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domingo, 15 de maio de 2022

Desbalcanização ou semipresidencialismo? - Alon Feuerwerker

Análise Politica

A evidência de persistir, e crescer, entre nós um desarranjo institucional vem sendo confrontada com a esperança de que o “banho de urna” represente um reset, um Ctrl+Alt+Del. O sonho nutre-se, entre outras fontes, de um certo traço sebastianista, de raízes bem conhecidas na história luso-brasileira. Nosso surto sebastianista mais atual canta a saudade dos “bons tempos da fundação da Nova República”. É o mais novo mito a operar como promessa de tábua de salvação. [A Nova República foi tábua de salvação para os ladrões dos cofres públicos, sendo hours concours a quadrilha petista, comandada pelo descondenado, mas não inocentado, Lula da Silva e que agora tenta desesperadamente voltar ao poder para completar o que iniciaram.]

O sebastianismo da ocasião omite que, quando o eleitor foi chamado pela primeira vez a opinar sobre a Nova República, em 1989 (o estelionato eleitoral de três anos antes não conta), varreu da cena todos os avalistas dela. Restaram apenas três personagens: 1) Fernando Collor, de origem na Arena/PDS; 2) Luiz Inácio Lula da Silva, cujo partido recusara apoiar Tancredo Neves contra Paulo Maluf em 1985; e 3) Leonel Brizola, que, derrotadas as Diretas Já em 1984, preferia dar mais um ano a João Figueiredo e eleições gerais em em 1986.

Esquece ainda que o produto da Nova República e de seu filho mais célebre, a Constituição de 1988, não é propriamente bom. Dos quatro presidentes eleitos que precederam o atual, metade sofreu impeachment, e há mais de trinta anos o país alterna voos de galinha e mediocridade econômica. Mais que tudo, é visível e aparentemente irreversível o citado desarranjo institucional, com diversos núcleos de poder retalhando com os dentes o que deveria ser um espaço de comando do Executivo, um poder moderador na prática. [Lembrete: somando o esforço despendido para impichar os dois presidentes expulsos, multiplicando o total por 100,  ainda não alcança a metade dos esforços despendidos, inutilmente,  pelos inimigos do Brasil tentando impedir o presidente Bolsonaro;
nem o Maia, vulgo pela Odebrecht 'botafogo', inimigo do capitão, encaminhou sequer  um pedido  - não por falta de vontade e sim por FALTA DE  CRIME a SER PUNIDO. 
Collor voltou eleito pelo POVO, =  absolvição pelo eleitor = e foi absolvido pelo STF - não foi descondenado e sim absolvido
Já a 'engarrafadora de vento', mesmo continuando elegível por hábil manobra realizada quando condenada à pena do impeachment, pelo Senado Federal, foi CONDENADA PELO ELEITOR mineiro = perdeu eleição em 2018 para o Senado.]

Mas Paulo Pontes tinha mesmo razão, a profissão preferida do brasileiro é a esperança, e neste ciclo ninguém soube até agora interpretar isso melhor que Lula. Por fortuna ou virtù, ou ambas, calhou de na caminhada de agora encontrar um Geraldo Alckmin perambulando pela estrada da política depois de colher um mau resultado em 2018 e de ver-se abandonado pelo partido no qual um dia foi prócer. E tudo se encaixou perfeitamente para revigorar a narrativa sebastianista do “como teria sido melhor de PT e PSDB não tivessem brigado” em 1994.

E lá vamos nós a mais um “banho de urna”, do qual emergirá um vitorioso eleitoral apenas para, em seguida, bater de frente com o fato cruel de ter chegado tarde na festa. Notará que, fruto das estruturas e das crises legadas pela Nova República, o poder real em Brasília já vem previamente distribuído. O orçamento está na prática sob o comando do Congresso Nacional, e o Supremo Tribunal Federal instituiu-se como uma versão para o século 21 do Poder Moderador (com maiúsculas) formalmente abolido junto com a Monarquia ainda no século 19.

