem, as equipes dos NARRADORES usam as velhas, porém eficientes, ferramentas -repetição, encenação e dramatização-, as quais, juntas ou separadas, garantem alto grau de sucesso -doutrinário- nas pobres cabeças daqueles que acreditam em tudo que sai nos noticiários.

ATAQUE AOS EFEITOS

Um dos maiores motivos que leva muita gente a ACEITAR como sérias e procedentes grande parte das NARRATIVAS está na crucial dificuldade que a maioria do povo mostra no sentido de identificar as CAUSAS dos problemas e situações. Muitos por preguiça e outro tanto por pura falta de discernimento, a maioria do povo e os profissionais da mídia, notadamente, preferem deixar as CAUSAS intactas e em paz e, com muita veemência, cuidam de atacar os EFEITOS, que por sua vez se encadeiam no processo da falsa cura.

JUROS É EFEITO
Observem, por exemplo, o caso dos JUROS definidos pelo COPOM. 
O governo, lulistas em geral e boa parte da mídia, estão bombardeando a TAXA SELIC afirmando que ali reside a CAUSA do nosso baixo crescimento/desenvolvimento. 
Ora, a TAXA SELIC, quando é elevada ou reduzida pelo COPOM, é mero EFEITO do comportamento da INFLAÇÃO, que por sua vez é CONSEQUÊNCIA do aumento da BASE MONETÁRIA. 
A verdadeira CAUSA, gostem ou não, está no fantástico - DÉFICIT PÚBLICO- que por sua vez impõe constante emissão de MOEDA À VISTA OU A PRAZO (TÍTULOS PÚBLICOS) para fechar as contas previstas ou não pelo Orçamento Público.

GASOLINA
Outro exemplo é o caso dos preços da GASOLINA que são cobrados nos postos de abastecimento. Há quem esteja convencido, muito por influência da mídia, que os VILÕES são os donos dos estabelecimentos, quando, na mais pura verdade, os GRANDES VILÕES são o GOVERNO -FEDERAL e/ou ESTADUAIS que taxam absurdamente os combustíveis e, pior do que isso, promovem grande e impiedosa desorganização no mercado.

PROCON
Vejam que antes da decisão de -reonerar- os combustíveis, o preço da gasolina estava tranquilo
Bastou que Lula decidisse impor a criminosa reoneração para o mercado ser atingido por grande desconfiança o que promoveu elevação anormal dos preços. 
O curioso é que a mídia achou por bem orientar os -consumidores- a procurar o PROCON como tábua de salvação dos aumentos -abusivos- cobrados pelos postos. 
Em nenhum momento orientaram a população para exigir que o PROCON fosse bater na porta do GOVERNO LULA - VERDADEIRO VILÃO da alta dos preços de tudo. 
 
Gilberto Simões Pires - PONTO CRÍTICO

terça-feira, 22 de novembro de 2022

Black Friday: Procon lista 41 sites para serem evitados

Neste ano, o evento será na sexta-feira, 25 

Considerada uma das datas mais importantes para o comércio, a Black Friday será na próxima sexta-feira, 25. As grandes ofertas em lojas físicas e virtuais devem movimentar o setor, após dois anos consecutivos impactados pela pandemia. Um levantamento do Mercado Livre mostrou que 78% dos brasileiros querem gastar mais nesta edição do evento — e já estão se preparando financeiramente para isso. No ano passado, a data proporcionou lucro de R$ 4 bilhões aos comerciantes, segundo estudo da Betway.

Para fugir dos golpes, o Procon de São Paulo elaborou uma lista de lojas virtuais que devem ser evitadas pelos consumidores. Segundo a instituição, essas empresas tiveram reclamações registradas, foram notificadas e não responderam nem foram encontradas. A lista também mostra sites criados exclusivamente para enganar o consumidor, que não realizam comércio eletrônico.

Criada em 2011, a lista conta atualmente com 41 sites e teve a sua última atualização em julho deste ano. Confira aqui todos os sites a serem evitados, segundo recomendação do Procon paulista.

