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sábado, 10 de agosto de 2019

Bolsonaro diz que ideologia de gênero é do 'capeta' em Marcha para Jesus

Durante o discurso, que durou 14 minutos, Bolsonaro criticou a esquerda e a imprensa, e ainda declarou que a ideologia de gênero é do "capeta"

O presidente da República, Jair Bolsonaro, chegou aplaudido pelas pessoas que acompanham a Marcha para Jesus — pela família e para o Brasil, que iniciou às 9h em frente do Palácio do Buriti e desde 10h30 se concentra ao lado do Clube do Choro. O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, também está presente no evento e teceu apoio ao chefe do Executivo Federal. A Polícia Militar do DF informou que não contabilizou o número de pessoas presentes, mas organizadores estimam 15 mil pessoas.  Até às 10h30, três faixas do Eixo Monumental, lado Sul, estiveram fechadas. Depois deste horário, todo o tráfego de veículos foi impedido. Motoristas tiveram que mudar o trajeto para o Parque da Cidade. Bolsonaro chegou pouco depois das 11h e ficou até às 11h40, mas a marcha continuou até o Museu Nacional, com três faixas bloqueadas.

O presidente foi chamado de “mito” pelos apoiadores em diversas ocasiões e foi apresentado pelos organizadores como o único na história do Palácio do Planalto que “reconhece que Jesus é Jesus”. Ele beijou a camisa do evento, com a escritura “Marchando para Jesus” e foi aplaudido.  A Marcha para Jesus é um evento organizado pelo Conselho de Pastores Evangélicos do Distrito Federal (Copev/DF) e conta com o apoio da Federação Nacional de Igrejas Cristãs (Fenaic), da Federação dos Cantores Evangélicos do Distrito Federal (FACEV), do Fórum Evangélico Nacional de Ação Social e Política (Fenasp) e da Confederação dos Conselhos de Pastores do Brasil (Concepab).  Durante o discurso, que durou 14 minutos, Bolsonaro criticou a esquerda e a imprensa, e ainda declarou que a ideologia de gênero é do “capeta”. Ele relembrou do apoio dos evangélicos durante a campanha eleitoral.

“Além do milagre da minha vida, o milagre da nossa eleição. Tive apoio de grande parte dos evangélico no período inicial das eleições. Isso foi decisivo. O que eu falava durante a campanha eu já falava anos antes. Desde 2010, quando apareceu nos governo que nos antecedeu as questões de multifamílias”, afirmou Bolsonaro. “Se querem que eu acolha isso, apresente uma Emenda Constitucional e modifique o artigo nº 226, que diz que família é homem e mulher. E mesmo mudando isso, como não dá para emendar a bíblia, eu vou continuar acreditando na família tradicional”, acrescentou, aplaudido. 

O presidente ainda parabenizou todos os pais do Brasil, já que será Dia dos Pais neste domingo (11/8). “Amanhã, como todos os dias, é o dia da família”, declarou. Bolsonaro ainda enfatizou que, apesar do Brasil ser um estado laico, a maioria das pessoas são cristãs. No trio elétrico, onde discursou, havia a bandeira de Israel, porque, segundo ele, é preciso agradecer às tradições judaico-cristã. “Vocês tem pela primeira vez na história do Brasil um presidente que está honrando o que prometeu na campanha, que acredita da família e que vai respeitar a inocência das crianças nas salas de aulas. Não existe conversinha de ideologia de gênero. Isso é coisa do capeta. Tenho certeza que o governador Ibaneis não vai admitir isso no DF”, disse, ao lado do chefe do Executivo distrital. 
 