E vem aí a onda pelo semipresidencialismo, um parlamentarismo repaginado com a missão de colocar no papel e dar base legal à realidade que se vem impondo na prática. Palpite: é mais fácil esse expediente ser absorvido por um eventualmente reeleito Jair Bolsonaro ou por um nome da terceira via raiz do que por um Lula renascido das cinzas da Lava Jato ou por um Ciro Gomes que insiste em ter ideias próprias a respeito do que fazer com o Brasil depois de três décadas e meia de Nova República.[Ops ... quem, e quando, vão mexer na Constituição para implantar um semipresidencialismo? do alto da nossa ignorância jurídica, entendemos que o  artigo que estabelece quem exerce o Poder Executivo, terá que ser modificado e vai complicar. Além do que o presidente Bolsonaro reeleito para o cargo de Presidente da República Federativa do Brasil, com em primeiro turno, com larga margem sobre o resto, não vai aceitar ser um presidente meia sola, exceto com prévia mudança na Constituição Federal.] 

Ou seja, está garantida uma segunda dúvida. A primeira, naturalmente, é a respeito de quem ganhará a eleição presidencial. Mas talvez a segunda venha a ser mais relevante para os desdobramentos a partir de 2023: como o eleito fará para “desbalcanizar” o Estado brasileiro? 
Ou terá de se conformar com o aspecto hoje quase ornamental do cargo e dançar conforme a música, com pouca ou nenhuma margem de manobra para transformar o apoio popular em ações de governo?

Alon Feuerwerker,   jornalista e analista político. 

 

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

Bolsonaro está mais forte. E as oposições? [quais oposições? tem algum aoposição no Brasil?

Felipe Maia

Não há escolha política acertada sem uma correta compreensão das relações de força. Por isso é forçoso constatar que Bolsonaro hoje está mais forte que há dois anos. As razões que explicam o fenômeno ainda estão por ser mais bem entendidas, mas a leitura dos fatos dificilmente permite outra conclusão. A vitória dos candidatos do governo nas eleições para as mesas das duas casas legislativas no início de fevereiro consolidou um realinhamento de forças políticas que teve início em meados do ano passado quando Bolsonaro livrou-se de Sérgio Moro e ampliou a participação do assim chamado “centrão” em seu governo. 
[NÃO EXISTE oposição ao governo Bolsonaro - o que existe é um amontoado de insatisfeitos com o resultado das eleições 2018, formado por adeptos do 'quanto pior, melhor' somados aos inimigos do Brasil, misturados aos inimigos do presidente e os sempre derrotados petistas e assemelhados  - que no desespero sentem que a caminhada dos brasileiros e brasileiras, sob o comando do Presidente Bolsonaro, rumo ao Brasil da ORDEM E PROGRESSO, do PLENO EMPREGO, da INDEPENDÊNCIA ECONÔMICA, da SAÚDE, da EDUCAÇÃO, da ERRADICAÇÃO TOTAL da Miséria, é inexorável, inevitável e exitosa. 
São tais coisas que pretendem - ou são consideradas - oposição?]

O que foi visto à época como um seguro contra um eventual processo de impeachment, pode se tornar agora o modus operandi permanente da relação entre governo e legislativo. Uma eventual reforma ministerial, com se especula, seria o próximo passo na reorganização das forças do governo. Ela poderia consolidar a aliança entre o grupo palaciano e os partidos dominantes no Congresso, num amálgama de interesses corporativos, religiosos e econômicos, em que se mistura a agenda cultural reacionária com a economia ultraliberal, que vê no desmonte das redes de proteção social e ambiental a tábua de salvação  ... 

... mas para derrotar o grupo de Rodrigo Maia e Baleia Rossi até em seus próprios partidos. Estima-se que até nos partidos da oposição de esquerda a aliança vencedora tenha amealhado votos, tendo sido emblemática a divisão da bancada do PT na escolha do posto que lhe cabia na composição da mesa diretora da casa. O arranjo encabeçado por Rodrigo Maia, que reunia partidos de centro-direita independentes do governo e a oposição de esquerda, se desfez. Foi essa articulação que permitiu manter a Câmara longe do controle do governo, o que serviu como um muro de contenção para reduzir os danos da política destrutiva de Bolsonaro. Desfeito o obstáculo, o governo tem agora caminho mais livre para encaminhar sua agenda no Legislativo. 

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E isso ainda mais se Bolsonaro conseguir manter o controle de outros elementos chave da dinâmica política. Em sua relação com o Judiciário, ele vem, aos poucos, ganhando terreno. Já indicou um ministro ao Supremo Tribunal Federal, que vai se revelando bastante colaborativo, e ainda poderá indicar ao menos mais um até o fim de seu mandato, o que não é suficiente para alterar a composição do plenário que é hoje, com todas as críticas que se possa ter a ela, resistente aos impulsos autoritários.

