Conhecido como o “senhor rouba mas faz”, o deputado Paulo Maluf
(PP-SP), 85 anos, enche o peito para se gabar de não estar na lista de
Janot, assim como não esteve no mensalão. Em entrevista à IstoÉ,
embalado pelo momento político, Maluf posa de vestal, sem ser, é claro, e
diz que, perto do PT, ele se considera um “santo”. Afinal, segundo ele,
os petistas trabalhavam com empresas que tinham até departamento de
propina, enquanto que ele jacta-se de não ter sido condenado em última
instância em nenhuma ação por corrupção. Acusado de ter superfaturado
várias obras, enquanto prefeito de SP, Maluf alega que responder a
processos não significa nada. Argumenta, num discurso batido, que as
acusações carecem de provas. Sobre a prisão em 2005, sob a acusação de
depositar US$ 160 milhões nos EUA, Maluf inverte as coisas: “Não fui
preso. Fui solto”.
Sempre disseram que o senhor era o maior corrupto da história do
País, mas agora você está se gabando de não estar na lista de Janot. O
senhor se redimiu?
Vou ser franco. Eu tenho um defeito. Sou polêmico
porque falo o que eu penso. Eu tinha um preceptor político, Antonio
Gontijo de Carvalho, era mineiro, que dizia: “Maluf, na minha terra,
quando o adversário não tem defeito, eu invento”.
Mas não inventaram que o senhor é corrupto.
Vamos aos fatos. Quando entrei na política, tomava
posse Costa e Silva e o ministro Delfim Neto. Convidado pelo Delfim
para ser presidente da Caixa, eu tinha 35 anos, eu já morava na casa
onde eu moro. Já era diretor da Eucatex. Não entrei na vida pública para
enriquecer. Eu já entrei rico. Detesto essa palavra rico. Mas entrei na
vida pública pensando no bem público. Construiu quase todas as grandes
obras de São Paulo. Eu não destruí nada. Só construí.
Mas é sabido que algumas dessas obras foram superfaturadas.
Não tem mais prova neste País? O sujeito fala por
falar? No mínimo tem que ter um documento provando. Quando se faz uma
obra, foi um conjunto de mil pessoas. Um viaduto, tem a Secretaria de
Obras que faz a concorrência, tem 30 engenheiros, tem o julgamento da
concorrência que é público, vai construindo o viaduto e vão sendo
autorizados pagamentos. Tudo isso é auditado pelo Tribunal de Contas.
Para dizer que você superfaturou, tem que botar mil na gaveta. Isso não
existe. As obras que eu fiz em São Paulo foram auditadas pelo Tribunal
de Contas.
O que o senhor responde a quem garante que o senhor é corrupto?
Eu falo a eles: trabalhem como eu.
E sobre o PT, o que o senhor diz?
O PT hoje é exemplo de corrupção. As empresas que
trabalharam para eles, tínham um departamento de propina. Não era um
diretor que corrompia. Eles tinham um departamento inteiro. Eu morava na
rua Costa Rica 146 e continuo morando na Costa Rica 146. Quando eu fui
casar há 62 anos, na Igreja da Catedral da Sé, fui no Rolls Royce da
minha mãe. Naquele tempo já tínhamos um Rolls Royce.
O senhor quer dizer que perto do PT …
Perto do PT, eu sou um santo. Não só do PT. Perto
de todos os políticos do mundo. O dinheiro nunca me estimulou. O que me
estimula é desamarrar fitinha de inauguração. Fiz mais de 60 viadutos em
São Paulo. Fiz túneis que nunca alagaram, estações de metrô que nunca
caíram…
Mas o Lula foi à sua casa em 2012 pedir apoio para a candidatura do
então candidato a prefeito Fernando Haddad. O senhor não sabia que os
petistas usavam dinheiro de caixa dois para eleger seus candidatos?
O que eu disse claro para o Rui Falcão, presidente
do partido, é que eu não me caso no porão de igreja. Eu me caso no
altar e com o cardeal. Eu não lhes pedi nada. Acho que o Haddad é um
cara correto, mas o cardeal tem que ir em casa me pedir em casamento.
Foi assim que aconteceu. Lula foi na minha casa. A mídia tomou um susto
quando soube que o Lula tinha almoçado na minha casa. Mas não houve
oportunismo da minha parte. Haddad tinha 3% nas pesquisas. O Serra
liderava com folga, com 31%, mas acabou perdendo.
Mas usaram dinheiro de caixa dois na campanha…
Não sei se usaram. Cada campanha é uma campanha. O Haddad naquela eleição era o novo, como foi o Doria agora.
