Vozes - Alexandre Garcia
Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos
Alexandre Garcia, colunista - Gazeta do Povo - VOZES
Este espaço é primeiramente dedicado à DEUS, à PÁTRIA, à FAMÍLIA e à LIBERDADE. Vamos contar VERDADES e impedir que a esquerda, pela repetição exaustiva de uma mentira, transforme mentiras em VERDADES. Escrevemos para dois leitores: “Ninguém” e “Todo Mundo” * BRASIL Acima de todos! DEUS Acima de tudo!
Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos
Alexandre Garcia, colunista - Gazeta do Povo - VOZES
Revista Oeste
Como já é na agricultura, a pecuária tropical do Brasil ainda se tornará exemplo planetário de eficiência e sustentabilidade
O boi é responsável pela falta de picanha no churrasco de domingo? Não. Em 2021, o rebanho bovino do Brasil chegou ao recorde de 224,6 milhões de cabeças, um crescimento de 3,1% com relação a 2020. São dados divulgados recentemente pela Pesquisa da Pecuária Municipal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É o maior rebanho já registrado na série histórica do IBGE. Supera o recorde de 218,2 milhões de cabeças de 2016. Há muita desinformação sobre a pecuária, quase sempre acusada de ser um problema ambiental e até social.
O aumento do número de bovinos nem sempre é boa notícia. Pode resultar de problemas no mercado e na produção. Entre 2020 e 2021 houve retenção de fêmeas pelos pecuaristas para a produção de bezerros. Impactos dos lockdowns da pandemia na perda de renda da população, aumento de preços na carne bovina para o consumidor e boicote temporário da China à carne brasileira, entre outros fatores, levaram à queda no abate de bovinos.
Os indicadores mais relevantes para compreender a pecuária nacional são seus ganhos em produtividade, rentabilidade e sustentabilidade. Segundo estudos da consultoria Athenagro, em 32 anos, o rebanho bovino aumentou 13%, enquanto a produção de carne cresceu 108%! A produtividade foi ampliada em 147% no período, mesmo com uma redução de 16% na área das pastagens. Menos pastos, mais bois e muito mais carne.
Há décadas, o país assiste a uma redução constante na área das pastagens e ao aumento de seu rebanho. Isso indica claramente ganhos de produtividade nas pastagens: novas variedades de capins; pastos bem manejados e mais produtivos; com maior qualidade nutricional e mais resistentes a seca, cigarrinhas e outras pragas. E suplementação mineral e proteica propiciada a pasto pelos pecuaristas. Há cada vez menos pastagens degradadas. Ainda há muito por fazer, mas a dinâmica é a da intensificação no uso dos pastos.
Os ganhos de produtividade nos sistemas de criação e manejo decorrem do uso de tecnologias modernas: melhoramento genético dos rebanhos; cuidados veterinários e garantias da boa saúde animal; atenção ao conforto e ao bem-estar animal; complementações nutricionais adequadas ao ganho de peso; confinamentos etc. Como já é na agricultura, a pecuária tropical do Brasil ainda se tornará exemplo planetário de eficiência e sustentabilidade.
O gado fica pronto para o abate em tempo cada vez menor. A redução da idade ao abate não compromete a qualidade da carne, nem o peso dos animais. Os pecuaristas cuidam até da alimentação intrauterina dos bezerros. Garantir sua gestação nas melhores condições resulta, já no nascimento, em animais de peso adequado. Quando a vaca prenha é bem nutrida, o terneiro em seu ventre também o é. Para um bovino com 24 meses seguir para o abate, ele deve pesar mais de 450 quilos. A redução da idade ao abate melhora os índices de aproveitamento dos rebanhos em até 25%, com menos emissões de gases de efeito estufa por quilo de carne produzida e custos inferiores. Esses são os dados decisivos sobre modernização da pecuária.
Não faltam bois, nem vacas, e tem faltado carne. Com o aumento do preço da carne bovina no mercado nacional e internacional e a perda de empregos e renda da população durante a pandemia, houve diminuição no consumo per capita entre 2019 e 2022. Os preços das carnes suína e de frango ao consumidor aumentaram cerca de 45% e 55%, respectivamente. O preço da carne bovina (considerados todos os cortes) subiu 72%. De acordo com o IBGE, a queda foi de 5,2 quilos de carne bovina/ano para cada brasileiro.
Diante desse quadro, algumas lideranças políticas sugeriram reduzir as exportações de carne para aumentar a oferta no mercado interno e baixar os preços. O raciocínio não é novo, nem original. Essa proposta simplista ignora a dinâmica do mercado e da produção bovina. E pode ser trágica.
O país exporta cerca de 25% da carne produzida. Restringir as exportações traria, no curto prazo, maior oferta no mercado interno e redução nos preços aos consumidores. Por quanto tempo? Quais seriam os impactos para a economia e os consumidores no médio e longo prazo? Propostas de limitar as exportações de carne resultariam num cenário prejudicial a todos. Foi assim na Argentina.
Em março de 2006, para controlar a inflação no mercado interno, o governo argentino anunciou restrições às exportações de carne bovina. O mercado estava em alta sobretudo pela ocorrência da gripe aviária na Ásia. Com o recuo de quase 25% nas exportações anuais, os argentinos tiveram um curto período de maior oferta. A disponibilidade de carne bovina subiu da média de 63 quilos para 67 quilos/pessoa/ano.
Logo ocorreu uma reversão no processo, dada a queda no interesse dos pecuaristas de produzir com perda de renda. Os rebanhos diminuíram. Os preços voltaram a subir. De 2010 em diante, a disponibilidade per capita de carne bovina nunca mais voltou aos patamares anteriores. E cai a cada ano. Hoje, a quantidade de carne bovina disponível ao consumo por argentino é de 47,8 kg/ano, quase 25% abaixo do disponível antes da decisão de 2006 e a menor em 100 anos! O rebanho per capita também está no menor valor histórico: 1,1 bovinos por habitante contra o máximo de 2,3 em 1977.
Os argentinos foram vítimas dessa proposta imediatista e irresponsável. Uma questão pontual, passível de ser resolvida em poucos anos, pelo investimento privado em mais produção, transformou-se em um grave problema. E levará décadas para ser solucionado. Aqui, tal medida depreciaria o patrimônio de quase todos os pecuaristas. E a carne bovina não está apenas em grandes fazendas. Cerca de 70% da produção vem de pequenos e médios produtores.
No Brasil, essa sugestão demagógica é contestada por um exemplo inverso. Após a queda da oferta global de proteínas, as exportações nacionais de carne suína aumentaram quase 60% entre 2018 e 2020. O crescimento nos preços estimulou a produção. Entre 2018 e 2021, o volume anual produzido aumentou duas vezes com relação ao total exportado. Nos últimos dois anos, a disponibilidade de carne suína foi a maior dos cinco anos anteriores.
O ciclo da produção bovina é muito mais longo. Em 2022, espera-se um aumento de 5% a 8% na produção. A disponibilidade crescerá ainda mais a partir de 2023. Restringir as exportações quebraria o estímulo ao aumento consistente da oferta. Reduziria empregos no campo, bem como a renda gerada a partir de fazendas, empresas e negócios relacionados à produção de carne. Impedir ou taxar exportações nunca garantiu picanha no churrasco. É conversa de burro, para boi dormir.
Leia também “O agro, o mercado e o supermercado”
Evaristo de Miranda, colunista - Revista Oeste