O que comprar na Black Friday?
A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) fez um levantamento neste ano para avaliar o potencial de descontos efetivos durante a Black Friday. Por 40 dias, a entidade coletou 180 preços dos itens mais buscados pela internet e descobriu que 39% deles revelaram tendência de redução.

Os principais destaques da pesquisa foram as quedas de 17% no valor de sapato masculino, 13% em lavadora de roupa, 10% em smartwatch e 8% em fones de ouvido.

Ainda, uma pesquisa feita pela consultoria Neotrust, empresa que fornece dados e inteligência sobre o e-commerce brasileiro, mostrou que os produtos mais consumidos em 2021 foram moda e acessórios, beleza e perfumaria e telefonia.

Redação - Revista Oeste

 

domingo, 5 de dezembro de 2021

O STF deve decidir sobre a matemática - Gazeta do Povo

Bruna Frascolla

O Festival de Besteiras que Assolam o País (FEBEAPÁ) está agitadíssimo no corrente mês. Se Stanislaw Ponte Preta fosse vivo, perceberia que as besteiras prosperaram de tal modo, com incentivo internacional, que seria necessário organizar uma edição mensal do FEBEAPÁ. Um FEBEAPÁ anual teria tamanho de dicionário; além disso, as besteiras são tão fugazes que nos sentiríamos velhos com Alzheimer em dezembro ao ler sobre as polêmicas de janeiro.

Este mês nem bem começou e nós ficamos cá imaginando como não se sentirão os burocratas dos Correios da Noruega ao receberem uma cartinha da Câmara Municipal de Ribeirão Preto contendo uma moção de repúdio ao comercial com o Papai Noel gay. Um vereador do Novo declarou que “Eles poderiam ter utilizado Odin, Thor, qualquer outro mito da religião nórdica. O Papai Noel não é mais uma representação cristã, ele é uma representação universal. Na cabeça das crianças, ele representa o lúdico. [...] O Papai Noel é uma das poucas lendas universais que prega a meritocracia. Se você respeitar as pessoas, receberá um mimo no final do ano.” Papai Noel, cristianismo, meritocracia, ok.

A sabatina de André Mendonça e o laicismo que exclui a fé da esfera pública

O comercial com o Papai Noel norueguês dando um caliente beijo num homem de meia idade foi feito a pretexto do (ou em comemoração do – você escolhe) aniversário de cinquenta anos da descriminalização da homossexualidade na Noruega. Pois é: há cinquenta anos, homossexualidade era crime na avançadíssima, socialista, progressista, nórdica, ariana, rica, esclarecida, linda e loura Noruega. Já entre nós, nunca foi crime. A homossexualidade só foi crime perante a Inquisição, que não era lá muito atuante no Brasil. No direito laico, porém, nunca houve problema com isso. Nenhum gay brasileiro precisou do Estado fazendo propaganda com personagem infantil para viver a sua vida.

Prisão em 2ª instância e mais: quais os processos que André Mendonça herdará no STF

Daí podemos imaginar como os chiques, os cultos, os letrados da época não lastimavam o fato deste paisinho sem futuro, vira-lata, fedido, bagunçado, permitir tamanha sem-vergonhice entre os homens. E é o mesmo tipo de gente que acha o máximo a erotização de personagem infantil promovida por aquele bando de malucos que não tem o que fazer.

Mas deixa eles lá. Usemo-los só como pretexto para mostrar pela enésima vez que o Brasil não tem que se ressentir de ser um vira-latinha tropical. Nossa cultura e nossos valores são muito melhores do que imaginamos.

Desocupado reincidente
Além de enviar sua moção de repúdio para a Noruega, a Câmara de Ribeirão Preto enviou outra para o G1, que reproduziu o vídeo ao noticiar o fato. O jornalista do G1 que, em meio à sua caçada de lacrações internacionais, encontrou o Papai Noel norueguês, deve ter adorado. Uma moção de repúdio da Câmara de Ribeirão Preto deve ser vista pelo nobre guerreiro da justiça social como uma cicatriz de ferimento de guerra. O lacrador recebe uma notinha de repúdio e vira mártir do bolsonarismo. Já o bolsonarista passa quase um ano preso por crime de opinião, sem julgamento, mesmo com foro privilegiado. E o jornalista médio não vê nisso uma opressão.  