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No novo quadro, ele fica mais isolado no “mundo ocidental”, mas não no planeta, pois os autoritarismos de direita têm força no globo, na Índia e na Rússia, que são potências, e que não vão isolar Bolsonaro por razões democráticas. Nem a China o fará.

A resistência ao autoritarismo e a um segundo mandato de Bolsonaro dependem da política interna brasileira. Vê-se que o governo se refez, mas e a oposição? Seria ela capaz de superar sua fragmentação? As diferenças políticas entre a oposição liberal de João Dória e os partidos de esquerda dificilmente permitiriam a constituição de um movimento programaticamente unitário, mas não deveriam impedir a colaboração em torno de pontos em comum, notadamente, a defesa da Constituição de 88 e a recusa dos “negacionismos” em políticas de saúde ou ambiental, o que, no entanto, apenas muito timidamente se esboça. A derrota da frente mais ampla na eleição para a mesa da Câmara corre o sério risco de ser mal interpretada, enfraquecendo a adesão a iniciativas de oposição que transcendem as divisões programáticas, quando, ao contrário, deveria favorecer o reconhecimento da força do adversário e da gravidade da ameaça que representa.

Na esquerda, a prevalência de estratégias partidárias autocentradas também dificulta a construção de uma concertação mais ampla. É assustadora a perspectiva de repetição da configuração eleitoral de 2018 que pode levar ao mesmíssimo resultado. Ou não aprendemos nada sobre a força do autoritarismo no mundo e no Brasil? Esse é um desafio político, que não se supera sem um realinhamento de orientações partidárias para oferecer à população uma alternativa nova, capaz de dialogar mais amplamente com uma sociedade que é tão heterogênea quanto desigual. Não podemos deixar que a ilusão de uma revanche ou de um tira teima das eleições passadas nos conduza novamente ao abismo autoritário que se anuncia.

MATÉRIA COMPLETAFelipe Maia, professor e pesquisador

segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

O ministro, a economia e o desemprego - O Estado de S. Paulo

Almir Pazzianotto Pinto

Sem reduzir a miséria e recuperar o mercado de trabalho Bolsonaro terá poucas chances em 2022

Dentro de alguns dias o governo Bolsonaro completará dois anos. Metade do mandato foi consumida com providências mal alinhavadas para a retomada do crescimento. [pouco foi possível, ao presidente Bolsonaro,  realizar em prol do Brasil, nesses quase dois anos - além da pandemia, minimizada por algumas apenas para reduzir seus efeitos na economia de todos os países do mundo e tornar mais fácil atribuir falhas ao presidente Bolsonaro.

Mas em 2021, aceitem ou não aceitem as coisas começam a melhorar para o Brasil. Melhora que beneficiará os brasileiros e o presidente Bolsonaro terá condições de em um novo mandata governar - o que até afora tem sido dificultado pela pandemia e pelos inimigos do Brasil.] - ma Incorrigíveis otimistas falam em recuperação da economia, embora admitam que os resultados são inconvincentes. É o que mostram as estatísticas sobre desemprego.

Há contradição em termos quando se fala em crescimento do produto interno bruto (PIB) se índices oficiais revelam que o desemprego atingiu no último trimestre 14,6% e pode chegar a 17% em 2021. Afinal, ninguém ignora que o mercado de trabalho é o espelho da economia.

As maiores taxas de desocupação registram-se na Bahia, 20%, em Sergipe, 19,8%, Alagoas, 17,8%, Amazonas, 16,5%, e Rio de Janeiro, 16,4%. São Paulo, o Estado mais populoso e desenvolvido, segundo o IBGE tem 13,6% de desempregados. Os menores índices pertencem a Santa Catarina, 6,9%, Paraná, 9,6%, e Rio Grande do Sul, 9,4%. Segundo as mesmas pesquisas temos 5,9 milhões de desalentados, que abandonaram a ideia de recolocação.

