Malu Gaspar
Então
fica combinado assim: de agora em diante, está liberado mentir em sessão de
Comissão Parlamentar de Inquérito. Também não tem problema chamar o colega
parlamentar de “vagabundo” para melar um depoimento. E tudo bem escancarar ao
distinto público a constatação de que, afinal, a apuração das responsabilidades
pelo descaso no combate à pandemia da Covid-19 só não é mais importante que uma
ampla gama de conveniências políticas. [digna jornalista: até o mais desinformado dos brasileiros - aquele que sempre escuta os 'especialistas em nada' que prestigiada emissora de TV insiste em disponibilizar na sua programação, entre os intervalos de contagem de cadáveres - sabe que o único objetivo da CPI Covid-19 era tentar incriminar o presidente Bolsonaro e impedir sua reeleição em 2022; quando perceberam que vão quebrar a cara, tentam mudar o jogo considerando FATOS: comentários de jornalistas (desde que acusando o presidente de alguma coisa que não ocorreu), desejos de fracassos que alguns militantes da mídia que odeia o nosso presidente, esperam ocorrer; comentários de indivíduos a serviço de ong's; depoimento de índigenas que se dizem vítimas até de tentativa de genocídio por falta de água potável e o que mais for encontrado e possa ser manipulado e permanecer por alguns minutos, no máximo horas, como indícios contra o capitão.]
Qualquer
brasileiro medianamente informado sabe que o destino mais provável de uma CPI é
terminar em pizza. [a da covid-19 só não termina em pizza se resolverem investigar a sério, especialmente as 'autoridades locais', vão encontrar muita roubalheira.
Primeiro
por causa da insistência do ex-secretário em desdizer tudo o que havia afirmado
à revista “Veja” em abril, numa entrevista cheia de recados subliminares ao
presidente da República e ao ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello. Em
seis horas de exposição, Wajngarten recusou-se a repetir que o governo poderia
ter comprado vacinas meses antes do que de fato ocorreu, negou ter afirmado que
houve “dolo, incompetência ou as duas coisas” na ação do ex-ministro da Saúde
e, mais de uma vez, tentou sepultar a versão de que Bolsonaro o havia
autorizado a negociar a aquisição dos imunizantes, passando por cima do colega
de Esplanada Pazuello. [caso a CPI quisesse investigar mesmo se houve atrasos na compra de vacinas, não precisava tanto escândalo e expor seu relator a a situações desagradáveis.
Bastava exigir que cada depoente representante de farmacêutica que alega ter oferecido vacina ao Brasil - tem laboratório declarando que ofereceu vacina ao Brasil em Abril/2020, quando a covid-19 ainda nao era pandemia e em termos de imunização o que havia era estudo preliminar - que apresentasse documento, tipo proposta de fornecimento, com data da expedição, data provável da entrega das primeiras doses, autoridade ou autoridades aos quais a proposta foi encaminhada, e demais informações que caracterizam proposta deste tipo.
Havendo o documento, a autoridade negligente deveria ser investigada de preferência em uma delegacia de polícia.
Não havendo, o mentiroso do laboratório deveria ser convidado a deixar o território nacional.
Como só temos dois leitores, ninguém e todo mundo, não nos dão importância, mas se a senhora sugerir vão ter que adotar.]
Recorrendo
à desculpa de que estava doente, negou também ter aprovado a campanha
publicitária que se opunha ao isolamento social, mesmo depois que vídeos
daqueles dias o mostraram dizendo que continuava trabalhando normalmente, de
casa. Mas
o recuo mais importante talvez tenha sido o menos notado pelos senadores:
depois de afirmar à “Veja” ter guardado e-mails, registros telefônicos e até
cópias de minutas contratuais para comprovar que trabalhou pela compra das
vacinas da Pfizer, Wajngarten sustentou na CPI que não dissera nada daquilo e
que não tinha nada. [no aspecto ético, moral, vergonha na cara, declarar algo para uma revista e depois dizer que nada disse , é uma conduta safada, vergonhosa;
mas, não é crime. Não sabemos se Wajngarten mentiu, mas crime não cometeu. E na CPI, depondo sob juramento, entre desmentir o que disse a VEJA = falar a verdade para a CPI, pode até não melhorar sua avaliação em termos de dignidade, mas o isenta de se tornar um criminoso.
Se ele mentiu para a revista, certamente não teve dificuldades em falar, posteriormente, a verdade para a CPI = permanecer no erro é que é diabólico.] Não
é possível garantir que a nova postura tenha a ver com as mensagens que o
ex-secretário recebeu nos últimos dias de emissários de Bolsonaro, mas é
altamente provável que tenha sido essa última declaração a senha que acionou o
resgate providenciado pelo filho Zero Um do presidente.
O
senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) chegou a tempo de ver o presidente
da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), recusar-se a prender Wajngarten, delegando ao
relator, Renan Calheiros (MDB-AL), a iniciativa de fazê-lo. Renan, que até
então insistia na prisão, recuou de repente com um “não vou fazer, em respeito
a Vossa Excelência”. Assim, abriu o flanco para Flávio chamá-lo de “vagabundo”
e dar a deixa para Aziz decretar o final da sessão.
Findo
o espetáculo, não faltou quem justificasse a atitude de Aziz como um movimento
estratégico para não desmoralizar a CPI e deixar aberta a possibilidade de prender Pazuello mais adiante. Considerando
que a Advocacia-Geral da União está trabalhando para conseguir um habeas corpus
que garanta ao ex-ministro da Saúde o direito de ficar calado — expediente
bastante comum em CPIs —, dificilmente Pazuello terá chance de mentir como fez
Wajngarten.[sempre recomendamos ler alguma coisa sobre Renan e Aziz, fica mais fácil compreender sua estratégia.]
É
claro que a investigação continua, a política é um jogo de estratégia, e a
realidade brasileira não autoriza ninguém a alimentar ilusões quanto à pureza
d’alma dos nossos parlamentares. Seria ingênuo imaginar que os veteranos da CPI
não se guiem por uma teia de interesses que extrapolam a preocupação com a
saúde dos brasileiros. Entram no cálculo desde a compra de tratores com
dinheiro do Orçamento até o posicionamento mais conveniente aos diferentes
partidos na disputa presidencial de 2022.
Mas
a política também é feita de símbolos, e, nesse particular, a mensagem de ontem
é inequívoca. Desde que tenha uma tropa de choque a seu favor, qualquer futuro
depoente da CPI da Covid pode ficar à vontade para mentir quanto quiser sem ser
incomodado.Fica
difícil imaginar desmoralização maior para uma Comissão Parlamentar de
Inquérito que se propõe a apurar responsabilidades e a revelar a verdade, mas
se acovarda diante de transgressões tão toscas e evidentes.
Malu Gaspar, jornalista - O Globo