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sábado, 28 de maio de 2022

Cresce participação da PRF em operações e apreensões - PRF vem aumentando incursões desde o início do governo Bolsonaro - O Globo

Dois agentes imobilizaram Genivaldo e depois o colocaram na viatura — Foto: Reprodução

Criada para patrulha ostensiva em rodovias federais, a Polícia Rodoviária Federal vem, nos últimos anos, realizando operações de grande porte, em muitos casos dentro dos centros urbanos, como na Vila Cruzeiro, na terça-feira (24). Em 2021, a PRF realizou 987 operações com apreensões no país 32% a mais do que no ano anterior. [a Polícia Rodoviária Federal, não pode ser estigmatizada por trabalhar, exercer sua missão constitucional e apresentar resultados; Cabe lembrar que o artigo 144, caput,  da Constituição Federal alinha a PRF ao lado da PF, das policias civis e militares, das PFF, dos corpos de bombeiros militares, das polícias penais federal, estaduais e distrital, como um dos órgãos executores da segurança pública.                                                                            A ação da Vila Cruzeiro, a exemplo de outras, tornou necessário o trabalho conjunto da PRF com outras forças policiais por envolver o combate ao roubo de cargas em rodovias federais, por quadrilhas baseadas   naquela favela.] Mas sua atuação não pode extrapolar a sua competência constitucional, frisam especialistas, que cobram explicações da morte de Genivaldo de Jesus Santana. 

Na quarta-feira (25), Genivaldo foi trancado dentro de um carro da PRF em que patrulheiros admitiram ter jogado gás lacrimogêneo e de pimenta, depois de uma abordagem violenta ao homem que sofria de esquizofrenia e foi parado por estar em uma moto sem usar do capacete.

Há dois meses, a direção da PRF anunciou um calendário com cinco grandes operações pelo país, o que dá o tom da crescente atuação dos agentes. Uma delas é a Nordeste Seguro, para operações desde o sertão ao litoral. Foi durante essa operação que os agentes abordaram Genivaldo na quarta. Além disso, a PRF tem operações especiais no Rio, na Amazônia, em Brasília, além do Rota Brasil, que promover ações simultâneas de segurança viária em 400 pontos do país.

O Diretor Regional Sudeste da Associação Brasileira de Profissionais de Segurança (ABSEG), Vinicius Cavalcante, diz que o aumento da violência no país justificou o incremento de operações da PRF.— Os tempos românticos em que o policiamento rodoviário se atinha apenas a fiscalizar o estado de conservação, a documentação e a condução dos veículos nas estradas do país acabaram. Hoje, o incremento das ações criminosas em rodovias, com roubo de veículos e cargas, assim como utilização de estradas para o escoamento de produtos ilícitos, contrabando e produtos de roubos, vêm a exigir muito mais da PRF. Seus agentes enfrentam hoje ameaças das narcoguerrilhas idênticas àquelas que as forças policiais confrontam nos estados. [3 agentes da PRF agiram de forma errada, irresponsável, que resultou no cometimento de um crime. Merecem ser punidos e certamente serão. 
Mas tal fato não motiva que a PRF seja impedida de trabalhar no combate ao crime, incluindo ações conjuntas com outras forças policiais. Ou força policial ser eficiente no combate ao crime é,  no Brasil da mídia militante, um crime?] 
 
Segurança pública - Brasil - O Globo 
 
 

segunda-feira, 2 de agosto de 2021

E agora, direita? Como resistir à perseguição ideológica de Renan e seus tuiteiros amestrados - VOZES

Paulo Polzonoff Jr.

Sou incumbido de escrever sobre os impulsos ditatoriais dos senadores Renan Calheiros, esse Quixote infernal, e seu fiel escudeiro, Humberto Costa, um Sancho Pança assim meio vampiresco. Ambos assinam um requerimento pedindo a quebra de sigilo da rádio Jovem Pan e de outros veículos que, julgam eles, cometem o imperdoável pecado de serem "de direita". Me sento diante do computador. E, à medida que vão chegando tuítes de apoio (sim, apoio!) ao autoritarismo do bem de Calheiros & Costa, tuítes esses escritos por quem até ontem estufava o peito para se dizer conservador, sinto cócegas na ponta dos dedos para escrever uma única palavra: canalhas.

