A Lava Jato e suas derivações prestam um serviço ao país ao elucidar casos de corrupção. Mas suas virtudes, aos poucos, vão se perdendo
Se a punição aplicada ao senador Aécio
Neves (PSDB-MG), com o que se tem até agora, é um exotismo, a que atinge
Andrea Neves, sua irmã, é ainda mais especiosa. Por que foi decretada
sua prisão preventiva?
“Ah, porque foi ela quem primeiro entrou
em contato com Joesley Batista para pedir os R$ 2 milhões”. Mas isso é
razão suficiente para decretar a prisão de alguém? É claro que não!
Andrea, parece-me, só está presa para servir de exemplo. É uma forma de
dizer: “Ninguém está imune à ação dos superpoderosos”.
Nem preciso entrar no mérito da coisa. A
questão é de natureza técnica e segue na forma de interrogações. Andrea
ameaça a ordem pública ou econômica, vale dizer: está demonstrado que
pratica crimes ou está na iminência de? Quais? Se estivesse solta, a
instrução criminal estaria em perigo, com a possibilidade de alteração
de provas ou ameaça a testemunhas? Ora, fosse por isso, será que haveria
algo que ela pudesse fazer que Aécio não possa? Se em liberdade,
haveria o risco de não se cumprir a lei penal — leia-se: fuga? Parece
que ela tinha uma passagem comprada para Londres. Convenham: medidas
cautelares poderiam ter sido aplicadas em lugar da preventiva.
Escrevo com o que se sabe até agora. Se
as contribuições da JBS à campanha de Aécio foram ou não propina, isso
se vai ver no curso do processo. Uma coisa é certa: pedir dinheiro, por
si, não caracteriza crime. Se, no entanto, um agente público vende
facilidades para obter a grana, aí se tem corrupção passiva.
“Ah, mas a turma da JBS diz que o
senador ajudava o grupo, que apoiava as suas demandas”. Ora, que se
investigue! Estou sugerindo o contrário?
Parece que a prisão de Andrea tem mesmo o
propósito de espezinhar, de humilhar, de baixar as resistências para
que o “inimigo” se ajoelhe. E também virou palco para ressentidos.
Assistam ao vídeo (LINK ) , que retrata o
momento em que Andrea chega ao IML para fazer exame de corpo de delito.
Volto em seguida.
Retomo
Tudo é vergonhoso. Há indagações estúpidas. Uma delas: “Andrea, por que você foi presa?” Quem não entende o absurdo da pergunta não merece a resposta. A outra: “Fale alguma coisa em sua defesa…” Ora, claro, ela vai se defender diante de uma tropa de repórteres hostis… Santo Deus!
Tudo é vergonhoso. Há indagações estúpidas. Uma delas: “Andrea, por que você foi presa?” Quem não entende o absurdo da pergunta não merece a resposta. A outra: “Fale alguma coisa em sua defesa…” Ora, claro, ela vai se defender diante de uma tropa de repórteres hostis… Santo Deus!
E finalmente o ressentimento explode.
Uma jornalista grita: “Essa pauta é boa?” Um homem acrescenta: “Gostou
da pauta, Andrea?” A mulher repete a baixaria. A irmã de Aécio tinha a
fama, ao tempo em que ele era governador, de ligar para as redações para
reclamar do trabalho de jornalistas. As acusações, claro!, partiam dos
setores petistas.
Verdade ou mentira o que se dizia sobre
Andrea, isso não é comportamento aceitável a jornalista e cinegrafistas.
Fossem meus subordinados, iriam todos para a rua por falta de
profissionalismo. E querem o argumento irrespondível a
demonstrar quão inaceitável é esse comportamento rancoroso? Pois não! E
se essas pessoas fossem médicas? Hostilizariam os doentes dos quais
discordassem ideologicamente ou que fossem acusados de algum delito?
Criem vergonha na cara! E um marmanjo
ainda comemora: “Obrigado, gente! Vocês são maravilhosos!” Bate palma!
Alguém ainda grita: “Uhuuu”
Encerro
Oh, sim! A Lava Jato e suas derivações prestam um serviço ao país ao elucidar casos escabrosos de corrupção. Mas suas virtudes, aos poucos, vão se perdendo em meio a atos atrabiliários, autoritários, ilegais.
Oh, sim! A Lava Jato e suas derivações prestam um serviço ao país ao elucidar casos escabrosos de corrupção. Mas suas virtudes, aos poucos, vão se perdendo em meio a atos atrabiliários, autoritários, ilegais.
Os curiosos procurem no blog, caso não
saibam, o que escrevi a cada vez que um petista foi assediado
agressivamente na rua ou em restaurante. A civilidade pode conviver com
várias bandeiras partidárias.
Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo - VEJA
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