Apesar de o senhor dizer que é santo, ainda responde há mais de 60
processos por corrupção, como no superfaturamento da avenida Águas
Espraiadas (atual Roberto Marinho)…
Processo não é condenação. Processo é oportunidade
para provar juridicamente que é inocente. Qual é a função do Ministério
Público? Por que ganham R$ 30 mil por mês? É para trabalhar. Então eles
acusam. Ótimo. E a gente se defende. Não sou contra processo. Eu não
perdi nenhum.
E aquela ação em que o senhor perdeu por ter doado os fusquinhas para cada um dos jogadores da seleção de futebol de 70?
Eu ganhei. Demorou 30 anos, mas eu ganhei na última instância.
Se é assim, por que o senhor ainda está na lista da Interpol, podendo ser preso caso deixe o Brasil?
Estou na lista da Interpol porque não temos governo aqui no Brasil. A
lista da Interpol não mostra que eu fui condenado não. É que eu estou
sendo processado nos Estados Unidos, mas o processo nem começou. Para
começar o processo eu tenho que ser ouvido. Eu disse, eu quero ser
ouvido sim. Mas quero ser ouvido aqui, por carta rogatória ou por
videoconferência, como diz a legislação brasileira.
E por que os americanos insistem que o senhor seja ouvido nos Estados Unidos?
Eles querem passar por cima das leis brasileiras.
Aliás, no caso dos pilotos americanos do Legacy, que derrubaram o jato
da Gol em 2006, matando 150 pessoas, eles foram ouvidos naJustiça
brasileira por videoconferência. Quero ser ouvido sim. Mas eles querem
que eu tome um avião e vá até lá. Não vou. Não vou. Sou um homem que
respeita a lei. Querem me ouvir, tem que me ouvir aqui onde eu moro. Se
tivesse um governo com autoridade, enfrentava o governo americano e
dizia: aqui não é quintal americano e vocês que mandem uma carta
rogatória para ele ser ouvido aqui.
O senhor chegou a ficar preso 41 dias na sede da Polícia Federal em
São Paulo, juntamente com seu filho Flávio. O senhor acha que prisão é
uma coisa que ficou no passado para o senhor?
Não fui preso. Eu fui solto. É diferente. O
Supremo Tribunal Federal me deu a garantia de que não havia fundamento
legal nenhum para a prisão. Se soltaram o goleiro Bruno, que é
assassino, se o Pimenta Neves é assassino confesso e ficou solto, por
que iriam me manter preso? Eu tinha que responder em liberdade. Qual é o
perigo que o Paulo Maluf oferece à sociedade solto? É um absurdo. Tem
gente que só joga para a platéia. Aquela prisão o Supremo disse que foi
ilegal e que se tivesse alguma coisa que eu respondesse em casa.
E como o senhor está vendo o governo atual? Ele é menos corrupto do que foi o de Lula?
Esquece corrupção. Tenho esperança no governo
Temer. Está fazendo força pelas reformas que o País precisa. Vou votar a
favor da reforma da Previdência do governo. Um dia desses, uma repórter
me ligou querendo saber porque eu votaria a favor da reforma. Eu
perguntei quantos anos ela tinha. Ela me disse ter 25. Eu falei pra ela:
olha, você está contribuindo agora não para a sua aposentadoria, mas
para quem está aposentado. Se a gente não fizer a reforma, não vai ter
dinheiro para pagar a tua aposentadoria. Essa é a questão.
Temer vai tirar o País da crise?
Acho que sim. Já conversei com ele mais de uma
vez. Ele conversa muito com o Delfim também, que é um dos economistas
mais lúcidos do Brasil. Está disposto a fazer as reformas da
Previdência, Trabalhista e a reforma política. Ele me disse: não quero
ser endeusado na próxima eleição, mas quero deixar meu nome para a
próxima geração.
O Lula está dizendo que quer voltar. O senhor concorda com uma nova candidatura dele em 2018?
Mas para o Ministério Público, empreiteiras lhe beneficiaram com apartamento e sitio…
O triplex do Guarujá não é triplex nenhum. São
três apartamentinhos do BNH um em cima do outro. Se o Lula quiser ir
para o Guarujá, eu tenho uma casa com cinco suítes, defronte para o mar.
Está à disposição dele.
Mas não é um risco para o País? Afinal o PT quebrou o Brasil.
Ele tem o direito democrático de querer concorrer.
Agora, não será roubando a bola e não deixando ele participar do jogo.
Isso sim é antidemocrático.
O senhor já está com 85 anos e há uns dez anos disse que não
pretendia mais disputar eleições, pois desejava cuidar dos netos. O
senhor mantém essa postura?
Ainda é cedo para falar em 2018, mas pretendo me reeleger deputado federal.
Fonte: IstoÉ