A responsabilidade pela crise não pode ser atribuída apenas ao presidente Jair Bolsonaro. [por ocupar o cargo mais importante da Nação, o presidente se torna o mais visível - o que favorece em muito seus inimigos quando tentam responsabilizá-lo - mas ele está entre os menos culpados = além da pandemia, foi vítima da ação dos adeptos do 'quanto pior, melhor', incrustados nos mais altos cargos da República.] É indesmentível, porém, que se aprofundou, turbinada pelo ambiente político e pela pandemia de covid-19, cujas extensão e gravidade não consegue entender. Em 1.º/1/2019, quando tomou posse, o Brasil já se achava em situação pré-falimentar. A presidente Dilma Rousseff foi deposta pelo descalabro da economia, com inevitáveis repercussões nas contas públicas e privadas. Não o foi pelas pedaladas. Incapacidade administrativa, embora em elevado grau, não bastaria para despojá-la de mandato obtido nas urnas em eleições democráticas. O País, todavia, já não se conformava com a inépcia governamental. Embora incompetência não seja crime, o despreparo de Dilma, motivo geral de chacotas, combinada com forte dose de arrogância, colaborou de forma decisiva para enquadrá-la no artigo 85, V, da Constituição.

Jair Bolsonaro, capitão de Artilharia e deputado federal com vários mandatos, passou a ser olhado como tábua de salvação. Para a vitória sobre Fernando Haddad contribuíram o temor ao Partido dos Trabalhadores, a inconsistência dos adversários e a punhalada em Juiz de Fora, impedindo o debate revelador do viés autoritário e a demonstração de precária base política e intelectual.

Dentro da situação caótica em que se encontrava o País, o presidente Bolsonaro buscou economista de renome para responder pelo Ministério da Economia, ao qual incorporou o arruinado Ministério do Trabalho. Após alguns meses de prestígio, o ministro Paulo Guedes se enfraqueceu por se revelar incapaz de revigorar a economia e de enfrentar as questões sociais. Permanece empenhado em conseguir o equilíbrio das contas públicas, meta inalcançável em período de pandemia. O primeiro parágrafo de editorial do Estado é certeiro e definitivo: “O ministro da Economia, Paulo Guedes, tem uma vaga ideia de onde está, ignora para onde vai e desconhece, portanto, como chegar lá” (25/11, A3).

Afinal, dirá alguém, o que tem que ver o ministro Paulo Guedes com o mercado de trabalho? Tudo. Geração de empregos é problema econômico que não se resolve ao sabor do acaso. Depende de pesados investimentos públicos e privados, internos e vindos do exterior. Exige meticuloso planejamento em médio e longo prazos, ainda que ao preço de alterações nas legislações trabalhista e tributária e da Constituição federal. O Ministério da Economia é fundamental para a geração de desenvolvimento e emprego. Mal conduzido leva o País à ruína, como mais de uma vez aconteceu.

É impossível a rápida abertura de vagas para 15 milhões de desesperados e 6 milhões de desalentados, que desistiram de gastar dinheiro à procura de serviço. Se conseguirmos superávit anual de 2 milhões, meta difícil de ser atingida em clima de pandemia, levaríamos uma década para reduzir o desemprego a índices civilizados.

O que nos aguarda em 2021? Se houver vacina eficaz no volume necessário e o presidente abandonar a postura negacionista, menos mal. Até lá, porém, medidas obrigatórias de isolamento social retardarão a retomada das atividades econômicas e manterão o desemprego em níveis elevados.

O período natalino está às portas. Como celebrarão as festas de Natal e de ano-novo os desempregados, os desalentados, os empresários quebrados e a classe média empobrecida? O comércio aguarda avidamente consumidores com o dinheiro do 13.º salário para gastar. Encerradas as compras de final de ano, não se sabe como reagirá a economia no primeiro trimestre de 2021, com o andamento dos meses de recesso.

Sem reduzir a miséria e recuperar o mercado de trabalho o presidente Jair Bolsonaro terá poucas chances de se reeleger. Às oposições compete valer-se das experiências deixadas pela fragmentação partidária. Se desejarem vencer em 2022, devem construir frente única em torno de candidato honesto, experiente, viável e com perfil popular, capaz de derrotar o sectarismo bolsonarista e a máquina governamental.