Covid-19 ou vacina de mRNA: o que ameaça mais o coração?

Que a Câmara de Ribeirão Preto esperneie, claro, já que está no direito dela. Mas isso só deve ser eficaz para uma única coisa: jogar os holofotes sobre o vereador e aumentar suas chances de ganhar uma eleição para cargo legislativo. O lacrador fica feliz com sua bolha, ostentando a evidência de sua perseguição, e o político fica feliz com sua bolha da direita lelé, ostentando o seu “trabalho”. E a sociedade não ganha nada com isso. Nenhum homofóbico vai passar a simpatizar com gays por causa do Papai Noel da Noruega (muito pelo contrário), e nenhum progressista vai pensar em segurar a onda por causa da moção de repúdio de Ribeirão Preto (muito pelo contrário).

O vereador de Ribeirão Preto não teve essa brilhante ideia sozinho. Ele está seguindo o incansável secretário-tuiteiro André Porciuncula, que crê ser atribuição da Secretaria da Cultura tomar conta dos correios da Noruega e, pior ainda, dizer o que os jornais brasileiros podem publicar. Cuidar do Bicentenário da Independência, que é bom, nada.

Matemática feminista
A lendária sabatina de André Mendonça não só desencantou, como entrou fundo nos anais do FEBEAPÁ. Tivemos a nobre deputada Eliziane Gama, do Cidadania (ex-PPS, ex-PCB), desenvolvendo sua peculiar matemática. Eu ia dizer que deve ser a matemática do gênero feminino, mas pensei melhor, porque a matemática já é do gênero feminino. Se os homens quiserem criar uma versão para chamar de sua, precisarão criar uma disciplina – ou melhor, um disciplinochamado matemático. E a oprimida comunidade de pessoas não-binárias criará uma (ume?) discipline chamade matemátique. De todo modo, a nobre deputada, que queria aporrinhar o pobre do evangélico que vai virar ministro, tascou uma estatística incompreensível para sensibilizar aquele homem branco cis hétero. Disse que a cada mulher morta, pelo menos duas são negras.

A gente não pode criticar, porque aí é machismo.

Mas a matemática é importante na vida. Vamos fazer o quê, então? Como a sociedade viverá, terá comércio, fará contas, considerando possível uma proporção dessas? 
O Procon vai agir, caso o feirante diga que a cada laranja duas estão doces?
Na mesma sabatina, aprendemos com o senador Omar Aziz que logo abaixo de Deus está o STF. Abaixo do STF estão os demais poderes e o resto da sociedade. [pedindo antecipadamente perdão a DEUS pela apresentação de que alguns ministros do STF são dominados por uma dúvida suprema: estão no mesmo patamar de DEUS ou um pouco acima? O  blasfemo é quem tem tal dúvida,  já que DEUS ESTÁ ACIMA DE TUDO.]

Filósofos clássicos botariam a matemática no âmbito divino. Mas, considerando que o Ser Supremo está muito fora de moda e que é feio ser religioso (sobretudo evangélico), convém deixar o Supremo Tribunal Federal a decisão das verdades matemáticas.

Torçamos para que o PSOL, a REDE, o Cidadania, o PSB e o PT entrem com uma ADIN no Supremo pedindo para que os ministros resolvam essa grave omissão do Parlamento concernente às verdades matemáticas. Oxalá terminaremos este dezembro com uma nova matemática, uma matemática constitucional e feminista.

