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domingo, 7 de maio de 2017

Manobras não vão deter a crise política

O impeachment de Dilma Rousseff não encerrou a crise política. Muito pelo contrário. Foi apenas o primeiro ato de um processo que deve se estender por alguns anos. A República que nasceu da Constituição de 1988 entrou em crise terminal. Não consegue mais dar conta da complexidade da nova sociedade brasileira que surgiu no enfrentamento do projeto criminoso de poder petista. Os acontecimentos das últimas semanas sinalizam que a tentativa de um acordão entre as principais lideranças políticas da desmoralizada elite dirigente está indo de vento em popa. E tem como principal inimigo a Lava Jato. Necessita combater e destruir o que foi edificado desde 2014, um trabalho saneador do Estado, caso único na nossa história.

Para manter a carcomida estrutura da República, é necessário desmoralizar o Estado democrático de Direito. E isso está sendo feito com rara eficiência. O STF joga um papel fundamental nesse processo. Vai atuar na vanguarda sem nenhum temor. Conta com amplo apoio na praça dos Três Poderes. E com a simpatia do grande capital que está receoso da continuidade das investigações sobre o petrolão e dos desdobramentos que possam desvendar estranhos privilégios no pagamento de tributos, benefícios fiscais e a confecção de medidas provisórias.

Diversamente de outros momentos da história do Brasil, quando a conciliação acabou impedindo a construção do novo, dessa vez não será tarefa fácil reconfigurar o bloco político que está e pretende continuar ad eternum no poder. A ativa participação da sociedade civil é o principal elemento complicador. E a presença das redes sociais, sempre vigilantes, construiu novas formas de participação política.

O impasse não foi rompido. Pelo contrário, tende a se agravar. Poderemos até chegar a uma grave crise institucional de consequências inimagináveis. Qualquer possibilidade de um grande acordão está fadada ao fracasso. A fratura entre a praça dos Três Poderes e o Brasil real cresce a cada dia. E se aprofunda com decisões como a libertação momentânea de José Dirceu.

Nada indica que a Lava Jato vai interromper seu trabalho. Deve, inclusive, agilizar as condenações. E conta com amplo apoio popular. As manobras brasilienses só agravam a crise política. Qualquer possibilidade de um grande acordão está fadada ao fracasso. A fratura entre a praça dos Três Poderes e o Brasil real cresce a cada dia

Por: Marco Antonio Villa -  historiador, escritor e comentarista

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