Perseguição de Renan Calheiros à rádio Jovem Pan e sites de direita contou com o inacreditável apoio de idiotas úteis que se dizem “conservadores”. - Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

A única dúvida é se coloco ou não um ponto de exclamação depois de “canalhas!”. É, assim fica melhor mesmo. Só um “canalhas!” gritado a plenos pulmões dá conta de expressar o que sinto ao ver quem se dizia conservador de alta estirpe apoiando uma medida que nada mais é do que perseguição ideológica e intimidação da imprensa. Houve até quem comparasse o senador do “rezistro” e "pra mim fazê" a Carlos Lacerda.

Expresso à Editora Severa™ minha preocupação. Não sei se sou capaz de escrever um texto sobre o assunto sem cair na vulgaridade. Porque, como já registrei neste espaço, um dos poderes de Renan Calheiros é despertar o que há de pior nas pessoas. É batata: você vê aquele rostinho de cartorário do sertão, com os oclinhos finos de cafajeste daltontrevisaniano, e toda uma seção do Dicionário de Insultos lhe vem à mente.

Não é uma sensação agradável, essa. Me leva a questionar se sou capaz de ter um olhar misericordioso sobre o mundo. Evidentemente não sou. Penso, então, em desistir. Melhor deixar passar as 72 horas regulamentares. Melhor dar uma volta no quarteirão. Melhor bater com o dedinho do pé na quina da cama. Diante do que a Editora Severa™ sabiamente me sugere escrever primeiro um texto virulento, sem filtros,para desopilar, e depois escrever o texto sério, oficial, ponderado, calmo, misericordioso e caridoso.

No caso, o texto que você lê neste momento.

Desespero
É quando me ocorre que essa disputa aí, disfarçada de disputa política e do livre e vergonhoso exercício de submissão intelectual, nada mais é do que a velha e boa disputa pelo coração dos homens. O meu e o seu. Calheiros & Costa e seus inocentes úteis desejam justamente instaurar o caos para que possam posar, daqui a alguns anos, de salvadores. E quem triunfa no caos a gente sabe quem é. Não sabe? Uma dica: Guimarães Rosa usa sei-lá-quantos sinônimos para se referir a ele em “Grande Sertão: Veredas”.

Se me rendo, pois, à sentença rápida e óbvia (“canalhas!”) é porque permito, momentaneamente, que o cramulhão vença a batalha. Nesse intervalo de tempo (que, reconheço, se prolongou muito mais do que deveria), vislumbrei cem mil cenários, todos apocalípticos, nos quais ora era calado, ora passava fome e ora era simplesmente aniquilado num desses expurgos tão ao gosto dos (aqui não tem como fugir da palavra) canalhas.

Dessa fantasia sombria, sorrateiramente sussurrada em meu ouvido pelo tinhoso alagoano e seus tuiteiros amestrados, nasce o medo, quando não o desespero. Acontece comigo. Acontece com muitos dos meus leitores (menos os que consideram a aliança com o djãnho maquiavelicamente necessária). Acontece com milhões de pessoas que, intuitiva ou racionalmente, veem nesse recorte histórico um prenúncio da tragédia que sempre é uma tirania.

E o desespero, sabe todo mundo que já leu a Bíblia, C. S. Lewis ou simplesmente já provou desse pão amassado pelo dito-cujo, é um dos instrumentos preferidos do tisnado. É no desespero que palavras como “canalhas!” se impõem. No desespero, não há espaço para a compreensão ou reflexão e todos ao redor agem apenas preocupados em garantir o dinheiro de uma mamata qualquer. No desespero, de repente até o ato mais sórdido de censura é visto como virtude, porque promete uma saída ilusória de um túnel escuro (daí o desespero) igualmente ilusório. Ou melhor, ardilosamente ilusório.

União virtuosa
Ao longo da semana, muito se falará sobre a artimanha do Danador & Azinhavre para intimidar a imprensa e o trabalho de gente que simplesmente enxerga o mundo por um outro prisma. E o desespero, prevejo, ditará o tom das discussões. Não sem um tiquinho de razão, usarão palavras como "canalha" e mencionarão Venezuela e Argentina e a possibilidade (a meu ver, muito real) de estarmos passando por um golpe cozido em banho-maria. Ou seria banho-Barroso?