Bruna Frascolla, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


sexta-feira, 17 de setembro de 2021

BC não dá braço a torcer sobre Pix e Procon promete ofensiva contra bancos

Autoridade monetária afirma que não haverá retrocessos no Pix; Procon-SP, por sua vez, quer estimular vítimas de golpes a entrarem na Justiça

Em meio a denúncias de fraudes e aumento de denúncias de sequestros-relâmpago em São Paulo, o Procon-SP reuniu-se na última quarta-feira, dia 15, com representantes do Banco Central em busca de uma solução para o Pix, o sistema de transferências instantâneas implementado em 2020. Segundo dados da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, houve um aumento de 39,1% em ocorrências referentes a esse tipo de crime no estado entre janeiro e julho deste ano, sendo o Pix, que permite transferências imediatas, 24 horas por dia, o método mais utilizado por criminosos. Em virtude disso, o Procon solicitou que o Banco Central suspendesse ou estabelecesse um teto de 500 reais para transações por meio do sistema durante 30 dias.  [o PROCON merece todo o respeito - ou merecia, pelo menos  até expelir essa ideia burra - mas quer complicar uma das poucas medidas monetárias que favorece a todos. Resta ao ilustre Capez propor que seja proibido a circulação de pessoas portando valores ou dinheiro em espécie. Medida que certamente terá o apoio do secretário de Segurança Pública de São Paulo,  que em vez de oferecer segurança à população, quer complicar a vida do povão. Senhor secretario e senhor Capez: que tal proibir a porte de celulares, uso de dinheiro em espécie, e outras coisas que os ladrões gostam de roubar?]

A VEJA, a autoridade monetária refutou essas hipóteses. “Tal medida não seria efetiva, ao contrário, prejudicaria os mais de 100 milhões de cidadãos e mais da metade das empresas do Brasil que utilizam e confiam no meio de pagamento. O Pix é responsável por aproximadamente 1 bilhão de transações por mês. Suspender o Pix prejudicaria 40 milhões de cidadãos e microempreendedores que foram incluídos no sistema de pagamentos por este meio, sendo 8 milhões deles em São Paulo, e que teriam que pagar tarifas nas suas transações ou abandonar o uso de pagamentos digitais”, diz comunicado enviado pelo Banco Central a VEJA. “O Pix, ao fazer a inclusão financeira, ajuda a evitar que essas pessoas carreguem dinheiro no bolso, o que inibe eventuais crimes de roubo ou similares.”

O BC afirmou que entende a relevância do tema e se solidariza com vítimas de crimes e fraudes por meio do sistema, além de se colocar à disposição das forças de segurança pública e da Justiça para colaborar na prevenção e no combate a crimes no Sistema Financeiro. Em agosto, o BC adotou, como medida de segurança, um limite para operações para transferências instantâneas no período noturno, das 20h às 6h. Para o Procon-SP, a iniciativa não é suficiente para inibir a ação dos criminosos. “A limitação somente durante o período noturno é catastrófica e permitirá que a vítima fique em poder do sequestrador até o amanhecer. Isso é estatístico, já aconteceu com os bancos 24 horas. Pode até expor as vítimas a um maior risco”, disse Fernando Capez, presidente do Procon-SP.

Um dos pedidos do Procon-SP, no entanto, deve ser atendido de forma mais célere. A entidade solicitou que o Banco Central encontre meios para facilitar o estorno de transações suspeitas. A possibilidade encontrada pela entidade seria a de possibilitar a devolução da quantia em casos de cadastros inferiores a 30 dias — esse seria o tempo médio para a utilização de uma conta corrente por “laranjas”. O Banco Central, por sua vez, informou que, em 16 de novembro, entrará em vigor o Mecanismo Especial de Devolução, um método que facilitará o processo de ressarcimento em caso de fraudes, “uma vez que padroniza os procedimentos e prazos de análise das instituições, utilizando a própria infraestrutura do Pix para facilitar a comunicação entre as instituições envolvidas, bem como o bloqueio e a devolução dos recursos.”

“Há que se ressaltar que as transações com suspeita de fraude no âmbito do Pix representam apenas 0,0011% da quantidade total de transações, ou seja, uma parcela ínfima em relação ao universo de operações realizadas, que se mantém constante ao longo do tempo e que é bem inferior ao que ocorre em outros meios de pagamentos como, por exemplo, cartões de crédito”, disse o Banco Central. “Importante destacar que não há registro de situação de fraude nas infraestruturas do Pix. As causas são todas externas ao ecossistema, fruto majoritariamente do resultado de engenharia social ou de questões relacionadas à segurança pública.”

