Não foi apenas o fim orquestrado da Lava Jato. Há uma sequencia de movimentos que revigoram a velha política (aqui incluídos executivo, legislativo e judiciário), abafam o combate à corrupção e tornam o Estado brasileiro cada vez mais ineficiente. Começando pela Lava Jato. A força tarefa não apanhou “apenas” alguns casos de corrupção. Mostrou que o sistema operacional do Estado estava dominado por diversos “quadrilhões” – associações de políticos, empresários, advogados e, sim, membros do judiciário – com o objetivo de roubar o setor público e distribuir o dinheiro entre eles, estivessem na esquerda, no centro ou na direita.
Dia desses, um ministro de corte superior me disse que poderia perfeitamente frequentar essa corte brasiliense e julgar com a devida isenção os seus participantes. Não pode, é claro. Assim como um filho de juiz simplesmente não pode advogar na corte do pai. Quer dizer, não poderia, mas advoga e ganha bem. Como a Lava Jato poderia ganhar disso? Utilizando os métodos modernos de combate à corrupção, usados em todo o mundo civilizado, que consiste em reunir polícia, receita e ministério público, investigando e trocando informações e – por que não? – partilhando com a imprensa, vale dizer, com o público.
Outro dia, o deputado Ricardo Barros, líder do governo Bolsonaro, disse
que a prisão em segunda instância nunca existiu no Brasil e que foi um
casuísmo para tirar Lula da disputa presidencial. Duplo erro: a prisão
em segunda instância era regra. Eliminá-la foi a exceção de alguns anos.
E Lula foi afastado por ser ficha suja.
Será que o líder não sabe mesmo ou está aí para confundir o público?
Esse pessoal acha que enunciar a agenda é o suficiente. Muita gente nos
meios econômicos acredita ou finge acreditar. Mas o fato é que sem a
pressão da sociedade, da imprensa livre e independente, dos políticos e
agentes públicos do bem, vamos continuar com vacina de menos e
ineficiência de mais.
Carlos Alberto Sardenberg, jornalista
Coluna publicada em O Globo - Economia 6 de fevereiro de 2021