Corrupção do PT não se limitou ao
enriquecimento dos cofres partidários, mas se alastrou também para os seus
membros
Qualquer cidadão, por mais desatento que
seja, fica estarrecido com o destino do PT. Um destino político que se tornou
policial. Não há dificuldade em fazer uma reunião da cúpula petista no
xilindró! Lá já estão ex-ministros, tesoureiros, líderes partidários, e assim
por diante. Outros estão na fila, o que vai completar esse quadro da derrisão.
A verborragia
da “perseguição política” e do “golpe” nada mais é que uma tentativa desesperada dos que não foram
ainda condenados ou presos, procurando, assim, escapar do encarceramento
iminente. Os que acreditam em tal palavreado mais parecem religiosos que se
apegam a dogmas. Seriam dignos representantes da religiosidade
petista e comunista. O partido da “ética
na política” tornou-se o símbolo mesmo da imoralidade e da corrupção.
Cabe, então, uma pergunta: como pôde
esse partido, que se anunciou como o da redenção nacional, cair tão baixo? Talvez seja um equívoco conceitual considerar
o PT como social-democrata, do gênero dos partidos europeus que, tendo começado
com o marxismo, enveredaram para uma óptica de transformação social do
capitalismo, no amplo reconhecimento da economia de mercado e do Estado
Democrático de Direito. Embora algumas mentes mais lúcidas do partido tenham
tentado impor essa nova visão, ela terminou não prevalecendo, dada a
animosidade partidária contra a propriedade privada, a economia de mercado, a
liberdade de imprensa e dos meios de comunicação em geral e a democracia.
Não é suficiente considerar as medidas sociais tomadas pelo PT quando no
exercício do poder como essencialmente social-democratas, dado que a própria
experiência europeia mostra que os
partidos democrata-cristãos na Itália e na Alemanha, além da direita francesa
com De Gaulle, seguiram política semelhante. Aliás, muitas medidas sociais,
por exemplo, na Inglaterra, nasceram das consequências sociais da 1.ª Guerra,
no cuidado de órfãos, viúvas e idosos. Há
uma tentativa ainda em curso no País de salvar a concepção de esquerda das consequências
dos governos petistas. É curioso, pois é como se a ideia de esquerda fosse
imaculada, desde sempre válida, o problema consistindo, então, em sua má
realização. Ora, trata-se de uma ideia fundamentalmente religiosa, dogmática,
pois a experiência histórica mostra que a realização
das ideias de esquerda culmina sempre no totalitarismo, no desastre
econômico-social, em políticas liberticidas, quando não no assassinato coletivo de milhões de cidadãos.
No Brasil, ela está acabando na prisão.
Dos males, o menor, pois o País tem uma chance de revigorar sua mentalidade,
sua concepção, e empreender um novo caminho. O que não pode – nem deve – é permanecer em mera
repetição histórica. Analisemos alguns
dos fatores do malogro petista,
tendo presente que não estamos diante de nenhum acidente de percurso, mas de
algo inerente a esta lógica esquerdista. A
corrupção seria um elemento central.
Primeiro – O intervencionismo dos
governos Dilma e Lula em seu segundo mandato origina-se de profunda
desconfiança quanto à economia de mercado, à propriedade privada e à
livre-iniciativa. Tudo foi feito para limitar a vida dos empreendedores, salvo
os grandes grupos empresariais e financeiros que se aliaram ao assalto ao
Estado e aos seus “benefícios”. As bases da corrupção já se faziam presentes
tanto na alocação de recursos quanto na necessidade de os empresários
comparecerem aos balcões da propina. As delações bem mostram o compadrio entre
eles.
Segundo – O PT considerou o lucro
como algo moralmente negativo, algo a ser evitado, devendo os membros
partidários se apresentar como as encarnações do bem, por mais falsa que fosse
essa representação. O lucro deveria ser controlado por uma elite burocrática
partidária, imbuída do esquerdismo de suas concepções.
Terceiro – Ora, se o lucro era
desprezível, qualquer medida para combatê-lo seria justificável, até mesmo
extorquir empresários para dele compartilharem. Ou seja, se o lucro não era
legítimo, a propina e a corrupção enquanto formas de partilha seriam
justificáveis, sobretudo se feitas em nome do partido. Note-se que até hoje o
partido considera como válida a distinção entre corrupção privada e partidária,
a segunda tendo valor moral.
Quarto – De acordo com essa
perspectiva, os fins (partidários)
justificariam os meios (a corrupção, a
propina, saquear estatais), de tal maneira que a imoralidade e a
ilegalidade nada mais seriam do que meios de atuação partidária. A imoralidade
partidária foi, assim, erigida em princípio.
Quinto – A corrupção petista, no entanto, não se restringiu a
enriquecer os cofres partidários, mas se alastrou também para os bolsos de seus
membros. Os milhões de enriquecimento
individual saltam aos olhos e assombram qualquer um. Foi, digamos, um meio
perverso de conversão ao capitalismo, tudo passando a valer.
Sexto – Essa conversão perversa é,
assim, o fruto de uma concepção do mercado como não tendo nenhuma regra, onde
tudo valeria. Na verdade, essa concepção termina por identificar o mercado ao
contrabando, não imperando nenhuma lei. E se a lei não vigora numa economia de
mercado, por que os membros do partido deveriam segui-la?
Sétimo – Para que tal política fosse
bem-sucedida seria necessário que a imprensa e os meios de comunicação em geral
fossem controlados e supervisionados, de tal modo que a verdade não fosse
revelada. Foram inúmeras as tentativas do governo Lula de exercer esse
controle, aquilo que foi eufemisticamente qualificado como “controle social dos meios de comunicação”. O “social” era o acobertamento
da corrupção. Isto é, a corrupção
e a imoralidade partidária não poderiam tornar-se públicas, pois o projeto
partidário terminaria inviabilizado. E é isso que, de fato, está acontecendo.
Por: Denis Lerrer
Rosenfield, professor de filosofia na UFRGS - No Estadão