Enquanto não sair a lista oficial dos acusados de envolvimento no
petrolão, que deve ser apresentada pelo Procurador-Geral da República
Rodrigo Janot nos primeiros dias de fevereiro ao Supremo Tribunal
Federal, o Congresso viverá sob tensão, e todos os partidos políticos
estarão sujeitos a vazamentos de informações que, por serem parciais,
servem para blindar os parlamentares eventualmente citados.
São
taxados por todos os lados de “vazamentos seletivos”, e podem ser
acusados de servirem a interesses políticos. A última bomba atinge em
cheio a oposição, com a citação do senador eleito e ex-governador de
Minas Antonio Anastasia como tendo recebido R$ 1 milhão de reais para
sua campanha de 2010 das mãos do policial conhecido como “Careca”.
Sucessor do presidente do PSDB, senador Aécio Neves e seu homem de
confiança – seria o ministro forte numa eventual presidência tucana caso
Aécio tivesse vencido em outubro -, a denúncia contra Anastasia atinge
diretamente o presidente do PSDB, que reagiu imediatamente afirmando que
a intenção seria constranger a oposição, que não se intimidará. Anastasia
se defende com sua reputação, nunca atacada nem nas mais agressivas
campanhas eleitorais, e com a lógica, pois não faz parte do esquema
governista que controlou o petrolão.
O PSDB já tinha na lista dos
envolvidos no escândalo das empreiteiras o seu ex-presidente Sérgio
Guerra, acusado de ter recebido R$ 10 milhões da construtora Queiroz
Galvão para inviabilizar a CPI da Petrobras. Uma acusação que precisa
ser investigada mas é no mínimo estranha, já que a oposição era
minoritária na CPI e não tinha condições de inviabilizá-la se não fosse
interesse do PT.
Quando as denúncias surgidas atingem membros do PT
ou de partidos aliados ao governo, a reação é sempre a mesma: são
vazamentos seletivos para envolver o governo, como se fosse preciso,
depois dos depoimentos do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e
do doleiro Alberto Yousseff, mesmo antes de terem aderido à delação
premiada. A questão não está mais em torno do esquema montado pelo PT
para financiar seus aliados num projeto de poder que pretende se
eternizar, ou pelo menos que seja infinito enquanto dure, parodiando o
poeta. O que se discute nos bastidores do Congresso é quais foram os
apanhados na rede imensa do Ministério Público, que nomes sairão da
lista para a acusação do Procurador-Geral da República.
Mas quando os
vazamentos seletivos atingem alguém da oposição, como o senador eleito
Antonio Anastasia, ou o talvez ex-futuro presidente da Câmara Eduardo
Cunha, nesses casos os aliados governistas, no Congresso e na imprensa
chapa-branca, tratam-nos como verdades inegáveis. Aí é a vez de o PSDB e
Cunha alegarem que há interesses políticos. Quando atinge então um
aliado importante como o senador Renan Calheiros, que concorre à
reeleição no Senado com o pressuposto de apoiar a presidente Dilma, os
mesmos tentam esquecer que as citações a Calheiros existem, com talvez
mais base do que as que atingem outros.
Outro ex-presidente,
desta vez da Câmara, o deputado não reeleito Henrique Eduardo Alves,
apareceu em uma destas listas e perdeu automaticamente seu lugar no
ministério de Dilma. Pode voltar a ele caso não apareça na lista
oficial, provocando mudanças ministeriais logo nos primeiros meses de
governo, o que será apenas mais uma das muitas esquisitices desse
segundo mandato de Dilma.
Para os que estiverem na lista, há ainda
uma esperança, embora o sofrimento possa durar bastante tempo. O
Procurador-Geral da República pode pedir a absolvição por falta de prova
para alguns dos indicados. Aconteceu assim no mensalão. Dois dos 40
denunciados foram previamente absolvidos pelo Ministério Público:
Antônio Lamas, ligado ao PP, (irmão de Jacinto Lamas) e Luiz Gushiken
(ex-secretário de Comunicação Social da Presidência da República),
absolvição depois confirmada pelo plenário do Supremo Tribunal Federal.
Um terceiro, Silvio Pereira, ex-secretário do PT, fez acordo de 750
horas de trabalho comunitário e não foi julgado.
O fato é que tanto a
Câmara quanto o Senado correm o sério risco de eleger presidentes que,
dias depois, aparecerão na lista oficial dos envolvidos no petrolão, e
aí talvez seja tarde demais para que desistam de enxovalhar mais ainda o
Congresso.
Fonte: Merval Pereira - O Globo