Fé e imprensa
De acordo com Bolsonaro, “a todo momento” a população brasileira escuta que a “esquerdalha do PT, PCdoB, PSOL, nojenta” defender que o estado é laico. “Mas eu, Jonnie Bravo, sou cristão. Aqui, nesse carro e pátio, somos cristãos”, disse, antes de ser ovacionado com gritos de “mito”. Respeitamos todas as religiões e quem não é cristão. Mas a maioria dos brasileiros é cristão e ponto final. O Brasil é um só povo, uma só raça e um só coração. É uma bandeira e meia: Brasil e Israel”, apontou.
Bolsonaro também alfinetou a imprensa e relembrou que assinou, “com a caneta bic”, uma medida para que as empresas não sejam obrigadas a publicar balancetes nos jornais. De acordo com ele, não é retaliação à mídia e vai em direção à modernização, já que os dados empresariais poderão ser acessados no site da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e no Diário Oficial da União, de forma gratuita. “Não estamos desafiando nenhuma instituição, mas não aceitaremos pressão para manter nichos qualquer que seja em causa própria”, afirmou no início do discurso. “Levantamento preliminar os jornais vão deixar de ganhar R$ 1,2 bilhão. Estamos atacando nichos que oprimiam a sociedade”, acrescentou Bolsonaro. 

O chefe do Executivo ainda afirmou que o governo está facilitando a vida de todos e que está em luta com o Judiciário para acabar com os pardais no Brasil. “Tenho certeza que o governador vai brigar. Ninguém consegue andar no DF sem ser multado. Isso é covardia. Vai acabar com essa roubalheira em Brasília”, disse ao lado de Ibaneis. 
 
Correio Braziliense



terça-feira, 28 de maio de 2019

O tamanho do “mito”

Ao não lotear o governo e recusar o chamado toma lá dá cá, o presidente Bolsonaro devolve a grande política ao Congresso, que está recuperando sua capacidade de mediação com a sociedade”


Quem apostou no fracasso das manifestações de apoio ao presidente Jair Bolsonaro no último domingo perdeu. Foi uma dupla demonstração de força: primeiro, do poder de mobilização de uma militância aguerrida e ideologicamente alinhada com seu líder; segundo, da capacidade de direção política dos protestos, que foram convocados para confrontar o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF), mas acabaram redirecionados para apoiar o presidente da República e a reforma da Previdência. Não é pouco.

Também perdeu quem apostou no emparedamento do Congresso e do Supremo, ainda que Bolsonaro tenha acarinhado seus partidários radicais com sua declaração de que o ato foi um protesto contra as “velhas práticas”. Motivação inicial dos protestos, essa intenção foi sendo frustrada por setores que apoiam o presidente da República, mas não são radicais, situam-se no espectro da centro-direita. Esses setores mais moderados estão ancorados nos ministros políticos, militares e técnicos que compõem o governo e não reproduzem a lógica do grupo ideológico que cerca o clã Bolsonaro. O agrupamento moderado faz o presidente da República ser maior do que o “mito”.

Como nos ensina o mestre Norberto Bobbio, todo governo é a forma mais concentrada de poder; porque as funções essenciais do Estado, que são normatizar, arrecadar e coagir, fazem dele o eixo da vida nacional. O poder do Estado, cujo vértice é a Presidência, é muito maior do que o carisma do líder, ainda que esse carisma seja uma via de chegada e conservação do poder. Essa relação é ainda mais complexa na democracia, porque existem as mediações do Congresso (que normatiza ) e do Supremo (que delimita a autoridade). [cabe lembrar que não tem sentido, sendo até inaceitável, que o Supremo a pretexto de delimitar a autoridade de um dos Poderes, extrapole os limites de sua 'Suprema' autoridade e invada a competência de outro Poder - o comportamento do ministro Barroso, na ação contra o indulto natalino é um exemplo incontestável do abuso do ministro, quando a pretexto de limitar a competência do presidente da República - seus próprios pares reconheceram o abuso, quando decidiram que o presidente da República tem competência constitucional   para conceder indulto natalino - 'escreveu' o decreto nos termos que  entendia conveniente, usurpando competência do Poder Legislativo.]Talvez a melhor conclusão que possa se tirar das manifestações de domingo seja a separação das coisas, ou seja, deram mais nitidez entre o que é o poder do Estado e o carisma do “mito”.