Mas talvez valha a pena respirar fundo, engolir em seco, conter o grito de “canalhas!” e resistir ao sedutor desespero. Porque se o joio tomou conta do trigal e a perseguição ideológica já é uma realidade, e me parece que é, ela não será vencida pelo insulto prazeroso, mas inútil. Mais do que nunca, é preciso que os bons se unam em torno do objetivo virtuoso de impedir que o desespero de hoje se transforme no inferno de amanhã.

Paulo Polzonoff Jr., colunista - Gazeta do Povo - VOZES

 

sábado, 26 de setembro de 2020

Os 300 de morte e o voto de cabresto - IstoÉ

Na terra do calango, da casa de taipa e da pouca água extraída do mandacaru o cacto pestilento e espinhoso do agreste —, trezentos reais é fortuna na vendinha do seu Zé do vilarejo, que aceita fiado, mas apenas “rico” com dinheiro pode comprar. Ninguém tem nem R$ 1 para ir lá. Boa parte vive à base do que planta e caça de bicho do mato. Quem consegue emprego na plantação de cana do usineiro, como cortador da lavoura, leva R$ 1,90 por dia pesado de trabalho. Do nada com coisa alguma, no semiárido nordestino ou nos rincões onde a pobreza espreita como sina, 300 reais é fortuna e muda a vida de muita gente. Quem dá, vira deus. Quem recebe, venera o mito. Pode ser quem for, transforma-se naquele “deus e o diabo na terra do sol”, recordando a obra clássica do cineasta Glauber Rocha. É a realidade nua e crua da parcela setentrional desse País imenso, só bonito por natureza. 

[dois comentários: 
- de voto de cabresto o infeliz do demiurgo de Garanhuns e seus asseclas;
- quanto a defesa de posturas que o presidente Bolsonaro efetua, vale o antigo ditado: tem males que são necessários.]

O demiurgo do sertão – pode ser de esquerda, de direita, quem se importa? Não vem ao caso – ganha licença para delinquir, falar baboseiras, perseguir, destruir o meio ambiente, ser arrogante, até roubar se quiser. O que der na telha. Terá mesmo assim, e garantido, o voto do açoitado pelo destino. Humildes lavradores, incrédulos sofredores, dão a dimensão real da miséria extrema desse Brasil grande. Ali a ignorância graça com fervor. Por falta de educação e informação mesmo, artigos raros e inalcançáveis a essa parcela da população. Ali, qualquer redentor é bem-vindo, aclamado, celebrado como “salvador”. Carregue o chapéu de coco, de palha, de cangaceiro, suba no jegue da região, use e abuse de qualquer pantomima. Trouxe a ajuda? É o que importa. Será saudado e serão feitas as suas vontades. O voto de cabresto está à disposição de quem pode pagar mais, regateado a granel. 

E assim se repetirá por décadas e séculos, até que a chaga da brutal desigualdade social seja curada. Não irá, todos sabem! É do interesse da elite manter tamanha injustiça no recorte do bolo. A extraordinária obra “Casa Grande & Senzala”, do sociólogo pernambucano Gilberto Freyre, retrata à perfeição a natureza dos contrastes que prevalecem nessas paragens tropicais desde o Descobrimento. A obra do “Mestre de Apipucos” escancara os meandros de como o regime econômico patriarcal e assistencialista foi danoso, causando ao mesmo tempo o atraso endêmico e a degeneração das relações sociais e do caráter político brasileiro. Sem o fim da desigualdade, resta o aliciamento. Imoral, covarde, enganoso, torpe. Bolsonaro é o redentor da vez. Ganhou quase 10 pontos percentuais nas pesquisas com o auxílio emergencial. 

Eram 600 reais. Viraram 300. Ainda tá de bom tamanho. Maior do que o de Lula, decerto. E assim venceu a pendenga dos indecisos ou arredios por lá. Prorrogou o benefício. O mandatário se afia agora ao donativo não por compaixão ou caridade, mas como boia eleitoreira. Um e outro não podem mais se desprender. Do contrário, a turba some. Pobres sedentos e esfomeados precisam do assistencialismo que faz a diferença entre vida e morte. Quem mora nas grandes capitais não entende o drama. Não nessa dimensão. Ter dinheiro nos sertões é raridade. 10 reais? Nem em um mês bom. E a iniquidade dos oportunistas de plantão avança e cria raízes nesse ambiente. Bolsonaro, que classificava o “Bolsa Família” de mero instrumento para “comprar o voto do idiota”, alegando ser uma maneira de “tirar dinheiro de quem produz e dá-lo a quem se acomoda”, tomou a fórmula para si. Curiosa metamorfose. Vale até a confraternização com aqueles a quem antes se referia, jocosamente, como “paraíbas”. 

