[SUGESTÃO aos ministros do STM: qualquer um de Vossas Excelências que deseje tentar adiar a prisão do condenado Lula, assuma a paternidade e leve o assunto em mesa;
não fique excitando seus colegas a fazer o que o senhor quer fazer e não o faz, se esconde, por medo da fúria das ruas.]
Nem os
bate-bocas em plenário, transmitidos ao vivo pela TV Justiça, costumam azedar
tanto as relações no Supremo Tribunal Federal. A Corte está rachada pelo debate
sobre a prisão de condenados em segunda instância. Ontem a tensão subiu a um
novo patamar, com queixas públicas contra a ministra Cármen Lúcia. “O clima
no tribunal está péssimo. Disso não há a menor dúvida”, resume o ministro Marco
Aurélio Mello. Ele é um dos mais contrariados com a presidente do tribunal, que
tem se recusado a pautar um novo julgamento para resolver o impasse.
Na segunda-feira,
Cármen prometeu uma reunião para ouvir os colegas. Ela chegou a anunciar o
encontro a uma rádio, mas não convidou ninguém. A atitude irritou até o decano
Celso de Mello, conhecido pelo espírito conciliador. “Ficou
combinado que ela faria o convite”, disse o ministro. “Se não houve convite,
isso significa que ela não se mostrou interessada”, acrescentou.
Prestes a
completar 29 anos no Supremo, Celso avisou que Cármen pode enfrentar um
“constrangimento inédito”. Basta que um dos ministros insatisfeitos apresente
uma questão de ordem na sessão de hoje. Isso obrigaria a presidente a submeter
sua decisão ao plenário, sob forte risco de ser derrotada. [aqui vem a lembrança da fábula de Jean de La Fontaine: 'guizo no gato'; qual ministro vai apresentar a questão de ordem? quem vai colocar o guizo no gato?]
Cármen
tem um bom argumento quando diz que o tribunal julgou o assunto há pouco tempo,
e seria casuísmo mudar a jurisprudência agora. No entanto, foi isso o que ela
ajudou a fazer em outubro passado, quando o Supremo voltou atrás sobre o
afastamento de parlamentares. Na
ocasião, a ministra deu o voto de desempate que salvou o senador Aécio Neves.
Agora o personagem na berlinda é o ex-presidente Lula. Ao evitar o novo
julgamento sobre as prisões, Cármen deixa o petista mais próximo da cadeia.
Isso
explica a pressão de blogs e movimentos que apoiaram o impeachment para que a
ministra continue a bloquear a pauta. [a pauta não está bloqueada, inclusive a do mês de abril, já foi divulgada;
o que chamam de bloqueio é que a ministra Cármen, no exercício de uma prerrogativa que o Regimento Interno do Supremo concede ao presidente, não quer pautar um assunto que foi discutido a menos de dois anos.] Também explica a pressão no sentido
contrário, liderada pelo PT. Para
abreviar o impasse, seja para um lado ou outro, a presidente do Supremo poderia
ter submetido a decisão ao colegiado. Ela preferiu a opção pelo isolamento,
temperado com longas entrevistas à imprensa.
Bernardo Mello Franco
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