Taiguara
Rodrigues afirmou à CPI do BNDES que recebeu o montante ao longo de quatro anos
por meio de contratos firmados com a empreiteira
Considerado uma peça-chave para explicar o envolvimento do ex-presidente Lula com a empresa Odebrecht, alvo de investigação
no esquema de corrupção na Petrobras, o
empresário Taiguara Rodrigues dos Santos, sobrinho do petista, afirmou à CPI do BNDES nesta quinta-feira que, ao
longo de quatro anos, recebeu de 1,8
milhão a 2 milhões de dólares em contratos firmados com a empreiteira em Angola.
Taiguara negou
a influência do petista nas obras, mas não convenceu os
deputados ao tentar esclarecer como conseguiu firmar parceria com a gigante
nacional.
Conforme
reportagem de VEJA revelou, Taiguara ganhou contratos de obras após o
ex-presidente Lula ter viajado, com dinheiro da
Odebrecht, para negociar transações para a
empreiteira. O empresário é filho de Jacinto Ribeiro dos Santos, o
Lambari, amigo de Lula na juventude e irmão da primeira mulher do
ex-presidente, já falecida. Foi na obra de ampliação e
modernização da hidrelétrica de Cambambe, em Angola, que o sobrinho de Lula,
como é conhecido no meio empresarial, firmou contrato
milionário com a Odebrecht.
O acerto entre as partes foi formalizado no mesmo ano em que a empreiteira conseguiu no
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) um
financiamento para realizar esse projeto na África. O episódio levou o
Ministério Público a abrir inquérito para investigar a suspeita de tráfico de influência de Lula em benefício
da empreiteira. O petista prestou depoimento ao MP nesta quinta-feira para
dar explicações sobre o caso.
Aos
deputados, Taiguara
admitiu outros contratos com a Odebrecht, um de 280.000 dólares - não deu
detalhes do serviço prestado -, e outro de 750.000 dólares, para a reforma de uma casa de
alto padrão em Angola.
Questionado
pelos membros da CPI, Taiguara negou as evidências e
disse que o ex-presidente teve "influência
zero" nos negócios. Para ele, a relação
que mantém com o ex-presidente e o filho dele, Fábio Luís Lula da Silva, o
Lulinha, "não interfere em nada, nem
positivamente nem negativamente". O
empresário, por outro lado, não conseguiu comprovar
as credenciais que lhe aproximariam dos contratos milionários com a Odebrecht, a
maior empreiteira da América Latina. Ao detalhar o currículo, Taiguara afirmou
ser vendedor desde os 14 anos e negou ter formação acadêmica. "Com o passar dos anos, foram
aparecendo oportunidades, como a que me fez chegar aqui, a de trabalhar em
Angola".
"O senhor tinha
uma relação de parentesco com o Lula. Esse era o seu capital. É isso que lhe
abriu portas",
rebateu o
deputado Arnaldo Jordy (PPS-PA). "Que
razões o senhor acha que levaria uma gigante como a Odebrecht
a contratar a sua empresa, que ocupava uma parte de um prédio de Santos com
cinco funcionários, jamais teria realizado uma obra em São Paulo para trabalhar
numa obra de ampliação de hidrelétrica em Angola? Me dê essa receita
para que todos nós possamos saber como se consegue um negócio desses",
continuou o parlamentar. Não houve resposta convincente.
O empresário também confirmou uma
mudança nos seus padrões de vida: de um morador de um
apartamento de um quarto, ele passou a viver em um duplex de 255 metros
quadrados em Santos e a andar de Land Rover. Taiguara,
no entanto, tentou novamente desvincular a influência de Lula na sua ascensão
social. Agora, ele narra estar passando por momentos difíceis: "Nesse período em que eu estava em um
quarto e sala eu estava bem melhor. De meados de 2014 para cá, com essa queda
brusca do petróleo, Angola não tem trabalho. Nossa empresa está há muito tempo
sem contrato".
O
empresário tentou escapar do depoimento à CPI alegando dificuldades para pagar
passagem e hospedagem. Segundo
ele, sua defesa viajou a Brasília arcando os próprios gastos por uma "gentileza".
Fonte: Revista VEJA
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