Isso é bom para todos, porque há gente no governo que ainda não sabe separar alhos de bugalhos. Misturar essas coisas foi um dos defeitos do governo Lula, cujo enorme carisma era acompanhado também de grande capacidade de negociação. Juntando o poder do Estado com seu magnetismo popular, o petista abduziu do Congresso a grande política, levando toda a mediação do mundo dos interesses, tanto do trabalho como do capital, para o Palácio do Planalto. Restou ao parlamento a pequena política, cujo subproduto foi a propina miúda dos negócios, porque as grandes negociatas, essas rolavam mesmo é nos ministérios e nas estatais, sobretudo a Petrobras. Dilma não tinha a mesma capacidade de mediação, enveredou por um caminho desastroso na economia e acabou apeada do poder, pelo povo na rua e pelas raposas do Congresso. A Operação Lava-Jato se encarregou, depois, de passar o rodo em quase todo mundo que meteu os pés pelas mãos.

Grande política
Ao não lotear o governo e recusar o chamado toma lá dá cá, o presidente Bolsonaro devolve a grande política ao Congresso, que está recuperando sua capacidade de mediação com a sociedade, embora o custo disso seja certa instabilidade política e muitos desencontros com o governo, inclusive de sua base. O fato de o governo ter fortes características bonapartistas é contrabalançado pelo fortalecimento do Congresso como espaço da grande política e da negociação com a sociedade, e não do transformismo e do cretinismo parlamentar. Essa é uma visão otimista, digamos assim, mas verdadeira. O debate sobre a reforma da Previdência revela que a Câmara está nesse rumo; o fato de a reforma tributária entrar em discussão à revelia do Palácio do Planalto, para fortalecer a Federação, tem o mesmo significado. Pode ser que dessas tensões com o Executivo resulte uma relação mais saudável entre os poderes da República.


Isso também vai depender do Congresso, em particular das forças de centro-esquerda que apoiam as reformas e da esquerda formada pelo PT e seus aliados históricos. Fragilizadas pelo resultado das urnas — ficaram de fora do segundo turno —, as forças de centro-esquerda se rearticulam no Congresso em torno do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do apoio às reformas. A emergência de outros atores nos governos estaduais, sobretudo João Doria (PSDB), em São Paulo, pode até resultar no surgimento de uma alternativa de poder fora do eixo da polarização Bolsonaro-Lula.

Já que falamos no nome do santo, vamos falar do milagre: o Lula livre! é um beco sem saída para o PT, serve para manter o partido agrupado e aguerrido, mas não para romper o isolamento. Retroalimenta a narrativa olavista e sua capacidade de mobilização. Essa polarização, que se impôs no primeiro turno das eleições passadas, pavimentou o caminho das alianças de Bolsonaro com os setores moderados. Vem daí a falta de iniciativa política dos partidos de esquerda a reboque do petismo, cuja bandeira de resistência absoluta às reformas é uma espécie de quanto pior, melhor.

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo - Correio Braziliense 


 

sábado, 3 de novembro de 2018

Ex-BBB [último colocado entre os deputados eleitos pelo RJ] culpa Bolsonaro por ameaças que recebe na internet

O ex-BBB, j.w. foi reeleito deputado federal pelo Rio, na última colocação - 0,31% dos votos = 24.295 votos.

O ex-BBB teve uma das menores votações, só tendo sido eleito devido o voto de legenda (aproveitou a ampla votação de um outro psolista, que o 'puxou' para os 'eleitos'.

Percebendo que escapou da derrota por pouco e enciumado pelo fato do candidato apoiado por Jair Bolsonaro - Helio Barbosa, 345.234 votos - , mais de doze vezes o total da votação de j.w., tenta atribuir ao ex-presidente tudo de ruim que lhe acontece - afinal caluniar o presidente eleito, o MITO é sempre uma forma de aparecer, flutuar um pouco sobre o ostracismo.

Editores do Blog Prontidão Total

 

sábado, 20 de outubro de 2018

Alta ansiedade

Vivemos momentos de "nervosia", palavra antiga, mas muito precisa, para descrever essa atmosfera de irritabilidade, impaciência e hostilidade nas eleições