Eis a transmutação débil e obscena: De um degenerado radical do “golden shower”, que defende a tortura e a morte de 30 mil, no populista de ocasião. Quem há de resistir e não atender ao chamado providencial dos 300? No pináculo do populismo, o drama dos necessitados é a argamassa. Nele se montam as retumbantes promessas de que “tudo vai melhorar”, sem que nada nesse sentido efetivamente seja feito. 

A narrativa enganosa comove o rebanho, malgrado as infâmias sobre uma revolução social que nunca chega. Jair Messias Bolsonaro foi tomado por um súbito e despudorado interesse pelos necessitados, enxergando neles mera massa de manobra. Não quer transformar ou remodelar a dura rotina local ou ajudar aquela gente a superar a realidade. Ao contrário. Caso assim pensasse, implementaria mudanças estruturais capazes de prover, de maneira sustentável, carências elementares como saneamento básico, transporte, saúde, luz, água, ensino. Afinal, é ele o governo. Não mero candidato. Poderia fazer, ao invés de prometer. Não está no escopo. Para que? Demora e não rende voto no prazo até às urnas. Com menos da metade do mandato, Messias traçou uma cruzada de peregrinações de campanha na qual o que valem são os aplausos, discursos vazios e encenações. Tudo em troca dos 300. Tá bem pago. É vida e morte errante, Severina, que segue. Meus conterrâneos um dia, rogo e suplico, poderão ter sina melhor.

IstoÉ - Carlos José Marques - Diretor Editorial


quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Racismo contra não negros, agora é: ação afirmativa ou racismo reverso

Magazine Luiza: Atrelar mérito a raça é contra os direitos humanos

Magazine Luíza acaba por contrariar a Declaração Universal dos Direitos Humanos 

O Magazine Luíza acaba por contrariar a Declaração Universal dos Direitos Humanos ao pretender que os indivíduos não sejam iguais perante a lei. O Magazine Luiza resolveu que é bonito e meritocrático usar critério racial para recrutar estagiários. A argumentação é similar à do livreto de Djamila Ribeiro: negros não conseguem emprego porque não aprendem inglês nem estudam, por isso as empresas devem baixar o nível para receber a raça dos desqualificados. (Racistas são os outros.)

Só que o Magazine Luiza foi mais longe, infringiu a Constituição (art. 7, XXX) e resolveu que agora vai contratar só estagiários negros. Segundo a empresa, é um absurdo “apenas” 16% dos seus líderes serem negros. Segundo o IBGE, 9,4% dos brasileiros se declaram pretos. Como a empresa vai decidir quem é negro? O Estado brasileiro não é racista; não tem raça em documentos oficiais. Tem aquelas gambiarras infames para entrar em universidade e concurso público, mas brasileiro não recebe classificação racial definitiva por parte do Estado. A maioria dos brasileiros não tenta concurso nem universidade, por isso não se depara com os aviltantes tribunais raciais.

Na época da Inquisição era assim também: só os setores mais altos da sociedade aspiravam a certos postos e prebendas, e tinham de passar por um tribunal que julgava a limpeza do sangue, no qual era preciso ser cristão velho de quatro costados. A infâmia racista daquela época passou, briguemos para que esta passe também.

Ser de raça virou mérito 
O diretor executivo da Magazine Luiza, Frederico Trajano, dá tratos à bola para dizer que escolher negros por causa da raça é ser meritocrático. Raça é raça, mérito é mérito. Qualquer um em pleno gozo de suas faculdades mentais conseguirá conceber uma pessoa com raça “certa” e sem mérito, e outra com mérito e sem raça “certa”.

No seu texto, o Sr. Trajano tenta fazer crer que ser esforçado é ter mérito, o que não é verdade. O mérito se revela em feitos, não em sofrimento e esforço; do contrário, o talento e o mérito seriam inconciliáveis, pois ser talentoso significa justamente ter uma facilidade excepcional para executar uma determinada atividade, precisando de menos esforços. Ainda que admitamos que ter mérito é sofrer  e que isso é indissociável da origem pobre, continua sendo possível haver um branco com “mérito”. Afinal, nem todo branco é rico, e nem todo negro é pobre.