Disputa

Para Capez, não há razão para relutância do BC. [esse Capez é meio sem noção, ou totalmente desregulado;  o Pix além de facilitar a movimentação financeira das classes menos favorecidas - conhecemos casos que a pessoa recebeu um PIX de R$ 200,00, efetuou vários pagamentos de pequeno valor, pagou pão na padaria, tudo sem usar dinheiro em espécie.
Certamente o cidadão Capez quer facilitar a vida dos bandidos - no exemplo acima, não fosse o PIX, quem recebeu os R$ 200,00,  seria forçado a portar a portar aquele valor, correndo o risco de ser assaltado - fraudar o PIX dá bem mais trabalho do que usar o clássico 'perdeu, perdeu, ..."] a inclusão das classes menos Ele promete uma ofensiva contra os bancos que não se comprometerem com a segurança do sistema. “Nós tivemos 2.500 reclamações, um aumento de 40% de sequestros-relâmpago em São Paulo, já tivemos três latrocínios… Não é questão de ser 0,001%. Em números absolutos vai ser cada vez mais alto. Esse raciocínio que eles fazem é muito simplista e demonstra má vontade. O que nós pedimos foi que, durante um tempo, um ou dois meses, os bancos segurassem o limite em 500 ou 1.000 reais por mês, enquanto nós avisaríamos a população sobre os golpes, por meio de uma ampla campanha de publicidade”, diz Capez. “Nesses termos é difícil. O Procon irá fazer a sua parte. Nós iremos multar os bancos, todos, e exigir que eles indenizem as vítimas.”

Para o Banco Central, iniciativas que desestimulem o uso da ferramenta podem significar um retrocesso para o país. “O Pix é uma realidade sem volta, que facilitou dinâmicas de pagamento, democratizou o acesso a meios de pagamentos eletrônicos, ampliou a competitividade no setor. Além disso, está incentivando a eletronização dos pagamentos que representa economia para o país como um todo, beneficiando a vida de milhões de brasileiros e negócios”, diz a autarquia. “Qualquer medida em sentido de restringir o seu uso seria um retrocesso para o Brasil, o que apenas levaria os criminosos a migrar para roubos de dinheiro (a medida em que levaria as pessoas a voltarem ao uso intensivo de dinheiro) ou crimes envolvendo outros instrumentos de pagamento, mantendo a população vulnerável ao crime.”

 Economia - Revista VEJA


quinta-feira, 12 de novembro de 2015

O Brasil contra o capitalismo


Como é que o preço no cartão de crédito parcelado em dez vezes sem juros pode ser o mesmo que à vista? 

[STJ considera crime conceder desconto para pagamento à vista.]


Você entra numa loja para comprar um par de meias. Já está sacando o cartão de crédito quando o vendedor sugere: se pagar à vista, em dinheiro ou cheque, tem 10% de desconto.

Como você se sente? Ofendido porque o vendedor está lhe impondo um desconto? Ou interessado, e até agradecido porque o comerciante oferece uma oportunidade de pagar menos pelo mesmo produto?

Qualquer pessoa de bom senso entende que se trata de uma oferta vantajosa para o consumidor. E de livre escolha. É o livre mercado funcionando tanto para o consumidor, que escolhe como pagar, conforme seu interesse, quanto para o comerciante. Certo? Errado. Para o Superior Tribunal de Justiça, esse comerciante é um criminoso. Qual o crime? Grave: prática abusiva, infração à Ordem Econômica “mediante imposição diferenciada de preços”.

Não fica claro se o consumidor que aceita o desconto, quer dizer, que se submete ao desconto imposto, também é um criminoso. Também não fica claro se o consumidor que pede o desconto já está cometendo um crime.  Imaginem a situação: comerciante e consumidor em cana porque combinaram um desconto.  Ou o comerciante chamando o Procon, o Ministério Público e a polícia, para denunciar: esse desclassificado quer pagar à vista e pediu um desconto.