Almir Pazzianotto Pinto, advogado - ministro do Trabalho governo Sarney e presidente do TST

 

quarta-feira, 15 de maio de 2019

Saudades do Meirelles

“Em quatro meses de blá-blá-bá, muita falta de foco e crises fabricadas pelo próprio presidente Bolsonaro, seus filhos e aliados ideológicos, o governo ainda patina na economia”


Se dissermos que já tem gente sentindo saudades do ex-presidente Michel Temer, que foi preso pela segunda vez pela Operação Lava-Jato na sexta passada e foi solto, novamente, ontem, pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), estaríamos fazendo uma provocação; mas, com certeza, o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, já começa a dar saudades. Meirelles pegou a economia em profunda recessão, com inflação acima do teto, a maior bagunça nas estatais e os gastos públicos numa espiral ascendente; durante o período do mandato de Temer, conseguiu domar a economia e dar uma arrumada na casa, baixou a inflação e os juros; entregou o país em certo nível de atividade econômica e expectativa de crescimento para este ano acima de 2,5%.

Em quatro meses de blá-blá-bá, muita falta de foco no que é realmente importante e crises fabricadas pelo próprio presidente Bolsonaro, seus filhos e aliados ideológicos, o governo ainda patina na economia, embora tenha avançado alguma coisa na área de infraestrutura. Uma herança do governo Temer, em especial do ex-ministro Moreira Franco, responsável pelo programa de parcerias público-privadas e concessões, que o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, que havia participado de sua equipe, agora está tocando de forma acelerada e com reconhecida competência.

A ata da reunião da semana passada do Conselho de Política Monetária (Copom), só divulgada ontem, foi um banho de água fria no otimismo do mercado. O Banco Central (BC) decidiu, pela nona vez seguida, manter a taxa básica de juros da economia, a Selic, em 6,5% ao ano. Segundo o Copom, existe “probabilidade relevante” de que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro tenha registrado um “ligeiro” recuo no primeiro trimestre de 2019. Pesou na avaliação a situação da economia mundial, que sofre os efeitos da guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, as duas maiores potências econômicas do mundo atual. “Os riscos associados a uma desaceleração da economia global permanecem e que incertezas sobre políticas econômicas e de natureza geopolítica podem contribuir para um crescimento global ainda menor”, afirma o Copom.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, assustou ainda mais os agentes econômicos com as declarações que deu na Comissão Mista do Orçamento da União, à qual compareceu ontem, na Câmara. Disse que a previsão de crescimento do PIB neste ano caiu para 1,5%. Para Guedes, a economia brasileira está “no fundo do poço”. O Orçamento de 2019 aprovado pelo Congresso, durante o governo Temer, previa um crescimento de 2,5% do PIB. Como isso não vai ocorrer, o país entrou no que Guedes chama de “abismo fiscal”, que vai exigir cortes na Esplanada dos Ministérios e, talvez, uma revisão do limite do deficit fiscal.

Quanto pior, pior
Guedes dramatiza a situação também para pressionar o Congresso a aprovar a reforma da Previdência, vista como tábua de salvação do governo, mas não se pode dizer que isso é uma chantagem. A situação é realmente grave, e o governo não conseguiu, até agora, empolgar os agentes econômicos como se esperava logo após as eleições. O problema não é apenas a situação fiscal. De parte dos analistas do mercado financeiro, a convicção é de que a reforma da Previdência será aprovada pelo Congresso, ainda que mitigada, o que abrirá caminho para outras medidas favoráveis de natureza econômica e tributária. Essa aposta, porém, tem sua credibilidade arranhada pela sucessão de crises criadas pelo próprio governo.


A crise mais séria, para o mercado, é a disputa entre os militares e os filhos do presidente da República, que são porta-vozes do chamado “grupo olavista”. Há que se destacar que as propostas ultraliberais de Guedes para a economia não têm nenhuma contradição com a retórica do chamado “grupo olavista”, que defende soluções ultraconservadoras nas políticas públicas e nos costumes, além de apostar na radicalização política, verbalizada pelo guru político do presidente Bolsonaro, Olavo de Carvalho.

