O vice-presidente da
República, Michel Temer, é um homem livre. Fala o que quiser. Não é bobo e conhece os jornalistas. Nesta quinta, ele
manteve um encontro com empresários em São Paulo, organizado pela empresária
Rosângela Lyra, que faz parte do movimento
“Acorda, Brasil”, de oposição ao
governo. Atenção! O
jornalismo petista infiltrado na grande imprensa (uma praga!) a chama de “socialite”. Com a
devida vênia, para mim, “socialite” passa
o dia tomando champanhe e discutindo com seu cabeleireiro esquisitão como vai
se mostrar em público. Rosângela
trabalha. Se ela fosse do MTST, os jornalistas a chamariam de “ativista”.
Nota antes que
continue: concedi uma palestra nesta terça a uma parte da comunidade judaica de
São Paulo. Um dos presentes me perguntou se existe censura à imprensa no
Brasil. Eu
afirmei que a única censura é aquela imposta pelo jornalismo de esquerda. Rosângela Lyra é a representante no país de uma grife que é, se me
permitem, grife na própria França. Ela
trabalha. Ganha o pão com o seu talento. Se ela invadisse propriedade alheia,
seria chamada de “militante”, “ativista” e até “mártir”. Não tenho mais saco para isso. Aliás, ninguém mais tem. Nem os
leitores! Adiante.
Temer foi indagado, não tratou do
assunto de moto próprio, das hipóteses
que estão dadas para Dilma: renúncia, impeachment
ou cassação pelo TSE.
Respondeu com a devida tranquilidade. Afirmou não acreditar que a
petista desista do mandato, lembrando que ela é “guerreira”. E que fique
claro: ele usou a palavra “guerreira”,
não “guerrilheira” ou “terrorista”, para ficar na espécie do
crime que a presidente cometeu no passado.
Sobre o impeachment,
ponderou: “Ninguém vai resistir três anos e meio com esse
índice baixo [de popularidade]. Se a economia melhorar, acaba voltando um
índice razoável”. Mas acrescentou: “É preciso trabalhar para estabilizar as
relações com a sociedade e a classe política! E ponderou: “Mas, se ela
continuar com 7% e 8% de popularidade, fica difícil”.
Conspiração? Não!
Senso de realidade. Até
porque o vice tratou da hipótese de ele próprio deixar o cargo caso a chapa
seja cassada pelo TSE: “Se o tribunal cassar a chapa,
acabou. Eu vou para casa feliz da vida”. E emendou sobre Dilma: “Ela
vai para casa… Não sei se vai feliz ou não, cada um tem a sua avaliação”.
Temer chegou a demonstrar alguma
irritação quando um dos convidados perguntou se ele entraria para a história
como estadista ou como oportunista: “Eu
jamais seria oportunista, quero deixar muito claro isso. Em momento algum eu
agi de maneira oportunista. Muitas vezes dizem: ‘Ah, o Temer quer assumir a
Presidência’, mas eu não movo uma palha para isso”.
E, vá lá, justiça se
faça,
Temer, em conversas públicas ou privadas, tem reforçado a posição da
presidente. A governanta é que não se
garante, como é evidente.
O vice-presidente foi indagado ainda
sobre o Orçamento com previsão de déficit, enviado pelo governo. Manifestou sua
discordância: “Se você enxugar contratos, consegue fazer. Às vezes, tem um
contrato de R$ 300 milhões que, na realidade, pode ser por R$ 220 milhões. Você
economiza. Se, ao final, for preciso alguma oneração tributária, não é com a
criação de novo tributo. Pode pegar um e outro tributo existentes e aumentar a
alíquota temporariamente”.
Ou por outra: o vice-presidente voltou a se manifestar
contra a recriação da CPMF, um dos desastres protagonizados por Dilma quando
teve a ambição de que poderia ser a coordenadora política. O outro, gigantesco,
foi justamente o envio de uma peça orçamentária prevendo déficit, decisão da
qual ela já recuou.
Temer insistiu que a situação do Brasil
tende a melhorar e deixou claro que acha que a presidente pode recuperar a
popularidade. E, por óbvio, se negou a assinar recibo de idiota. Sabe que a
economia, mais do que a Lava-Jato, está derrubando Dilma. Ele vocalizou o que
todos estamos especulando: como ficar os próximos três anos sob o comando de
uma presidente inerme?
Sei que muita gente se esquece, mas
Temer também foi eleito. Pode e deve dar a sua opinião.
Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo