Afinal de contas, por quanto tempo seremos reféns das corporações? Desde
o ano passado, diversas reformas que propõem tratar os iguais como
iguais e dar transparência aos gastos com pessoal têm sido veementemente
rejeitadas por grupos de servidores públicos. No exemplo mais
recente, a deliberação sobre a reforma da Previdência, alguns chegaram a
invadir a Câmara, ameaçando os deputados em defesa dos seus
privilégios.
Com violência e intimidação, argumentam que defendem
o bem comum, merecendo receber salários muito acima da renda média do
brasileiro, e ficam revoltados quando o Congresso delibera sobre as suas
aposentadorias precoces. Talvez esteja na hora de discutir os
direitos adquiridos e a estabilidade dos servidores públicos, sobretudo
quando usam de violência ou põem em risco a vida dos cidadãos.
Não é aceitável a ameaça aos deputados nem a paralisação dos serviços de segurança pública - além do mais, ilegal. Por que alguns servidores públicos têm que ser ressarcidos pelas despesas comezinhas que todos nós pagamos com nossos impostos? Todos,
menos os servidores de alguns poderes públicos, que recebem salários
várias vezes maiores do que a renda média no Brasil, além de auxílios
que, supostamente, indenizam-nos pelos seus gastos com moradia e
educação dos seus filhos, entre muitos outros.
Existe a corrupção
inaceitável em meio a ilícitos injustificáveis, como o caixa dois.
Existem também corporações privilegiadas com benefícios pagos com
recursos do público.
Muitos servidores não aceitam a revisão dos
seus benefícios, pois argumentam que essa era a regra quando optaram
pela carreira pública. Alguns reagem com violência às propostas de
reforma da Previdência ou de maior transparência aos auxílios que
recebem para suas despesas comezinhas.
Para o setor privado, no entanto, não existem direitos adquiridos. [cabe lembrar que a Constituição Federal determina em seu artigo 5º, inciso XXXVI, considerando CLÁUSULA PÉTREA: "a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada;".
Caso a Constituição Federal esteja errada que então se corrija, se necessário até suprimindo o inciso, inaceitável é desrespeitar o texto constitucional vigente.]
Uma
fábrica produz por muitos anos e a decisão de construí-la requer
analisar o desempenho esperado do mercado para verificar a sua
viabilidade, e depende das regras tributárias e das obrigações
trabalhistas. Com frequência, porém, essas regras são alteradas depois
da fábrica pronta, reduzindo o resultado esperado; às vezes,
inviabilizando-a.
Por que é aceitável alterar as regras que
afetam o setor privado e não os benefícios dos servidores? Afinal, todos
tomamos decisões com base nas regras existentes, da mesma forma que as
pessoas que optam pelo serviço público. A defesa de direitos
adquiridos dos servidores lembra os argumentos dos proprietários de
escravos no fim do século 19. A seu ver, todos temos que trabalhar para
sustentar os seus privilégios.
Fonte: Marcos Lisboa - Folha de S. Paulo
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