Que tem o Sr. Frederico Trajano a dizer para um branco pobre e sofrido que terá a oportunidade de trabalho negada em função de sua cor? Como o Sr. Trajano tem capacidades cognitivas suficientes para virar diretor executivo, há de convir que o fato de haver muitos negros na pobreza não implica que a totalidade dos pobres seja de negros. Como ele tem conhecimento do Brasil suficiente para concluir o Ensino Médio, saberá que a composição étnica deste país varia de região para região, e que os negros se concentram mais nas áreas urbanas das regiões Nordeste e Sudeste, logo, fora daí (na Amazônia, no Cerrado), a pobreza tende a não ser negra. A menos que se dê aquela maquiada e se chame pardo de negro. Se for assim, a coisa muda de figura, e a própria  dona do Magazine Luiza é negra.

Fica, então, a pergunta, Sr. Frederico Trajano da Magazine Luiza: o que é que você tem a dizer ao branquelo pobre, que veio do sertão do Ceará, se esforçou muito, e pretendia estagiar na sua rede? (Digo branquelo, para não poder nem passar por pardo.) E você acha que ele perderá essa chance sem que, ao mesmo tempo, ela vá de mão beijada para um negro de classe média urbana? O que o senhor tem a dizer sobre isso? Dirá que é mérito? Pela sua argumentação, gente da cor errada – não classe, cor – é incapaz de mérito.

Imagine ainda que bonito será se esse negro de condições materiais privilegiadas pensar igual a certas divas racialistas da internet, e se sentir à vontade para destratar todo trabalhador branco, tendo-os por moralmente inferiores por causa da cor de sua pele. Será revoltante a humilhação sofrida pelo trabalhador, e preocupante a deseducação empurrada aos meninos negros. 

Igualdade jurídica é pilar do liberalismo e dos direitos humanos 
Quanto a esse branquelo pobre do sertão do Ceará, que existe, vale lembrar que, segundo a Declaração Universal dos Direitos Humanos, “todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos” (art. 1), e que “todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, idioma, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição” (art. 2). Atrelar mérito a raça é contra os direitos humanos.

A Declaração é adepta do liberalismo político: considera que “todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação.” Ora, a Constituição brasileira proíbe que “sexo, idade, cor ou estado civil” sejam critérios de admissão em trabalho. O Magazine Luiza quer que os não-negros não gozem desse direito de serem contratados a despeito de sua cor.

Logo, o Magazine Luiza contraria a Declaração Universal dos Direitos Humanos ao pretender que os indivíduos não sejam iguais perante a lei, e que branquelos, judeus, japoneses ou caboclos, por mais que pobres, esforçados e competentes, sejam considerados indignos de mérito em função de sua raça.

Nazista também se achava racista do bem 
A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi redigida numa época em que o mundo acabara de descobrir o que se passava no III Reich, recém-derrotado. Os argumentos do Sr. Trajano poderiam ter sido usados pelo Reich; afinal, os judeus eram pintados como causa da miséria do trabalhador alemão ou ariano. Nem todo judeu era rico, mas os nazistas faziam de conta que eram. Trazer miséria ao judeu, barrar-lhe os empregos públicos, e depois o exercício de certas profissões, não implicava a melhoria da vida dos alemães, mas os nazistas faziam de conta que sim.

O nazista poderia apontar para o real sucesso de judeus em finanças e profissões liberais, e explicá-la não por causas históricas complexas, senão por maniqueísmo conspiratório. Poderiam fazer uma tabela que atestasse a porcentagem de judeus em tais postos ou áreas, para concluir que estavam “sobre-representados” de maneira criminosa. Poderiam até inventar o termo “judaísmo estrutural” para explicar as disparidades, se não estivessem bem com “judaísmo internacional”. O resto é história.

Se o Sr. Trajano quisesse ser um humanista, se quisesse aliviar a pobreza, que atuasse em favelas. Que levasse boa escola, ou distribuísse bolsas para escolas boas, ou desse educação financeira, ou ensino técnico, ou profissionalizante. Fizesse isso sem tratar as pessoas como cachorro, dividindo-as em raça.

