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terça-feira, 12 de abril de 2022

O estudo definitivo sobre a inutilidade do “lockdown” - Gazeta do Povo

J.R. Guzzo

Pandemia

 Desde o início da tragédia mundial da Covid, ficou claro para quem tentava pensar com objetividade, coerência e isenção política que o “lockdown”, como se passou a chamar as medidas de fechamento maciço da atividade social, era a arma errada para combater a pandemia.  
Não só errada: era a mais errada de todas as possíveis.

Placa com os dizeres 'O ACT está em lockdown' em Canberra, Território da Capital Australiana (ACT), Austrália, 24 de agosto de 2021

Rapidamente, a paralisia total revelou-se o que realmente foi: uma reação de pânico e de ignorância das autoridades públicas, turbinada, também desde o começo, por uma vasta lavagem cerebral de ordem ideológica.

O “lockdown”, na tábua de mandamentos da militância da Covid, era um imperativo para “mudar a sociedade”; deveria ser criada uma “nova normalidade”, caso a humanidade quisesse sobreviver. Quem tentava argumentar, com fatos e realidades, que o fechamento radical não fazia sentido, era amaldiçoado como “negacionista” ou “genocida”.

A Covid passou, depois de deixar mais de 6 milhões de mortos em todo o mundo, cerca de 660 mil no Brasil é o que dizem os registros de mortes atribuídas ao vírus. Sobrevive em alguns focos de resistência entre os jornalistas, funcionários públicos, etc, etc, etc, mas acabou na vida real – e vai deixando a claro, pouco a pouco, o tamanho da mentira que foi o “lockdown”.

Se ele funcionasse, por que o vírus continuou a se espalhar livremente, durante dois anos, com todas as medidas de repressão à vida em sociedade? Por que as pessoas que obedeciam o “fique em casa” continuaram a pegar Covid?

Agora, num clima mais racional, a ciência de verdade não o charlatanismo dos ministros do STF, dos governadores e dos prefeitos, que passaram a maior parte dos últimos dois anos brincando de ditador – começa a esclarecer as coisas.

Um estudo de economistas-pesquisadores da Universidade de Chicago publicado pelo National Bureau of Economic Research do governo federal dos Estados Unidos, e citado pelo Wall Street Journal, é o mais recente demonstrativo concreto, com base em números, do desastre universal que foi o “lockdown”.

Tomando como base três critérios – mortes, educação e economia – e computando as cifras de todos os estados americanos, a pesquisa comprova que o fechamento teve efeito próximo ao zero na redução de mortes; ao mesmo tempo, foi devastador nas escolas e na performance econômica.

A pesquisa demonstra que a Flórida, estado que aplicou um mínimo de restrições durante a pandemia – seu governador, Ron de Santis, foi chamado pela mídia, o tempo todo, de “Governador Sentença de Morte” –, teve o mesmo número de mortes, proporcionalmente, que a Califórnia, onde o governo aplicou as medidas de repressão mais agressivas de todo o país.

Mas, entre os 50 estados, a Flórida ficou em terceiro lugar na relação dos que menos perderam em educação; a Califórnia ficou em último. Dos mesmos 50, a Califórnia ficou no 47º lugar entre os que tiveram o pior desempenho econômico; a Flórida ficou entre os melhores, no 13º lugar.

Resumo da ópera: a Flórida registrou um número de mortos equivalente ao da média nacional, mas protegeu muito melhor os seus cidadãos das devastações que a Covid provocou na economia e no desempenho escolar das suas crianças e jovens.

O estudo mostra outras realidades reveladoras. O Havaí, que adotou medidas extremas de “lockdown” chegou a proibir, pura e simplesmente, o desembarque de qualquer pessoa em seu território –, ficou em primeiro lugar em número de mortos, entre os 50 estados. Na economia foi o pior de todos, com o 50º lugar, e na educação levou o 46º.

Em Nova York, o ex-governador Andrew Cuomo, que renunciou ao cargo em meio a um escândalo, foi um campeão do “fique em casa”. Seu estado teve o 48º lugar entre os 50 em termos de desempenho econômico.

No Brasil, obviamente, não haverá nenhum estudo semelhante. Aqui o STF vai continuar dando 100% de razão a qualquer autoridade que quiser prender a população dentro de casa. A mídia vai continuar considerando como heróis nacionais os governadores que receberam poderes absolutos e exclusivosninguém podia interferir nas suas decisões – para tratar de uma epidemia que deixou 660 mil mortos.

As classes intelectuais continuam tratando o
“lockdown” como uma causa da esquerda; quem é contra é condenado como sendo “de direita”, bolsonarista e negativista. Vamos continuar, oficialmente, não sabendo nada.

J. R. Guzzo, colunista - Gazeta do Povo - VOZES

 


domingo, 30 de janeiro de 2022

O triunfo da burrice - O Estado de S.Paulo

J. R. Guzzo

Ministros Barroso e Lewandowski viraram árbitros definitivos do que é ou não é ciência

Num mundo e numa época cheios de dúvidas, uma coisa se pode dizer com certeza: os ministros Barroso e Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal, que tomam essas estupendas decisões que vêm tomando sobre as obrigações do cidadão brasileiro diante da covid, sabem sobre medicina menos que um plantonista de pronto-socorro em começo de carreira. 
Também não sabem nada de biologia, nem de infecções do organismo humano, nem de qualquer disciplina da ciência que possa ser útil no trato dessa ou de qualquer outra doença. Não sabem nada, em suma – por que raios, então, estão dizendo o que as pessoas têm de fazer em questões absolutamente essenciais para as suas vidas? 
 
