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segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Hospital que recebeu visita do papa suspende transplantes no Rio



Lar São Francisco deixou de fazer cirurgias em dezembro afetado pela crise na saúde. O governo do Estado atrasou repasse de R$ 19 milhões

No Natal, a nutricionista Eliene dos Santos Costa, de 54 anos, ganhou o melhor presente de sua vida. Ela estava em casa quando recebeu a ligação de um médico para que fosse imediatamente ao Hospital São Francisco de Assis, na Zona Norte do Rio de Janeiro, para realizar o tão esperado transplante de fígado. Portadora de hepatite, ela aguardava por um doador desde agosto. Para sua surpresa, pois as circunstâncias eram adversas, o procedimento foi feito. “Por causa da crise na área da saúde, não acreditava mais que receberia o órgão”, diz ela, enquanto se recupera na instituição. 

O desfecho positivo só foi possível graças à ação de frei Paulo Batista, diretor da unidade, administrada pela Associação Lar São Francisco. Momentos antes do aviso à paciente, ele havia sido informado da urgência da cirurgia, para que não se perdesse o órgão captado. E bancou o procedimento, a despeito da penúria por que passa o hospital. Prejudicado pelo atraso nos repasses feitos pelo governo estadual, o São Francisco está sem insumos básicos. No dia 16 de dezembro, o religioso havia decidido suspender o atendimento na instituição. Pelos seus cálculos, até 31 de dezembro a instituição deixara de fazer dez transplantes de fígado e 16 renais. A cirurgia de Eliene foi uma exceção.

O episódio ilustra a situação aflitiva do setor de saúde no Rio de Janeiro e mostra que a crise já atingiu as instituições tidas como centros de excelência. É o caso do Hospital São Francisco de Assis, que ganhou notoriedade internacional ao receber a visita do papa Francisco durante a Jornada Mundial da Juventude, em julho de 2013. Sob uma pequena cobertura improvisada no pátio, o pontífice abraçou 20 pacientes e fez um breve discurso em que agradeceu aos médicos e seus auxiliares e enalteceu o serviço local como “precioso”. 

Em fevereiro daquele ano, o hospital havia inaugurado um setor de transplantes que se propunha a ser uma referência no ramo. De lá para cá, foram realizados 251 transplantes de fígado e 590 renais.


A instituição também se distingue pelo tratamento a portadores do vírus da Aids. Atende cerca de 750 soropositivos e tem oito leitos para internação. Porém, com salário atrasado desde outubro, o coordenador do serviço de infectologia, Jadir Fagundes Neto, disse que se viu obrigado a deixar de receber novos pacientes e limitou as internações. A demanda é grande, pois a cada mês 30 contaminados pelo HIV procuram tratamento pela primeira vez. O hospital acolhe também dependentes químicos e doentes cardíacos. “Tem gente morrendo e a gente sabe disso”, diz frei Paulo Batista, com os olhos marejados. Na primeira semana de janeiro ele acompanhou a reportagem de ÉPOCA pelos corredores do hospital. Chamava a atenção o centro de terapia Intensiva com seus oito leitos vazios. Sem dinheiro para manutenção, equipamentos de última geração estavam desativados.

A situação de total escassez se repete em outros centros de excelência do Rio de Janeiro. Inaugurado pelo governo estadual com muita pompa em 2010, o Hospital da Mulher Heloneida Studart, em São João de Meriti, no Grande Rio, também foi varrido pela crise. No fim do ano, chegou a botar tapume nas portas e limitou o atendimento a casos graves ou pacientes em trabalho de parto. No Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer, no centro da cidade, o estado grave se replica. Aberto em 2013 ao custo de 80 milhões de reais, a unidade é dotada de equipamentos de última geração. Ali ocorrem em torno de 100 cirurgias por mês, boa parte delas de alta complexidade. À frente da unidade está o renomado neurocirurgião Paulo Niemeyer Filho, que no auge da crise, às vésperas do Natal, disse que em seus 40 anos de profissão nunca tinha visto nada 
igual. 

Fonte: Revista Época


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