Publicado na edição impressa de VEJA


Muita coisa pode ser dita sobre as eleições presidenciais que chegam daqui a pouco ao seu turno decisivo, mas um dos pouquíssimos pontos em que todos estariam de acordo, talvez o único, é que nunca se viu na história deste país uma disputa política que deixasse tanta gente à beira de um ataque de nervos. Um ou outro dinossauro que estava vivo nas eleições de Getúlio Vargas em 1950, Juscelino Kubstichek em 1955 ou de Jânio Quadros em 1960, certamente dirá: “Não, não me lembro de ninguém, na época, que tenha tido algum surto de neurastenia tão desesperado por causa de eleição como esses que a gente vê hoje todo o santo dia”. Depois disso houve sete eleições seguidas para presidente ─ a que elegeu Fernando Collor, as duas de Fernando Henrique, mais as duas de Lula e, enfim, as duas de Dilma Rousseff. Saiu muita faísca, é claro, houve muito bate-boca e xingatório, e muita mãe acabou sendo posta no meio, mas em geral foi mais gritaria de torcida do que briga com fuzil AK-47 no alto do morro. 

Nem Dilma foi capaz de gerar a ira radioativa que explode agora do Oiapoque ao Chuí por causa de Jair Bolsonaro e Fernando Haddad ─ e olhem que Dilma não é fácil, em matéria de despertar os instintos mais primitivos do eleitorado, como poderia dizer o ex-deputado Roberto Jefferson. E antes disso, em momentos remotos da nossa história política ─ será que não teria havido alguma campanha tão enfurecida quanto a atual? Antes disso, para falar a verdade, não havia eleições que pudessem ser realmente chamadas de eleições; o New York Times ou o Le Monde de hoje jamais aceitariam, por exemplo, as eleições de um Campos Salles ou um Washington Luís. Mais atrás no tempo, então, já se começa a falar no Regente Feijó ou em José Bonifácio ─ e aí é que ninguém sabe mesmo de absolutamente nada.

O fato é que estamos vivendo momentos sem precedentes de “nervosia” ─ palavra de uso antigo, mas muito precisa, para descrever essa atmosfera de irritabilidade, impaciência e hostilidade geral que se levanta hoje em dia a cada vez que o cidadão diz que vai votar em Bolsonaro ou Haddad. Em geral, as brigas de campanha costumam se limitar aos próprios candidatos. Hoje, emigraram com mala e cuia para o meio de uma boa parte dos eleitores. É entre eles, e não nos palanques ou “debates” na televisão, que está havendo agora derramamento de sangue ─ inclusive de sangue mesmo. Não é preciso, para acender a banana de dinamite, gritar “Mito!” no meio de um ajuntamento petista, ou de vir com um “Lula Livre!” na comissão de frente de um bloco bolsonarista. O desastre, nesta campanha de 2018, pode acontecer no aconchego do seu próprio lar. Você diz que vai votar num ou no outro, e dali a pouco está formado um barraco rancoroso em sua casa, com a súbita troca de ofensas, palavras malvadas e ressurreição de velhos ressentimentos, no que deveria ser um churrascão inofensivo de domingo. Amigos se desentendem feio com velhos amigos. Há brigas de pais com filhos, de irmãos com irmãos, de mulher com marido. 

Familiares rompem relações, colegas de trabalho viram as costas uns para os outros e se fecham em suas próprias trincheiras. Falar de política, em suma, virou um perigo.
Os rompantes mais curiosos de neurose se multiplicam por todos os lados. Uma senhora foi notada no facebook fazendo um anúncio aflito: “Hoje, eu tive de dar um block na minha tia de 78 anos!”. Uma jornalista-celebridade de São Paulo denunciou em seu jornal, com a gravidade reservada às notícias de grande impacto, que tinham sido feitas pichações racistas no banheiro de um colégio chique ─ isso mesmo, rabiscaram a parece do toalete da moçada. Quem jamais ouviu falar de uma coisa dessas? A dona de um restaurante paulistano teve a ideia de exibir na internet uma foto, tirada junto com a sua equipe, mostrando o dedo do meio para os bolsonaristas. Amizades intensas formadas nas redes sociais explodem antes que as pessoas tenham tido tempo de se conhecer. Lulistas são chamados de esquerdopatas. Quem vota em Bolsonaro é fascista embora 80% dos que fazem essa acusação não tenham a menor ideia do que estão falando. Não optar nem por um nem por outro, então ─ não seria uma defesa? Esqueça. Nesse caso você será acusado de “isentão”, e muita gente fica irritadíssima quando é chamada de “isentão”. O ambiente deveria estar bem mais calmo, pois até a véspera da eleição todas as “pesquisas” garantiam a mesma coisa: Bolsonaro perderia para qualquer outro candidato no segundo turno. Mas está dando o contrário. Aí vira nervosia pura.