O primeiro deles baixou um decreto sem precedentes na história da Justiça brasileira, talvez mundial: proibiu os cidadãos brasileiros de entrarem no seu próprio país se não mostrassem para o guarda um “passaporte vacinal” atestando que tomaram duas ou mais doses de vacina contra a covid. 
Não aconteceu nada de realmente grave, como em geral é o caso com as decisões absurdas mas o extraordinário é que ele tenha pensado que podia fazer, e feito, uma coisa dessas. 
O segundo decidiu que o “Ministério Público” está autorizado a retirar da guarda dos pais as crianças que não forem vacinadas – sabe-se lá quantos milhões, num país que não consegue cuidar com um mínimo de decência sequer dos menores abandonados que já estão aí na rua, amontoados uns em cima dos outros.

Leia Também: A ciência está se transformando em política
Barroso, em matéria de ciência médica, tem em sua biografia a devoção pelo curandeiro João de Deus, condenado por estupro e charlatanismo em Goiás. Lewandowski não vale muito mais que isso. Mas, do jeito que ficou o Brasil, os dois, junto com uma multidão de semianalfabetos que têm cargos como governador, prefeito ou fiscal de covid, viraram árbitros definitivos do que é ou não é ciência neste país.  
Fazem pose de quem sabe o que está falando; o mundo oficial, a mídia e a elite fingem acreditar que eles sabem mesmo. O resultado é que acabam se metendo a tirar dos pais a guarda dos seus filhos – e todo mundo acha que isso é a coisa mais normal do mundo.  
 
O que Lewandowski, seus colegas do STF e quem fica balançando a cabeça diante desses acessos de demência pensam da vida?  
Querem entregar as crianças aos resorts infantis de luxo que o MP mantém em Trancoso? 
Não é apenas hipócrita; é estúpido. Estamos assim: um ministro-cientista ou uma “autoridade local” ficam agitados porque o coletivo que contabiliza os mortos da covid veio com algum número horrível?  
A única coisa em que pensam é: reprimir. É o triunfo da burrice.
 
J.R.Guzzo, colunista - O Estado de S. Paulo

sexta-feira, 22 de outubro de 2021

Avalie as “conclusões” da CPI antes de tirar as suas - Vozes

J. R. Guzzo

 
Relatório final

Eis aí: a CPI da Covid” afinal soltou, após muita briguinha e brigona entre os seus sócios-controladores, a famosa lista de crimes que, no seu entendimento, o presidente Jair Bolsonaro cometeu no combate à epidemia. Fica evidente, logo de cara, que algo deu profundamente errado: não aparece, entre os nove diferentes delitos imputados ao presidente, nenhuma denúncia de corrupção. Nada? Nada.

Tinha de aparecer, é claro: há seis meses o grupo que manda na CPI, a esquerda em geral e a mídia em particular prometem, sem descanso, que a qualquer momento iriam estourar casos de ladroagem capazes de mandar o governo todo para fora do sistema solar. Mas não apareceu nada.

Fake news? Segundo a definição das “agências de checagem de notícias”, do ministro Alexandre Moraes e do seu inquérito para salvar a democracia no Brasil, dizer durante 180 dias que a CPI vai descobrir corrupção, e no fim da linha não denunciar corrupção nenhuma, é notícia falsa, sim senhor.

Mas e daí? “Fake news”, por aqui, só funciona da mão direita da rua; sempre foi assim e continuará sendo, e ninguém precisa perder cinco minutos de sono por causa disso. O que chama a atenção é outra coisa: se nem a CPI, que é a mais desesperada ação contra o presidente da República desde a sua entrada no Palácio do Planalto, não encontra roubalheira, qual a seriedade que se pode ter com o resto das acusações?

Muito pouca, com tendência a nenhuma. Não foi só a corrupção que ficou faltando na festa. Vê-se, no fim das contas, que sumiu outra acusação monumental, tratada durante seis meses inteiros como a joia da coroa da CPI: o genocídio. Sumiu isso também, o genocídio? Sumiu.

Na hora de soltar a lista de crimes com a qual pretendem enfiar Bolsonaro na cadeia pelos próximos 80 anos, viram que não conseguiriam manter de pé durante cinco minutos a ideia de que ele fez o que a lei brasileira define como genocídio. Não é fácil, como se pode ler ali, o sujeito ser genocida neste país. Ele tem de destruir um grupo nacional, étnico, racial ou religioso. Precisa matar o grupo, ou impedir que haja nascimentos ali, ou fazer transferência forçada e maciça de suas crianças de um lugar para outro, além de outros horrores. Como seria possível acusar alguém de um negócio desses?

Se os crimes que não estão na lista são esses aí, os que estão seguem pela mesma trilha. Crime de epidemia? Isso, segundo diz o Código Penal, não é andar “sem máscara”, nem produzir “aglomeração” é disseminar germes patogênicos na população.  
Crime de charlatanismo? O que Bolsonaro fez não foi isso, pela lei: ele elogiou o uso da cloroquina, uma terapia declarada perfeitamente legal pelo Conselho Federal de Medicina. Crime contra a humanidade? Também não dá.

A qualidade das “conclusões” da CPI é essa. Vale a pena pensar um pouco antes de tirar as suas.

J. R. Guzzo, colunista - Gazeta do Povo - VOZES