Vai ser “liberal” assim na China! 
Falsos liberais, que são ou progressistas enrustidos, ou anarcocapitalistas sem dicionário, têm alegado que empresas privadas fazem o que bem entenderem. Que quem não goste, boicote. Pois muito bem: que as leis do Estado não valham mais em propriedades privadas, e que os Direitos Humanos não sejam universais.

Quem são os clientes do Magazine Luiza?                                      Brasileiros de toda condição social, de todo o país.                                Muitos são iletrados, não têm internet, ou usam só pro zap-zap. Compram por preço. 

Quantos brasileiros têm condições de pesquisar os princípios das lojas em que compram, e quantos teriam condições de arcar com os custos de um boicote? Talvez uma meia dúzia no Leblon.

Como é irrazoável pretender que cada cidadão seja um fiscal da aplicação dos direitos humanos, existem leis do Estado e fiscais para resolver isso. Eu não teria como saber se a roupa que comprei foi feita por mão de obra escrava, ou se a loja do eletrodoméstico aplica seleção racista de empregados. As leis brasileiras são claras quanto ao racismo no trabalho. Que sejam aplicadas. Se não forem, que ninguém se surpreenda quando os conglomerados resolverem sair imitando as práticas que publicitários levianos acham bonitas, e isso gerar um problema racial de mão de obra.

Quanto àqueles que não creem na universalidade de direitos humanos, que vão ser “liberais” assim lá na China. Lá, pode descumprir tudo. E dá dinheiro.

Veja Também: A crônica no divã: o que uma história piegas não falou sobre o caso Magazine Luiza

Bruna Frascolla, jornalista - Gazeta do Povo - Vozes


domingo, 2 de fevereiro de 2020

Humanos como nós - Nas entrelinhas

Os povos isolados têm o direito de decidir se preferem viver em isolamento ou não. Para exercer esse direito, porém, precisam de tempo e espaço

Considerado o pai da antropologia estruturalista, o franco-belga Claude Lévi-Strauss (1908 — 2009), entre 1935 e 1939, dedicou-se a estudar os índios do Brasil Central, base para a publicação de sua tese As estruturas elementares do parentesco, em 1949. Ele rompeu com a ideia de que os índios são apenas índios, porque não concordava com a divisão entre civilizados e selvagens. Lévi-Strauss foi professor da recém-criada Universidade de São Paulo, com sua esposa Dinah Lévi-Strauss, Fernand Braudel, Jean Maugüé e Pierre Monbeig, e realizou pesquisas de campo em Goiás, Mato Grosso e Paraná, que também resultaram no livro Tristes Trópicos (1955). Procurou decifrar as relações entre o ser humano, a natureza e a cultura.

Para o antropólogo, o ser humano se diferencia dos outros animais devido ao uso de símbolos para se comunicar, não importa as particularidades de cada grupo humano. Seu objetivo não era estudar uma sociedade específica, mas identificar o que há nela de universal; por exemplo, sistemas de parentesco e restrições matrimoniais. Graças aos índios, por exemplo, sua compreensão do incesto ultrapassou as explicações biológicas ou morais. A proibição de manter relações sexuais com certas mulheres (como a mãe ou a irmã) e a permissão para tê-las com outras teceram as alianças fundadoras da vida social. O sistema de parentesco é o meio pelo qual se cumpre a transição entre a natureza e a cultura. Explica, por exemplo, como se formou a economia do sertão no Brasil colonial, a partir da miscigenação e do escambo entre os tupis e os portugueses.

Na monumental Mitológicas, de 1960, com mais de 2 mil páginas, Lévi-Straus analisou 813 mitos originários de povos do continente americano, desde os bororos, os jês e os tupi-cavaíbas do Brasil até os hopi, os pueblo, os mohawk e os kwakiutl da América do Norte. No primeiro volume, intitulado O Cru e o Cozido, comparou a análise conjunta dos mitos americanos à audição de uma sinfonia. Os músicos, porém, estão separados no tempo e no espaço, e cada um executa seu fragmento sem saber a partitura completa. Só é capaz de ouvir a música inteira quem estiver a distância. O concerto, segundo Lévi-Strauss, iniciou-se há milênios e hoje poucos músicos remanescentes continuam a tocar na orquestra.