Até a decisão de 6 de outubro último, tribunais ainda aceitavam a possibilidade de desconto. Mas, com o voto do ministro Humberto Martins, aprovado por unanimidade, o STJ passou a considerar abusiva essa prática. Há duas teses básicas: não se pode discriminar o consumidor que paga com cartão de crédito; e pagar com cartão é o mesmo que pagar à vista.  A decisão tem o propósito de defender o consumidor e o comércio justo.

Faz exatamente o contrário. Prejudica o consumidor e beneficia sabe quem? A indústria do cartão, ou seja, as instituições financeiras, emissoras e administradoras dos cartões. Aliás, na decisão de 6 de outubro, o ministro Herman Benjamin observou que nova jurisprudência prejudica especialmente o mais pobre que quer pagar menos. Benjamin, entretanto, votou com o relator, contra o desconto, admitindo que assim determina a lei.

Dizem advogados que se trata de um caso típico em que a lógica jurídica se opõe à econômica. Mais do que isso: se opõe ao bom senso, tolhe a liberdade individual de negociar e obter o melhor resultado. É incrível que seja preciso explicar, mas vamos lá. O cartão de crédito não sai de graça para ninguém.  O consumidor paga taxas, anuidades ou, a maior facada, morre com as mais absurdas taxas de juros do mundo se parcelar a fatura mensal.

Já por aí fica evidente que a situação real é exatamente o contrário do que decidiu o STJ: pagamento com cartão nunca é à vista. São custos e preços diferentes. O comerciante também paga. Morre com taxas até pelo uso da maquineta. E as emissoras do cartão ainda se recusam a trabalhar com a mesma maquininha, impondo, aqui sim, um custo extra ao comerciante. Este paga também uma conta de juros, explícita ou implícita, por receber depois de 30, 40 dias.

As instituições financeiras ganham com venda do cartão, aluguel da maquineta, mais taxas e juros os espetaculares juros de 300%.  Como é que os Procons e os institutos de defesa do consumidor podem achar que isso é bom para o consumidor?  A gente até nem estranha mais, mas é para reparar. Como é que o preço no cartão de crédito parcelado em dez vezes sem juros pode ser o mesmo que à vista?

É claro que tem juros e outros custos embutidos (aliás, aqui sim se trata de propaganda abusiva, porque enganosa). O comerciante não pode retirar esses custos no pagamento em dinheiro porque a lei não deixa, certo. Mais do que isso, porém, ele se vale da lei para ganhar mais nos juros e nas taxas, embora, em determinados momentos, seja muito melhor receber cash. Resumindo, o comerciante ainda consegue se safar e até ganhar. A emissora de cartão ganha sempre. O consumidor? Está defendido pelo STJ, que se intitula o “Tribunal da Cidadania”.

Na prática, a decisão força o consumidor a usar o cartão de crédito o que é claramente injusto com os mais pobres. Também força o comerciante a usar o sistema de cartão. Ele não pode, por exemplo, fazer uma espécie de competição e negociar taxas menores com o emissor do cartão, jogando com a possibilidade de dar preferência a outro sistema de pagamento.

Isso deve ser inconstitucional. Se duas pessoas combinam um preço, a modalidade de pagamento e fazem o negócio, o Estado não pode impedir isso.  Na verdade, por trás disso tudo está a cultura anticapitalista, esse entendimento tão disseminado na sociedade brasileira, segundo o qual o capitalista é, por si, um criminoso sempre pronto a roubar alguém. A partir daí, cria-se uma legislação que tolhe a liberdade econômica e impõe regras que, eliminando a concorrência, reservam o mercado para determinadas empresas. Acabam fazendo o pior tipo de capitalismo.

Aliás, é exatamente o caso da proibição do Uber. Reserva o mercado para alguns taxistas, aqueles que têm o alvará e o alugam ou negociam num mercado paralelo, ilegal e que só beneficia uma parte.

Fonte: Carlos Alberto Sardenberg, jornalista - O Globo