J R Guzzo - Veja

 

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Quebrou-se o mito

A Constituição não confere poderes absolutos ao Ministério Público, mas, da forma como ele está organizado, sem hierarquia funcional, cada membro da instituição torna-se a própria instituição

A Constituição de 1988 foi um valioso instrumento para consolidar a redemocratização do País, resgatando o respeito a importantes direitos e garantias fundamentais. Deve-se reconhecer, no entanto, que ela também trouxe alguns sérios problemas, que até hoje dificultam o desenvolvimento político, econômico e social da Nação. Várias reformas constitucionais foram feitas, mas os desequilíbrios ainda persistem e, em alguns casos, foram agravados. Basta ver, por exemplo, o tratamento dado pelo texto constitucional a supostos direitos, sem a necessária contrapartida e, pior, sem condicioná-los à existência de recursos. Um grave problema fiscal foi introduzido no próprio fundamento do Estado.

Outro sério problema institucional trazido pela Constituição de 1988 foi o tratamento dado ao Ministério Público, contemplado com uma autonomia que, a rigor, é incompatível com a ordem democrática. Num Estado Democrático de Direito não deve existir poder sem controle, interno e externo. Não há poder absoluto. Explicitamente, a Constituição de 1988 não confere poderes absolutos ao Ministério Público, mas, da forma como ele está organizado, sem hierarquia funcional, cada membro da instituição torna-se a própria instituição.

Ao longo dos anos, esse problema foi agravado por dois motivos. Em primeiro lugar, consolidou-se nos tribunais uma interpretação extensiva das competências do Ministério Público. Obedecendo a uma visão unilateral, que olhava apenas para os supostos benefícios de uma atuação “livre” do Ministério Público, permitiu-se que procuradores se imiscuíssem nos mais variados temas da administração pública, desde a data do vestibular de uma universidade pública até a velocidade das avenidas. Parecia que o Estado nada podia fazer sem uma prévia bênção do Ministério Público.

A segunda causa para o agravamento da distorção foi uma bem sucedida campanha de imagem do Ministério Público, que, ao longo dos anos, conseguiu vincular toda tentativa de reequilíbrio institucional à ideia de mordaça. Qualquer projeto de lei que pudesse afetar interesses corporativos do Ministério Público era tachado, desde seu nascedouro, de perverso conluio contra o interesse público. O resultado é que o País ficou sem possibilidade de reação.

Na prática, a aprovação no concurso público para o Ministério Público conferia a determinados cidadãos um poder não controlado e, por isso mesmo, irresponsável. Nessas condições, não é de assustar o surgimento, em alguns de seus membros, do sentimento de messianismo, como se o seu cargo lhes conferisse a incumbência de salvar a sociedade dos mais variados abusos, públicos e privados. Como elemento legitimador dessa cruzada, difundiu-se a ideia de que todos os poderes estavam corrompidos, exceto o Ministério Público, a quem competiria expurgar os males da sociedade brasileira.

Nos últimos três anos, esse quadro foi ainda reforçado pelos méritos da Lava Jato, como se as investigações em Curitiba conferissem infalibilidade aos procuradores e um atestado de corrupto a todos os políticos. Os bons resultados obtidos ali foram utilizados para agravar o desequilíbrio institucional.  Construiu-se, assim, a peculiar imagem de um Ministério Público inatingível, como se perfeito fosse. Basta ver, por exemplo, o escândalo produzido quando o Congresso não acolheu suas sugestões para o combate à corrupção. A reação dos autores do projeto foi radical: ou os parlamentares aceitavam todas as vírgulas – com seus muitos excessos – ou seriam comparsas da impunidade.

Pois bem, esse monopólio da virtude veio abaixo nos últimos meses de Rodrigo Janot à frente da Procuradoria-Geral da República (PGR). Ações radicais e destemperadas deixaram explícita a necessidade de que todos, absolutamente todos, estejam sob o domínio da lei, com os consequentes controles. Poder sem controle não é liberdade, como alguns queriam vender, e sim arbítrio.  Na crise da PGR envolvendo a delação de Joesley Batista há uma incrível oportunidade de aprendizado e de reequilíbrio institucional. Com impressionante nitidez, os eventos mostram que também os procuradores erram.


