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domingo, 7 de maio de 2023

Insensatez e demência - Valdemar Munaro

Insensatez é o repúdio da razão e a demência, sua deterioração. Viajando no bagageiro da alma humana produzem infelicidades. Ausentes, não são notadas, presentes, causam sofrimentos.

Michel Foucault (1926 – 1984), fértil autor consumido em academias e universidades, herdou fenomenologia existencialista a molde Jean Paul Sartre e argamassou inteligência com demência dando a esta última chamegos e afagos que nos confundem e nos arrepiam.

Escritos e preleções desse autor fazem da loucura uma usina de lucidez e da lucidez uma usina de loucura nublando os contornos da culpa e inocência, esperteza e enfermidade, mentira e verdade, malandragem e decência. Teias patológicas contaminam a todos, por isso, segundo ele, as insanidades não devem ser confinadas nem punidas.

Quaisquer relacionamentos, mesmo belos e benfazejos, para Foucault, estão contaminados pelas estruturas de 'poder' e doidice. A deterioração mental, portanto, adquire 'legitimidade' e nos deve obrigar, enfim, ao hábito da 'doideira geral', solta e difusa.

Notável, paradoxalmente, é gente 'doida' e 'insana' subindo palcos e pedestais, recebendo aplausos, ganhando holofotes, dirigindo nações, inspirando e orientando comunidades. Com maluquices garimpadas em obscuros engenhos culturais amedrontam e entontecem pessoas.

Da insensatez e da demência colhemos tragédias. Elas habitam parasitariamente altos cargos e nichos políticos, nutrem governantes e autoridades para fazer estragos. Astutamente, escanteiam 'estranhos no ninho' até removê-los do bom senso e reinar incólumes mesmo em recônditos lugares (creches, escolas, igrejas e lares).

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quarta-feira, 1 de junho de 2022

“Fui vítima de uma perseguição doentia”, diz Oswaldo Eustáquio

Preso por três vezes, influenciador bolsonarista volta a criticar o STF e diz que não tem medo de voltar à cadeia

Preso no âmbito dos inquéritos das milícias digitais e dos atos antidemocráticos, o jornalista Oswaldo Eustáquio, agora em liberdade, vai disputar as eleições em 2022. O influenciador bolsonarista se filiou ao União Brasil e vai concorrer ao cargo de deputado federal pelo Paraná. Em entrevista a VEJA, o jornalista Eustáquio voltou a criticar o Supremo Tribunal Federal (STF), diz que não tem medo de voltar à prisão e relata que sua situação financeira hoje está bem melhor do que antes. Ele também afirmou que fará campanha pela reeleição de Bolsonaro

VOLTA POR CIMA - Oswaldo Eustáquio: preso três vezes, o jornalista chegou a anunciar seu afastamento de Bolsonaro -

VOLTA POR CIMA - Oswaldo Eustáquio: preso três vezes, o jornalista chegou a anunciar seu afastamento de Bolsonaro - Sergio Dutti/VEJA

Logo depois de ser solto, o senhor se dizia arrependido de defender o presidente Bolsonaro. O que mudou? 
 Fui vítima de uma perseguição insana e doentia, e de injustiça. Estamos em uma guerra ideológica. E, na guerra, alguns soldados ficam feridos. Eu fui um deles.

Mas o senhor se afastou ou não do presidente? Estava apenas chateado.  Não tenho nenhuma mágoa. Algumas pessoas dizem: ‘o presidente poderia ter ajudado mais’. Ou: ‘houve muito silêncio’. Ouvi muito isso durante esse período. E digo, depois de tudo que passei, me senti abraçado.

Como assim?  Depois da minha terceira prisão, a pior de todas, o ministro das Comunicações (Fábio Faria) fez um post para mim. Na publicação, ele escreveu mais ou menos isso: ‘em respeito ao jornalista Oswaldo Eustáquio, que é um soldado importante para nossa pauta, enviamos essa mensagem a pedido do presidente para prestarmos solidariedade e fazer tudo para te ajudar’. A deputada Bia Kicis (União-DF) foi ao hospital onde eu estava. Me senti bastante respeitado por essas coisas.

O senhor se sente injustiçado por quem?  Pela Suprema Corte. Eu sou um símbolo de perseguição e injustiça desta Suprema Corte. Não estou falando de ideologia aqui. Estou falando de fato. Minhas três prisões foram no âmbito de um inquérito que foi arquivado. Fui torturado na prisão. Por conta disso, estou até hoje nessa cadeira de rodas. O Alexandre de Moraes diz que a internet deu voz aos imbecis. Talvez ele esteja se olhando no espelho. 

Teme uma nova prisão?  Para que a gente consiga fazer o que a gente pretende, precisa ter coragem. Pode acontecer alguma coisa? A tal Lei de Segurança Nacional foi revogada. Posso ser preso de novo? Posso, por crime de opinião, o que seria uma violência. Eu não sou bandido, eu nunca matei, eu nunca roubei, nunca fiz mal a ninguém.

Como será sua campanha a deputado federal? Tenho dois objetivos. O primeiro é que quero representar a antítese ao STF. Não especificamente à Corte em si, mas a tudo de errado que essa Corte tem feito. E isso está explícito. O outro é lutar para extirpar a esquerda. Estou falando do enfrentamento prático da esquerda, impedir que retomem o poder.