Acontece que o “modus operandi” do clã Bolsonaro é muito truculento, desconectado da realidade dos problemas sociais e econômicos e focado na ocupação de mais espaços no governo por aliados políticos do grupo. Além disso, o presidente Bolsonaro comporta-se de forma errática, sem prioridade clara em relação à agenda do governo, que é sobressaltada por medidas de impacto que miram muito mais a sua base eleitoral mais radical do que o conjunto da sociedade. De certa forma, os indicadores econômicos estão mostrando ao presidente Bolsonaro que a rapadura é doce, mas é dura, como se diz no jargão popular. O próprio ministro Paulo Guedes, com razão, joga a culpa da situação no passado, porém, precisa cair na real: o problema agora é do atual governo, que deixou a economia piorar.

Nas Entrelimhas - Luiz Carlos Azedo - CB


 

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Análise: Lula à espera de uma tábua de salvação



Decisão do STF sobre prisão após condenação em segunda instância ainda é incógnita


Condenado em segunda instância pelo TRF-4, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está com seu destino nas mãos do Supremo Tribunal Federal (STF). Se o Tribunal Regional Federal confirmar, após recursos, a execução imediata da pena de 12 anos e 1 mês de prisão, o petista precisará de um salvo-conduto para não ser preso. Ele vai apelar ao Superior Tribunal de Justiça (STJ). Mas, pelo retrospecto, a Corte não costuma rever decisões do TRF-4. O degrau seguinte no labirinto judicial é o Supremo. A última instância do Judiciário brasileiro é que tem o poder para dar a Lula o direito de não ser preso. Ou, se preso já estiver, sair da cadeia para esperar uma decisão final sobre o caso do apartamento no Guarujá em instância superior.

O que o STF fará ainda é um incógnita. Em 2016, o placar foi de 6 a 5 para entender que condenados em segunda instância já podem começar a cumprir a pena. Tudo o que se disse e escreveu até aqui indica que esse resultado pode mudar. E mudar para entendimento contrário: a prisão não viria mais em segunda instância, mas após recursos no STJ, como já propôs o ministro Dias Toffoli. Essa inversão vem sendo falada muito antes da condenação de Lula. Ou seja, não tem relação direta com o caso do ex-presidente. Mas agora tem. No ano passado, o STF teve que enfrentar dilema semelhante ao analisar caso que afetaria diretamente o tucano Aécio Neves, ameaçado de afastamento do cargo de senador. [de forma gradativa e ainda insegura, se consolida no STF o entendimento de não ser reavaliado a decisão tomada em 2016 - ficaria muito evidente, usem as justificativas que conseguirem, que uma decisão invertendo o placar seria para favorecer Lula.
Não fica bem para o Supremo, que foi chamado por Lula de corte acovardada, mudar qualquer decisão de forma a favorecer àquele condenado - consolidaria o entendimento de que Lula não mentiu na apreciação que fez da coragem da Suprema Corte.
As ameaças da ré, e senadora, Gleisi Hoffmann e do  sem noção Lindbergh, também não ajudaram em nada o ex-presidente.]

O mineiro acabou mantido no Senado. Hoje, os ministros do STF, mesmo que pautem um processo que diga respeito a outro acusado, terão sempre a figura de Lula pairando sobre suas cabeças. Ontem, o ministro Alexandre Moraes, em sessão na Primeira Turma, disse que pode haver prisão já a partir da condenação em segunda instância. Vai repetir esse voto quando, em data ainda incerta, o plenário examinar o tema? Ainda não se sabe.



Ele pode migrar para o chamado voto médio proposto por Toffoli. E a ministra Rosa Weber que em 2016 votou contra cumprimento de pena após condenação em segunda instância vai mudar de lado? Ela havia declarado que poderia. Mas vai mesmo? A ministra é das mais reservadas da Corte e seus votos só são conhecidos quando ela vota. Favorito nas pesquisas eleitorais, vencedor em todos as projeções de primeiro e segundo turno, Lula não está onde gostaria. Poderia ser o ex-governante prestes a ser reconduzido ao cargo que ocupou por 8 anos. Mas seu trajeto tem tantos obstáculos que seu destino pode ser outro. Ao invés dos salões do poder em Brasília, uma prisão em Curitiba. [continua valendo nossa sugestão: já que o sentenciado Lula da Silva, durante seus desgovernos se especializou em lançamento de pedra fundamental de universidade  - ficando só mesmo a pedra, da universidade nada - ele terá minuto gosto em inaugurar a Penitenciária Federal de Segurança Máxima, inauguração completa, sendo encarcerado na Cela 1, Bloco A, da Ala 1.]

O Globo