Fonte: Editorial - O Estado de S. Paulo
 

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Um mito que se esvai



A evidência do processo de desconstrução de um mito foi uma marca importante deixada pelos protestos de rua do dia 16: Lula nunca mais! O repúdio a Dilma e ao PT eram as outras palavras de ordem dominantes no evento, óbvias por mirarem as personagens que se destacam na cena política: a protagonista e seu coro. Mas, por detrás de Dilma e do PT, emergiu fortemente na percepção dos cidadãos a figura do arquiteto da grande mistificação populista que encantou a maioria dos brasileiros enquanto pôde se manter sobre seus pés de barro.

O sucesso popular de Luiz Inácio Lula da Silva foi o resultado da conjugação de virtudes pessoais, como a excepcional habilidade para aliar meios a fins – a essência da política –, com circunstâncias históricas, como a globalização da economia e das comunicações que fizeram amadurecer, na virada do século, momento propício a um forte influxo humanista na economia de mercado que vinha de impor sua hegemonia no planeta.

No auge de seu prestígio popular, quando comemorava, em 2010, com a eleição de Dilma, sua terceira vitória consecutiva em eleições presidenciais, Lula claramente se sentia detentor de um poder quase absoluto. Acabara de dar um passo decisivo para o projeto de perpetuar a hegemonia política de seu PT.  Esqueceu-se da célebre advertência de Lord Acton: o poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente. E não permitiu que restassem dúvidas quanto a quem era o verdadeiro dono desse poder quando, ainda antes da metade do primeiro mandato de Dilma, a convenceu a praticamente renegar a “faxina ética” que realizara em seu Ministério ainda em 2011.

É bem verdade que com o tempo, e principalmente a partir da posse no segundo mandato, Dilma afastou-se gradativamente da influência política direta de Lula. Mas faltou-lhe competência política para salvar a si, ao PT e ao Brasil do desastre político, econômico, social e moral cujas raízes estavam solidamente plantadas desde os primeiros meses do primeiro governo de seu criador e frustrado preceptor.

A avassaladora evolução das investigações da Operação Lava Jato começa a revelar os primeiros indícios de que Lula pode estar envolvido em episódios que já levaram à prisão donos das grandes empreiteiras de obras com os quais desenvolveu estreito relacionamento pessoal, tanto como presidente da República quanto, depois, como consultor, conferencista e lobista internacional.

Mas não é a Lava Jato – ou apenas ela – que aproxima Lula de Lord Acton. Por apego ao poder, o chefão do PT corrompeu, principalmente, um projeto político em que, durante muito tempo, uma maioria de brasileiros de boa-fé, completamente iludida, acreditou firmemente: a redução das desigualdades com o pleno acesso da população marginalizada da vida econômica aos bens sociais essenciais, como educação, saúde, saneamento, transporte, segurança.

O fastígio econômico dos seis primeiros anos de governo de Lula, apoiado nos princípios sólidos de estabilidade econômica herdados de governos anteriores e numa conjuntura internacional extremamente favorável, permitiu avanços sociais importantes no desfrute de uma política social focada no crédito fácil e na gastança voltada para bens de consumo. A ambição de transformar esses avanços em vantagens eleitorais a curto prazo e não em efetivas conquistas no prazo longo, aliada à miopia de viés ideológico, levou à implantação de uma “nova matriz econômica” intervencionista, estatista. Enfim, a corrupção de uma política que se anunciava voltada para os benefícios sociais resultou nas mazelas que hoje todo o País sofre.

Lula, portanto, corrompeu com sua ambição de poder um projeto político que fez as pessoas acreditarem ser socialmente desejável e exequível. E acabou por inviabilizá-lo – aí com a forte ajuda de Dilma – ao vinculá-lo à “ideologia do bem” segundo a qual não existe verdade fora do Estado. Razões suficientes para que o País queira vê-lo pelas costas.

Editorial do Estadão - Publicado no Estadão