Isolamento
No Maranhão, Karapiru, um indígena Awá, é um dos remanescentes da orquestra. Sobreviveu a um ataque de homens armados e, durante dez anos, morou sozinho, se escondendo na floresta. Agora vive com outros Awá, que são caçadores-coletores e nômades em constante movimento. Em Rondônia, outro índio solitário talvez seja o único sobrevivente de uma tribo massacrada por grileiros que ocuparam a região de Tanuro. Vive em fuga e é conhecido como “homem do buraco”, porque escava grandes covas para se esconder e guardar seus alimentos. Desde 1987, a Fundação Nacional do Índio (Funai) tem um departamento dedicado aos povos indígenas isolados, cuja política é fazer contato somente nos casos em que sua sobrevivência está em risco iminente. Em vez disso, a Funai busca demarcar e proteger suas terras de invasores.


Os povos isolados têm o direito de decidir se preferem viver em isolamento ou não. Para exercer esse direito, porém, precisam de tempo e espaço. [muito justo, justíssimo que exerçam esse direito e outros - desde que também tenham deveres e os cumpram; 
a classificação,  real e honesta, de que são seres humanos iguais a nós, é plenamente válida, desde que em todos os aspectos, incluindo que nós temos deveres e obrigação de cumpri-los.
inaceitável é que só tenham direitos, benesses, impunidade e nenhuma obrigação.] É o caso dos Piripkura, ou o “povo borboleta”, como são chamados pelos “Gaviões”, com quem interagem. Eles falam Tupi-Kawahib, o mesmo tronco linguístico de vários outros povos do Brasil. Os Piripkura eram cerca de 20 pessoas quando a Funai fez o primeiro contato no final da década de 1980. Depois, voltaram para a floresta, e mantêm relações esporádicas com os sertanistas. Somente sobreviverão se suas terras forem protegidas. Há centenas de grupos isolados na Amazônia.

Agora, o presidente da Funai, Marcelo Augusto Xavier, pretende nomear o antropólogo Ricardo Lopes Dias para a Coordenadoria Geral de Índios Isolados e Recém Contatados. Formado pela Faculdade Teológica Sul Americana, atuou por mais de dez anos para a Missão Novas Tribos do Brasil (MNTB), organização que tem por objetivo evangelizar os indígenas. Lopes Dias terá a missão de tornar o índio cada vez mais “um ser humano igual a nós”, para usar a expressão do presidente Jair Bolsonaro.

Voltemos à antropologia, que explica muitas coisas. Papa do estudo das religiões, o escocês Victor Turner (1920 — 1983) também bebeu das águas das sociedades primitivas. Tendo por base os Lunda-Ndembus, na região Noroeste da antiga Rodésia do Norte, atual Zâmbia, entre 1950 e 1954, viveu na aldeia e estudou o papel dos ritos, dos símbolos e das metáforas nos dramas sociais. Nesse período, de tempos em tempos, eclodiram conflitos, nos quais Turner identificou um padrão universal:
Primeiro, uma crise irrompia no cotidiano, expondo as tensões existentes; depois, os envolvidos acionavam suas redes de parentela, relações de vizinhança e amizade, e a crise se ampliava; a seguir, surgia a turma do deixa disso, que buscava a conciliação e soluções em rituais coletivos; finalmente, havia um rearranjo e as posições e relações eram redefinidas, ou não se chegava a um acordo e a cisão se tornava inevitável, seguindo a clivagem de parentesco e suas alianças, o que daria origem a uma nova aldeia. Qualquer semelhança com o que também acontece nas religiões e na política não é mera coincidência.

 Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo - Correio Braziliense


sexta-feira, 29 de abril de 2016

A mulher que se achava filha de Getúlio, o pai do Brasil Maravilha e a órfã do golpe que não houve



A doida mansa de Taquaritinga que se dizia herdeira do Banco do Brasil era mais sensata que o fundador de um país inexistente e a alma penada que uiva no Palácio do Planalto

Doida mansa que se dizia herdeira do Banco do Brasil era mais sensata que Lula e Dilma

Já contei aqui a história da doida mansa que, no começo dos anos 60, apareceu no portão da minha casa em Taquaritinga para buscar a chave do Banco do Brasil. Ela quis saber se eu era filho do prefeito. Disse que sim. A mulher negra, franzina e maltrapilha informou que era filha de Getúlio Vargas. Achei que aquilo era coisa a ser tratada por gente grande e fui chamar minha mãe.