Ao deixar a prisão, o senhor reclamava que não tinha como se sustentar. O que mudou?  Houve um período em que minha esposa sustentava a casa e meu pai pagava o aluguel. Depois da minha terceira prisão, vi que meu Twitter já estava com muitos seguidores. 
Resolvi então pedir doações, explicando que meu objetivo é fazer jornalismo profissional. 
As doações foram crescendo, em reais e até em euros. 
Comecei pedindo um real de cada um. 
Teve seguidor que me mandou 15 mil reais. 
Outra que me mandou 2500 euros. Chegou uma hora que tive que pedir para que parassem de enviar. 
 
Soldados do presidente que desertaram se preparam para o retorno à trincheira
Política - Revista VEJA
 

quinta-feira, 23 de maio de 2019

Deixem Bolsonaro governar

Em primeiro lugar, os três filhos do presidente são os que mais atrapalham

É muito oportuna a manifestação convocada em favor do governo Bolsonaro. A palavra de ordem é ainda mais premente. Deixem o presidente governar. É evidente que há pessoas fazendo o que podem para impedir Bolsonaro de governar. E quem são essas pessoas? Em primeiro lugar, os três filhos do presidente, os que mais atrapalham e deveriam ser os primeiros a obedecer ao comando das ruas. Flávio, Eduardo e Carlos são os maiores estorvos, que imobilizam o governo desde o seu primeiro dia.

Flávio se viu envolvido em escândalo antes mesmo da posse. Por ser o mais diplomático dos três, era nele que estavam depositadas as poucas esperanças de entendimento do pai com o Congresso. A partir do episódio de desvio de dinheiro de funcionários de seu gabinete na Assembleia Legislativa e depois de conhecidas suas extraordinárias negociações imobiliárias, Flávio virou um problema, sumiu do plenário, e sua capacidade de interlocução desapareceu. Carlos, o encrenqueiro da família, já no começo do governo implicou com um ministro e o demitiu. Era Gustavo Bebianno, o ministro de melhor trânsito com deputados e senadores, aliado do presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Não poderia ter atrapalhado mais. Bolsonaro, que já tinha perdido a interlocução do filho Flávio, sem Bebianno ficou a pé no Congresso. E Carlos continua implicando com gente do governo. Basta fazer alguma sombra sobre o pai para atrair sua ira explícita.

Eduardo, o evangelista da turma, é o principal seguidor na família do eremita Olavo de Carvalho. Ambos também deveriam prestar atenção no brado dos manifestantes de domingo. Olavo é um elemento tão desagregador que conseguiu causar mal-estar até mesmo entre os primeiros aliados de Bolsonaro, os militares. É sua também a obra dupla no Ministério da Educação. Nomeou um colombiano, que chamou os brasileiros de ladrões canibais, e o seu sucessor, que em duas semanas de gestão já comprou briga com os principais agentes da área.

Olavo não deixa Bolsonaro governar. Os filhos do presidente não deixam o pai governar. Infernizam a vida do presidente, tiram seu foco, subtraem sua atenção, impedem que ele se movimente. E há outros. Parlamentares que deveriam ajudar a construir pontes para o Planalto se comportam como homens-bomba. O líder do governo, deputado Major Vitor Hugo, conseguiu ser excluído do grupo de interlocutores do presidente da Câmara ao sugerir que diálogo com Congresso se compra com sacos de dinheiro.


O pior é que eles não estão sozinhos. Quem mais atrapalha Bolsonaro é Jair Bolsonaro. No fundo, ele não governa porque não sabe governar. O resto é bobagem, discurso pobre que alimenta a militância radical. O Congresso quer afastar o presidente para continuar mamando nas tetas do governo; o Supremo não liga para o Brasil, e seus ministros só querem comer lagosta e beber champanhe; [convenhamos que em tempos de crise não pega bem as preferências gastronômicas das 'supremas' excelências, visto que são bancadas com recursos públicos.] a imprensa trabalha contra porque é de esquerda. Nada mais do que retórica insana e esquizofrênica.

Ao contrário do enunciado, o Congresso vem convocando o presidente ao trabalho desde que as reformas foram enviadas para a apreciação dos parlamentares, no início do ano. Bolsonaro preferiu atacar. Acabou a velha política, sentenciou. Não disse como seria a nova, mas se negou a negociar. O resultado é uma magnífica desarticulação. A reforma da Previdência sairá, talvez menor, mas por obra e força do Congresso. No caso do Supremo, pode-se eventualmente discordar de algumas decisões de ministros que, mesmo atendendo à lei, atropelam o senso comum. [algumas decisões do STF contrariam ostensivamente não só as leis comuns, quanto a Leo Maior, a Constituição Federal, da qual ele é, ou deveria ser, o guardião.
Apenas um exemplo: por maior que seja a flexibilidade na interpretação do art.226, especialmente o $ 3º, da CF, se nota que é impossível que o casamento gay seja uma concepção de família e possa ser legal, sendo sua realização imposta aos cartórios.] Mas não se pode negar sua essencialidade. Atacar o STF por causa de uma licitação de bebidas e comidas para serem servidas a convidados oficiais é ridículo e apequena o debate. Ou alguém acha que o cardápio é diferente no Palácio do Planalto ou no Itamaraty?

A imprensa, acusada de atrapalhar o governo por ter uma agenda de esquerda, é a mesma que foi chamada de golpista e fascista ao longo dos anos petistas. O papel da imprensa é informar. Diferentemente das redes sociais, informar sem viés. Por isso, aqueles que só querem notícias boas não se conformam com a avalanche de más notícias do governo Bolsonaro. A culpa não é de quem divulga, mas de quem produz as más notícias. A estes deve ser dirigido o grito de domingo.