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sábado, 20 de maio de 2017

Prisão de Andrea Neves não faz sentido até agora; é só mandonismo

A Lava Jato e suas derivações prestam um serviço ao país ao elucidar casos de corrupção. Mas suas virtudes, aos poucos, vão se perdendo

Se a punição aplicada ao senador Aécio Neves (PSDB-MG), com o que se tem até agora, é um exotismo, a que atinge Andrea Neves, sua irmã, é ainda mais especiosa. Por que foi decretada sua prisão preventiva?
“Ah, porque foi ela quem primeiro entrou em contato com Joesley Batista para pedir os R$ 2 milhões”. Mas isso é razão suficiente para decretar a prisão de alguém? É claro que não! Andrea, parece-me, só está presa para servir de exemplo. É uma forma de dizer: “Ninguém está imune à ação dos superpoderosos”.

Nem preciso entrar no mérito da coisa. A questão é de natureza técnica e segue na forma de interrogações. Andrea ameaça a ordem pública ou econômica, vale dizer: está demonstrado que pratica crimes ou está na iminência de? Quais? Se estivesse solta, a instrução criminal estaria em perigo, com a possibilidade de alteração de provas ou ameaça a testemunhas? Ora, fosse por isso, será que haveria algo que ela pudesse fazer que Aécio não possa?  Se em liberdade, haveria o risco de não se cumprir a lei penal — leia-se: fuga? Parece que ela tinha uma passagem comprada para Londres. Convenham: medidas cautelares poderiam ter sido aplicadas em lugar da preventiva.

Escrevo com o que se sabe até agora. Se as contribuições da JBS à campanha de Aécio foram ou não propina, isso se vai ver no curso do processo. Uma coisa é certa: pedir dinheiro, por si, não caracteriza crime. Se, no entanto, um agente público vende facilidades para obter a grana, aí se tem corrupção passiva.
“Ah, mas a turma da JBS diz que o senador ajudava o grupo, que apoiava as suas demandas”. Ora, que se investigue! Estou sugerindo o contrário?

Parece que a prisão de Andrea tem mesmo o propósito de espezinhar, de humilhar, de baixar as resistências para que o “inimigo” se ajoelhe. E também virou palco para ressentidos.
Assistam ao vídeo (LINK ) , que retrata o momento em que Andrea chega ao IML para fazer exame de corpo de delito. Volto em seguida.


Retomo
Tudo é vergonhoso. Há indagações estúpidas. Uma delas: “Andrea, por que você foi presa?” Quem não entende o absurdo da pergunta não merece a resposta. A outra: “Fale alguma coisa em sua defesa…” Ora, claro, ela vai se defender diante de uma tropa de repórteres hostis… Santo Deus!

E finalmente o ressentimento explode. Uma jornalista grita: “Essa pauta é boa?”  Um homem acrescenta: “Gostou da pauta, Andrea?” A mulher repete a baixaria. A irmã de Aécio tinha a fama, ao tempo em que ele era governador, de ligar para as redações para reclamar do trabalho de jornalistas. As acusações, claro!, partiam dos setores petistas.

Verdade ou mentira o que se dizia sobre Andrea, isso não é comportamento aceitável a jornalista e cinegrafistas. Fossem meus subordinados, iriam todos para a rua por falta de profissionalismo. E querem o argumento irrespondível a demonstrar quão inaceitável é esse comportamento rancoroso? Pois não! E se essas pessoas fossem médicas? Hostilizariam os doentes dos quais discordassem ideologicamente ou que fossem acusados de algum delito?

Criem vergonha na cara! E um marmanjo ainda comemora: “Obrigado, gente! Vocês são maravilhosos!” Bate palma! Alguém ainda grita: “Uhuuu”

Encerro
Oh, sim! A Lava Jato e suas derivações prestam um serviço ao país ao elucidar casos escabrosos de corrupção. Mas suas virtudes, aos poucos, vão se perdendo em meio a atos atrabiliários, autoritários, ilegais.

Os curiosos procurem no blog, caso não saibam, o que escrevi a cada vez que um petista foi assediado agressivamente na rua ou em restaurante. A civilidade pode conviver com várias bandeiras partidárias.

Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo - VEJA

 

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