Ela se identificou novamente e revelou a dona Biloca que o pai lhe deixara como herança o Banco do Brasil. Com o suicídio, tornara-se dona da grande instituição financeira, incluídos bens imóveis e funcionários. Como as chaves das centenas de agências espalhadas pelo país ficavam sob a guarda do prefeito, ela deveria apenas, sempre que quisesse ou precisasse, solicitá-las ao chefe do Executivo municipal.

Era por isso que estava lá, repetiu ao fim da exposição. Dona Biloca percebeu que aquilo iria longe, decidiu passar a pendência adiante e transferiu a solução para o primogênito ─ que, para sorte de ambas, trabalhava no Banco do Brasil de Taquaritinga. Depois de ensinar-lhe o caminho mais curto, recomendou que fosse até a agência, procurasse um moço chamado Flávio e transmitisse o recado: “Diga que a mãe dele mandou dar um jeito no problema da senhora”.

O jeito que deu confirmou que meu irmão mais velho era mesmo paciente e imaginoso. Ao saber com quem estava falando, dispensou à visitante as deferências devidas a uma filha de presidente da República, ouviu a história com cara de quem está acreditando em tudo e, terminado o relato, pediu licença para falar com o gerente. Foi ao banheiro e voltou com a informação: a chave estava no cofre da agência. Mas só poderia entregá-la se a filha de Getúlio confirmasse a paternidade ilustre. “A senhora precisa buscar a certidão de nascimento no cartório”, explicou Flávio. Ela ficou feliz. Avisou que em meia hora estaria de volta com o papel. Reapareceu três ou quatro meses mais tarde, mas no portão da minha casa, de novo atrás do prefeito. Mais uma vez foi encaminhada ao moço da agência, que liquidou a questão do mesmo jeito. O ritual foi reprisado quatro vezes em menos de dois anos. Até que um dia ela saiu em direção ao cartório e nunca mais voltou.

Lembrei-me da doida mansa que coloriu minha infância quando o presidente Lula registrou em cartório um Brasil inexistente. Tinha trem-bala, aviões pontuais como a rainha da Inglaterra, rodovias federais de humilhar motorista alemão, luz e moradia para todos, três refeições por dia para a nova classe média, formada pelos pobres de antigamente. Quem quisesse ver mendigo de perto que fosse até Paris e se contentasse com algum clochard. A transposição das águas do São Francisco havia exterminado a seca e transformado o Nordeste numa formidável constelação de lagos, represas e piscinas. O sertão ficara melhor que o mar. Os morros do Rio viviam em paz, os barracos valiam mais que as coberturas do Leblon. E ainda nem começara a exploração do pré-sal, que promoveria o Brasil a presidente de honra da OPEP e faria da potência sul-americana uma Noruega ensolarada.

No país do cartório, o governo não roubava nem deixava roubar, o Mensalão nunca existira, os delinquentes engravatados estavam todos na cadeia, os ministros e os parlamentares serviam à nação em tempo integral e o presidente da República cumpria e mandava cumprir cada um dos Dez Mandamentos. Lula fizera em oito anos o que os demais governantes não haviam sequer esboçado em 500.

Daqui a alguns anos, é possível que um filho do prefeito de São Bernardo do Campo tenha de lidar com um homem gordo, de barba grisalha, voz roufenha e o olhar brilhante dos doidos de pedra, exigindo a devolução da maravilha com firma reconhecida em cartório. A filha de Getúlio tropeçara na falta da certidão de nascimento. O pai do país imaginário estará sobraçando o papel cheio de selos, carimbos, rubricas, garranchos e assinaturas.

Tornei a lembrar-me da herdeira do Banco do Brasil ao ver o que Dilma Rousseff anda fazendo para continuar no emprego que já perdeu. Daqui a poucos anos, poderá aparecer na porta da casa do prefeito de Porto Alegre a mulher de terninho vermelho, calça preta e cara de desquitada de antigamente que, com aquele andar de John Wayne, zanza pelas ruas repetindo o mesmo grito de guerra: “Foi golpe!”

Apesar do juízo avariado, nem ela vai querer de volta o país que destruiu. Só exigirá a chave do Palácio do Planalto. Para livrar-se do problema, os filhos do prefeito devem pedir-lhe que mostre a certidão assinada pelos golpistas. E presenteá-la com um exemplar da Constituição.

Fonte: Coluna do Augusto Nunes