Os bens de valor mais alto têm tido crescimento maior de vendas e de
produção do que os mais baratos. Santa Catarina está acelerando,
enquanto Pernambuco encolhe. A exportação aumenta mais em produtos
manufaturados do que nas commodities agrícolas. A retomada da economia,
depois da recessão de 2014-2016, tem ocorrido com inesperados e algumas
desigualdades.
O que tirou a economia da recessão foi a agricultura e a exportação,
como se sabe. Mas o bom momento da balança comercial, que acumula superavit de US$ 66,5 bilhões em um ano até março, não se deve apenas
aos grãos. No primeiro trimestre, enquanto as exportações em geral
cresceram 7,7% na comparação com 2017, os produtos manufaturados tiveram
alta bem mais forte, de 19%. No caso dos bens de capital, as máquinas e
equipamentos usados na confecção de outros produtos, o salto foi
impressionante: de 98,9% nesse primeiro trimestre, com as vendas
atingindo US$ 3,4 bi. Aqui dentro, a situação também melhorou. No ano
até fevereiro, em comparação com 2017, a produção de máquinas e
equipamentos subiu 8%. Em 12 meses, o avanço é de 3,3%. — Parece estranho porque não está havendo projeto novo de
investimento. O caso é que a empresa ficou alguns anos sem trocar a
máquina. Agora a economia começou a andar e não houve outro jeito a não
ser comprar um equipamento novo — explica o economista José Roberto
Mendonça de Barros.
Outra exportação que chama a atenção é a de veículos leves: foram
771,8 mil unidades em um ano até março, mais do que o dobro do que se
vendeu em 2014, quando a crise começou. Com grande capacidade instalada,
as fabricantes buscaram outros mercados depois que a demanda interna
minguou. Em março, um a cada quatro veículos montado no Brasil foi
enviado ao exterior. Em 2015, a proporção era de pouco mais de um a cada
10.
A exportação de máquinas agrícolas atingiu US$ 192,8 milhões de
janeiro a março, pelos dados da Secretaria de Comércio Exterior, ou
30,6% a mais que um ano antes. A Caterpillar é uma das protagonistas
desse movimento. A empresa tem fábricas em Piracicaba, no interior de
São Paulo, e em Campo Largo, próximo a Curitiba, e viu o mercado interno
murchar de 35 mil unidades por ano, em 2014, para somente 7 mil vendas
em 2016. — A solução foi exportar. Comparado ao começo de 2016, os embarques
cresceram 145% neste ano. Foi o que garantiu a manutenção dos empregos.
Ano passado, a Caterpillar voltou a contratar e abriu 1.100 vagas. Hoje,
estamos com 3,9 mil empregados no país — conta Odair Renosto,
presidente da operação brasileira.
A empresa exporta para mais de 120 países, principalmente para os EUA
e os vizinhos sul-americanos, máquinas que custam entre R$ 200 mil e R$
1,5 milhão. O aumento das exportações gerou créditos de ICMS para a
Caterpillar, mas ela não tem conseguido descontar porque as vendas no
Brasil estão quase paradas. O desemprego alto é uma das maiores barreiras à recuperação, mas o
economista José Roberto Mendonça de Barros acha que está voltando a
confiança. — O país tem 13,1 milhões de desempregados, mas tem 89 milhões de
pessoas trabalhando. Acho que está havendo uma redução do medo de
demissão. Isso é que explica, por exemplo, que a venda de produtos mais
caros, que dependem do crédito, estarem aumentando mais do que a de
produtos mais baratos.
De fato, a produção de bens de consumo duráveis saltou 14,2% nos 12
meses até março. São exatamente aqueles produtos mais caros, como
televisão e carros, que as famílias tinham adiado a troca. O número de
veículos feitos no Brasil no primeiro trimestre foi 40% maior do que no
mesmo período de 2016. Já o mercado de vestuário, por exemplo, está bem
mais fraco.
Há também uma disparidade entre regiões. Enquanto a indústria de
Santa Catarina arrancou para uma alta de 5,1% em um ano, a produção em
Pernambuco amarga queda de 1,8%. Na Bahia houve uma ligeira alta, de
0,5%, e a região Nordeste ficou estável no período. Pelas contas do
IBGE, a indústria está 15,1% abaixo do seu pico histórico, de maio de
2011, mas o Ceará está a 21,5% do seu recorde de produção, em janeiro de
2010. Essa retomada em ritmos desiguais pode se traduzir em diferentes
humores eleitorais, dependendo da região e do setor da economia.
Coluna da MIriam Leitão - O Globo
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